Sou cristão, mas meu cristo é um pouco diferente do cristo de outras pessoas… Como estas coisas são difíceis de explicar, até mesmo para alguém que como eu, procuro me aprofundar nestes assuntos. Na verdade não sou cristão. Sou Jesuítico! Cristão é quem acredita num cristo, num messias, num salvador.
Acredito em um Jesus histórico, um hebreu da Galiléia, criado sob os fundamentos das leis e da religião judaica, nos tempos do imperador Tibério. Um Jesus que a seu modo, se rebelou contra as duas esferas de dominação que oprimiam sua terra e seu povo em seu tempo. Rebelou-se contra o sistema religioso imposto pelos sacerdotes do templo de Jerusalém, que controlavam a vida de todos os hebreus e contra o poder administrativo e militar que mantinha tais sacerdotes no topo da vida social e religiosa da Judéia: O império romano.
Sigo os ensinamentos de um Jesus geográfico, que certamente não era loiro nem tinha olhos azuis, que nasceu em Belém, que viveu em Nazaré, Qumram e Cafarnaum e que morreu em Jerusalém. Um Jesus humano que morreu mesmo, e para mim nem importa se ressuscitou.
Acredito em um Jesus que antes de ser filho de Deus, foi filho de Maria e enteado de José, um bondoso carpinteiro descendente do rei Davi, que o criou com amor e deu-lhe o que um filho mais precisa de um pai. O exemplo.
Entre os dois Jesus, um divino salvador e o outro um simples ser humano, optei em seguir o segundo, pois preciso muito mais de um amigo, de um companheiro de viagem que me mostre o caminho e me sirva de guia, que de um messias libertador.
O Jesus de Bento XVI, de padre Antonio e de minha mãe, o Jesus de meu irmão e de meus amigos evangélicos, não é melhor nem pior que o meu, até porque são a mesma pessoa, apenas é visto de forma diferente.
Minha posição não é religiosa. Sou meio avesso às religiões porque na grande maioria das vezes elas são intolerantes, intransigentes, preconceituosas, inclementes e radicais. Fazem mais política que qualquer outra coisa.
Vejo as religiões como vejo os partidos políticos, cujo objetivo maior é alcançar o poder, o que no caso delas é Deus. No meu entendimento Deus, por ser de todos nós, não é propriedade nem privilegio de um determinado grupo. Ele esta aberto a quem o busque através dos ensinamentos que seus profetas espalharam pelo mundo e que os discípulos destes propagaram e continuam propagando: o amor ao próximo, a bondade, o perdão, o respeito ao ser humano e a natureza…
Conhecedor das doutrinas que levam ao Deus único e misericordioso, ao pai de compreensão e de bondade, porque seguir o modelo de e não o de Moshe, que veio antes dele, ou o de Muhammad é, que veio depois?
É uma mera questão cultural. Se tivesse nascido em uma família judaica ou em um clã muçulmano, teria a religião que me fosse ensinada por meus pais e adotaria os códigos de moral e de meu grupo social.
Sendo eu proveniente de uma família cristã e tendo sido criado numa sociedade ocidental, me identifico mais com a forma de pensar própria desta cultura e construí meus códigos de moral e de ética baseado nela.
Desde cedo vi que, excetuando-se o ambiente sócio-cultural em que se nasce e no qual se cresce, sejamos judeus, cristãos ou mulçumanos, todos nós buscamos os mesmos objetivos, almejamos as mesmas coisas, lutamos pelas mesmas idéias, tanto como indivíduos quanto como sociedade.
Não comungo com alguns dogmas das religiões estabelecidas por outros seguidores de Jesus. Isto é uma questão de fé e como tal acho que deve permanecer no âmbito da crença pessoal de cada um, até porque para mim importa muito mais o que disse Jesus no sermão da montanha ou o que ele quis dizer com a parábola do bom samaritano do que se Maria concebeu realmente do espírito santo.
Para mim pouco importa se Jesus ressuscitou Lázaro, se Moises fez abrir o mar vermelho ou se o que Maomé subiu ao céu em uma escada de ouro. Para mim o que mais vale é o que ensinaram estes homens. Moises ensinou o valor da liberdade, do individuo e da nação. Jesus mostrou a importância de amarmos aos outros como amamos a nós mesmos. Maomé fez ver que não deve haver qualquer distinção entre as pessoas.
Como acredito que os ensinamentos desses mestres buscam nos mostrar um caminho para alcançarmos uma vida melhor, mais cheia de coisas boas, de sentimentos nobres e ações corretas, é que me coloco como seguidor de um deles, sem jamais me opor, seja por preconceito ou por intolerância, às outras formas de pensamento.
É fato que pensamos e agimos de formas diferentes, mas acredito buscamos as mesmas coisas: O bem do individuo e da coletividade. Por isso acho que devamos ter a consciência histórica de nossas circunstâncias e de suas conseqüências.
Amem!
Muito bem deputado Joaquim, belíssimo texto, mais uma vez o senhor demonstra ter uma imensa cultura e a usa para escarafunchar assuntos extremamente polêmicos, mas sempre de maneira sábia e elegante. Parabéns!
Para um homem em sua posição, o senhor demonstra muita coragem ao abordar este assunto desta forma. Isto pode lhe custar muito caro e o senhor pode acabar perdendo muitos eleitores, não acha?
Apesar de não concordar muito com o senhor neste caso especifico, respeito muito sua posição porque acho que o senhor é bastante honesto, corajoso e bem intencionado em sua analise.
Fiquei muito satisfeito em ler esta sua crônica, pois sempre pensei da mesma forma, mas nunca tinha lido nada parecido. Muito do que o senhor disse aqui é exatamente o que eu penso, acho que o Jesus humano é o melhor exemplo para nós seguirmos e que usar o Jesus sobre-humano, o filho de Deus como exemplo seria pedir demais a nós, simples mortais. Que bom que achei alguém que pensa como eu.
Muito obrigado por seus comentários, fico muito feliz em saber a opinião das pessoas que lêem o que eu escrevo.
Quanto ao fato de eu ser corajoso, isto é imperceptível para mim, pois só estou publicando aqui uma coisa que todos que convivem comigo já sabem há muito tempo.
Não tenho medo de perder votos, não gostaria de perder é amigos. Os eleitores votam em nós, mas nem sempre são nossos amigos, acreditam em nós, confiam em nós. Quando você tem um amigo que é também seu eleitor, alguém que te conhece, confie em você, te olha nos teus olhos e que pra ele você pode dizer a verdade mesmo sendo ela uma verdade não muito boa, esse voto, esse eleitor-amigo, este eu não gostaria de perder. Não por ele votar em mim, mas por ser importante que meus amigos me conheçam, e mesmo discordando de mim em alguns pontos, possamos nos respeitar e confiar um no outro.
Olá joaquim,
Não estou aqui para julgar sua maneira de ser ou de achar, e sim para comentar suas idéias que,mais uma vez, demontram sua responsabilidade moral ao abranger um tema como esse, de uma maneira transparente e sincera, como em tudo aquilo que faz. Seu contexto cultural surpreende sempre, e continuará assim, com um estilo único de transportar conhecimento e sabedoria. “,,,Que o espirito de Deus esteja sempre sobre vc…” Yeshua
Gostaria de lhe agradecer. Há muita sabedoria e sensibilidade nesse seu texto. Me fez pensar. Até ontem eu acreditava que eu fosse ateu, mas depois de ler esse seu texto, vi que acredito sim em Deus, sempre acreditei. Não gosto é de religião, elas são nocivas.
Obrigado!
Prezado Deputado.
Sinceramente, gosto dos seus textos. Até agora não conseguir apreciar as suas poesias, mas espero ainda poder elogiar uma delas.
O seu texto acima é muito bom e eu respeito a sua opinião, apesar de não concordar com o conteúdo. Acho que mesmo discordando, tenho o direito de emitir a minha opinião, senão não estaria disponibilizado esse espaço.
Não são as boas ações e a vida exemplar que dizem se um homem é pecador ou não, mas sim, ovalor que ele dá às coisas de Deus, reveladas nas Escrituras Sagradas.
Um homem pode ser bom socialmente falando, mas se desprezar as coisas de Deus reveladas na Bíblia, de nada lhe adiantará a sua bondade no campo espiritual. (Mateus 6: 33).
Se porém ele valoriza em primeiro lugar as coisas de Deus, suas ações serão sempre boas ações.
Infelizmente o advento de várias igrejas chamadas neo-pentecostais, com suas práticas questionáveis, servem de maus exemplos e afastam da fé, gente valorosa.
Rev. João d’Eça
Reverendo não se preocupe em elogiar ou em entender estas minhas mal traçadas linhas poéticas que posto aqui neste blog geralmente as quartas-feiras, já fico satisfeito em saber que o senhor aprecia as minhas crônicas.
Quanto ao anônimo abaixo do reverendo, só posso lhe dizer que o seu comentário foi o melhor que eu já recebi. Fico realizado em saber que pude ajudar alguém com o que escrevo. Eu é quem deve lhe agradecer. Obrigado.