Ultrassonografia

10comentários

Muitas pessoas ficaram curiosas e algumas até me pediram que lhes enviasse o poema citado em meu texto do domingo, 05 de julho, onde uso a expressão “angustia do pronto”, por isso publico hoje o referido poema. Espero que gostem.

O feto é fato fito

é fato

   fito

a foto do

   fruto.

Angústia do pronto.

10 comentários para "Ultrassonografia"


  1. fernanda

    Corrigindo: UltraSSonografia…

  2. PEDRO CABRAL

    Camões ao colocar o ponto final nos Lusíadas, não sentiu a angústia do pronto, muito pelo contrário. Ele sentiu satisfação e plenitude, pois a obra expressava exatamente o que ele era e a mensagem que ele queria deixar para a posteridade. Michelangelo não sentiu a angústia do pronto ao finalizar a obra Moisés, muito pelo contrário. Ele havia tirado da pedra bruta a beleza e, encantado pronunciou a seguinte frase: Perché non parli? Por que não falas?
    Tanto Camões quanto Michelangelo sentiram a plenitude do pronto, eles haviam tirado leite da pedra, de dentro deles mesmo. O pronto só traz angústia quando não corresponde ao desejo de perfeição e de beleza da alma humana.
    Felicidade não rima com angústia. E toda angústia é inquietação, insatisfação, incerteza, dúvida e questionamento clamando por resposta. Nenhum grande inventor e/ou descobridor sentiu no pronto, angústia, muito pelo contrário. Nenhum mestre da música sentiu no pronto, angústia, muito pelo contrário, pois a angústia era o que lhes assobrava enquanto a obra não havia ainda sido realizada, dando a eles a sensação de incompletitude.

    “Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
    Destemperada e a voz enrouquecida,
    E não do canto, mas de ver que venho
    Cantar a gente surda e endurecida.”

    Epílogo, estrofe 145 do canto X
    OS LUSÍADAS, Luís Vaz de Camões

    Resposta: Esse seu, é um ponto de vista com o qual, em alguns casos, eu até posso concordar. Acontece que exatamente por concordar com ele cabe perfeitamente nesse caso a visão inversa, contrária, aquela que diz que chegar-se onde se almeja ao invés de se atingir a plenitude representada aqui pela satisfação, atinge-se um imenso vazio, a tal angustia do pronto. Tente ver por esse angulo. Há pessoas que sentem dessa maneira, não da sua e nem por isso são piores ou estão errados.

  3. Guilherme Tomazzelli

    Acho que Pedro não entendeu o que quis dizer o Joaquim. A angustia do pronto a qual ele se refere é a exacerbação da plenitude, da satisfação. Esse sentimento, esse estado, pode fazer com que não se saiba o que fazer, para onde ir…

  4. PEDRO CABRAL

    Guilherme, creio que eu entendi a angústia do pronto, do novo imortal, tal e qual você a descreve, como um sentimento que leva a não saber o que fazer e para onde ir… O que contraria a definição de plenitude, pois a plenitude pressupõe ter sabido o que fazer e como fazer. Além de pressupor o que fazer e para onde ir.
    Tomo como exemplo o poema no qual está inserida a expressão “angústia do pronto”, onde tal angústia só pode expressar duas coisas. A primeira, se o feto, fruto, não é o desejado e a segunda, se o fruto, filho (a) é visto como uma obra ainda por ser acabada, trazendo em si a necessidade da responsabilidade, da preparação intelectual e emocional, do compromisso e do amadurecimento, pois se trata de um vínculo que não se acaba nem com a morte, portanto é um vínculo imortal.
    O que não se aplica à condição de ter sido eleito o novo imortal, visto que a própria eleição já o caracteriza como dotado de responsabilidade, de maturidade e de preparo intelectual e emocional, muito acima da média dos comuns mortais.
    Como o novo imortal soube o que fazer e como fazer, o que pressupõe exercício da plenitude, do tirar leite de pedra, deve, portanto, saber o que fazer e para onde ir, sem direito à angústia que acomete os que estão muito abaixo da média em preparo intelectual e especialmente, emocional. A angústia do novo imortal é desnecessária, estou certo que ele sabe o que fazer e para onde poderá levar os comuns mortais, que dependem dos sábios para lhes guiarem. A hora não é de fraquejar e sim de fortalecer-se.

    Resposta: Só falta o Pedro dizer que o seu nome do meio é Álvares! Ai lascou…
    Desculpe a brincadeira, mas do jeito que você fala, tudo parece muito fácil e falar é fácil mesmo, dizer é muito fácil, estabelecer as coisas assim, de maneira tão certinha como se a vida fosse um roteiro de novela mexicana… Assim é muito fácil amigo Pedro.
    Pare de pressupor! Lembre de 007, viva e deixe viver. Quem lhe disse que uma coisa só pode expressar duas conclusões!? Sabe, parece que você vive metido em uma camisa de força ou quem sabe em um aquário!
    Olhe, eu não queria ter que lhe dar aula de interpretação até porque poesia se lê e se sente, mas já que você parece estar precisando de ajuda, vou abrir uma exceção.
    O feto é fato. Fito a foto do fruto. Angustia do pronto. Trocando em miúdos: Minha mulher está grávida. Aqui está o exame, a ultrassonografia , a fotinho da criança. Poxa que coisa!!! Que responsabilidade. Eu fiz uma vida. Tenho que cuidar dela, fazê-la ser forte, dar-lhe apoio, amá-la… Ela vai nascer em meio a tudo isso…
    É dessa angustia de que falo. Alguém que está feliz por ser pai, mas que se preocupa em que mundo e em que sociedade vai viver o seu maior tesouro.
    Deixe de ser teimoso

  5. Clara

    Joaquim,

    Parabéns por ser o mais novo membro da Academia Maranhense de letras.

    Angústia do pronto pode estar relacionado com o fim de mais um sonho realizado, como o ser humano é um eterno desejante, no momento em que algo se conclui, vem a angústia do pronto e o desejo de começar algo novo.

    Um abraço,

    Clara

  6. Clara

    Joaquim,

    Estou em São Luís, que alegria!!!! Advinhem o que já fiz? Tomei sorvete de abacate na sorveteria Elefantinho. Ainda bem que ainda existe o sorvete de abacate.

    Um abraço,

    Clara

  7. PEDRO CABRAL

    Você está certo quando diz que eu sou teimoso. E você não pode imaginar o quanto. Anos atrás eu também achava que a vida não era um roteiro de novela mexicana. Mas, bastou uma bala perdida para transformar minha vida em uma novela, mexicana, em que eu tenho que encarar a tragédia como comédia. Rir da minha própria condição, preso a uma cadeira de rodas, surdo e mudo e, ainda dar graças a Deus por estar vivo. Se é que se pode chamar de vida a minha atual condição. Eu era um professor, não sou mais. Eu era um homem, não sou mais. Você acertou mais uma vez quando diz que parece que eu vivo metido numa camisa de força ou em um aquário. Nada posso fazer para mudar minha condição e é por essa razão que eu celebro quando pessoas como você são eleitas, quer sejam como políticos, quer sejam como imortais, pois apesar do que me aconteceu eu não perdi a esperança de ver o mundo livre da violência, em todas as formas e a sua angústia entra em choque com a minha esperança.
    Eu concordo plenamente com você, poesia se lê e se sente. A sua explicação sobre a sua poesia não é diferente de uma das interpretações que eu dei sobre a angústia do pronto. Diz você o seguinte:

    “O feto é fato. Fito a foto do fruto. Angustia do pronto. Trocando em miúdos: Minha mulher está grávida. Aqui está o exame, a ultrassonografia , a fotinho da criança. Poxa que coisa!!! Que responsabilidade. Eu fiz uma vida. Tenho que cuidar dela, fazê-la ser forte, dar-lhe apoio, amá-la… Ela vai nascer em meio a tudo isso…
    É dessa angustia de que falo. Alguém que está feliz por ser pai, mas que se preocupa em que mundo e em que sociedade vai viver o seu maior tesouro.”

    E eu disse o seguinte:
    … a segunda, se o fruto, filho (a) é visto como uma obra ainda por ser acabada, trazendo em si a necessidade da responsabilidade, da preparação intelectual e emocional, do compromisso e do amadurecimento, pois se trata de um vínculo que não se acaba nem com a morte, portanto é um vínculo imortal.
    O que não é em absoluto diferente da sua explicação, como o autor do poema. E me sinto feliz por ter podido ler o seu poema, entendendo-o, interpretando-o, para poder senti-lo.
    Eu tenho filhos adolescentes e não quero que eles sejam roubados de suas vidas. Eu não quero para os meus filhos a “vida” que eu estou tendo que engolir. Falar com certeza é mais fácil do que fazer e sem coragem é que não se faz nada mesmo. Minha mensagem foi uma mensagem de estímulo a você. Por isso afirmei que não era hora de fraquejar (de angústias) e sim de fortalecer-se.
    Desculpe-me a teimosia em explicar-me e por ter retirado um pouco o manto de invisibilidade que geralmente cobre os comentaristas de blogs. Eu fiquei preso a uma cadeira de rodas, surdo e mudo, por conta de uma bala perdida. Para a bala eu estava no lugar certo e na hora certa. Mas, esse não era, com certeza, o roteiro que a vida tinha escrito para mim e que eu havia escrito para mim.
    Você me aconselha a “parar de pressupor e a lembrar de 007, viva e deixe viver”. Do meu ponto de nada-vida, eu não posso parar de pressupor que a realidade de mundo pode ser diferente, que existe um futuro onde a violência não tenha espaço para existir e que pessoas como você possam ser a diferença que o mundo precisa. E lembrando 007, como você me sugeriu, eu sou totalmente contra o VIVA E DEIXE MORRER (Live and Let Die, 1973)

  8. maria

    Uau Joaquim,

    Só você mesmo com seu blog e seus leitores para provocar um debate tão enriquecedor, tão cheio de vida…não importa o que é de fato e como os criadores se sentem quando vêem terminadas suas obras, se plenitude, se vazio por ter que recomeçar, se saudades…
    Às vezes acontece isso comigo quando estou terminando de ler um livro que estou gostando muito…começo a ler mais pausadamente para tentar adiar o final, pois sei que quando terminar não o terei mais e nem aquela sensação prazerosa. Já me vi passando por isso inúmeras vezes. É a mesma sensação quando se vê um filho crescendo, virando adolescente, querendo dormir na casa do amiguinho…a gente começa a perceber que ele está ganhando asas..que logo não vai mais precisar da gente…e isso é tão rápido, quando se percebe já passou e às vezes a expectativa do final é melhor do que o próprio final. Quanto a isso não se preocupe. Sendo quem você é, nunca lhe faltarão novos desafios ou obras inacabadas esperando por seu ponto final.

  9. Leio sempre

    Joaquim !!! Eu já havia lido esse poema qdo vc postou pela primeira vez …
    e fiquei feliz agora por saber que interpretei exatamente o que vc tentou expressar, acho eu…

    Ainda que na surpresa de um acontecimento (fato) maravilhoso – um novo ser (o fruto) vem a angústia (responsaabilidade) do por vir de uma vida (incógnita do futuro) que pesa o saber conduzi-la…

  10. cristina galletti

    ola joaquim!!
    Nao sei o que realmente camoes ou mesmo michelangelo sentiram ao concluir suas obras…mesmo extasiados…sei que sou criadora das minhas experiencias e sinto a angustia do pronto!
    Mesmo me sentindo plena e realizada.Nao é falta de encantamento nem tampouco de plenitude,é simplesmente uma angustia…Nao é sentimento negativo.É desafiador! mais agora do que antes de estar pronto!
    abraços
    cristina galletti

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