Leal ou fiel?

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“Quando eu voltar a São Luís irei parabenizá-lo pessoalmente por sua grande conquista na Academia Maranhense de Letras. Esse feito é prerrogativa de poucos. Nobre Deputado e Imortal.

OBS: Por gentileza post novamente o seu excelente texto sobre LEALDADE E FIDELIDADE.
Abçs.

Márcia soares”

Sei de antemão que o que vou dizer aqui, hoje, neste nosso bate papo, vai chocar muita gente. Mas é assim que fui ensinado a agir e é assim que sempre faço na minha vida. Digo o que penso, mesmo que para isso tenha aprendido a dizê-lo de tal modo, que mesmo chocando algumas pessoas, o que diga, possa suscitar algum acréscimo no indispensável conhecimento de nós mesmos e da vida.

Sou da opinião que lealdade e fidelidade são duas coisas bem diferentes, em que pese o fato de serem facilmente confundíveis.

Diferenciar coisas tão parecidas, e que ainda por cima se completam e se confundem é uma tarefa extremamente difícil, o que geralmente requer que se usem exemplos claros e práticos para dirimir qualquer possível duvida.

A principio pode-se pensar que se trata do uso de palavras diferentes para expressar a mesma idéia, a mesma ação, o mesmo sentimento. Não é. Da mesma forma que ética é diferente de moral, lealdade difere de fidelidade.

Este é um tema tão controverso que talvez não iremos exauri-lo em uma única crônica dominical, mas mesmo assim vou tentar.

Lealdade é uma espécie de mãe, de coletivo de fidelidade. Lealdade você tem que ter em primeiro lugar para consigo mesmo para que só então, possa ser no mínimo fiel para com os outros.

O mais incrível nisso tudo é que o oposto de fidelidade é infidelidade e de lealdade é deslealdade. No entanto há uma palavra que sintetiza o oposto das duas. Traição. Inclusive, traição não possui um antônimo único, prefixal. Não existem as palavras intraição ou destraição. Mais incrível ainda é que quando se fala de lealdade ou de fidelidade, o que nos vem imediatamente na cabeça, antes de qualquer outra coisa, é o seu antônimo.

Um cônjuge pode ser espiritual e mentalmente leal ao outro e ser carnalmente infiel. Este pode ser desleal mentalmente para com o outro sem nunca tê-lo traído carnalmente.

Tempos atrás comentei esse assunto numa roda de amigos e notei o mal estar que causei, principalmente em algumas mulheres que estavam na conversa. Para algumas delas pareceu que eu estava tentando tirar uma carta de seguro, uma licença previa e tácita para trair. Quem pensou assim se enganou. Tentava era mostra-lhes o peso, a importância de certas ações, de certos sentimentos, nem sempre claros, nem sempre bem entendidos.

Em minha opinião a lealdade é um sentimento maior, individual. Independente do outro. Meu, pra mim, por mim. Fidelidade é coisa externa, de mim para o outro. É o sentimento, o vinculo que há entre animal e amestrador. Entre senhor e servo.

Um político pode permanecer leal, mesmo não podendo cumprir um compromisso preestabelecido. Mas às vezes seu código de ética é tão frágil, que não lhe fornece moral para que seja honrado e leal, fazendo com que se torne um reles traidor infiel.

Caso real é a historia daquele político que tendo se empenhado na candidatura de três correligionários, depois da eleição destes, teve tratamentos distinto de cada um deles.

O primeiro, apesar de ser analfabeto, mas tendo grande senso de honra manteve-se leal a si e fiel ao companheiro. Exceção que confirma a regra.

O segundo, apesar de pouco instruído, mas sendo sábio, antes de cometer qualquer ato que pudesse ser interpretado como infidelidade, chamou o bom amigo das horas difíceis e mostrou-lhe a situação em que se encontrava. Foi leal consigo e com o outro, apesar de não cumprir in totum o que havia sido acordado. Meno male.

O terceiro, apesar de doutor, sendo covarde o bastante para não enfrentar a situação de cabeça erguida, sumiu sem dar explicação. Foi desleal e infiel consigo e com o companheiro. Com esse, o julgamento da historia será impiedoso.

Mas o melhor e mais claro exemplo da diferença que há entre lealdade e fidelidade se encontra na historia medieval de Tristão e Isolda(não percam o filme em cartaz nos cinemas), onde o amor de um rapaz por uma moça supera o sentimento de gratidão e devoção dos dois para com o pai adotivo dele que é esposo dela.

Em Tristão e Isolda, ficam bem aclaradas as semelhanças e as diferenças entre lealdade e fidelidade. 

Há uma linha tênue entre estes dois sentimentos, entre estas duas ações, mas em minha opinião, são coisas bem distintas uma da outra.

Se perguntarem pra mim como prefiro ser tratado, responderei sem titubear, prefiro que as pessoas me sejam leais.

 

PS: Assistindo as chamadas da próxima novela das vinte horas da Rede Globo, “Paginas da vida”, escrita por Manoel Carlos, vi que o personagem Olívia, interpretada por Ana Paula Arosio, diz uma coisa muito parecida com isso, lealdade e fidelidade não são a mesma coisa. Resta apenas se saber em que contexto será desenvolvida e explorada tal afirmação, por este que é um dos grandes mestres da polemica televisiva.

2 comentários para "Leal ou fiel?"


  1. Marcia Soares

    Querido Joaquim,
    Muito obrigada por atender ao meu pedido.
    Pena que muitos não são capazes de olhar além do retrovisor do carro.
    Um garnde abraço

  2. Ângela Maria Soares felipe

    Claro e maravilhoso o seu texto. é exatamente assim que eu penso. Como mulher precisei de maturidade e coragem para admitir essa diferença, mas é realmente bem diferente. Quase não encontramos quem queira pensar nesse tema, deve causar desconforto. As mulheres podem compreender que isso estimula seus maridos à infidelidade (que com conceito ou sem conceito eles já traem). Para os homens é um pensamento cômodo, desde que não seja a mulher dele que pense assim. Se tivesse que fazer uma escolha também seria pela lealdade.

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