A colecionadora

3comentários

Ela começou muito cedo. Primeiro foram Barbies. Tinha de todos os tipos. Depois foram as figurinhas dessas de álbuns. Coisa chata!

Depois ela resolveu colecionar latinhas de refrigerantes, cervejas e energéticos. As caixinhas de fósforos foi o passo seguinte, um pulo para os maços vazios de cigarros, de todos os países do mundo.

Autógrafos de seus ídolos, borboletas. Ela colecionava de tudo. À proporção que o tempo passava e ela crescia, suas coleções se diversificavam e se sofisticavam. Selos, imãs de geladeira, chaveiros, bichinhos de pelúcia, caixas, moedas, dedais, relógios de pulso, gibis, carrinhos, soldadinhos de massa, livros autografados, canetas. Bebidas eram várias: Whisky, vinho, vodka, cachaça… Um dia ela acordou e olhou em volta e descobriu que a sua vida era uma grande estante, uma grande caixa, um imenso depósito. Resolveu se desfazer de todas as suas coleções. Deu ou vendeu. Pouco importava, estava decidida a iniciar uma nova e definitiva coleção. Dali em diante colecionaria pessoas. Não precisaria levá-las para casa, espetar-lhes alfinetes, pregá-las em um papel, plastificá-las, nem mesmo classificá-las. Colecionar pessoas para ela seria mais que um passatempo, seria antes de tudo uma forma dela se deixar levar, ser espetada, classificada. Seria uma forma direta e eficiente dela se deixar colecionar. Anos depois alguém diria a ela que o que ela havia feito de melhor na vida era colecionar, ao que ela respondeu terna e suavemente: “Jamais fui uma colecionadora. O que na verdade eu fazia era a me envolver com todas aquelas coisa e pessoas”.

Depois de um instante em silêncio, ela completou: “Com as coisas eu me envolvia, com as pessoas me desenvolvia”.

PS: Gostaria muito de ter publicado hoje algo sobre a eleição municipal neste segundo turno, mas devido ao fato de estar viajando e não ter tido tempo de fechar o meu texto, coloco aqui esse micro-conto da vida real, nesse lugar onde deveria estar outra história, menos real.

3 comentários para "A colecionadora"


  1. fernanda ?

    joaquim você como sempre demais!!!

  2. Paoula Braide

    Colecionar é uma arte, que necessita de muita paixão e determinação.
    Imagina então colecionar pessoas, vc não pode só se envolver ,como precisa também que a outra pessoa se envolva. Se não, vai ser só como se ela tivesse passado na sua vida, sem que você tenha deixado marcas e nem ela em você,
    Colecionar pessoas não deixa ¨alfinetadas¨, ¨plastificações¨, mas deixam marcas invisiveis que duram muito mais.

    Bjs

  3. Isis Lucas Braga

    Joaquim , que texto lindo e suave , assim como são nossas conversas …..
    Amei perceber que já fui uma colecionadora compulsiva que aboliu os inanimados e passou para a fase seguinte: GENTES…
    Sempre muito bom passar por aqui , aliviar as idéias e refletir sobre as nuances da vida…você é mesmo especial meu querido!!!
    Ainda espero a sua visita viu????kkkkkk

    Bjus da sua amiga

    Isis

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