Há dois anos atrás escrevi aqui neste mesmo espaço uma crônica que abordava o mesmo assunto que abordarei hoje. Naquela ocasião usei um artifício farta e abusivamente praticado pela tão conhecida e propalada imprensa marrom, que costuma atribuir um titulo bombástico ou polemico a um texto cujo conteúdo, apesar de ser importante e relevante, é lido muito mais pelo enunciado poderosamente sedutor do que por qualquer outra coisa.
O titulo da crônica anterior era O preço do voto para presidente da ALM. Tentava com ele criar uma duvida ou no mínimo uma acerta expectativa quanto ao uso da palavra preço. O preço a que me referia era o VALOR, algo intangível, coisa filosófica que só algumas mentes mais afinadas e refinadas ou talvez românticas imaginam que possa existir em se tratando de política. O preço que a grande maioria deve ter entendido foi o preço do CUSTO, monetário, financeiro ou econômico da simples manifestação de um dos 42 deputados estaduais de nosso Estado em favor deste ou daquele candidato a presidente do poder legislativo estadual.
Dois anos antes, alguns de nós deputados, nos insurgimos contra a imposição sistemática do nome do presidente do poder legislativo pelo ocupante do executivo, coisa que transformara nossa Assembléia em um mero cartório. Naquela ocasião derrotamos o governante que deixava o cargo, o que assumia, o que liderava a todos e até o de novo candidato, que já se encontrava no cargo à quase 10 anos.
Vencemos a todos. Vencemos porque lutamos corretamente. Lutamos corretamente porque tínhamos um objetivo claro e justo. Tínhamos um objetivo claro e justo porque antes de pensarmos em nós individualmente, estávamos pensando no que era melhor para a nossa casa, estávamos pensando no que era melhor para o poder legislativo, que precisava se afirmar como órgão vital para o corpo do Estado e não se reafirmar como um mero apêndice do executivo.
A prova de que naquele momento nós estávamos pensando mais no conjunto que nas partes, é que tínhamos um candidato que infelizmente não pode continuar na peleja. Ele foi substituído por outro que também tombou na disputa e só então chegamos a um nome que pudesse viabilizar a nossa intenção de libertar o legislativo do jugo do executivo em nosso Estado.
Dois anos depois, por vários motivos, uns relevantes outros nem tanto, as coisas fugiram do nosso controle.
Um governante fraco e claudicante, sem um projeto próprio de governo e mal aconselhado. Usado e usando de maneira venal e indisfarçável a maquina do estado (aqui, senhor revisor, gostaria que deixasse a palavra Estado em letras minúsculas e em negrito, porque foi o que realmente aconteceu. Nosso Estado se apequenou) transformou a administração publica num verdadeiro caos.
Coitado! Ele precisava fazer isso pra sobreviver. Mas que triste sobrevida. Que preço teve que pagar. No final ele irá descobrir se não é que já deve ter descoberto, que a maioria daqueles que se diziam seus amigos eram apenas abutres ávidos em degustar um naco maior de suas vísceras.
Me opus ao então candidato imposto pelo executivo para presidente da ALM, mesmo sendo eu amigo do referido deputado.
Daquela vez perdemos. Perdemos porque não lutamos corretamente. Não lutamos corretamente porque não tínhamos um objetivo claro e apesar de justo, não deixava no fundo, lá no fundo, de ser mais eleitoreiro que político, no sentido mais amplo e nobre que tal palavra possa ter. Dessa vez alguns de nós pensaram mais em si mesmos que na casa, e ela voltou a ter o seu presidente imposto pelo poder executivo.
Apesar de ter chegado à presidência da ALM mais pelas gestões do Palácio dos Leões que pela vontade de seus pares, o atual presidente da ALM manteve-se, na medida do possível, como magistrado. Tem procurado se manter como chefe do poder mais que como partidário de uma facção política ou eleitoral.
Fico muito a vontade pra dizer tudo isso porque não tendo eu votado no atual presidente da Assembléia, não sendo eu seu correligionário, não comungando das mesmas posições eleitorais, ainda assim, consigo ter com ele uma relação de respeito e confiança, motivo pelo qual me permito manifestar meu apoio a seu nome para presidente nas próximas eleições daquele poder.
Mas cobrarei dele um preço caro por isso. O mesmo que sempre cobrei e que acho que é o único que todos deveriam cobrar sempre. Cobrarei o respeito e a defesa do poder legislativo acima de qualquer conveniência ou posição partidária, eleitoral ou política. Cobrarei igualdade de tratamento para todos os deputados independentemente de quem seja, cobrarei compromisso com os trabalhos legislativos, cobrarei a nova sede para da ALM, cobrarei a valorização dos nossos funcionários, cobrarei ações de extensão de nossa casa junto à comunidade. Cobrarei sabedoria e coerência, sensibilidade e lealdade, generosidade e prudência, humildade e firmeza. Esse é o meu preço. É caro, mas é justo!
Por fim, quero dizer que se engana quem pensa que o governador eleito do nosso Estado, usará em seu governo das mesmas praticas do atual governador. Perderá quem apostar que a partir de janeiro de 2007 teremos no Maranhão um pregão de leilão e não um governo.
O governador que assumirá em janeiro não deverá tirar um candidato do bolso do paletó, não deverá levantar a voz para enfiar goela abaixo dos deputados um nome para presidir nossa casa. Pode ele até ter sua preferência, pode até externá-la, mas deverá saber se portar como um verdadeiro magistrado.
Caro Deputado Joaquim Nagib Haickel,
Fico feliz em constatar que o senhor é realmente um homem correto e um político coerente, que assume suas posições baseado em seus conceitos, independentemente de qualquer pré-conceito.
Ler essa crônica me faz acreditar que ainda existam alguns políticos que possam realmente fazer a diferença em meio a esse emaranhado de refugo da nossa política.
PS: Permita-me que não me identifique, mas saiba que apesar de bem mais novo, fui amigo e admirador de seu pai, e tenho certeza que ele ficaria orgulhoso de ver que formou um homem de caráter, critério e posição. Continue assim. Parabéns!
Deputado Joaquim,
Tenho grande admiração pelo seu trabalho, tanto como deputado quanto como escritor.
Hoje, ao ler sua crônica, essa admiração se redobrou e se multiplicou, pois demonstra defender inabalavelmente as mesmas posições pelas quais sempre lutou.
Quero pinçar as duas palavras mais importantes de sua crônica de hoje: VALOR, que é a significação filosófica da importância, da valia, da precisão, da necessidade que tem as coisas. E PREÇO, que nada mais é que a representação monetária, financeira e econômica dessas mesmas coisas.
O senhor tem VALOR e é esse o seu PREÇO, mesmo que seja caro, como o senhor mesmo afirma. Enquanto outros, sem nenhum VALOR a defender, tem um PREÇO eminentemente financeiro.
O seu preço deputado, sendo os valores que defende, é muito barato, perto de 10 centavos que fosse, a se pagar por alguns que não tem valor algum.
Sempre votei contra o grupo Sarney. Sou eleitor de Jackson, mas tenho que reconhecer que faltam deputados como você junto dele. Tirando os históricos do PDT quem sobra? Braide é realmente do PDT? Bacelar é realmente do PDT? Camilo é realmente do PDT? Maura é realmente do PDT? Pavão é realmente do PDT? Só Graça pode-se dizer que é do PDT.
Queria que tivéssemos em nosso Estado mais uns três deputados como o senhor, mas do nosso lado. Pena que seja do contra!
Precisa ser muito corajoso pra dizer o que você diz aqui nesta crônica. Mais coragem ainda precisa para conviver com alguns de seus colegas que ao invés de valor, têm preço.