Frase horrível, mas verdadeira: Há males que vem para o bem!
Tempos atrás, publiquei neste mesmo espaço um texto intitulado “16 minutos”, onde relatava um incidente que ocorreu com um bimotor que transportava a mim e alguns diretores do Jornal O Estado de São Paulo, numa viagem entre Santa Inês e São Luis. Naquela ocasião falei da certeza que tive de que ainda não havia chegado à hora de empreender a minha grande viagem. Disse que o meu Deus não iria me guiar por essa vida para que eu acabasse ali, daquela forma. Prolongou-se durante intermináveis 16 minutos a apreensão e a duvida entre o que eu acreditava que iria acontecer e o que aconteceria realmente. Bem, ainda estou por aqui. Graças a Deus eu estava certo.
Deus tem e espero que ainda tenha algumas missões e provações para mim. Entre elas, uma que aconteceu na ultima quinta-feira, dia de Corpus Christie, quando tive outro encontro com o imponderável, com o imprevisível.
Voltava para casa por volta das 14 horas, pela Avenida dos Holandeses, quando observei que uma Toyota SW4, branca, que trafegava no sentido Olho D’água/Calhau, começou a rodar na pista, do outro lado do canteiro central.
Ao perceber, tratei de me afastar do lado esquerdo da via, e como não vinha nenhum carro ao meu lado, rumei para a direita.
A SW4 nem estava em alta velocidade, mas como chuviscava, o controle do carro tornou-se mais difícil e na tentativa de controlar o veiculo, seu condutor tentou usar os freios, o que foi seu erro maior naquela situação. O carro projetou-se sobre o canteiro, tendo atingido-o de lado. Nesse momento perdeu uma de suas rodas e ao invés de continuar sua trajetória para frente e na diagonal, rodopiou e mudou de direção em uns 45 graus e chocou-se fortemente com a lateral da Pajero Sport que eu já desviara para a direita, na tentativa de sair de sua rota de colisão.
Nunca vou me esquecer do som daquele impacto, daquela visão. Tudo aquilo está gravado em minha mente, cinematograficamente, quadro a quadro, em câmera lenta, para sempre.
A princípio não acreditei no que acontecera. A manobra que fiz, sem nem ter aumentado a velocidade, era suficiente para me desviar do carro desgovernado, mas não contei com o fato imponderável dele ter mudado de direção ao chocar-se com o canteiro central da avenida.
Depois da colisão, tudo ficou mais claro e simples durante alguns segundos. O susto causou em mim um efeito estranho, um misto de paz e tranqüilidade. Primeiro olhei em volta e depois, com a mão direita apalpei meu peito que doía muito. Coloquei a mão direita debaixo do braço esquerdo e soube que aquele lugar estava bem machucado. Balancei levemente o pescoço, os ombros, a cintura, as pernas e os pés e vi que não havia quebrado nada, foi quando senti que escorria muito sangue de minha cabeça, pelo meu rosto, meu pescoço então olhei no retrovisor e vi a imagem de uma figura que parecia ter saído de um filme de guerra, um rosto completamente ensangüentado. Passei a mão pela cabeça e vi que todo aquele sangue provinha de uma pequena ferida em seu topo, onde uma lasca de vidro se impusera.
Não sei onde consegui tamanha tranqüilidade. Imagino que foi proviniente dos rostos amigos e dos olhares fraternais que imediatamente apareceram na minha janela estilhaçada. A princípio eram pessoas desconhecidas, mas extremamente preocupadas e que tentavam me ajudar e me confortar.
Apareceu uma moça que disse que era enfermeira e ficou conversando comigo e eu disse pra ela que eu estava bem e lhe pedi que fosse até ao outro carro ver se havia alguém ferido. Outra moça, esta bem forte, tratou de rasgar a minha camiseta que estava totalmente ensangüentada, foi quando de repente, aproximou-se de mim uma moça loura, que achei já conhecer. Ela chegou chorando, desesperada, pegou em meu braço sem saber que ele estava machucado e perguntou se eu estava bem. Depois eu vim saber que era ela quem dirigia o carro branco que colidira com o meu.
Logo depois chegaram Felix Alberto, Elie Hachem, Carlos Adler, César Freitas, José Correa, Paulo Nagem, Marcio Assub, Claudinho Costa, Zé Antonio Almeida, Caetano Jorge e Pipoca, entre tantos outros.
Alguém me perguntou pra quem deveria ligar pra avisar do acontecido. Pensei em meu irmão, mas ele estava viajando. Minha mãe ficaria muito preocupada, minha filha Laila também, então eu disse “Ananda” e na mesma hora me lembrei do significado do nome dessa minha Filha, que se eu não a fiz, deveria tê-la feito. Paraíso, Ananda significa paraíso em sânscrito. Ananda não demorou a chegar.
Chamaram o resgate, mas antes dele chegar um rapaz bem forte e muito prático abriu a porta que me imprensava ao console e ao painel do meu carro. Força somada a bom senso às vezes ajuda bastante.
Sou um transgressor. Sortudo, mas um transgressor, mas acho que ninguém deve ser como eu sou. Estava sem cinto de segurança e tive a sorte de a colisão ter sido lateral e não frontal. A ausência do cinto, se me ajudou, poderia ter me matado. Estava falando ao celular e talvez isso tenha salvado a minha vida, mas com toda certeza salvou minha face, pois os cortes que tenho no cotovelo, no braço e no tórax, seriam em meu pescoço e em meu rosto, quem sabe até atingisse meus olhos.
Sorte, foi isso que eu tive, muita sorte. Não só eu, mas as pessoas que se encontravam num automóvel que vinha atrás de mim, pois se aquela camionete desgovernada não se chocasse com a minha que era do mesmo tamanho, teria passado por cima e destruído o pequeno carro que vinha logo atrás de mim.
Fui levado para o hospital e na emergência, comecei a passar mal e resolveram me levar para a UTI, para onde não queria ir, pois lá com toda certeza, seria o paciente em melhores condições. Com toda certeza lá havia pessoas que realmente precisavam de cuidados intensivos, enquanto eu só precisava de cuidados emergenciais.
Por um instante imaginei como seria aquilo tudo se não tivesse dinheiro para fazer frente àquelas despesas!? Me senti muito mal. Foi essa a única hora em que chorei. Lembrei que meu amigo, Deputado Carlos Filho, havia me pedido para resolver o caso de uma senhora que veio do interior e estava, havia dois dias, em uma maca no corredor do Socorrão 2. Falei disso com o Dr. Yuri e com o Dr. Santiago que me atendiam e com minha amiga Dra. Raquel, que viera ficar comigo quando soube do acidente, e os dois últimos, que trabalham também no Socorrão 2, ficaram de resolver o problema da moça. Fiquei aliviado e naquele momento comecei a me curar, através da cura da responsabilidade e da culpa.
Se houve algo de bom nessa tragédia foi só a confirmação da imensa quantidade de amigos que tenho e de pessoas que gostam de mim.
Não saíram de perto de mim enquanto estive no hospital, Dona Clarice, minha mãe, minha ex-mulher e melhor amiga, Ivana, minhas filhas, Laila, Avana e Ananda, minha prima Cristina, meus motoristas, Neto e Marcelo, meus amigos, Paulo, Wadi, Rui, César, Zé Assub, Júnior Assub, Elie, Rômulo, Rogério, Felix, Correa, Pinto, Gilberto e Pêrôba, suas esposas, namoradas, minhas amigas Priscila, Mariana, Gabriela, Juliana, Bruna, Raquelzinha e Agnes e meu compadre Gafanha. Meus telefones não pararam de tocar nem por um minuto se quer.
Doeu, mas dos males o menor. Me machuquei, é verdade, mas pude ver e confirmar o que já sabia: tem um monte de gente boa que gosta muito de mim.
Muito obrigado amigos, por tudo!
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