Antes mesmo de colocar a primeira letra neste texto já imaginava as reações de pelo menos meia dúzia de meus leitores mais assíduos: Eliane, Nelson e Edinho vão achar que tanto o tema quanto a forma são pessoais demais, enquanto Dona Rosa, Dr. Arimatéia e Flavia vão apreciar tanto o conteúdo quanto a abordagem. Pelo menos é assim que eu imagino, mas como eu não escrevo nem pra agradar, nem pra desagradar ninguém, faço de conta que este primeiro parágrafo é apenas um traveling em um set vazio seguido de um fade out. Cena inspirada no melhor F. Truffaut.
Depois, com um Fade in, apareço eu brigando com esse maldito teclado. Coisa que pouco lembraria S. Kubrick, mas lincaria automaticamente a W. Allen.
Primeiramente quero dizer que não me lembro de ter me sentido tão feliz antes. Feliz não é bem a palavra, acho que a palavra certa é realizado. Farei em dezembro quatro dúzias de anos de existência, já devo ter passado da metade da minha vida e constato que ela me tem sido muito melhor do que pior. Não que na minha vida não haja problemas, chateações e contratempos. Minha vida é bem parecida com a da maioria das pessoas, mas em alguns aspectos ela se torna completamente diferente, mesmo em relação às pessoas mais próximas de mim, como meu irmão.
A realização da qual me refiro, é a possibilidade de poder fazer o que gosto e ainda por cima gostar do que faço. Outras coisas como, por exemplo, não ser bonito como o G. Clooney, ou rico como B. Gates, isso eu supero fácil. Menos fácil é superar outras coisas, como burrice, intolerância e hipocrisia, tanto da parte dos outros quanto da minha.
Estou me sentindo feliz e realizado, porque apesar das dificuldades normais da vida, graças ao misericordioso Deus, que não pertence a essa ou àquela religião, tenho conseguido ver as coisas que planejei acontecerem mais ou menos como o que foi roteirizado.
É bem verdade que numa super produção como é a vida, acontecem alguns contratempos. Perdemos alguns atores importantes no meio do caminho, onde sempre há pedras. Tivemos que fazer adaptações em nosso roteiro, mas como no picadeiro da vida o espetáculo realmente não pode parar, vamos rodando nosso filme, e o resultado disso tem sido muito bom.
Vocês devem ter notado que estou usando desde o inicio termos cinematográficos. Isso é porque o cinema é parte dessa felicidade e dessa realização. O cinema foi o caminho, a forma que eu achei para ser louco, ou melhor, para continuar louco e não enlouquecer jamais. O trabalho que temos feito no cinema, o filme que acabamos de fazer aqui e o que estamos em fase de pré-produção em São Paulo, são responsáveis por boa parte dessa felicidade.
Há também a materialização de um sonho antigo. A Fundação Nagib Haickel, que implantará alguns projetos importantes para nossa terra como, por exemplo, o Museu da Memória Audiovisual, a TV guarnicê, canal 15 de São Luis e a Fabrica de Arte e Cultura do Engenho Central em Pindaré. Em outra oportunidade comentarei cada um destes projetos.
Mas deixem-me entrar no verdadeiro assunto de hoje. Minha mãe, Dona Clarice, completou mais uma primavera no ultimo dia dois, e pude comprovar uma coisa que já havia percebido antes e que agora ficou bastante clara pra mim. Em que pese ter 78 anos, ela tem a cada dia, ficado mais jovem.
Lembro de quando nós éramos crianças, nossa mãe já era antiga. Em nossa adolescência, ela ficou idosa. Depois, já adultos, ela ficou bem velhinha. Mas agora vejo como o tempo e quem sabe o vento a tenha feito rejuvenescer, em alguns casos até surpreendentemente.
Ela passou a ser mais ativa, participar muito mais, não só de sua própria vida, mas intensificou sua participação na vida de todos nós da família, dos amigos e de desconhecidos também, através do incansável trabalho de ajuda aos mais necessitados. Mas não creio que apenas isso a fez rejuvenescer. Devo reconhecer que boa parte da sensação que tenho do rejuvenescimento de minha mãe se deve ao fato de estarmos mais perto dela, mais acessíveis a ela, mais ao seu lado, e isso, devo reconhecer, tem nos feito muito mais felizes e realizados.
PS: Dias antes do aniversario de minha mãe, fui pergunta-lhe o que ela gostaria de ganhar de presente e ela me disse uma coisa muito pessoal, que gostaria de compartilhar com vocês: Jotinha, eu tenho tudo, não preciso de nada. A única coisa que eu quero é que vocês, meus filhos, meus netos, minha família, meus amigos, todo mundo, tenham saúde, paz e sejam felizes. Esse presente eu já pedi e peço todo dia. Ah, sim! Tem um presente que eu quero… Pede pra teu irmão não deixar demitirem nem prenderem Manoel.