Uma breve visão sobre JS.
Outro dia eu estava assistindo na TV Senado a um discurso que Sarney fez pela passagem dos 400 anos do nascimento do Padre Vieira, quando minha mãe entrou, sentou-se e ficou me fazendo companhia. Ao final, ela disse: Podem dizer o que quiser dele, mas para mim ele é o maior político desse país.
Fiquei imaginando em que o Sarney de minha mãe diferenciava-se do Sarney de Neiva Moreira ou do de Amanda Dutra ou do de Vadequinho.
Fiquei me perguntando quem na verdade é esse homem que desperta tantas paixões, positivas e negativas.
Seus adversários tentam estigmatizá-lo chamando-o de Cacique, Coronel e Chefe de uma das últimas grandes oligarquias brasileiras. Seus amigos citam o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) que afirma que ele é a figura mais influente de todo legislativo brasileiro.
Imagino que se perguntado fosse sobre quem é José Sarney, ele mesmo diria vaidoso, que é apenas três coisas: 1) O realizador da infra-estrutura que possibilitou as grandes transformações em nosso Estado, tais como a criação da Universidade Federal do Maranhão, e a instalação das faculdades estaduais que viriam depois a ser a UEMA. Foi Sarney quem criou o CEMA, centro pioneiro no Brasil de ensino através da televisão. O Projeto João-de-Barro, escolas para comunidade rural. Criou na TELMA o primeiro plano diretor estadual de telecomunicações do País; Com a CAEMA, construiu o sistema de abastecimento de água de São Luís, a Barragem do Batatã, a estação de tratamento do Sacavém, e interiorizou o abastecimento dágua em mais da metade dos municípios do Estado. Criou a COHAB e construiu os primeiros conjuntos habitacionais em São Luís e no interior. Com a CEMAR cobriu mais de 50% do Estado com energia de baixo custo. No setor de transportes, em seu governo que foram abertos os traçados viários que desbravaram o Maranhão, entre elas a construção da rodovia Santa Luzia-Açailândia e do Porto do Itaqui, antevendo as suas imprescindíveis necessidades para o nosso desenvolvimento.
2) O responsável pela condução de nosso país durante a transição para a democracia.
Alguns analistas reconhecem o trabalho do então presidente Sarney como fator primordial a redemocratização do nosso país. Dizem que se não fosse a fatalidade esse mérito seria de Tancredo. È verdade, mas pela fatalidade, a tarefa coube a ele e ele fez tudo que Tancredo faria, tudo que precisava ser feito. Foi com extrema perícia e habilidade que Sarney sepultou a ditadura militar e teve paciência e cautela para consolidar o regime democrático. Desmentiu oráculos que previam a década de 80 seriam anos perdidos. Perdidos talvez para especuladores, mas para a democracia e o estado de direito, foi crucial.
Mas quem é realmente esse Sarney!? Todos sabem que ele é obstinado, dedicado e competente. Não há nenhuma dúvida que ele seja um homem de grande sorte. Ninguém desconhece sua capacidade de errar muito menos que os seus adversários. Em minha opinião são essas três coisas que fazem dele um vencedor, tanto que foi ele até agora, o único brasileiro a ter chefiado o Poder Legislativo e o Poder Executivo em nosso país.
Consolidou sua imagem de intelectual e democrata ao conciliar-se com Fernando Collor de Mello, apesar dos insultos sofridos durante a campanha de 1989. Esteve com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Por fim tornou-se o interlocutor mais próximo e aliado de primeira hora do presidente Lula.
Alguns de seus críticos mais cruéis dizem que Sarney poderia ter feito muito mais pelo Maranhão. Mas quando dizem isso não levam em conta o fato de toda a pressão que havia sobre seus ombros no período em que foi presidente da republica, e em que dividia, apenas os bônus do comando das decisões, com Ulisses Guimarães e o PMDB. Os ônus eram somente seus.
Dono de uma das mais longas e emocionantes carreiras políticas do país, Sarney protagonizou várias vezes a lenda da Fênix, pássaro que renasce das cinzas.
Tanto seus amigos quanto seus adversários sabem porem que de santo Sarney só tem a cara. Em compensação todos também sabem que está redondamente enganado quem o imagina um demônio, de chifres, rabo de seta e tridente.
Não há como negar que mais do que simplesmente uma figura política, Sarney é uma figura histórica para várias gerações. Sua trajetória recorta um importante período de vida brasileira, em que ele vem dominando a cena, desde quando ainda moço, elegeu-se governador do Maranhão, em 1965, para continuar a dominá-la ainda mais, quando chegou à Presidência da República, vinte anos depois, e continuar em evidencia como ator de destaque mais de quarenta anos depois.
Mesmo tendo sofrido graves revezes depois que foi traído pelo então governador Zé Reinaldo, o seu mais constante auxiliar e beneficiário desde 1966, Sarney ainda assim, mantêm-se como um dos mais importantes políticos da República.
3) Que para ele, José Sarney é na verdade um escritor que foi governador de seu estado, presidente de seu país e é senador da república. Que escreve poesias, contos, romances e ensaios, é membro da Academia Maranhense de Letras e foi eleito para a cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras em 1980.
Que seus 50 livros foram já foram traduzidos em mais de 20 idiomas e publicados em mais de 50 países. Que no correr de sua atuação como homem de letras, publicou A Canção Inicial (poesia, 1952), Marimbondos de Fogo (poesias, 1979), O Dono do Mar (romance, 1995), Saraminda (romance, 2000) e livros de artigos políticos, entre outras obras.
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