Jornalista no futuro do pretérito.

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Grande parte da população, eu inclusive, anda farta com o que está acontecendo com o “jornalismo” no Maranhão. É verdade que este não é um fenômeno unicamente local. O mesmo, em outras dimensões e intensidade ocorre no Brasil e no Mundo. Acontece que o Mundo e o Brasil têm um pouco mais de preocupação e respeito para com a intima relação, que deve sempre haver, entre a realidade, a verdade e a versão. Por aqui, ao contrário, há muito tempo, não se tem exercitado essa preocupação nem se tem praticado esse respeito, sem os quais o jornalismo deixa de ser um instrumento de defesa do estado de direito e da democracia e torna-se meramente uma arma partidária. Arma que é sempre usada contra os adversários de quem redige, de quem edita ou de quem publica a “notícia”, ou simplesmente a favor de quem paga para ser “notícia”. Nessa hora não faz a menor diferença o lado. Quanto a isso, são todos iguais.

Maior e mais claro exemplo disso é a existência de colunas assinadas por personagens fictícios ou pseudônimos, fenômeno hoje raríssimo em todo mundo, mas que aqui entre nós prospera através do insulto, da calunia, da injuria e da difamação aos desafetos dos títeres que controlam os fantoches.

Millôr Fernandes escreveu certa vez: “Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério, era o de perto”. De fato, as novas tecnologias de comunicação aproximaram os cidadãos de todo o planeta. Transformaram o mundo em uma verdadeira aldeia global, mas nem com todas essas tecnologias a nosso dispor conseguimos resolver a falta de diálogos que perdura e insiste em nos afastar cada vez mais daqueles que estão mais perto de nós.

Essa é a sensação que tenho diante do enfrentamento quase brutal que se está assistindo nesse momento, na imprensa do Maranhão, não só através do jornalismo impresso, mas principalmente através da proliferação dos blogs.

Percebe-se um claro distanciamento da notícia objetiva e da abordagem factual. Há um constante flerte com um deslavado achismo e uma descompromissada falta de apuração dos fatos através do emprego de verbos conjugados premeditadamente na tentativa de se estabelecer um clima de polêmica e dúvida em torno de um tema.

O que mais se lê por ai agora são coisas do tipo: “algo aconteceria”, “alguém teria comentado”, “determinada pessoa teria dito”, “a boca pequena comentaria-se”, “fulano de tal seria” e outras afirmativas nesse estilo, sempre com o verbo, qualquer que seja ele, no chamado futuro do pretérito, ou condicional, como se dizia nos tempos de ginásio.

Em minha opinião, jornalismo na condicional é prelúdio de sectarismo e sinônimo de subserviência e venalidade.

Não se faz um jornalismo descente usando o verbo no futuro do pretérito. No futuro do pretérito, ou como queiram alguns, usando-se a forma condicional do verbo, se faz é mexerico e fofoca. E mexerico e fofoca não são coisas de jornalistas, são coisas de raparigas da pior espécie.

Isso nos faz pensar que um diálogo com as fontes seria algo impossível para estes “jornalistas”, e, mais impossível ainda, um diálogo entre eles próprios. Este sacrilégio, cada vez mais estarrecedor, me tem levado a refletir sobre as relações entre os veículos, os jornalistas e o poder. É ai que surge o nojento sectarismo que transforma todo aquele que pensa como eu, em uma pessoa correta e todo aquele que diverge de mim em um safado, em um bandido. Esse sentimento de sectarismo hoje dominante em nossa terra, não favorece a ninguém, muito pelo contrario, ele transforma nós todos, até os mais amigos, em ferrenhos concorrentes.

Mais do que nunca, o jornalismo sério e confiável é essencial para a construção da cidadania. Acredito que continua valendo a máxima de um dos mais importantes jornalistas deste país, o grande Barbosa Lima Sobrinho, que costumava dizer que não há distinção de ética em ofício algum.

Por isso mesmo me causa tanta espécie, toda essa mácula e essa agressão à isenção jornalística. Fico perplexo com a baixeza praticada por aqueles que usam uma profissão que deveria bem informar garantindo assim a liberdade e o sucesso do estado de direito, e ao invés disso impõem e submetem o leitor a sua linha editorial ideológica, transformando-se em mero assessor de imprensa, pago para fazer unicamente release de “seus” interesses.

Ser jornalista é muito mais que isso.

15 comentários para "Jornalista no futuro do pretérito."


  1. Julio César

    Acabei de voltar pra casa e sem sono vim ver o que de novo havia nos blogs e a única coisa descente que achei pra ler foi a sua crônica.
    Ainda bem, pois o nível está cada vez mais baixo. Deus livre e guarde.
    Parabéns!
    Abraço, Julio César.

  2. Anônimo

    Caro Deputado. Me se sinto desrespeitada com a comparação da da classe em que orgulhosamente pertenço com a da dos jornalistas. Deputado, eu e demais colegas, prestamos nossos serviços de maneira altamente profissional, temos um alto nível de satisfação dos nossos clientes. E ao contrário do “coleguinhas” jornalistas não precisamos de teto salarial.
    Também não precisamos das tetas do poder público, temos as nossas em melhores condições. Seu artigo tem o mérito de levantar uma questão que consideramos importante: o jornalista precisa de diploma para ser prostituido e depois ainda pode posar na Playboy, e nós não podemos ser inscritas no INSS na nossa verdadeira profissão. Outra coisa, filho ou filha que ainda pretendo ter, se depender de mim, não vai seguir o jornalismo. è triste ser chamado de Filho da P***.
    Beijos

  3. Anônimo

    gosto dos seus textos quando vc se resume a emitir a sua opinião sobre determinado assunto….ja não faz a minha cabeça quando vc faz texto se auto-elogiando.

    Resposta: Então você deve ter adorado este texto, pois em momento algum, nele, eu falo de mim. Mas quero lhe dizer que eu também não gostaria de ler um texto que ficasse parecendo um auto-elogio. No meu caso, por hábito pessoal e estilo literário, lanço mão de exemplos pra ser didático, pra facilitar o entendimento. Quando exemplifico, prefiro falar de mim pra não ferir a suscetibilidade de ninguém, mas mesmo assim estou vendo que firo. Desculpe, não é a minha intenção o auto-elogio.

  4. J.R. Lobato

    Há muito tempo acompanho seu trabalho, tanto como escritor, tanto enquanto político.
    Na política, sempre estamos em lados opostos, mas mesmo assim não conheço ninguém onde milito que seja mais coerente e mais pragmático que você. No entanto há uma coisa que me causa bastante desconforto em relação a te: Como é que alguém como você, sabidamente o melhor deputado de nossa Assembléia na atualidade, um homem preparado, inteligente, sensível e culto. Um camarada que foi o deputado mais jovem do Brasil em seu primeiro mandato, que foi constituinte em 88, que quando quis largar a política, largou, quando quis voltar a ela, voltou… Explique-me Joaquim, porque essa sua ligação com Sarney, com Roseana, com Jorge Murad, com o Ricardão boneco de Olinda, com toda essa corja que só atrapalha o Maranhão, nos últimos cinqüenta anos?
    Bem, quanto ao seu texto de hoje, acho que você foi perfeito no conteúdo e na forma. Irretocável. Parabéns.

  5. Anônimo

    Cara gostei do texto, mas já tenho essa mesma indignação ha um bom tempo. Ou você não acha que o sistema mirante não manipula o povo do maranhão?…..o que esta acontecendo agora é que o outro lado começou a ter um espaço, se é certo não sei, mas vejo que agora você tem um motivo para reclamar…………………………….Gosto dos seus textos, mas sempre os filtro, pois não gosto o que você representa.

    Resposta: E você viu em meu texto eu livrar cara de alguém?
    Bem, mas que bom que você gosta de alguma coisa que eu faço, de meus textos.
    Você tem todo o direito de não gostar do que você acha que eu represento. Isso se chama liberdade ou democracia, como queira e é por isso que luto, pra você poder discordar de mim e eu de você e apesar disso e por isso mesmo nos respeitarmos.
    Grande abraço e continue comentando este blog.

  6. Anônimo

    Os que passaram os ultimos 30 anos azucrinando os nossos ouvidos com radicalismos e sectarismos agora querem paz? a é paz que vocês querem? e ainda se aproveitam do jeito expontâneo do Joaquim. Então tá, lá vai, vocês vão ter é guerra pra racha os ouvidos, suas doces criaturas do lodo, moléstadas pelo barulho da verdade. Ousam!vocês são hipocritas, dissimulados, incompetentes, odioso, corruptos, inéptos, energumenos, xeretas, fofoqueiros, avarentos, dissimulados, falsos, mentirosos, despotas, nepotistas, e ainda, e não menos traidores. Se vocês estão achando desagradável o que leram até agora, imagino o que vão achar quando lerem os comentários do que vem por aí. É, deve ser deprimente ter passado a vida atacando os outros e hoje ter de ENGOLIR a execração pública para todo lado. O que vão fazer? Sequestrar as crianças, bater nos estudantes do Estado(de novo) e nos da Uema?Demitir os servidores?Prender os Policiais?Proibir os professores de pensar? Cavalheiros, perdão, os senhores terão a paz que plantaram.

  7. Joaquim Nagib Haickel

    Resposta Aos comentários abaixo: Para meu espanto hoje recebi mais mensagens do que de costume. Infelizmente a maioria delas continha insultos e agressões em relação ao texto que postei ontem. Parece que algumas pessoas acusaram o golpe.
    Eu já disse varias vezes aqui que postaria quaisquer comentários que contivessem discordâncias ao que escrevo ou defendo, até porque isso faz com que eu me sinta vivo e operante. O que não admito de modo algum é o desrespeito ou a grosseria.
    O penúltimo comentário abaixo é prova disso. Há nele severa discordância, mas não sinto nenhuma forma de insulto.
    Quanto ao ultimo post abaixo, acredito que além de discordância haja nele uma dureza excessiva, sem propósito, então resolvi aceita-lo para provar que algumas pessoas gostam mesmo é de falar. Falar qualquer coisa, sem se importar com a coerência ou com a verdade. Quem se der ao trabalho de ler a minha crônica “Jornalista no futuro do pretérito” e este comentário, poderá tirar suas próprias conclusões.

  8. Mário Lúcio

    Li sua crônica e os comentários dos leitores e descobri que adora uma polemica, né?
    O que retrata em sua crônica é exatamente o que está ocorrendo no jornalismo do Maranhão, mas isso não é de hoje e nem é privilegio deste ou daquele jornalista ou jornal. Tudo bem que deixa isso bastante claro. Em momento algum vi em seu texto qualquer forma de partidarismo ou sectarismo, pelo contrario, você expõe e tipifica essa pratica repugnante.
    É ai que no meu entendimento começa a polemica. Todos sabem que você é ligado ao grupo Sarney, que é inclusive sócio no sistema Mirante. Ora, quando uma pessoa do seu nível e de sua estatura diz o que você disse, parece claro que está falando de seus adversários e não de seus aliados.
    Mesmo discordando de sua filiação partidária e de sua opção ideológica, tenho que tirar o chapéu pra sua coerência e para a sua coragem.
    É de políticos como você que o nosso estado e o nosso país precisam.

    Resposta: Veja acima (JNH)

  9. Joaquim Nagib Haickel

    Resposta: Não é da polemica que eu gosto. Gostaria que fosse possível fazer o meu trabalho e passar despercebido. Mas ao fazer meu trabalho, ao defender minhas idéias e meus ideais, da forma como faço, como você disse, sendo coerente, então fico parecendo ser muito corajoso.
    Isso é que gera toda polemica.

  10. Anônimo

    Não sei do que gosto mais, se das suas crônicas ou se das suas respostas aos comentários de seus leitores. Elas são verdadeiramente maravilhosas. Assim como seus textos, as suas respostas são extremamente objetivas e atingem em cheio o objetivo a que se propõe. Você está de parabéns!

  11. Seu Monteiro

    deve cansar ser todo tempo elogiado…eca…muito doce engorda!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Resposta: Isso é um elogio? Tá parecendo!

  12. Seu Monteiro

    não é um elogio …apenas um comentário de um “homem” que detesta só ouvir… ou melhor no caso em concreto…só ler elogios. Gosto de observações,comentários e críticas pertinentes. E não a Joaquim vc é demais, vc é o “último biscoito do pacote”…..

    Resposta: O que devo fazer? Não postar?

  13. Seu Monteiro

    ehheheh sei que vc não tem culpa… mas sei tbm que vc adora tudo isso!!!!!!!!!!!!!!!

    Resposta: Seria louco e hipócrita se dissesse que não gosto.

  14. Euzinha

    Será que o agressivo e “Ideológico” (para não dizer outro nome) Marco Aurélio D´eça, pôs a carpuça, ao ler esse comentário?????

  15. Juliano

    Muito bom. Gostei da parte em que os maus jornalistas foram comparados a raparigas fofoqueiras.

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