O jornalista
A verdade em camisa-de-força.
E você aí
batendo as teclas da máquina
criando obstáculos entre versão e realidade.
A verdade em camisa-de-força.
E você aí
batendo as teclas da máquina
criando obstáculos entre versão e realidade.
Recebi um comentário em meu blog sugerindo que falasse sobre isso tudo que está acontecendo no Senado e resolvi estender a resposta de lá para este que em minha opinião é o maior e mais importante veículo de comunicação de minha terra. Já comentei várias vezes sobre esse assunto, tanto aqui quanto na Assembléia Legislativa. Mais lá que aqui, pois acredito que lá seja o ambiente mais propício para fazer isso. Porém acho oportuno voltar a esse assunto.
Você acredita que se Sarney simplesmente renunciasse ao cargo de presidente do Senado os problemas que lá acontecem se resolveriam, assim, num passe de mágica? Imagino que a sua resposta, bem como a de qualquer pessoa de bom senso será, “NÃO”, e o motivo é claro para qualquer pessoa que não esteja comprometida com a partidarização do assunto ou com a vontade de vender notícias, de controlar e de manipular a opinião pública.
O problema em tela é bem mais profundo que a simples existência de um senador ou do presidente do Senado. É algo estrutural, inerente à mecânica do poder. Algo sedimentado e arraigado em qualquer estrutura burocrática repleta de benefícios como a do senado, que nunca sofreu uma modernização profunda e verdadeira ou qualquer ruptura em sua oligarquia funcional, que contabiliza benefícios seculares, coisas que ninguém jamais teve vontade ou coragem de tocar, até porque não interessava a ninguém fazer isso, pelo menos até agora.
Esse mundão de gente que alguns dizem querer que Sarney renuncie à presidência do Senado, não é nada mais nada menos que a mídia nacional querendo substituir a verdadeira opinião publica por sua opinião publicada. Os donos de jornais de São Paulo que estão a serviço do PSDB, tentando facilitar a vida de Zé Serra que quer porque quer ser presidente da república.
Você pode até dizer que estou simplificando a coisa, mas pense um pouco. Sarney já foi presidente do Senado duas vezes anteriormente, pelo menos uma delas no tempo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Por que isso não veio à tona naquela ocasião se todos dizem hoje que isso tudo sempre aconteceu? Que isso é coisa de longas datas? Eu lhe digo o por que. Porque não interessava a ninguém naquela época desestabilizar o governo de então, mas o de agora sim. Os paulistas quatrocentões não admitem que a Dilma possa vir continuar fazendo o que Lula vem fazendo na presidência da república. Querem porque querem mudar a gerência do poder central de nosso país. É muito, muito, muito dinheiro… É muito, muito, muito poder que está em jogo, não é apenas Zé Sarney ou o Senado. Como dizia W.S. “Há mais coisa…”
Acredite, qualquer um que estivesse no lugar de Sarney, sendo quem Sarney é representando o que ele representa, estaria passando pela mesma situação, pelo mesmo suplício e se fosse realmente como Sarney, esse alguém teria que resistir a todo custo, pois assim estaria fazendo um grande serviço ao Brasil. Estaria impedindo que alguns poucos manipulassem a opinião pública, subvertendo a verdadeira vontade popular sem uma eleição democrática, apenas com páginas de jornais e reportagens televisivas, munidos de denuncismo, hipocrisia e motivados por interesses subalternos.
Não pense que eu acredite que Sarney seja um Santo. Alguém sem defeitos. Ele os tem, mas nenhum que eu ou você, ou Artur Virgilio ou Pedro Simon também não tenhamos. Queira Deus, os nossos sejam menores que os dele. Não pense que eu acredite que não haja nada de errado no Senado. Tenho certeza que há, só não concordo que a execração pública do presidente do Senado, sua crucificação, sua imolação, seu sacrifício público, seja a maneira correta ou justa de resolvermos esse assunto.
Pelo menos uma coisa já está acontecendo de bom nisso tudo, começaram a organizar de forma clara e transparente a estrutura administrativa e funcional do Senado Federal e é bem possível que toda essa celeuma sirva para consolidar essas mudanças.
Respeito e defendo o direito de quem se opuser a mim ou a Sarney. Para um político um adversário é quase tão importante quanto um correligionário, mas é necessário que tanto correligionário quanto adversário saibam quais os seus papéis e que tenham a mínima noção de como devem desempenhá-lo. Correligionário não pode ser capacho e adversário não tem que ser escroque.
Essa é a verdade em que eu acredito.
Dando continuidade ao texto “Um Pedaço da Ponte” leia a seguir:
Aurora e Catarina
Filha de dona Justina e do finado senhor Custódio, Aurora era um botão em flor no esplendor de seus treze anos. A mulher começava a aflorar nas carnes da menina precoce, que na quarta série do ginásio no Colégio Rosa Castro, já era a mais bela e graciosa da turma e, para alguns, do colégio.
Catarina era a afilhada da dita Justina e do finado Custódio. Menina criada sem sunga, como se podia dizer – sem sunga e na Baixada – Viana, São Bento, por ali.
Aurora tinha apele branca, como algodão, e macia como o pêssego. Já Catarina era a morena que deixava o português da Auto-Importadora a pensar: “Um metro e pouco de morena,com apenas 14 anos, e já me fazendo pecar”.
Catarina era como a manhã: extrovertida, alegre, bondosa, inocente, apesar de inculta e tola. Por sua vez, Aurora era como o entardecer: pura, dócil, morna. Tinha um aspecto de crepúsculo – calada, resguardada, dava até a impressão de tristeza.
As duas crianças se davam muito bem. Eram moças que estavam sendo criadas para serem mulheres prendadas: tricotavam, costuravam, cosiam, estavam aprendendo a cozinhar, além de fazer quitutes, doces e salgados, especialidades das mulheres da família, que era tida como a das maiores banqueteiras da cidade.
Aurora estava sendo preparada para casar, mas queria ser independente, estudar ir morar fora e se formar em Medicina.
Catarina seria preparada para casar e ser mais uma dona de casa. Veio tarde para cidade, e não se engraçou pelos estudos. Aprendeu, realmente, o que queria.
As meninas dormiam no mesmo quarto, desde que Catarina chegou do interior. Uma admirava muito a outra. Na real acepção da palavra, elas se amavam.
Carlos, um vizinho e amante das duas, em sonho, as observava sempre: “Catarina penteava Aurora. Aurora vestia Catarina. Uma viu a mulher nascer na outra”.
Nos seios da Aurora, havia um pontinho rosado ao centro, que Catarina se deliciava em acarinhar e vê-lo intumescer, e assim era com Catarina. Uma e outra se conheciam, se tocavam, se banhavam, dentro de uma inocência que tornava aquilo tudo bonito e fazia com que a sensualidade das moças brotasse a poros abertos.
A sociedade reprimia muito mais as pessoas, há cinquenta anos. Reprimia tanto que, uma vez, apesar de irmãs de criação, as duas saíram de mãos dadas – e isso era comum – e logo se comentou. Sabedoras de que ninguém entenderia suas intimidades, não se manifestavam em público, apesar do que, de vez em quando, uma ou outra escorregava…
Certa ocasião, Aurora, eufórica porque havia tirado uma boa nota em matemática, matéria que odiava, chegou a casa e, na frente da mãe, da tia Laura e do primo Celso, beijou Catarina nos lábios.
Catarina, apesar de mais segura e precavida, um dia deu um puxavão na franzina Aurora, só porque esta se derretia para um rapaz numa festa.
O inevitável tinha de acontecer. Celso, sobrinho de dona Justina, resolve passar uns dias na casa da tia. O rapaz faiscava de desejo por Catarina. Esperou a tia se retirar da cozinha, e a prima sair para aulas particulares com a professora Risoleta, para abordar aquele pedaço de chocolate, que era Catarina.
E foi assim. A moça gostou e, pensando que os carinhos do homem seriam como os da menina, permite-se devassar pelo rapaz. Para ela era natural
Celso desabotoou-lhe a blusa. Ela gemia devagar, e já sentia alguma diferença entre os carinhos de Aurora e os de Celso, mas se deixou levar. Ele levantou a saia, a anágua e ela estava sem sunga. Com jeito e carinho fazia seus dedos passearem por matas, becos, grutas e alamedas e, cada segundo, a deixava mais e mais desejosa. Como que sabendo o que lhe aconteceria, Catarina procura nas calças dele algo que sabe que existia, mas só imaginara sua serventia há poucos instantes. Ela se jogou ao chão. Ela já sem roupas e ele vestido, mas morto de desejo. Suas bocas se confundiam com seus corpos, e provavam um o gosto do outro, até que ele não se contém, e caí sobre ela, penetrando-lhe de forma tão forte e ao mesmo tempo macia que o êxtase dos dois é imediato, mas nem por isso param de gemer baixinho, de mexer levinho, de ondular os corpos.
Aurora, querendo fazer surpresa, entra pé ante pé, sobe as escadas como um felino. Vê a mãe, que dorme no quarto, e supondo que o primo saíra, vai à cozinha, assustar Catarina. Ela chega, mansamente, e depara os dois caídos ao lado da mesa da copa, se beijando, se tragando, se querendo. Soluçando quase sem som, ela saí e vai chorar em seu quarto, onde entende muita coisa. Entende que o amor por Catarina superava muita coisa…
Aquela noite foi quase como todas as noites, só os segredos gritavam na hora do jantar: o amor de Aurora por Catarina, o amor de Catarina por Celso.
Todos vão dormir com um determinado silencio quase fúnebre.
Aurora se levanta de madrugada e ingere uma porção do veneno de matar ratos, morrendo dolorosamente em seguida.
Quando amanhece, Catarina é a primeira a dar por falta da Aurora, encontrando-a estirada ao lado da mesa da copa. Catarina entende o que aconteceu e se atira de cabeça do mirante do sobrado da casa do finado Custódio, na Rua do Sol, 99.
“Dois juízes encontram-se no portão de acesso de um conhecido motel. Até aí tudo bem, isso poderia ser uma coisa normal, acontece que cada um estava acompanhado da mulher do outro.
Após alguns instantes de impasse, em tom solene e respeitoso, um diz ao outro: Nobre colega, creio eu que o correto seria que a minha mulher viesse comigo, em meu carro, e a sua mulher volte com Vossa Excelência no seu.
Ao que o outro respondeu sem pestanejar: Data vênia, concordo plenamente com o nobre colega. Isso seria o correto a se fazer. No entanto, isso não seria o justo, levando-se em consideração que vocês já estão saindo e agora é que nós estamos entrando.
Resolvi colocar essa piada neste texto para descontrair nossa conversa, mas também para tentar usá-la como link ao abordar o assunto que gostaria de tratar aqui hoje.
O que escolher ser? Ser correto ou ser justo? Esse dilema me lembra algo proposto pelo mestre Nicolau, no capitulo XVII de sua obra-prima que estará completando 500 anos em 2013, isto se o mundo não acabar em 2012, como previram os Maias.
É fato que o correto nem sempre é o justo e vice-versa. Sinceramente eu não sei e acredito que ninguém possa me dizer, com certeza, qual das duas situações é a menos pior. O risco que se corre em sermos corretos, mas injustos, é o mesmo que há em sermos justos, porém incorretos. Parece simples e fácil, mas não é nem uma coisa nem outra.
Diariamente nos deparamos com situações como essa. Dilemas iguais ou piores do que esse, que, de certa forma, transformam a nossa vida numa sucessão de escolhas, certas, erradas ou nem tanto.
É a relação de coerência entre essas escolhas que nos deve guiar através da vida. Algumas vezes, por caminhos nem sempre os mais justos, porém, os mais corretos, outras vezes através de caminhos nem sempre os mais corretos, porém os mais justos.
Quando falo de justiça e correção me salta imediatamente da memória uma história que minha avó, Maria Haickel, me contou quando era criança, sobre a imensa sabedoria do rei Salomão que deveria decidir entre duas mulheres, quem deveria ser a mãe de um recém-nascido.
Conhecido também por seu equilíbrio, por sua justiça e por sua correção, Salomão, depois de ouvir as razões das mulheres, disse que não seria capaz de resolver com quem estava a verdade e por isso só havia uma coisa que ele poderia fazer, mandaria cortar a criança ao meio e dar a metade para cada uma daquelas mulheres que se diziam mãe.
Como minha avó libanesa me contou em seu português arrastado, a criança foi entregue à mulher que se jogando aos pés do rei pediu que ele desse a criança à outra mulher, pois preferia ver o seu filho com outra mãe a vê-lo morto. Salomão, então teria dito “Dai a esta o menino vivo e de maneira nenhuma o mateis, porque esta é sua mãe.” Disse isso porque aquela mulher havia demonstrado, com sua renúncia, o amor característico das mães, coisa que só uma mãe é capaz de fazer.
A justiça trabalha com o risco do imponderável, do psicológico. Eu sempre achei que havia um componente psicológico muito marcante nessa história, algo determinante que não se pode deixar de analisar.
Imagine se aquela mulher que se jogou ao chão implorando ao sábio rei que não partisse a criança ao meio estivesse fazendo isso não por amor, mas por remorso, pois ela sabia que aquela criança não era a sua, pois o seu filho havia morrido.
Se remorso e não amor foi o motivo que fez aquela mulher renunciar à criança, o que Salomão fez foi o certo ou o justo? Deixo que você resolva ao seu modo, mas não deixarei de dizer-lhe a minha opinião. Pouco importaria o motivo que levou aquela mulher a impedir que o rei mandasse cortar a criança ao meio, se foi amor é porque ela era a mãe verdadeira, se foi remorso, mesmo não sendo a verdadeira mãe, ela demonstrou que tinha compaixão, generosidade, desprendimento e mesmo dilacerada pela perda do filho morto, não chegaria ao ponto de deixar matar aquela criança, linda como seu filho seria. Fazendo isso ela se fez igualmente merecedora do veredicto favorável do rei.
Não importa se o correto é o justo ou vice versa, o que importa é que qualquer coisa que façamos seja sempre impregnada da vontade verdadeira de fazer o melhor, o mais correto, o mais justo, mesmo que nem sempre consigamos.
Pense nisso!
Maria Rita armava barraca na mureta da Praça Benedito Leite e vendia:
Dois-tãos de pernas grossas; duas coxas macias, ancas graciosas e luzidias como as da égua Esmeralda, caso de amor de “seu” Dico.
Cintura de umbigo tufado – culpa da parteira “Dona” Maria José do Bom Parto.
Peitos ainda durinhos, mas já querendo murchar de tanto freguês apalpar.
Pescoço de bailarina, cabelos de espanhola, olhos de moça-virgem e andar de brincar ganzola.
Maria Rita armava barraca e vendia…
Dando continuidade ao texto “Um Pedaço da Ponte” leia a seguir:
Centésima oitava estória do delegado Furrilha, do quitandeiro Nonato e do Ribinha afilhado
– O sinhô já sôbe, meu padrim!?
– Se você me contar!…
– O delegado Furrilha cabou de matar um sujeito na Trizidela.
– Quem foi o infeliz?
– Um tal de Binidito. Acho que é o Biné Caruaru, aquele que Florentino falou que foi um dos cabra que matou o Justino, em Imperatriz, há uns dois ano.
– Foi caso de policia?l Ordem de prisão?! Briga de boteco?! Bebedeira!?…
– Num sei não, sinhô, Antuninho tava dizendo que foi pro mode que o tal de Biné Caruaru andou batendo na mulher e a viatura da delegacia ia passando, e aí foi os diabo.
-Apanhe o burro do Ovídio, lá no quintal, e vá se informar de tudo. Não demora a vir me contar tíntim por tintím.
Ribinha nem suspirou; pulou a cerca e foi pegando o burro do tal Ovídío e seguindo pros lados da Trizidela.
Uma hora depois, espumavam ele e o burro na estrada, já de volta para contar a “seu” Nonato o que ocorrera.
– Meu padrim, nem queira o sinhô saber…
– Fala, homem de Deus, o que houve?
– O tal de Biné levou dois tiro; um pegou nos peito, bem aqui no lado esquerdo e outro foi na coxa…
– Mas por quê? Foi mesmo por que ele estava batendo na mulher?
– Foi pió. O dito Binidito matou a esposa. Dizendo o Quinca Montero, ele tinha bebido muito, “como sempre”, e chegou em casa e a mulé não tava, tava na casa da vizinha, nisso ele foi buscar ela lá, de baixo de bolacha. E a finada, coitada, foi chorando e correndo, chorando e correndo. Chegando em casa, ele queria comer, e gritava com ela e batia nela, os fio tentaram se meter, também levaram o que lhes era de direito. Até que uma hora ela pegou uma pexera e rumou pru Biná, e ele não se intimidou e rumou pra ela.
– E aí? Conta, conta…
– Ela deu uma pexerada nele na altura do braço, mas quando ela viu o mel escorrendo, largou a faca pexera e deu nos pé. E ele se botou atrás, mas ao passar pelo terreiro, passou a mão no machado de cortar lenha pro fomo de farinha e foi atrás da coitada. Dizendo a Mariquinha Beata, eles levaram uma vida num corre pra lá e pra cá, até que numa determinada hora, aí, então…
– Fala, homem. Quer me matar? Vamos, conta o que houve.
– Ele aprumou o machado numa tacada segura e firme no meio das costas da disinfeliz, mas mesmo assim ela ainda deu dois passos, e ele deu outra machadada, pegando agora no pescoço da mulé, e o bicho rolou a ladeira da Consumação. Nessa hora o delegado ia passando e ainda viu o Biné dá mais três machadadas no corpo caído no chão.
– O Furrilha prendeu o bandido?
– Nem tentou, quase. Mandou ele levantar as mão, mas ele não ia fazer isso nunca, foi aí que o Bíné rumou pra cima do delegado armado de machado. O delegado mandou dois balaço no desgraçado do assassino.
-É!… Uma hora dessas devem os dois, tanto o defunto quanto a defunta, estar na porta do inferno, esperando o delegado, eu e você chegarmos lá, para que possam ter vistas com o Demônio chefe. Já chega de conversa, vai pegar no batente que…
…Que a vida ia continuar, fosse na Trizidela ou na sede. Fosse para o delegado, para ou “seu” Nonato ou para o Ribinha.
Mas o Biné Caruaru e sua mulher saíam da vida para entrar nessa estória que é tão importante quanto a história dos Binés e das esposas apanhadas e mortas dos meus interiores. Dos nossos interiores.
O delegado voltou para a sua ronda.
Ribínha levou o burro do Ovídio para o cerrado.
“Seu” Nonato continuou a filosofar atrás do balcão de sua venda, vendendo e olhando a vida passar.
Muitas pessoas ficaram curiosas e algumas até me pediram que lhes enviasse o poema citado em meu texto do domingo, 05 de julho, onde uso a expressão “angustia do pronto”, por isso publico hoje o referido poema. Espero que gostem.
O feto é fato fito
é fato
fito
a foto do
fruto.
Angústia do pronto.
Na quinta-feira, 2 de julho, recebi na casa de minha mãe, a visita de meu querido amigo Lino Moreira, presidente da Academia Maranhense de Letras, que juntamente com vários outros amigos acadêmicos lá estiveram para cumprir a formalidade de comunicar o resultado da eleição para a Academia Maranhense de Letras.
Uma semana antes, havia sido a vez de anunciarem resultado da eleição para a cadeira de número 40, que fora ocupada pelo pintor Antônio Almeida e para a qual foi eleito meu amigo Ney Bello Filho. Desta vez, em disputa estava a cadeira número 37 que pertenceu anteriormente a José Nascimento Morais Filho e para a qual, 35 dos 38 acadêmicos votantes, optaram por mim, para ocupá-la a partir de agora.
Poucas vezes em minha vida me senti tão honrado e tão realizado. Poucas vezes me senti tão orgulhoso e tão completo. Em compensação, poucas vezes na vida senti o imenso peso da responsabilidade, poucas vezes senti aquilo que certa vez, em um poema, chamei de “angústia do pronto”. A mesma coisa que sentimos ao ver um filho que acabou de nascer, aquilo que deve ter sentido Miguelangelo ao terminar o seu “Moises”, o que certamente sentiu Camões ao colocar o ponto final em “Os Lusíadas”, aquilo que costumamos sentir quando acabamos uma tarefa para a qual nos dedicamos imensamente.
Durante toda a minha vida tenho procurado trilhar caminhos que me levem a merecer o respeito das pessoas. A eleição para a Academia Maranhense de Letras foi um desses importantes degraus nesta caminhada, fato tão importante que permite citar aqui outros passos decisivos desta jornada, como ter tido a sorte de nascer em uma família maravilhosa que me proporcionou uma boa educação e uma sólida formação de caráter embasado em valiosos códigos de moral e de ética; sempre cultivei amizades verdadeiras, de amigos que estejam conosco mesmo quando estejamos distantes; formar-me advogado foi importante; fazer a revista Guarnicê, ao mesmo tempo em que “cometia” alguns contos, poemas e crônicas; eleger-me deputado estadual aos 22 anos e quatro anos depois ter sido deputado federal constituinte, tempo que usei, acima de tudo, para aprender muito sobre política e sobre as pessoas; ser pai de Laila que é filha de Ivana e ganhar de quebra Avana e Ananda; ter podido ajudar meu pai a se realizar política e empresarialmente; ter consolidado nossas empresas; ter voltado para a política quando todos achavam que sem meu pai para me apoiar eu nada conseguiria; manter-me coerente, dentro daquilo que eu acredito que seja o certo; ter idealizado a Fundação Nagib Haickel e o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão e vê-los dar os primeiros passos rumo ao sucesso; ter sido eleito para a Academia Imperatrizense de Letras; ter realizado o filme “Pelo Ouvido” e poder sentir o reconhecimento das pessoas consubstanciado nos vários prêmios que ele ganhou; ter tido a sorte de encontrar em Jacira um amor verdadeiro e maduro, antes de ultrapassar a marca do meio centenário. Isso tudo me proporciona a possibilidade de respirar fundo e permite que eu possa olhar para trás e ver que há muito, muito, muito mais coisas boas que coisas ruins neste meu trajeto.
Por um instante, no momento em que tive certeza que eu havia sido eleito para a Academia Maranhense de Letras, todas essas coisas me passaram pela cabeça. Isso e muito mais.
Os flashbacks zuniam em minha cabeça, da mesma forma que sobre meus ombros recaia o peso do mundo. Minha mente me dizia e me perguntava mil coisas: E agora Joaquim!?… Você tem que se mostrar capaz de vencer os novos desafios que se apresentarão. Para onde ir e o que fazer depois disso? Você passará a ser cada vez mais cobrado e exigido. Não se esqueça jamais dos bons ensinamentos de seus mestres. E meu pai falou baixinho, ao meu ouvido, uma de suas frases favoritas, “O difícil se faz logo, o impossível demora um pouco mais”.
Depois de comunicado oficialmente que havia sido eleito para ocupar a cadeira 37 da Academia Maranhense de Letras, patroneada por Inácio Xavier de Carvalho, fundada por Ribamar Pereira e ocupada sucessivamente por Luiz Viana, Amaral Raposo e Nascimento Morais, só me restava fazer um agradecimento formal aos membros da maior casa de cultura de nosso estado, ali presentes. Agradeci pela grande honra de me aceitarem como um seu igual. Disse-lhes que espero aprender em seu convívio o suficiente para equalizar o desnível que certamente há entre mim e tão grandes homens de reconhecido saber literário e humanístico. Disse-lhes que me esforçarei ao máximo para compensar, com dedicação e empenho, qualquer deficiência que a minha pouca experiência e o meu modesto preparo possam acarretar. Infelizmente me esqueci de agradecer a eles por terem proporcionado a minha mãe a possibilidade ver realizar-se a profecia que um dia fizera seu bom amigo, o também imortal da AML, João Mohana, que lhe dizia sempre que o futuro de primogênito estava definitivamente ligado à literatura e às artes e que um dia ele chegaria à academia.
Dito tudo isso, só me restava dizer a eles o que digo agora, de público, a muitas outras pessoas, que direta ou indiretamente me ajudaram a chegar até aqui. Muito obrigado! Muito obrigado, de todo coração.
PS: Joaquim Nagib Haickel que já era membro da Academia Imperatrizense de Letras, acaba de ser eleito para Academia Maranhense de Letras e por enquanto continua Deputado Estadual.
Sempre achei que “Pelo Ouvido” fosse um filme mais ao gosto dos latinos sensíveis. Pensei que principalmente os franceses, mas também os italianos, os espanhóis e os portugueses, além de nós brasileiros iriam adorar um filme como aquele. Nunca pensei que fossem exatamente os americanos os que mais se encantariam com o filme selecionando-o para mais 30 festivais, contra 8 na Espanha, 3 na frança, nenhum na Itália, nenhum em Portugal e mais de 30 no Brasil, sem contar Cuba, Colômbia, Peru…
Sempre tive curiosidade de saber o que os franceses pensam do filme e pude constatar isso algumas vezes, conversando em alguns festivais com críticos, jornalistas, cineastas, produtores, diretores e atores franceses e o filme sempre teve uma ótima receptividade entre eles.
No encerramento do Guarnicê fui apresentado por alguns amigos a uma simpática francesa de nome Géraldine que já mora em nossa cidade há quase dois anos e leciona no Centro international de Idiomas e Intercambios (CII). Pedi a ela que colocasse no papel suas opiniões, seus sentimentos a respeito do filme e me mandasse por e-mail. Para minha surpresa ela Escreveu e mandou. É isso que postarei hoje aqui pra vocês.
Por Géraldine GAUTHIER.
Visceral, doce e incrivelmente poético: Três palavras que evocam minhas primeiras impressões sobre o trabalho sensível do Diretor de Cinema Joaquim Haickel.
Sendo francesa tive o reflexo imediato (ou saudoso?) de encontrar semelhanças com meu universo cultural – tanto cinematográfico como pessoal. Relembrei logo do famoso Claude Lelouch cujo assunto predileto é o homem e a mulher, a maneira simples e real como ele pinta o universo intimista das relações amorosas. Pelo Ouvido desenha na tela, o movimento poético do corpo feminino e de suas necessidades. Amor doce e forte: ele vive silencioso e ela sim vive vendo e ouvindo… Para que a cada passo desejoso e toques intensos possam se declarar ainda, e para que em cada gesto e silêncios se apaixonem mais. O desejo sexual e amoroso está lindamente sugerido pelas esculturas esboçadas por ele (entendo aqui uma referencia à escultora Camille Claudel), a importância das mãos e do olhar pelos dedos. As entregas eróticas dela nunca deixam seu amado à la dérive. Para mim, Pelo Ouvido é uma escultura, com feições de uma mulher afirmada e doadora. Pelo Ouvido é também uma proposta, de como dominar e desafiar o que é irreversível? Enfim, ele tem o cheiro das palavras graves, viscerais e realistas do nosso querido poeta Maranhense Nauro Machado. Obrigada ao diretor Joaquim Haickel por seu olhar sensual, por seu gesto suave e forte de escrever a mulher como ela é.