Brincando com Brecht

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Se os tubarões fossem homens
O Analfabeto Político
usava uma imensa mandíbula:
A Máscara Do mal.

E as Perguntas De Um Operário Que Lê?
Esse Desemprego
Diz Aos que virão depois de nós:
O Vosso Tanque General, É Um Carro Forte.
e A Troca da Roda
é um simples
Elogio da Dialética.

O Maneta No Bosque
é A Exceção e a Regra.

Não Necessito De Pedra
Tumular
Mas sim
O Nascido Depois,
No Segundo Ano
De Minha Fuga.

Para Ler De Manhã e à Noite
A Minha Mãe
A Fumaça
A Cruz de Giz
Os Esperançosos…
Acredite
esses precisam
De Ajuda

Ele foi
Expulso Por Bom Motivo
Apenas
Esse será
Epitáfio Para Gorki

Quem Se Defende?
Se Fossemos Infinitos
os Tempos Sombrios
seriam leves.
Nada É Impossível

Pensamentos De Mudar Ferro
Refletindo Sobre O Inferno
Sobre a Violência.

As Boas Ações
Os que lutam
São como a Poesia do Exílio.

De Que Serve A Bondade
se nós
Os maus e os bons
Precisamos De Você
assim
Privatizado.

Com Cuidado Examino
Como Bem Sei.
Mas e
Quem Não Sabe?

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A hora e a vez.

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Vai procurar…
Feito fantasma vou aparecer…
E o fiapo de alma que levo comigo
assombrará mais
que o espectro que imaginavam
dono de mim.
E nunca foi.

Vai procurar sim…
Como zumbi aparecerei…
Morto vivo,
olhos fixos,
carregando um enorme vazio dentro do peito
estraçalhado por uma saudade estranha.
Saudade daquilo que nunca tive.

Vai procurar,
fantasma ou zumbi,
e vai achar.
Ruim,
vai ser quando
procurar por si mesmo
e descobrir
que tu é quem arrasta correntes,
noite após noite,
no sótão de uma vida
escura
triste
e sozinha.
Que não consegues sequer
refletir um simples brilho de luz
num misero espelho
com o qual passou toda a vida
flertando.

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Resumo do discurso proferido no grande expediente da sessão de hoje da Assembléia Legislativa do Maranhão.

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Se vivo fosse, hoje meu pai estaria completando 73 anos de idade. E é me lembrando do imenso valor que ele dava a suas amizades e as pessoas com quem compartilhava a vida, que quero falar-lhes hoje.

Recordo da época em que cheguei pela primeira vez na Assembléia Legislativa. Era o ano 83 do século passado, mal saído da casa dos 23 anos de idade, há exatos 24 anos e hoje vejo que o que mais ganhei naquele ambiente, além de experiência, conhecimento e aprendizado, foram amigos. Grandes amigos!

Mesmo antes do dia primeiro de outubro, antes de saber o resultado da eleição e constatar quem havia se elegido, já era minha intenção fazer uma homenagem, a todos aqueles que estão se despedindo do nosso Parlamento – uns, porque não conseguiram a reeleição; outros porque buscaram novos caminhos, disputando mandatos em outras esferas da vida pública, outros porque simplesmente não foram candidatos ou não puderam sê-lo.

São pessoas com quem convivi e com quem pude aprender grandes lições, pela prática permanente do diálogo e do debate, muitas vezes acalorado; crispado, aqui e ali, mas sempre leal e construtivo. Não poderia haver exercício mais gratificante do que esse para alguém, que como eu, entende a política democrática como forma de convivência civilizada: a arte de transformar a sociedade acreditando nas próprias razões, mas ouvindo as razões do outro e medindo as conseqüências dos próprios atos. Porque o modo democrático de mudança significa também mudança das consciências através do convencimento. E este, quando não é imposição disfarçada, é um processo de esclarecimento recíproco que supõe a possibilidade tanto de convencer como de ser convencido.

Sei por exemplos históricos que a devoção à busca do bem comum não é monopólio de ninguém; não conhece fronteiras de partidos, nem de ideologias, nem de interesses regionais ou de classe. Exige apenas generosidade para pensar no que é melhor para o nosso Estado como um todo, e discernimento para julgar o que é melhor. Discernimento que provém — e isto eu também aprendi no parlamento — muito mais da experiência no trato da vida e da coisa pública do que de qualquer saber teórico.

A nossa Assembléia tem hoje uma outra forma. A reforma interna que aqui foi feita nos revela isso. Esta Casa pode e deve ser o futuro do nosso Estado. E para isso é preciso continuar na luta por um Maranhão muito melhor. Digo muito porque não basta melhorar, temos que superar nossas expectativas. Devemos isso aos nossos filhos. Temos o dever de ensinar a eles o que dizia Francis Bacon: “Só os deuses e os anjos devem ser espectadores”. E eu completo: Nós somos os construtores de nosso futuro.

Quero deixar um reconhecimento a esses valorosos amigos de quem não gostaria de me afastar e não me afastarei e sobre todos e a cada um quero dirigir pelo menos uma palavra.

Sobressai, a figura do deputado Aderson Lago, um político desprovido de medo. Entusiasmado pelas suas idéias, convicto das suas posições, lúcido nas suas apreciações e guerreiro na defesa das suas causas. Vamos sentir a falta deste orador vibrante, determinado e competente.

Meus queridos amigos Mauro Bezerra e Luiz Pedro que junto comigo estavam aqui de 83 e 87, naquela que alguns reputam como a melhor bancada estadual que tivemos em nossa historia recente, são pessoas das mais queridas e respeitadas.

Domingos Dutra, de quem muitas vezes divirjo politicamente, mas por quem tenho grande apreço e admiração.

Julião Amin, com quem já cheguei a me desentender alguns meses atrás, mas que o respeito e a humildade me fazem credor e devedor de uma amizade que tenho certeza, que é recíproca.

Wilson Carvalho, amigo de posição sólida, de honra inquestionável, companheiro de todas as horas.

Teresa Murad, a quem carinhosamente chamo de Teca, essa combativa e destemida filha do lendário Vitor Trovão, foi aqui sempre exemplo de coragem.

Cristina Archer que chegou aqui de mansinho e tomou conta de todos os espaços e oportunidades que lhe deram para demonstrar seu empenho e seu trabalho por um estado que não sendo o seu, passou a sê-lo pelo amor a ele dedicado.

E o que dizer de Janice Braide!? Que a conheço a mais de 30 anos? Essa valorosa mulher de fibra que já em 82 votava em meu pai e até em mim, é exemplo de lealdade e correção.

E a irmã Telma Pinheiro, sempre voltada para os interesses de seus amigos e de sua comunidade evangélica.

Há aqui entre nós um homem que merece uma homenagem especial. É Manoel Ceará. Homem de pouquíssimo estudo, mas de muitíssimo caráter. Ceará foi um dos esteios morais e éticos dessa casa nesta legislatura.

“Pasmem os senhores”, pois meu amigo Rubão, o Rubem Brito, pede passagem. Ele marcou esses anos com suas posições claras e inabaláveis.

Alberto Marques é um deputado que se notabilizou por falar apenas o indispensável, e por isso toda vez que ele se manifestava era porque algo importante precisava ser dito. Homem de posição firme e de palavra empenhada.

Com Manoel Ribeiro aprendi que é possível discordar de alguém sem ter que odiá-lo. Aprendi o verdadeiro valor da franqueza e da transparência. Me opus a ele aqui diversas vezes, mas jamais levei nossas diferenças para o lado pessoal. Quero aqui, de publico, fazer uma declaração que já fiz para algumas pessoas: a não eleição de Manuel assim como a de Mauro, de Luiz e de outros colegas é uma grande perda para nossa Casa.

Geovane Castro é um dos médicos que melhor sabe usar as palavras. Eloqüente, conseguiu como poucos defender claramente suas posições.

Rubens Pereira vai, mas fica. Deixa em seu lugar, eleito com uma expressiva votação seu filho. Rubens ganhou, não perdeu.

Deusdeth Sampaio deixará Açailandia, a cidade que mais cresceu nos últimos anos em nosso Estado, sem seu aguerrido representante.

Meu amigo pastor Reginaldo Nunes, sentiremos falta da sua tranqüilidade, da sua palavra de ponderação.

Eligio Almeida não tentou a reeleição e com isso Bacabal e o Maranhão perde um homem que depois de ser vereador na sua cidade, defendeu os interesses de seus conterrâneos neste parlamento.

Por último, mas não menos importante deixei pra falar de Pedro Veloso. Pedro, todos aqui sabem é meu adversário político nos municípios de Pio XII, Satubinha e Bela Vista. Mas é Pedro Veloso que consagra esse meu mandato como sendo o mandato da minha maturidade política. Em nenhum momento, apesar de adversários, apesar de às vezes nos atritarmos na defesa de nossos correligionários, nunca ultrapassamos o limite da civilidade e da boa educação.

Só me resta agradecer do fundo de meu coração a oportunidade de ter tido a possibilidade de privar da companhia destas pessoas nestes últimos quatro anos, tempo em que pudemos além de nos conhecer, esse convívio nos fez aprender um pouco mais sobre a vida.

Muito obrigado a todos vocês! Saibam desde já que farão muita falta.

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A noite

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é escura
tem estrelas,
as vezes lua,
luas,
maçãs,
tem as pêras dos teus seios,
a macieis de tuas ancas,
mas tem também a dureza
do teu coração.
daqui talvez não seja igual a de lá,
as pessoas daqui não são iguais.
As de lá,
não são.
Estavão,
esta vão,
vão.
Foram.
De noite ou de dia
o que não muda é o meu coração
que dói,
mas no final irá rir.
Rir de toda dor mal doida.
Passe bem.

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Tenho um preço, mas é caro!

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Há dois anos atrás escrevi aqui neste mesmo espaço uma crônica que abordava o mesmo assunto que abordarei hoje. Naquela ocasião usei um artifício farta e abusivamente praticado pela tão conhecida e propalada imprensa marrom, que costuma atribuir um titulo bombástico ou polemico a um texto cujo conteúdo, apesar de ser importante e relevante, é lido muito mais pelo enunciado poderosamente sedutor do que por qualquer outra coisa.

O titulo da crônica anterior era “O preço do voto para presidente da ALM”. Tentava com ele criar uma duvida ou no mínimo uma acerta expectativa quanto ao uso da palavra “preço”. O preço a que me referia era o VALOR, algo intangível, coisa filosófica que só algumas mentes mais afinadas e refinadas ou talvez românticas imaginam que possa existir em se tratando de política. O preço que a grande maioria deve ter entendido foi o preço do CUSTO, monetário, financeiro ou econômico da simples manifestação de um dos 42 deputados estaduais de nosso Estado em favor deste ou daquele candidato a presidente do poder legislativo estadual.

Dois anos antes, alguns de nós deputados, nos insurgimos contra a imposição sistemática do nome do presidente do poder legislativo pelo ocupante do executivo, coisa que transformara nossa Assembléia em um mero cartório. Naquela ocasião derrotamos o governante que deixava o cargo, o que assumia, o que liderava a todos e até o de novo candidato, que já se encontrava no cargo à quase 10 anos.

Vencemos a todos. Vencemos porque lutamos corretamente. Lutamos corretamente porque tínhamos um objetivo claro e justo. Tínhamos um objetivo claro e justo porque antes de pensarmos em nós individualmente, estávamos pensando no que era melhor para a nossa casa, estávamos pensando no que era melhor para o poder legislativo, que precisava se afirmar como órgão vital para o corpo do Estado e não se reafirmar como um mero apêndice do executivo.

A prova de que naquele momento nós estávamos pensando mais no conjunto que nas partes, é que tínhamos um candidato que infelizmente não pode continuar na peleja. Ele foi substituído por outro que também tombou na disputa e só então chegamos a um nome que pudesse viabilizar a nossa intenção de libertar o legislativo do jugo do executivo em nosso Estado.

Dois anos depois, por vários motivos, uns relevantes outros nem tanto, as coisas fugiram do nosso controle.

Um governante fraco e claudicante, sem um projeto próprio de governo e mal aconselhado. Usado e usando de maneira venal e indisfarçável a maquina do estado (aqui, senhor revisor, gostaria que deixasse a palavra Estado em letras minúsculas e em negrito, porque foi o que realmente aconteceu. Nosso Estado se apequenou) transformou a administração publica num verdadeiro caos.

Coitado! Ele precisava fazer isso pra sobreviver. Mas que triste sobrevida. Que preço teve que pagar. No final ele irá descobrir se não é que já deve ter descoberto, que a maioria daqueles que se diziam seus amigos eram apenas abutres ávidos em degustar um naco maior de suas vísceras.

Me opus ao então candidato imposto pelo executivo para presidente da ALM, mesmo sendo eu amigo do referido deputado.

Daquela vez perdemos. Perdemos porque não lutamos corretamente. Não lutamos corretamente porque não tínhamos um objetivo claro e apesar de justo, não deixava no fundo, lá no fundo, de ser mais eleitoreiro que político, no sentido mais amplo e nobre que tal palavra possa ter. Dessa vez alguns de nós pensaram mais em si mesmos que na casa, e ela voltou a ter o seu presidente imposto pelo poder executivo.

Apesar de ter chegado à presidência da ALM mais pelas gestões do Palácio dos Leões que pela vontade de seus pares, o atual presidente da ALM manteve-se, na medida do possível, como magistrado. Tem procurado se manter como chefe do poder mais que como partidário de uma facção política ou eleitoral.

Fico muito a vontade pra dizer tudo isso porque não tendo eu votado no atual presidente da Assembléia, não sendo eu seu correligionário, não comungando das mesmas posições eleitorais, ainda assim, consigo ter com ele uma relação de respeito e confiança, motivo pelo qual me permito manifestar meu apoio a seu nome para presidente nas próximas eleições daquele poder.

Mas cobrarei dele um preço caro por isso. O mesmo que sempre cobrei e que acho que é o único que todos deveriam cobrar sempre. Cobrarei o respeito e a defesa do poder legislativo acima de qualquer conveniência ou posição partidária, eleitoral ou política. Cobrarei igualdade de tratamento para todos os deputados independentemente de quem seja, cobrarei compromisso com os trabalhos legislativos, cobrarei a nova sede para da ALM, cobrarei a valorização dos nossos funcionários, cobrarei ações de extensão de nossa casa junto à comunidade. Cobrarei sabedoria e coerência, sensibilidade e lealdade, generosidade e prudência, humildade e firmeza. Esse é o meu preço. É caro, mas é justo!

Por fim, quero dizer que se engana quem pensa que o governador eleito do nosso Estado, usará em seu governo das mesmas praticas do atual governador. Perderá quem apostar que a partir de janeiro de 2007 teremos no Maranhão um pregão de leilão e não um governo.

O governador que assumirá em janeiro não deverá tirar um candidato do bolso do paletó, não deverá levantar a voz para enfiar goela abaixo dos deputados um nome para presidir nossa casa. Pode ele até ter sua preferência, pode até externá-la, mas deverá saber se portar como um verdadeiro magistrado.

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Noticiário e declaração

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Alpinista morre depois de escalar a maior montanha da terra.
e eu aqui
sonhando em simplesmente
alçar vôo
a um ponto intermediário
entre teu trapézio e tua nuca…
Astrofísico
austríaco
anuncia:
Existem mais três luas em Júpiter.
e eu aqui
lembrando das três estrelinhas
enfileiradas
na suave encosta
entre teu ombro e teu pescoço.
Morto ao tentar escalar um pescoço
de bailarina.
Cinturão de Orion
o caçador.
Mintaka
Alnilan
Alnitaka
as Três Marias
Mostrando a direção do coração
de uma outra.
Maria.

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A menina do balouço azul

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Usa unicamente um vestidinho
florido de girassóis,
um cheiro de alfazema,
um sorriso quase asiático que
lhe fecham os olhos e
entreabrem os lábios.
Seus cabelos voavam ao vento matinal.
Ela senta no balouço (calabouço),
segura-se nas correntes
sacode-se para frente e para trás
e voa!
vai
e vem
vai
e vem
vai
e vem
vai…
foi.

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Uma dor inexplicável.

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Acidentes de automóveis me chocam de maneira definitiva: o James Jean, o do meu tio Wilson , o de San Martin Sauaia, o de Aírton Senna, o do filho do meu amigo Altevir, e agora o que vitimou minha com-cunhada, Márcia.
Uma saveiro tentou desviar de um buraco na estrada, perdeu o controle e chocou-se de frente com uma bleizer. Isso tudo debaixo de um desses dilúvios que, nessa época do ano são comuns por aqui.
O carro menor conduzia produtos inflamáveis e após o choque incendiou-se matando tragicamente o condutor. O maior teve seu motor deslocado para dentro da cabine dos passageiros, matando, instantaneamente uma jovem e bela mulher; balairina, casada, mãe de dois filhos, filha de pais amorosos, irmã de bons irmãos e amiga de pessoas leais e dedicadas.
Promotora de justiça, 35 anos, Márcia Sandes Farias, nenhuma dor deve ter sentido. Nada, se comparado com a dor que o fato causou.
O irmão dela que viajava junto, teve algumas fraturas, o mesmo ocorreu com o marido, meu cunhado, que ficou em coma durante dias, devido o forte impacto que sofreu na cabeça.
Acidentes ocorrem diariamente, gente morre diariamente, diariamente pernas, braços, quadris, colunas são quebradas nas estradas, mas nunca havia acontecido tão perto, talvez por isso me choquei tanto.
Em que pese o amor e o parentesco, nós não mantínhamos um relacionamento muito próximo: eu sempre envolvido com os problemas das minhas empresas ou da política, Tonhão tratando de sua granja, Ivana pintando ou cuidando das meninas e Márcia, alem de cuidar dos dela, era promotora publica e trabalhava no interior.
Esse raio, essa tragédia caiu perto demais de nós, queimou nossa carne, quebrou nosso ossos, colocou em xeque a nossa fé: “tanto bandido, tanto marginal, tanto filho da puta pra morrer e ao invés disso quem nos deixa é alguém doce, inteligente, bondosa.” – comentava alguém revoltado.
Chega-se a pensar que Deus tirou umas férias ou quem sabe uma licença prêmio. Bem que ele merece. Mas se ele é onipresente, onisciente e onipotente como dizem, ele poderia muito bem estar num paraíso qualquer, de férias com a família e ao mesmo tempo lá, próximo a cidade de D.Pedro para não permitir que aquela tragédia acontecesse.
Não é blasfêmia não, eu creio fortemente em Deus, o Deus do bem e dos bons, o Deus daqueles que como Moema, Márcia, Ronaldo, Marco Túlio e tantos outros têm procurado ajudar a família nessa hora que mais precisam, creio no Deus do Joaquim, covarde, que tinha tanto medo de me aproximar de Tonhão quando este ainda não sabia que Márcia morrera e mais medo ainda de ser indagado por ele: “como vai Márcia, onde ela esta?”.
Por isso me guardo, rezando do meu modo muito particular, conversando com Deus, mesmo não conseguindo ouvir suas respostas, mas digo a ele tudo que sinto e que penso. Não sou capaz de ouvi-lo responder-me mas tenho certeza que ele me ouve e me responde de alguma forma. Esse Deus do Joaquim egoísta e covarde que se recusa a ir ver o seu colega de jaguarema que se tornou seu cunhado, só para não vê-lo sofrendo, não pela dor física, suportável, passageira, mas pela dor da perda irreparável que o acompanhará para sempre. Eu acredito muito nesse Deus, apesar de ser humano o suficiente para reconhecer que as vezes não consigo entende-lo e até chego a duvidar.
Depois dessa dor covarde e egoísta, uma dor inexplicável que estou sentindo, minha única preocupação passa a ser a dor dos pais inconsoláveis, a dor de Davi e Juliana, sem mãe e a dor de Tonhão que não tem mais aqueles olhos verdes, a sua energia, e doce mulher, meio-mãe, meio-irmã, talvez a única pessoa no mundo que realmente lhe respeitasse com granjeiro, lhe defendesse como pessoa e lhe compreendesse como homem.

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O poema ditado

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deitado
de lado.

O vento açoita a janela
e o sol começa
a invadir pelas frestas.

Bem-te-vis e curiós
entoam o que lembra
uma melodia de Vivaldi.

Agarrada a mim
ela não pára de tremer
pede pra eu não parar
e diz que gosta.

Asmática,
ensaia uma tosse
mas a hipófise vence os brônquios.

De que mais precisa um homem?
Vento, sol, passarinhos.
Uma mulher linda,
de pele branca.
Uma rosa tatuada,
nome de filme.
Doida para aprender
o que se faz
e como ver.

Luz artificial!?
Pra quê!?

Tudo lá fora
e ela comigo
aqui dentro,
aqui dentro.

Qualquer coisa a mais
é excesso.

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Para que não digam que só falo de política

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Há algum tempo atrás, flagrei minha mulher, às seis da manhã … , bom, deixe que eu termine, ou melhor, que eu comece de novo: minha mulher é artista plástica, e o sossego necessário para o seu trabalho só começa quando o dia, ou à noite acabam, por isso ela dorme muito tarde para o hoje e muito cedo para o amanhã, o que faz com ela acorde sempre na hora do almoço.
Não é piada não, é verdade! Nós tínhamos um papagaio, ou melhor, dois, primeiro um, depois o outro. O primeiro, o Horácio, evadiu-se há alguns anos. Cantava o hino nacional, as musicas das Xuxa, e até cânticos de igreja, chamava as pessoas pelo nome, mas não agüentou o stress de uma casa como a nossa. Masculino lá, só eu e ele, pois são seis mulheres, entre mulher, filhas e empregadas, sem contar a Gertrudes, a tartaruga.
Horácio, certo vez, foi passar um fim de semana na casa de minha mãe, e lá, bateu asas e voou. Resolvi, tempos depois que sozinho eu também não agüentaria e comprei outro papagaio, e o batizei de Rafael. Este era mais jovem, menos letrado, falava pouco, pelo menos no começo. Mais alguns meses depois já era dono da casa.
Pusemos a sua gaiola sem grades onde era a de Horácio, bem próxima ao quarto das empregadas e logicamente ao alcance de sua grandiosa audição estava a TV e o rádio delas.
Rafael aprendeu a falar, a chamar as pessoas pelo nome, aprendeu a dizer bom dia, cumprimento que ele repetia a qualquer hora. Era uma ave asseada, pois Avana, filha mais velha, dava-lhe banho regularmente. Rafael comia até filé (dizer isso me dói na mais profunda alma, pois Ruanda, Moçambique, Namíbia e Etiópia, partes de meu mundo, estão famintas, miseráveis e doentes).
Pois bem, Rafael veio para substituir a lacuna deixada por Horácio, para não deixar que eu só fosse o único ser masculino em minha casa, o que eu gostava muito, pois sendo ele o outro, seria inofensivo a qualquer propósito mais humano.
Certa vez fomos todos viajar e precisávamos deixar nossa tartaruga e o nosso papagaio na casa da mãe de Francisca, moça que minha mulher cria desde garota. Até ai tudo bem, o problema aconteceu na volta, quando ao trazermos Rafael para casa, descobrimos que ele havia aprendido a latir como o cachorro dela e a cacarejar como suas galinhas. Imaginem uma galinha verde ou um cachorro de penas.
Rafael passou a atormentar a todos e para completar, ficou tão traumatizado com as suas férias e a nossa distância que passou a querer a presença de alguém sempre por perto, senão começava a gritar, latir, cacarejar e estrilar as magníficas cordas vocais que a mãe natureza lhe deu.
Como precisava muito dele, resolvi ser seu psicólogo e ficava com ele. Cheguei até a impingir-lhe um gatilho psicológico: fiz com que o som da televisão, aos poucos fosse substituindo a presença humana que tanto requisitava. Porém de tanto me observar, Rafael ia aprendendo comigo. Notou minha compulsão e ansiedade por comida e copiou isso de mim, e sempre que estava só ou chateado se danava para gritar e latir.

De entretenimento, Rafael passou a ser um transtorno. Papagaio, carente, ansioso, obeso, tava querendo me irritar! Falava muito, gritava, não admitia que desligassem o rádio ou a tv. Realmente o nosso papagaio estava muito doente, estava com uma forte crise de identidade. E eu já não sabia se era ele ou eu.
Ninguém agüentava mais o papagaio, nem os vizinhos que eram incomodados com os seus cacarejos e latidos. Ainda bem que na casa da mãe de Francisca não tinha uma seriema ou um tetéu, pois senão estávamos em pior situação.
Rafael gritava: eu corria, conversava com ele, ligava a TV, dava-lhe uma bolacha de água e sal ele parava pelo menos por instantes.
Nossa vida estava um inferno, foi quando flagrei minha mulher escrevendo um belo texto sobre a nossa amada ave de estimação, que na noite anterior não havia a deixado trabalhar nem sequer dormir. Ai está o problema: Ivana, minha mulher, escreveu um texto muito bom sobre Rafael, e sua vida conosco e com ela principalmente. Fiquei chocado com a qualidade do texto, não porque não soubesse que ela fosse capaz, ela o é. Mas imaginava que ela preferisse se expressar em cores e formas.
Passados alguns dias, estávamos sós em casa, eu e Rafael, quando ele começou a gritar. Não pensei duas vezes, liguei o computador, localizei o arquivo com o texto de Ivana sobre Rafael, imprimi, e marchei até ele. Coloquei um banco em frente a sua gaiola e comecei a ler o que Ivana havia escrito sobre ele.
Incrivelmente o papagaio só interrompeu para pedir um pouco de biscoito, no que foi prontamente atendido.
Acabei de ler o texto, liguei a TV, coloquei alguns biscoitos na gaiola e pedi para ele um pouco de paz e sossego.
Dois dias depois, ao acordar, fui até a área de serviço e por não ter ouvido o sinal dele, nem o seu espanar de asas ou seus gritos, fui chamando-o, quando Jesus me disse que, quando ela ia chegando em casa, Rafael estava sobre o parapeito da janela, ela correu para pegá-lo e ele aparentemente atirou-se da janela como se pulasse para o suicídio, mas o instinto foi mais forte e antes de tocar o solo ele bateu as asas até a um pé de fícus próximo, voou até o telhado do prédio vizinho e dali para o mundo.
Nunca mais soubemos do Rafael.

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