ORAÇÃO DE GANDHI

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Recebi de um amigo o texto que se segue, como sendo a oração que Mahatma Gandhi costumava fazer diariamente. Não sei dizer se ele realmente era genuíno, mas o fato dessa súplica ser tão maravilhosamente linda e impregnada de tamanha sabedoria, tolerância e bondade, me fez tomar a decisão de adotá-la como uma de minhas formas de falar com Deus. 

Meu Senhor!

Ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos;

Se me deres fortuna, não me tires a razão.

Se me deres êxito, não me tires a  humildade.

Se me deres humildade, não me tires a dignidade.

Ajuda-me sempre enxergar a outra face da moeda e não me deixes acusar por traição quem não pensar igual a mim.

Ensina-me a amar aos outros como a mim mesmo.

Não deixes que me torne orgulhoso se triunfar, nem me deixes cair em desespero se fracassar. Antes disso, recorda-me que o fracasso é a experiência que precede  o triunfo.

Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança é um sinal de baixeza.

Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso.

Se eu ofender alguém, dá-me coragem para pedir desculpas e se alguém me ofender, dá-me grandeza para perdoar.

Senhor… Se eu me esquecer de ti, nunca te esqueças de mim!

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Coisas pra não esquecer

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Se vivo fosse meu pai completaria ontem, 19 de dezembro, 76 anos de uma vida que acabou por ser curta em tempo, mas longa em intensidade e realizações.

Nagibão morreu em meio a um desfile de 7 de setembro de 1993, meses antes de completar 60 anos, no auge de sua vida pública, quando era presidente da Assembléia Legislativa do Maranhão.

Alguns anos atrás eu desafiei meu amigo e professor, hoje meu confrade na AML, Sebastião Moreira Duarte para, junto comigo escrever a biografia de meu pai. Ele, é claro, faria a parte mais difícil, a pesquisa, e eu colocaria os floreios, os fatos pitorescos da vida daquele que gostava de ser chamado de “caboclo do vale do Pindaré, acostumado a comer tapiáca e mandubé”.

Meu pai era filho de Elias e Maria Haickel, dois primos que vieram para o Brasil para fugir das privações de um Líbano recém-nascido, mas sob o julgo francês e britânico.

Meus avós vieram de Zahle, como quase todos os libaneses do Maranhão e meu pai só não era um libanês legítimo porque nasceu às portas do Engenho Central da Companhia Progresso Agrícola, às margens do rio “anzol”, Pindaré, em tupi-guarani, então município de São Pedro.

Sebastião começou a fazer a pesquisa, conversou com muitos dos amigos, contemporâneos e até adversários de meu pai, mas chegou num ponto em que empacou. É que Sebastião, mix de xeique mulçumano, rabino judeu, bispo anglicano, acende uma vela para um trabalho, uma lamparina para outro, um petromax para um terceiro e ainda pede uma ajudinha da Cemar para iluminar as importantes publicações que coordena para o Instituto Geia.

Ele faz tanta coisa ao mesmo tempo, que seu último trabalho, que deverá ser realizado com a ajuda do não menos talentoso jornalista Itevaldo Júnior, no qual mostrará a vida de um homem incomum de nossa história contemporânea, o ex-deputado Rubens Pereira, deverá ser concluído antes da biografia de meu pai. Por isso quero aproveitar a oportunidade para sugerir ao mestre Bastião que convoquemos mais dois soldados para essa batalha, o mesmo Itevaldo e o nosso confrade Benedito Buzar, memória viva de seu tempo. Acho que nós quatro daremos conta, a contento, de colocar no papel o que fez Nagib Haickel enquanto por aqui esteve.

Por falar no que fez Nagib Haickel, agora há pouco me lembrei de uma de suas sacadas fenomenais. Estávamos de férias no sítio que tínhamos no então longínquo Angelim, onde hoje é toda aquela imensa área do Residencial Pinheiros.

Para chegarmos lá, nos idos de 1969, era uma verdadeira viagem. Passávamos por riachos paradisíacos onde piabinhas voavam na água cristalina. O cheiro de manga, cajú, goiaba e tangerina, invadia pelas narinas nossas almas, enquanto pelos olhos éramos invadidos pela luz do sol refletida primeiro nas nuvens, depois da chuva fina, e em seguida pelas copas das árvores, que balançavam ao vento matinal. Numa daquelas tardes, meu pai, depois de uma de nossas partidas de futebol, em um campinho feito de areia tirada do rio que tínhamos no sítio, foi tomar banho em um enorme chuveiro que ele mandara fazer especialmente para sentir como se estivesse na chuva.

Ele observou que dona Nazaré estava lavando as panelas usadas no almoço, abaixo do dique que ele construíra para represar o rio e transformá-lo em uma piscina para nosso maior deleite. Ele ficou olhando para ela por uns 30 segundos, imóvel, como quase nunca fazia. De repente ele me gritou: “Pai!”- era eu – “vai lá onde dona Nazaré e pede para ela me emprestar uma de suas panelas, enche de areia bem fininha e limpa e traz aqui pra mim”.

Eu fui feito uma bala, sem saber pra que ele queria aquilo, mas fui. Trabalho feito, eu fiquei olhando para meu pai, observando o que faria. Ele sentou-se no tronco que ele mandara colocar próximo ao chuveiro, para que pudesse se ensaboar mais confortavelmente, pegou a panela cheia de areia e enterrou o sabonete Phêbo que usava dentro dela, fazendo assim o primeiro sabonete com esfoliante da história. Pelo menos da minha história.

Meu pai era assim. Começou a trabalhar aos 13 anos; Inventou entre nós a loja aberta 24 horas por dia, a Meruóca sem porta; pintou todos os postes de energia da cidade com o nome de sua empresa; comprou todos os telefones de uma das expansões da Telma para o bairro do Olho D’água, e todas as garrafas de cerveja e refrigerantes à venda na cidade. Quem quisesse telefones ou cascos de vidro teria que comprar dele; desafiou o poderoso monopólio de cimento de João Santos trazendo da Venezuela um navio carregado dessa mercadoria; foi o primeiro político a reconhecer o poder da radiodifusão, com seu programa A Voz do Vale do Pindaré e o poder do futebol, quando na presidência do Moto Clube levou o Papão do Norte pela primeira vez para o campeonato brasileiro; não pichava as paredes da cidade com propaganda política, pichava o chão, e justificava, “daqui a um mês os pneus dos ônibus e dos carros já apagaram tudo”.

Meu pai era assim e nem daqui a um século sua lembrança será apagada, pois vira e mexe escuto alguém contar uma de suas histórias.

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Efemérides

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Antes, o planejamento tácito:

O Nascimento.

Os olhos de minha mãe por trás daqueles óculos grossos;

A voz forte de meu pai e seu olhar reprovador…

O primeiro dentinho encrustado em suporte de ouro para pendurar no cordão;

A morte de Kennedy, exibida com alguns dias de atraso;

O sarampo, convalecido na casa dos avós, para não contaminar os outros;

Os livros;

A escola;

Os amigos;

Aquele homem saltitando na lua;

O cinema.

O primeiro amor;

O medo de perder o único irmão.

O basquetebol;

O segundo amor;

O primeiro livro, coisa que se deve lembrar de esquecer;

Os outros amores…

A primeira vez.

A universidade, mais amigos.

O primeiro emprego, caminho sem volta…

Os outros livros, lembrança distante.

O Guarnicê…

O cinema… Sempre o cinema!

O aprendizado de todas aquelas outras vezes;

O primeiro mandato.

As mortes passando por nós;

Os discursos não proferidos, sentenças não prolatadas.

Os posicionamentos necessários,

Os posicionamentos desnecessários.

O nascimento e a consolidação de minhas empresas.

Ivana…

Avana…

Ananda…

O sorriso de Nelson Mandela, O sorriso de Tenzin Gyatso, O sorriso de Albino Luciani, O sorriso de Karol Wojtyła …

O segundo mandato e a derrota do ícone.

A viagens: China, Europa, América…

Laila! Minha noite mais bela, mais perfeita.

A luta do estudante contra o tanque e a queda do muro…

Os discursos abortados;

A morte continuando sua trajetória…

A Ponte, livro primeiro, jamais esquecido;

A morte do pai.

A coragem que não se sabe de onde sai;

As responsabilidades,

As escolhas,

A consequente maturidade.

As mudanças.

Mais mandatos;

Os primeiros discursos, verdadeiros.

As crônicas, prática de tempo e espaço.

Vanessa, Tiego, Ian…

O Guarnicê revisto 20 anos depois;

A verdade,

A realidade,

A possibilidade.

A liberdade.

A consciência.

A busca da felicidade…

O cinema na veia…

Pelo Ouvido…

Muito mais viagens, o mundo todo na janela…

A primeira imortalidade…

A vida como música de Vinícius, amores rápidos, mas verdadeiros;

Mais coragem…Muita coragem para abrir mão de tudo.

A escolha do tudo ou do nada… Tudo!

Meu passado.

Meu destino: Jacira!

Meu presente, meu futuro.

A segunda imortalidade.

Cenas dos próximos 50 anos…

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Visões jornalísticas de um discurso

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Abaixo reproduzo dois textos extraídos do site da Assembleia Legislativa do Maranhão.

Os textos dizem respeito ao mesmo fato, um discurso do Deputado Marcelo Tavares onde ele tenta se defender das contra do Deputado Carlos Alberto Milhomem, que por sua vez respondia ao Deputado Edivaldo Holanda.

Marcelo evoca o artigo escrito por mim e publicado no JEM e aqui neste Blog no último domingo, e finalmente a minha fala ao final da sessão, tentando colocar as coisas em seus devidos lugares- coisa difícil.

Vejam como o fato é abordado de formas tão diferentes pelos jornalistas que relatam o referido fato e suas conseqüências e tire suas conclusões.

Marcelo Tavares comenta artigo de Haickel endereçado a Roseana Sarney

Lenno Edroaldo
Agência Assembleia 

O presidente Marcelo Tavares (PSB) fez uma análise sobre o artigo “Minha caríssima amiga Roseana”, escrito pelo deputado Joaquim Nagib Haickel (PMDB) e publicado no último domingo pelo jornal “O Estado do Maranhão”, onde o parlamentar alerta a governadora sobre o clima político existente em vários municípios.

Tavares destacou a suposta iniciativa de seu colega de plenário em fazer uma crítica saudável ao governo e sobre a atuação de alguns secretários de estado. “O deputado Joaquim escreveu que ‘nunca tinha perdido aliados, mas que agora está perdendo’, e esses aliados não devem ter sido trocados por causa de samba e futebol, deve ter sido pelas mutretas, deputado Carlos Alberto Milhomem, e mutreta deve ser farra de convênio”.

Mais adiante, Marcelo Tavares citou o trecho do artigo em que Haickel disse estar perdendo aliados. “O decisivo motivo que fez com que ele escrevesse essa carta foi o absurdo de ele ter perdido uma amiga de Orkut. Diz ele que ‘essa amiga, pelo simples fato de eu ter ligado para a mãe que vota comigo há 12 anos e ter comentado que haviam me dito que estaria pedindo votos para outro deputado, candidato, e ela me respondeu que estava fazendo isso, porque este havia lhe dado um cargo comissionado no governo, fiquei atônito’. Estão trocando cargo por voto; no governo”, criticou o presidente.

Marcelo Tavares encerrou seu pronunciamento reforçando as críticas e deixando uma indagação para as duas bancadas existentes na Assembleia. “Diz o Deputado Joaquim, que no governo de vossa excelência tem muita mutreta e gente dando pirueta. E aí, eu posso dizer indignado: qual é o discurso que resta para a oposição se até nosso discurso nos roubam. Qual é o discurso que nos resta?”

Joaquim Haickel explica artigo de autoria dele sobre o governo Roseana

Waldirene Oliveira
Agência Assembleia 

O deputado Joaquim Haickel (PMDB) ressaltou na sessão desta segunda-feira (7) ter a certeza de que vale muito mais ser um parlamentar do governo, com críticas, com a consciência do que deve ser feito, do que um oposicionista que simplesmente joga pedras. “Apenas alertei à governadora Roseana Sarney que a coisa está preta, mas não como na época de José Reinaldo ou Jackson Lago. Os líderes da oposição procuram atacar o atual governo se esquecendo dos sete anos de vacas gordíssimas que no governo anterior eles puderam experimentar”, enfatizou ele, ao referir-se ao artigo de sua autoria, publicado domingo em um jornal local.

“O deputado Marcelo (Tavares) foca no que vê para tentar acertar no que não vê. O que ele leu foi a letra de uma música do grande Chico Buarque de Holanda, mas não precisa ouvir Chico para saber que a coisa aqui está preta já fazem sete anos”, acrescentou.

Ainda referindo-se ao artigo, Joaquim Haickel disse que “o assédio e o assalto eleitoral registrados nos últimos seis anos no Maranhão inverteram a lógica, e que perdeu o apoio de prefeitos aliados seus na última campanha que disputou porque o governo de então lhes ofereceu vantagens que não poderiam recusar, sob pena de prejudicar seus munícipes”.

“Isso é o que faz um político que tem consciência do que está acontecendo, e não tem medo de dizer o que acredita. Apenas alertei a governadora de que a coisa está preta porque o nosso grupo político, as pessoas que ora ocupam algumas secretarias estão atuando de maneira indevida. Estamos num tempo de falar as verdades, mas não as verdades cômodas ditas pela oposição, pelo deputado Edivaldo Holanda, que sobe à tribuna com uma facilidade incrível de manipular as palavras e não vê o próprio umbigo”, enfatizou.

Joaquim Haickel acrescentou que Edivaldo Holanda não observa que era líder de um governo completamente corrupto e que o deputado Marcelo Tavares, um pouco mais focado, procura atacar o atual governo se esquecendo dos sete anos dos ex-governadores José Reinaldo e Jackson Lago. “É muito mais importante um parlamentar com a minha postura no Governo do que na oposição. O governo precisa muito mais de uma voz como a minha dentro das suas fileiras, porque do outro lado da fronteira bater é muito melhor, muito mais bonito e muito mais popular”, ressaltou o parlamentar.

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Como uma música

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São Luís, 6 de dezembro de 2009

Minha caríssima amiga Roseana,

O primeiro e principal motivo desta, é apenas e tão somente para reiterar algumas coisas que já tive oportunidade de dizer-lhe em outras ocasiões e acho indispensável, que como seu amigo lhe diga mais uma vez.

Sei que você gosta muito de música e se bem me lembro, aprecia especialmente as do Chico. Pois bem, quando me sentei para começar a escrever esse texto, tentei lembrar-me de uma música que poderia cantar pra você, para bem exemplificar o que eu gostaria de dizer, e a primeira música que me veio à mente foi uma da lavra daquele seu ídolo, que passo a transcrever alguns trechos: “… Aqui na terra ‘tão jogando futebol / Tem muito samba, muito choro e rock’n’ roll / Uns dias chove, noutros dias bate sol / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta / Muita mutreta pra levar a situação / Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça(…) Meu caro amigo eu não pretendo provocar / Nem atiçar suas saudades / Mas acontece que não posso me furtar / A lhe contar as novidades(…) É pirueta pra cavar o ganha-pão / Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro(…) Eu ando aflito pra fazer você ficar / A par de tudo que se passa(…) Muita careta pra engolir a transação / E a gente tá engolindo cada sapo no caminho / E a gente vai se amando que, também, sem um carinho / Ninguém segura esse rojão(…)”

Feita essa introdução musical, passo a relatar os últimos acontecimentos, para que você possa ter uma pequena noção do que está se passando “aqui na terra”.

Em quase 28 anos de política, tempo de sete mandatos, eu nunca havia perdido nenhum amigo ou correligionário. É bem verdade que o assédio e o assalto eleitoral pelo qual passamos nos últimos seis anos inverteram a regra e tentaram subverter a lógica das coisas “aqui na terra”, mas agora essa subversão é internacorpore, acontece nas nossas vísceras e devo lhe dizer que causa extremo desconforto.

Três anos atrás, quando de mais uma reeleição, fui privado do apoio efetivo de dois prefeitos, dirigentes de dois importantes municípios onde atuo politicamente. O governo de então bateu a suas portas oferecendo vantagens a seus municípios que eles não poderiam recusar, sob pena de prejudicarem seus munícipes. Entendi o que aconteceu, mas não aceitei e permaneci fazendo política naqueles lugares, até porque, mesmo sem o apoio oficial, tenho trabalho que me credencia para buscar sozinho ou acompanhado de apenas umas poucas pessoas, o respaldo eleitoral de que preciso para continuar a realizar meu trabalho, que se encerrará apenas quando o sábio e soberano povo de meu Estado assim resolver, e revogar a procuração que me outorgou pela primeira vez quando eu ainda era um jovem estudante de Direito, em 1982.

Nos últimos tempos, sofri duas defecções que muito me abalaram e que me fizeram por um instante duvidar que fosse uma coisa boa continuar na política. Um certo prefeito e uma certa líder política resolveram que não mais iriam me apoiar, resolveram que melhor do que eu, um colega nosso, do mais alto gabarito e de grande competência, lhes representaria muito melhor do que eu. Acontece que se esse meu amigo, a quem realmente estimo, não fosse secretário do Governo, nem o prefeito, nem a líder política, iriam procurá-lo para oferecer apoio. Isso só acontece, infelizmente, por causa do cargo que ele temporariamente ocupa e das vantagens que tal cargo pode oferecer. A culpa aqui é muito menos do meu colega e muito mais dos políticos, mas principalmente do sistema que se implantou de seis anos para cá em nosso Estado. Que fique bem claro que isso não acontecia assim, dessa forma, acintosa, descarada, absurda, antes do governo Zé Reinaldo. Que fique claro que isso é artifício de quem não tem condição de se colocar ao julgamento popular sem o uso desses artifícios.

O segundo e decisivo motivo que fez com que lhe escrevesse essa carta, foi o absurdo fato de eu ter perdido uma amiga de orkut. É, eu tenho um perfil no orkut! Perdi essa amiga pelo simples fato de eu ter ligado para a mãe dela, que vota comigo há 12 anos, e ter comentado que haviam me dito que ela estaria pedindo votos para um outro candidato e ela me respondeu que estava fazendo isso porque este havia lhe dado um cargo comissionado no governo. Fiquei atônito, sem saber o que dizer, pois que eu saiba, fui eu quem pleiteou junto ao Governo que ela ocupasse um cargo na administração pública. De uma hora para a outra parecia que alguém era mais legítimo do que eu junto àquela amiga, parecia que eu era o usurpador da história. A pessoa ficou furiosa comigo, o marido dela me ligou indignado e a filha me excluiu do orkut. Veja só como são as coisas!

Bem, como já disse o poeta, ”A coisa aqui tá preta…”

Sem mais para o momento,

Reitero meus protestos de estima e consideração, reafirmando minha amizade, que se não é estreita e pautada pelo convívio diário, é verdadeira e sólida.

Joaquim Nagib Haickel
Deputado Estadual, membro da Academia Maranhense de Letras e da Academia Imperatrizense de Letras

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Um Pedaço de Ponte – Parte XII

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As bonecas

O pai morreu cedo.  Não muitos dias depois de ser pai.

Morreu de morte matada, e disso, por aquelas bandas havia fartura.

A mãe o criou no rigor das leis de nosso Senhor.  Do nosso Senhor e suas também.

Maria, a mãe, queria menina – “Nossa Senhora das Graças há de me dar uma filha, que eu a ela darei”.  Menino veio.  Francisco, o pai, falecido na ponta da peixeira de Setembrino Fulote, queria menino – “macho como o pai”.

Francimar, que era menino, cresceu menina: vestido, cachos e bonecas.  Como tal, era tido por todos.

Francimar, crescia, e Maria alimentava, dia a dia, a ilusão de que seu filho era sua filha.  “Por Nossa Senhora das Graças!,”

Para afirmara idéia de ser mulher na cabecinha da criança, Maria tomou precauções: nunca o perdeu de vista, o fez totalmente dependente de si, não o criou na companhia de vizinhos, adultos ou crianças, isolando-o do mundo e até, de certa forma, dela mesma.  Além disso, incutia-lhe a idéia de ser mulher motivando-o pelo prazer de vê-Ia brincar com bonecas, cozinhar, arrumar casa.  Afazeres femininos…

Excelente artesã, Maria fazia-lhe bonecas de vassouras velhas, de palha, de trapos, até de renda de bilros, de lata, de arbustos secos e de madeira.  Maria fez da vida de seu filho a sua própria.  A vida que ela não teve, a infância que ela não pôde ter.

Certo dia, Maria comprou uma dessas bonecas de plástico, dessas que desarticulam pernas, braços e cabeça.  Francimar gostou muito.  Podia esquartejar cabeça, tronco e membros ou montar como bem quisesse: a cabeça, na perna esquerda.  No braço direito, uma perna.

Uma coisa chamou a atenção de Francimar: não foram os cabelos da boneca que a mãe achava parecida com ela – “é você. Vamos chamá-la de Francimar” Não foram os olhos, ou os braços, foi algo que havia nele e não havia na boneca, debaixo da sainha de chita, feita pela mãe.

Francimar ficou confuso.  Ele era mulher, a boneca era mulher.  Mas eram diferentes.  Por quê?  Será que a mãe é de outro tipo também?  Nunca havia visto sua mãe sem roupa.

Ao completar 15, Francimar iria ser entregue a Nossa Senhora das Graças.  E foi.

– Dizem que foi castigo.. .

Um dia de outubro, depois de semanas de sumiço, Maria foi encontrada em sua casa no meio de mil pedaços de bonecas.  Braços, pernas e cabeças.  Bonecas de trapos, vassouras, palhas, madeira, arbustos, rendas, latas e carne.

Em meio aos pedaços de bonecas e de Maria, encontraram um par de testículos e um pênis.

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