Não lembro qual foi a primeira vez em que ouvi falar do Egito, mas desde então venho nutrindo a vontade de conhecer essa que é a maior dádiva do Nilo.
Até dia 13 deste mês de fevereiro, jamais havia estado antes na terra dos faraós, e logo pude comprovar que tudo, por mais exagerado que pudesse parecer que se dizia sobre essa terra, estava bem próximo da realidade.
Meus queridos mestres de história e geografia me fizeram saber tudo que um menino precisava saber sobre um determinado lugar para ficar encantado por ele e nesse caso o cinema encarregou-se em sacramentar a avassaladora paixão com Os Dez Mandamentos, Cleópatra, O Egípcio, Morte sobre o Nilo… Paixão aumentada mais ainda pela febre egípcia da Era Tutankamônica, desde a descoberta de Howard Carter, em 1922.
Fica patente aqui mais um dos vestígios do tempo: faltam ainda 12 anos para que se complete um século do achado de Carter sobre um faraó menino que subiu ao trono 3.500 anos antes, aos oito anos de idade, que reinou durante 10 – como não poderia deixar e ser, manipulado por um sempre maquiavélico sumo sacerdote – e morreu aos 18. Em vida esse faraó nada de mais importante fez pelo Egito, mas sua morte e sua tumba trouxeram com clareza e exatidão até nós, aos nossos dias, o modo de viver daquele tempo.
Parece exagero, mas o Egito é sim uma dádiva do Nilo. Sem ele não haveria nada, nenhuma vida por lá. Só por causa dele há lá o que há. Agora compreendo porque o mundo antigo dependia tanto do Egito e porque o esperto Ptolomeu escolheu para si esse pedaço do mundo Alexandrino como herança.
Cinqüenta anos de minha existência sem conhecer pessoalmente as Pirâmides, a Esfinge, o Museu do Cairo e suas preciosidades, os templos de Sakara, Hatshepsut, Karnak e Luxor e o Vale dos Reis foram providenciais para me fazer aprender tudo que precisava para dar aula aos próprios guias que nos acompanhavam, que, diga-se de passagem, eles são obrigados a cursar faculdade de arqueologia, fazendo especialização em História e Relações Públicas por um período de quatro anos, para exercer essa que é uma das mais cobiçadas funções do Egito Moderno, guardadas as devidas proporções, quase a mesma coisa que ser um escriba nos tempos antigos desse, que é o país árabe mais ocidentalizado do mundo.
Quando chegamos ao Cairo, notamos logo o imenso, moderno e limpo aeroporto e eu cá comigo, lembrei dos aeroportos por onde passamos até chegar ali: o de São Luís, uma rodoviária de terceira classe; o de São Paulo, uma imensa rodoviária de primeira classe, que está quase caindo de classificação; o aeroporto de Istambul, que mais parece um imenso shopping center. Estamos mal de aeroportos em nosso país. Em nosso estado nem se fala.
No Cairo escolhemos um hotel que tinha tudo para nos surpreender e surpreendeu. Ficamos no Semíramis, da rede Intercontinental, dono de uma localização privilegiada, de frente para o Nilo e de um restaurante incrível que oferece 18 horas de um buffet magnífico, que alterna café, almoço e jantar, deixando apenas duas horas entre cada refeição para arrumação de aproximadamente mil m² de mesas para refeições e outros 200 metros para bancadas com as mais diversas variedades de guloseimas provenientes de todos os lugares do mundo.
As pirâmides são realmente incríveis, nada do que se sabe sobre elas antes de conhecê-las, se compara com a sensação única de vê-las, de tocar em suas gigantescas e frias pedras, em olhar para cima e ver o sol se escondendo atrás delas. Aquelas coisas feitas há mais de quatro mil anos e ainda hoje, com todo o avanço tecnológico, é difícil se explicar e praticamente impossível de se reproduzir.
No Museu do Cairo, confirmou-se a certeza sobre tudo o que aprendi, primeiro na escola, depois nas minhas incontáveis sessões de History e Discovery: O tempo é uma variável constante. Não existe nada sem o tempo e é ele o maior de todos os referenciais. Explico: depois de todos esses milênios, achamos apenas uma única tumba de um faraó intacta, as outras todas foram saqueadas, algumas delas até mesmo por outros faraós, seus netos ou bisnetos. Nessa tumba havia um tesouro de valor histórico incalculável, e aproximadamente mil quilos em peças de ouro. Esse faraó reinou por apenas 10 anos, agora imaginem como deveria ser a tumba de Ramsés III que reinou por 70 anos, na época do apogeu dessa região!?
No desfile de personagens importantes, figuram é claro, os construtores das pirâmides e da Esfinge de Gisé, Quéops, Quefren e Miquerinos; os faraós Naarmé, Amenotep, Ramsés II, Seti, Ramsés III, Amenófis III, Amenófis IV, Tutmósis, Tutankamón e é claro suas rainhas, a bela Nefertari, a sábia Nefertiti, a poderosa Hatshepsut e aquela que fundiu todas essas qualidades em um único espécime feminino, Cleópatra. Por falar nisso, trouxe de São Luís comigo a minha própria rainha, muitas vezes comparada com as quatro citadas acima, pelos nativos de turbante e shilaba, inclusive um mais afoito ofereceu-me três mil camelos por ela. Consultei o nosso guia, o simpático Mohamed, que me disse que um camelo vale uns 500 dólares, logo deduzi que a indecente proposta superava a de Robert Redford por Demi Moore naquele famoso filme. Valor insignificante bem como qualquer outro que fosse, incapaz de pagar por alguém que me dá tanto prazer e felicidade. “Yala, yala, yala” – Vai, vai, vai – disse como resposta em “bom” e enérgico árabe e saí sorrindo por dentro.
Conosco durante os 10 dias pelo Egito, do Delta até Abu Simbel, nos acompanharam dois argentinos de Corrientes, Mirta e Fernando, mãe e filho. Fernando ganhou dos pais, como presente por seus 18 anos a viagem para conhecer o Egito, como ele sempre quisera desde pequeno. Sorte a dele. Muito melhor que escolher um destino onde pouco ou muito pouco pudesse aprender.
Viajar para qualquer lugar é o mesmo que uma aula. Viajar para um lugar como esse é um curso completo.
Salam aleikum!
Joaquimmmmmmmmm,
Ese seu texto sobre o Egito é mais que uma boa prosa é uma poesia lindissima….
Viajei com vc pelas areias de Gizé e subitamente me veio uma revelação….
me emprenha, me emprenha…nem que seja “pelos ouvidos ”
Te amo seu poeta poetão