Desde que me entendo por gente ouço as pessoas falando e sempre gostei disso. Das canções de ninar e das historinhas que minha mãe lia para nós, aos causos que os contadores de histórias nos narravam nas noites de lua cheia, do programa de rádio da dona Carochinha, as aulas dos professores, os discursos, os debates, falas de todos os tipos e em todas as ocasiões.
Desde 1976, portanto há 36 anos, convivo efetivamente no ambiente político, desde quando meu pai me levou para Pindaré-Mirim, para participar da segunda campanha vitoriosa de meu tio Zé Antonio a prefeito. De lá para cá me tornei um maior apreciador da palavra falada, passei a cultuá-la e a cultivá-la. Passei a admirar os diversos estilos e as diversas formas de dizer-se o que se pensa, o que se sente, o que se precisa dizer, o que deve ser dito.
Nesses anos todos como parlamentar, ouvi e aprendi muito com grandes oradores, como Milet, Sarney e Lobão. Na ALM, ainda neófito, pude aprender vendo e ouvindo Gervásio Santos e Bento Neves. Quando constituinte, pude presenciar importantes discursos de gente como Delfim Netto, Sandra Cavalcante, Tarcisio Buriti, Artur da Távola, Florestan Fernandes… Mais recentemente, de volta a ALM pude ouvir e até debater com Aderson Lago e Helena Heluy, entre outros.
Gosto tanto de narrativas, falas, diálogos e discursos que chego ao cúmulo de escolher trechos de filmes que contenham o melhor desses gêneros e colecioná-los.
Mas na última sexta-feira ouvi uma fala que não foi um discurso, mesmo que tenha sido proferida de uma das tribunas do plenário de nossa Assembleia Legislativa. Não foi um discurso, foi uma espécie de choro, de pranto, um canto de lamento, de dor, de pesar. Mas foi um dos mais bonitos que eu já ouvi naquele ou em qualquer outro lugar.
Foi uma fala firme, forte, corajosa. Feita por uma mulher fragilizada, dilacerada, corroída por uma dor inimaginável. Foi como um sopro de amor, último sopro de um sentimento eterno, uma das mais belas declarações de amor que, graças a Deus eu tive a oportunidade de ouvir.
Clara falou de seu Luciano, para ele. Acabei de notar que os nomes dos dois derivam de luz, talvez por isso produziram juntos quatro raios luminosos em forma de mulher, suas filhas Lara, Lia, Ticiana e Rafaela.
Conheci Luciano Moreira logo que ele chegou aqui, para trabalhar no governo Lobão. A princípio o achei mais um burocrata, daqueles que sabem de tudo na teoria, mas que não conhecem de nada na prática. Logo vi que estava enganado. Os anos se passaram e fui conhecendo-o melhor, mesmo que ainda o achasse muito técnico e pouco político, mas era essa a sua função e ela, ele a cumpria como seu mestre mandava, e o fazia com competência e correção.
Em política, normalmente, quem não é de nosso grupo mais restrito, mais próximo, não é conosco e Luciano só passou a fazer parte do meu grupo mais restrito de amigos nos últimos anos, anos em que a maturidade me fez ver a importância de pessoas como ele. Tempo que também serviu para transformar esse cearense que, como muitos outros, escolheu a nossa terra para arriar ferros e criar raízes, apascentar seu rebanho, cultivar suas sementes e tecer sua rede de amigos. Anos que o transformaram de um tecnocrata inflexível em um político hábil. Se antes ele chocava com seu extremado tecnicismo, mais recentemente, sem perder o conteúdo técnico, ele aprendeu a alquimia que só o tempo e a maturidade, associados à simplicidade e à obstinação são capazes de elaborar.
Luciano sempre foi uma pessoa cordata, um homem educado, fino, elegante. Era até às vezes um pouco formal. Um cavalheiro. Nunca o vi exaltado, sempre se mantinha calmo, sereno, até nas horas mais tensas.
Quando Luciano resolveu que seria candidato a deputado federal, me procurou e pediu que eu o orientasse. Disse-me que gostaria que lhe desse alguma noção de como seria o pleito, da quantidade de votos que seria necessário para se eleger, dos custos de uma estrutura de campanha, pediu que eu indicasse alguns municípios onde ele poderia ser votado e até que lhe dissesse se um ou outro possível apoiador falava-lhe a verdade, pois temia que em sua pouca experiência eleitoral, cometesse algum equivoco que pudesse lhe custar a eleição.
Lembro que ele foi até mim na companhia de sua mulher Clara, de sua filha Lara e de sua secretária Célia. Naquela ocasião disse-lhe que se ele fizesse tudo errado, ainda assim estaria eleito, e que sua eleição seria muito boa para o Maranhão, pois seu ingresso no parlamento representando o nosso estado, o dele também, pois era cidadão maranhense, título que lhe foi outorgado em solenidade em que estive presente e aparteei o orador daquela manhã, saudando o novo conterrâneo… Pois bem, disse-lhe que a eleição dele iria engrandecer sobremaneira nossa bancada. E assim o foi.
Luciano Moreira em muito pouco tempo de efetiva vida política, como parlamentar, conquistou o respeito de todos que com ele puderam conviver. Para ele a moral, a ética e a honra, vinham em primeiro lugar.
O Maranhão perdeu na última quinta-feira, 16 de junho de 2011, um de seus melhores parlamentares, pois ele não era como outros, um simples deputado. Para ser um, basta que o candidato se eleja. O parlamentar está em um outro patamar, lugar que poucos conseguem galgar.
Se o Maranhão perdeu tanto, o quanto perderam seus amigos, as pessoas que nele confiavam, que dele dependiam? Quanto terá perdido Clara, Lara, Lia, Ticiana, Rafaela, seus netos e demais parentes? Essa pergunta é auto respondida. Perderam tudo. Mas lembrando do que disse Clara em sua fala, e nela eu pude ouvir e sentir, que em que pese ela, elas, terem perdido tudo, ainda assim ficaram com o melhor, o exemplo, o amor, a oportunidade de terem podido conviver, mesmo que por um breve tempo, com alguém que amavam tanto e que tanto as amava.
Nada mais precisa ser dito.