Num piscar de olhos.

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Não sei se vocês se lembram, mas tempos atrás, aqui mesmo, reconheci publicamente que sofria de um determinado tipo de dislexia. Olha vocês não podem nem imaginar como ter escrito e publicado aquilo foi importante para que eu pudesse aceitar algumas coisas a respeito de mim mesmo. Sobre minha forma de aprender, sobre as diversas maneiras de ver, ouvir e ler o mundo, de entender as pessoas e como elas se relacionam. Aprendi isso e outras coisas mais a respeito de gente que mesmo não sofrendo de nenhuma forma de dislexia, dificulta incrivelmente a sua comunicação e o seu entendimento do e com o mundo.

Hoje quero contar-lhes uma pequenina historia. Quero falar-lhe de dois presentes que ganhei de meu novíssimo e querido amigo José Belluzzo, mais conhecido no mundo cultural de São Paulo, pela alcunha de “Coi”.

Depois de algum tempo de convivência, as pessoas passam a se conhecer mais profundamente e consequentemente, de um jeito ou de outro, se identificar com seu interlocutor. Principalmente quando os dois sofrem de uma “doença” chamada de “cinemite aguda”, cuja única forma de tratamento é o uso constante e ininterrupto de filmes, seguidos de maravilhosas sessões bate papos regados a uma boa bebida e entremeados por petiscos fenomenais. Ainda mais se você vai se “tratar” em São Paulo! Tomara que meu médico não me leia!

Pois bem, dentre os meus mais novos amigos de infância estão esse rapaz de seus 30 anos e Ariana, sua bela namorada, um ano mais nova que ele. Ele é dono de uma produtora de áudio visuais, chamada Mutante Filmes, incrustada no surpreendente bairro paulistano de Pinheiros.

Depois de uma de nossas conversas, numa em que estava presente uma amiga comum, a fotografa e cineasta, Eliane Coster, Coi disse que me daria dois presentes, o livro “Num Piscar de Olhos”. A editoração gráfica de uma palestra proferida por Walter Murch, vencedor de dois Oscars de melhor edição, com os filmes “Apocalipse Now “ e “O Paciente Inglês”. No livro, aquele monstro sagrado do cinema fala sobre a arte da edição de filmes, o que para mim um dos quatro momentos em que cria e dirigi um filme. Os outros três momentos são quando se faz o roteiro; quando se planeja e executa a produção; e quando se orienta os atores, executa roteiro e produção e grava. Quando se diz “ação” e “corta”.

O outro presente era o filme “O Show Não Pode Parar”, um documentário sobre Robert Evans, o homem que seduziu Hollywood, produtor de grandes filmes, entre eles “O Poderoso Chefão”, “O Bebê de Rosemary e Chinatown”.

Quem gostar de cinema não pode deixar de ler este livro nem de ver esse DVD. Se você tem um amigo que gosta de cinema, dê a ele um desses presentes, ou os dois, não custam caro e valem muito mais que uma jóia.

Para alguém que sofra de dislexia como eu, assistir ao filme seria imensamente mais agradável que ler o livro, e geralmente é mesmo, mas no caso deste livro, escrito por um filosofo do cinema, ele transformou-se num maravilhoso áudio visual que não pude largar ate acabar de ler. Era como se estivesse vendo e ouvindo WM explicando didaticamente todo o seu processo criativo. Ele diz coisas profundamente simples, mas incrivelmente profundas. Coisas aplicáveis ao seu trabalho e a vida de modo geral, e é isso que é mais apaixonante, ele diz coisas que nós conseguimos entender e sentir, mas que nunca antes tínhamos pensado esquematicamente nem sequer verbalizado.

Pude confirmar o prazer que é conhecer novas pessoas. O prazer que é saber que mesmo vivendo em outra cidade, numa realidade bem diferente da nossa, num ritmo de vida e numa freqüência muito diferente, tenham os mesmos referenciais, as mesmas visões e a mesma forma de ver e apreciar o mundo e a vida.

Isso é incrivelmente fantástico. Fez-me sentir mais vivo que nunca.

9 comentários para "Num piscar de olhos."


  1. Pérola

    Fantástico é vc meu querido!!! Só vc consegue nos dar tamanho prazer audiovisual, assim, tão despretenciosamente!! Palavra grande não!? Pode ser, mas é muito menor que sua imaginação, seu carisma, seu coração… Vc é referência de cultura, de sabedoria, de vida…Vc é J.H., único, sem medo de viver e de ser feliz!!!

  2. SM(sp)

    É impressionante como você consegue escrever dessa maneira tão coloquial que nos faz sentir que ao invés de lê-lo, na verdade estamos é ouvindo-o falar. I-N-C-R-I- V É-L-!

  3. ?

    Ei moço! Já sabia que você era muito divertido, inteligente e charmoso, mas não conhecia esse seu lado de escritor e cineasta… Estou impressionada!
    Te pago uma prenda se você descobrir quem sou eu!

  4. Anônimo

    Desculpe a expressão mas ca-ra-ca!!!!

    Aquela letra do Milton… “Certas canções que ouço
    cabem tão dentro de mim,
    que perguntar carece
    Como não fui eu que fiz
    Certa emoção me alcança
    Corta minha alma sem dor
    certas canções me chegam”

    Incrível como muitos contos, livros, filmes, músicas, etc… quando nos “chegam” dá um click!
    A obra parece que a gente quem fez ou já conhecia…

    Cada pessoa é uma tela, ou um mosaico… Nascemos com o esboço de nossa pintura pessoal…
    A gente tem pedaços dessa tela espalhados pelo mundo todo… quando a gente cruza com esses pedaços dá o Click! A alma reconhece de imediato o pedacinho … E quanto mais nos dispomos a agregar experiências e pessoas novas a tela vai se ampliando e tomando novas cores!!! Momentos de prazer qdo há esses encontros… olhares similares… percepções, sintonias.
    Tem coisa que vc escreve que é assim!

  5. Anônimo

    acho massa o jeito que vc leva sua vida, quero aproveitar igual vc, muito bom mesmo. boa semana.
    bjinhos

  6. Bené Figueredo

    Lembro muito bem dessa confusão da dislexia, e do texto daquele seu tio Samuca, o qual suscitou tanta controvérsia…. e também lembro da polêmica que foi levantada graças ao comentário de uma leitora/internauta, Eliane, que acabou desencadeando uma revolução no blog com um monte de comentários de críticas e tb de apoio e o texto acabou tendo uma notoriedade/popularidade enorme graças a tamanha confusão. Parabéns pelos textos.

  7. Anônimo

    Já assistiu “A felicidade não se compra”, de Capra? Quem tem um amigo tem tudo…
    (Coi&Ari)

    Resposta: Jááááááhhh!!! E gostaria muito de rever todos os filmes do Frank Capra com amigos como vocês… Queridos, cultos, sensíveis, inteligentes, cinéfilos!

  8. Anônimo

    Babaca tu te achas um detentor do saber e da cultura né????? quem a tem não alardeia, os outros percebem

    Resposta: Acho que você tem algum problema… Estou falando que meus queridos amigos Coi e Ariana são tudo de bom, não estou falando que sou eu que sou tudo de bom… vê se te manca…

  9. Anônimo

    Olá Joaquim! Tive o prazer de conhecê-lo recentemente atravez de alguns amigos daqui de São Paulo e gostaria de lhe dizer que seria muito bom que pudéssemos contar como mais pessoas como você, não só no ramo cultural, mas principalmente no setor político.

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