Eu estava lá.

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Estava lá, na minha infância pobre, jogando bolinha de gude, empinando curicas, nadando, no Rio Pindaré.
Estava lá, quando, meus pais preocupados, me mandaram estudar na capital.
Estava lá trabalhando, aos treze anos, como menino de recados e faz tudo de “seu” Eduardo Aboud.
Estava lá, homem quase feito vendendo tecidos, jóias e quinquilharias para poder andar de lambreta.
Estava lá homem feito, me fazendo mais homem ainda, casando com o amor da minha vida e tendo com ela meus filhos, que, são eu, em partes, em horas, em situações: afobado, alegre, leal, negociante, desconfiado…
Estava lá, comerciário e comerciante, industriário e industrial; empresário, nada disso nunca me senti, eu estava lá e vendia. Só isso. Sem saber montei a primeira loja de, conveniência do Brasil. A Meruoca.
Estava lá político, na minha querida região do vale do Pindaré com meu Povo, com, meus amigos. Devo, encontrar alguns por aqui. Biné, Milet, Adroaldo, Nunes Freire, Dr. Pedro Neiva, Sena Rosa. Devo encontrar um homem a quem sempre me opus, mas que nos últimos anos, amigo maior de seu filho me tornei. Dr. Newton Bello.
Estava lá jogando bombom, repetindo meu nome mil vezes, pintando o chão, narrando jogo de futebol; meu filho não achava que desse resultado. Deus. Dá. inventei coisas sem pretensão de inventa-las.
Estava lá Deputado Estadual e Federal por quase trinta anos. Criei municípios, e um em particular administrei e amei. Zé Doca. Parece comigo. É rápido, apressado, tem progresso, tem trabalho e boa gente.
Estava lá para ver meus filhos criados, homens de bem, trabalhadores, honestos, leais, amigos de seus amigos e respeitadores de seus desafetos.
Estava lá para fazer todas as coisas que gostava, e as fiz. Arrepender-se de ter feito algumas coisas erradas de pouco adianta agora, mas se com elas prejudiquei alguém peço desculpas e me penitencio.
Estava lá para ver, brincar, ensinar e aprender com as crianças que tanto, amei. Dentre elas, minha tão amada e querida neta. parte de mim. Minha Laila, minha Lalica.
Não estava lá para ver o meu netinho, também tão amado, mas o vejo sempre. É forte, bonito. Vai continuar o meu nome.
Estava lá nas ocasiões mais mercantes do meu tempo. Fui o centro da minha tempestade. Não posso me queixar de nada. Sempre tive sorte, amigos, sempre me sai bem. De um jeito ou de outro as coisas acabaram dando certo: Na infância, na juventude, na maturidade e na velhice; no esporte, nos negócios, na política e na vida.
Estava lá durante trinta e cinco anos com uma mulher maravilhosa, amiga, compreensiva, companheira. Pessoa de um coração sem igual, de uma bondade extraordinária, acho que se minha alma era má, ficou boa por sua causa e se boa fosse, melhorou convivendo com Chica ou mãe, o que ela era de mim e agora é de todos estes de quem cuida com tanto amor e dedicação. Te Amo.

Estava lá para ter irmãos, parentes, amigos dos melhores, empregados de anos de dedicação, pessoas que confiaram em mim e em que confiei. Muitas vezes era temperamental e até grosseiro, mas sei que os que me conheciam de perto, sabiam que não era por mau, sabiam que logo voltava ao normal e as coisas continuavam.
Estava lá em vários lugares, por quase sessenta anos, mas de sessenta se contarmos o tempo que passei dentro de “Mariak”, minha Mãe Maria Haickel, a olhar o olhar sereno do meu velho pai Elias.
Estava lá em Coroatá no dia 07 de setembro de 1993, entre amigos, brincando, comendo…
Estava lá… “Estou indo, estou indo…”
Estava lá e vi o pânico dos que estavam comigo, vi o desânimo, o desespero e o sentimento de traição e abandono que meus filhos, juntos, sentiam, vi a tristeza e a saudade de Chica, de Estelita e de Yolanda. Vi tudo, toda a minha vida num ultimo suspiro.
Esta lá e vi meu filho e meu genro, quase filho, ao me receberem, inerte. Vi o que foram capazes de fazer. Eu não seria tão corajoso, tão forte.
Estava lá e vi meu outro filho ir para casa, pensando sem pensar, andando sem andar, diletante. Deitou-se em minha rede, cheirou o meu cheiro no lençol, chorou o meu choro, dormiu o meu sono. Queria acordar com ele, queria sonhar com ele. Tenho certeza que não acreditava. Jamais o deixei ser totalmente, jamais o soltei, sempre esteve a minha sombra. Estava perdido. Mal sabia ele que nos últimos anos, eu era quem o seguia. Tive dois filhos dei a um a possibilidade de usar o cérebro através da boca e ao outro a razão de usar as mãos pelo cérebro. Um quase perdi várias vezes, o outro nunca quis se perder. Acho que hoje eles sabem que, o que os torna forte é o seu amor e a união.
Estava lá no meu velório, em minha casa, muitos amigos, todos os parentes, autoridades. Havia até conspiração. Não os condeno, faria o mesmo. Não fui e não sou santo nem hipócrita.
Estava lá no meu velório na Assembléia, casa onde passei boa parte da minha vida, onde estava sendo seu presidente, na minha cabeça apenas gerente. Muita gente. Fiquei orgulhoso e chorei, não queria morrer, nunca quis, era a fase mais feliz da minha vida; mais maduro, mais compreensivo, menos intransigente, menos preocupado.
Estava lá no meu enterro. Cheguei de carro de bombeiro, guarda de honra, essas coisa que em vida não dava muita importância. Muita gente. Chorei de novo. Quero ir para casa. Minha mulher, meus filhos, meus parentes, amigos, funcionários, conhecidos, todos lá me fizeram ver que era definitivo. Não me conformei. Hoje começo a compreender.
Estava lá na missa de 7º dia, todos ainda consternados. O Padre Lucio, simpatizante da esquerda, meu amigo do Maiobão, oficiou. A rua estava bloqueada, A Igreja era a Rua do Egito, em frente à Assembléia. Havia muita gente. Chorei novamente.
Estava lá na missa do 30º dia, desta vez a igreja coube a todos mais o padre ainda era o mesmo e a dor ainda doía. Chorei.
Estava lá em todos os instantes com Chica, Joaquim, Nagib, Laila, Ivana, Lucia, Estelita, Yolanda, Rose, Lucinha, Rochinha, Tadeu, Antonio, Santana, Carol, Jorge, Mônica, Catita, Vinicius…
Estava lá quando meus filhos com ajuda de alguns amigos tentavam pagar as dividas que deixei. Pagaram algumas e continuaram pagar as outras, pois foi como eu lhes ensinei.
Estava lá quando nasceu Nagib Neto, meu netinho que não me conheceu, mais que eu amo, falem de mim para ele.
Estava lá em quase todos os lugares e horas. Não todas, mas estava.
Estou, quando Chica chora ou rir, quando Estelita me imita, quando Loló lembra, quando Lalá vê a fita, quando Binho faz negócios e quando Joaquim faz política.
Estava lá na missa de 1º ano. Estavam apenas os que lembraram ou os que puderam ir. Meu substituto, o Manoel, Marly que alfabetizou meus filhos e um dos mais dignos Deputados que já conheci, um chovem chamado Clodomir Filho. Os outros devem estar se virando, pois a luta é difícil, eu sei.
Revi meu compadre Daniel, meus amigos William Nagem e Alberto Abdalla. Lá estava meu ex-patrão e amigo Cezar Aboud, meus amigos Zé Bento Neves, Zé Elouf e Celso Cotinho.
Joaquim ficou perto de Newtinho, onde eu ficaria, Nagib ficou do lado de fora da Igreja onde eu preferia ficar.
Vi meu amigo de infância e adversário João Maluf. Meu primo e amigo Alberto Hadade. Roberval não foi, está doente, mas a mulher e a filha estavam lá. Os parentes acho, que todos estavam; irmãos, primos, sobrinhos, e até Gloria, que Chica estava preocupada com a saúde dela eu vi.
Vi a surpresa gostosa e alegria que meus filhos tiveram ao ver um certo amigo deles entrando na Igreja com a esposa. Ele é amigo mesmo, não troquem nada por seus amigos, pois eles são o que de mais valioso há na vida.
Meus pretos estavam lá: Celso, Ivan, Gilmar, Regina, Miriam, Nelci… Meu irmão de criação Raimundo Nagib. Meus amigos Portela e Malheiros. Dona Otávia e Dona Rosário. Meus compadres e afilhados.
Funcionários da Assembléia e da “Barraca”. De Alda minha secretária fiel ao chefe de gabinete.De Verde com quem às vezes discutia, com quem implicava a Heloisa a quem admirava. Telefonistas e administrativos, funcionários que sempre tive como amigos. Até jornalistas havia. Não rádios, jornais. TV só o Ivison Lima do Raimundinho. Mas estavam lá o Raí, como eu chamava, o Ademário e aquele menino que fazia a locução das minhas campanhas e de Joaquim, não lembro o nome. Havia muita gente, pensei que fosse menos. Por um instante fiquei triste, queria estar ali. Mas o Padre Hélio Maranhão que rezava a missa lá pela as tantas, fez-me rir ao dizer “… um por todos…” e eu cá comigo, me lembrei dos meus filhos que adoravam capa-espada e gritei: “todos por um”. Era isso que estava acontecendo ali: Todos por um e por todos. Não chorei, não vou mais chorar. Não chore. Sejam unidos, se dêem amor, compreensão, amizade. Conversem, façam as coisas da maneira mais correta. Procurem ajudar a quem lhes procurar, sejam caridosos.
Estavam lá no cemitério. As minhas rosas, as minhas flores. Os meus.
Estava lá em casa.
Estava. Estou.

* Este texto deveria ter sido psicografado pelo médium Francisco Candido Xavier.

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Do que precisa um bom guerreiro?

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?

Os filósofos gregos Aristóteles e Platão, desde sempre, se interessaram pelas questões militares. Muitos intelectuais da antiguidade passaram de uma forma ou de outra, por tais experiências.
Dentre os mais importantes estão nomes como o de Aristófanes, que apesar de não se ter certeza se ele participou de alguma batalha, é certamente o que mais conviveu com os combatentes, visto as detalhadas descrições presentes em suas peças. Em compensação, sabe-se que Sócrates participou de três batalhas, as de Potidéia, Anfípolis e Délion. Ésquilo combateu em Maratona contra os persas. Sófocles foi comandante das forças ateniense quando da conquista da ilha de Samos. E que quase todos os historiadores gregos tiveram longa experiência militar, principalmente Xenofonte e Tucídides, este último autor de A Guerra do Peloponeso.
Digo isso como preâmbulo, para poder falar de alguns dos guerreiros mais admiráveis da antiguidade. Os Hoplitas.
Os gregos, no século VIII a.C., inventam um novo tipo exército, constituído de um novo tipo de soldado. Agora teriam no lugar de mercenários e escravos, cidadãos livres empunhando armas em suas batalhas e guerras.
A chegada do Hoplita, soldado da infantaria que foi assim chamado devido ao escudo que carregava, causou uma grande revolução, pois homens livres defendem com muito mais interesse e compromisso não apenas suas propriedades e suas famílias, mas também a sua cultura e o seu modo de vida. Nascia assim o exército moderno e de certa forma também, uma parte da cultura e da sociedade moderna.
Os Hoplitas surgiram de uma nova categoria sócio-econômica, a dos pequenos proprietários rurais, que se beneficiaram do direito de possuir armas individualmente. A vontade desses pequenos fazendeiros gregos não era somente defender suas plantações, mas também a idéia, o princípio da inviolabilidade de seus domínios, de proteger a sua cultura e preservar sua sociedade.
No campo de batalha, o escudo dos Hoplitas servia tanto para proteger aquele que o portava quanto o homem situado imediatamente à sua esquerda. Aristóteles fez disto um dos maiores símbolos da democracia, da igualdade e da solidariedade. Abandonar seu escudo, deixando de assegurar a coesão da falange, era considerado um ato de extrema covardia e traição.
Os Hoplitas combatiam numa formação tática disciplinada, armados com espadas e lanças, muito bem protegidos. Com este modelo de exército, a vitória passou a ser um feito coletivo, ao contrário da antiga formação aristocrática, que a considerava um feito individual.
No entanto, há uma coisa muito curiosa que me chamou a atenção: A espada, a lança, o elmo, a armadura, o escudo e as roupas que os Hoplitas usavam, eram custeados por eles mesmos, pagos com seu próprio dinheiro, com seu próprio suor. E esses itens eram caríssimos. Custavam o dinheiro de uma vida.
Passados quase três mil anos desde que os gregos, muito sabiamente, organizaram um exército de cidadãos, de pais de família, de pequenos proprietários, de homens comuns e principalmente livres, me aparecem agora alguns comandantes, alguns generais, que ainda preferem comandar exércitos de escravos ou mercenários. Soldados que são obrigados a defender em primeiro lugar os interesses de seu senhor, a vida de seu mestre e só depois é que poderão pensar em si mesmos e em suas famílias.
Muitas guerras já foram perdidas e pelo que tudo indica, muitas ainda o serão, por falta de Hoplitas nas fileiras de exércitos comandados por generais que são verdadeiros Brancaleones, na pior evocação e concepção que se possa dar ao personagem central do filme de Monicelli.
Como os hoplitas gregos, alguns de nós, juntos, podemos formar um exército constituído de cidadãos livres, que pense certo e que defenda da melhor maneira, não apenas as nossas propriedades e as nossas famílias, mas principalmente a nossa cultura e a nossa forma de viver.
Do que se precisa, hoje, para formar um exército de bons guerreiros? De que eles sejam os donos de suas próprias armas. De que sejam realmente livres.

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Ame-os e doe-os

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Num de seus contos mais famosos, A Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges imagina uma coleção infinita de livros. As obras repousam sobre estantes intermináveis. O escritor argentino escreve essa história chamando a atenção para as pessoas que têm a paixão e o zelo pelos livros, e que não cansam de conviver permanentemente com eles.
Nos últimos dias, estou experimentando uma dolorosa sensação de perda e, ao mesmo tempo, um sentimento de satisfação interior proporcionado pela certeza de estar prestando um bom serviço. Por conta de uma reforma que estou fazendo em minha casa, estou me desfazendo de meus livros. Livros que fizeram parte de minha infância e de minha juventude, livros que fazem parte de minhas paixões, livros aos quais devo boa parte de minha formação.
Faço estas doações na certeza de estar contribuindo para a formação de leitores apaixonados e curiosos. Pessoas que aprenderão que ler é quase como respirar, função essencial da nossa vida. Eu acredito que, mesmo com o avanço da informática e do surgimento de tecnologias cada vez mais sofisticadas, o futuro saberá preservar os livros. Acho que eles jamais vão desaparecer da face da Terra. Não serão suplantados pelas revolucionárias tecnologias que estão remodelando a vida moderna. Afinal, para usar um computador, precisa-se saber ler e romances e novelas não são confortáveis de serem lidos em computadores, não é possível dobrar um computador para ler na cama ou leva-lo providencialmente para o banheiro.
Além disso, o número de livros impressos aumenta a cada ano, e graças a deus o percentual de alfabetizados também. Nunca é demais lembrar que o livro permite que o leitor pense. Livro é só papel e marcas pretas, mas trás uma possibilidade única de criar e recriar o pensamento, fazendo com que as pessoas cresçam.
Por isto, estou doando toda a minha coleção de Kalil Gibran, algumas edições da Bíblia sagrada e do Novo Testamento, livros antigos como Atos do governo provisório, e enciclopédias como o Tesouro da Juventude, o Mundo Encantado da Criança, BARSA, Mirador, Delta Larousse, Delta Junior, entre outras, que totalizam cerca de quatro mil volumes, livros que eram de um Joaquim de 20, 25 anos atrás.
Resolvi, no entanto, não abrir mão de alguns livros, que têm um valor sentimental, algumas encadernações raras e antigas, como as famosas Centúrias de Nostradamus, edição de 1919, como O Príncipe, de Maquiavel, de 1922 e a competente e salvadora coleção Nosso Século, além dos poucos livros que pertenceram ao meu pai, como A lei quer que eu morra e Cela 2238, corredor da morte, de Carl Chessman e livros como o relatório da comissão presidida pelo juiz Earl Warren que apurou o assassinato do presidente John Kennedy e Como fazer amigos e influenciar as pessoas, lendo esse ele aprendeu.
Também não consegui me desfazer de alguns dos melhores livros de poesia. Já as obras literárias que resultaram em adaptações para o cinema que gosto tanto, estas também se vão. São grandes obras da literatura como é o caso do livro Os Dublinenses, de James Joyce, que virou o filme Os Vivos e os Mortos, dirigido por John Huston. Spartacus, vigoroso romance histórico de Howard Fast, convertido numa superprodução, com cenas grandiosas de batalhas, retratando a decadência do Império Romano. A obra Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, eletrizante fábula de horror ambientada no futuro em que um jovem fascinado pela violência, sofre uma lavagem cerebral para livrar-se de seus instintos animalescos. O romance …E o Vento Levou, de Margaret Mitchell, obra-prima do grande produtor David Selznick, que tão bem adaptou o livro à tela.
As obras que estou doando poderão fazer a diferença na vida de muita gente, porque o amor pelo livro pode custar a se instalar, mas, quando pega, é paixão para a vida inteira.

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… Uma vírgula… e ponto final.

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Me elegi deputado pela primeira vez em 1982, há exatos vinte e quatro anos, e que primordialmente sempre busquei duas coisas no exercício dessa atividade, coerência e lealdade. Acredito que tive um razoável sucesso nesse intento, tanto que em conseqüência disso construí uma carreira sólida e respeitável. Prova disso é o fato de a grande maioria de meus amigos, no âmbito da política, ser membros de grupos políticos diferentes do meu, terem visões políticas diferentes da minha.
Dito isso, vamos aos fatos: Antes do primeiro turno das últimas eleições, como faço sempre, fiz um estudo sobre a quantidade de vagas que cada partido ou coligação deveria conseguir, tanto para a Assembléia Legislativa, quanto para Câmara Federal. Um estudo como esse é indispensável para que partidos, coligações e candidatos possam escolher as melhores estratégias de ação para o pleito. Esse tipo de avaliação previa não é feito apenas por mim, mas por todos aqueles que saibam faze-lo e que tenham conhecimento e informação para tanto.
No estudo que fiz, estimei que para deputado estadual, a coligação capitaneada pelo PFL elegeria 16 deputados, e elegeu 14; que o PSDB elegeria 8 deputados, e elegeu 9; estimei que O PDT elegesse 6 deputados e minha estimativa comprovou-se acertada; Imaginava que o grupo do PSB ficasse com 4 cadeiras, mas ficou com 5; inicialmente atribui 4 vagas para outra coligação, mas poucos dias antes da eleição, devido uma serie de impugnações, corrigi esse montante para 3, e acertei; previ que duas pequenas coligações elegeriam 1 e 2 deputados respectivamente, mas ocorreu o inverso. Por fim acertei quando disse que outras duas pequeninas coligações elegeriam 1deputado cada. Mais uma vez minha percepção foi acertada.
O resultado das urnas em 1º de outubro confirmou que a minha avaliação estava correta. Acertei 38 das 42 vagas para ALM. Um Acerto superior a 90%.
No tocante aos nomes dentro destes partidos e coligações, nunca foi minha intenção indicar esse ou aquele candidato como eleito ou derrotado, mas alguns nomes eram tidos como francos favoritos. Uns se confirmaram como foi o caso de João Evangelista, Cleide Coutinho e Marcelo Tavares, todos superados por outro favorito, Afonso Manoel. Da mesma forma que ninguém imaginava que Manoel Ribeiro deixasse de se eleger. Havia também quem apostasse que era certa a eleição de Valdivino Cabral, Márcia Marinho e Ricardo Archer.
Mesmo assim, numa lista de possíveis 60 nomes para preenchimento das 42 vagas da ALM, só não constava o nome do vereador Nonato Aragão. 1 erro em 60 nomes para 42 vagas.
Para a Câmara Federal, das 18 vagas só ocorreu um equivoco em meu estudo. Imaginava que o grupo liderado pelo PFL elegesse 8 e elegeu só 7 deputados, enquanto eu acreditava que o time do PDT elegeria apenas 2 deputados e elegeu 3. Acerto também superior a 90%. Quanto aos nomes, numa lista de possíveis 27 para preenchimento das 18 vagas da CF, todos os eleitos estavam relacionados. Nenhum erro em 27 nomes para 18 vagas.
Não fiz esse estudo como previsão cabalística ou astrológica, fiz para avaliar preliminarmente cada partido ou coligação e ver, dentro deles, indistintamente, as reais chances dos diversos candidatos. Não fiz esse estudo em busca de reconhecimento ou de aplauso, fiz pra servir de guia não só para mim, mas para alguns amigos, não só do meu grupo, mas de todas as tendências políticas. Tanto, que muita gente, muito candidato, ligou pra mim para saber a tendência eleitoral deste ou daquele partido, desta ou daquela coligação.
Agora, no segundo turno, baseado nos números do primeiro, onde Roseana superou Jackson por 350 mil votos, e onde os demais candidatos reunidos obtiveram apenas 500 mil votos, estimei, com base em probabilidades estatísticas, e de forma bastante pessimista, que 420 mil destes votos, 84%, migrassem para Jackson e apenas 80 mil, 16% fossem para Roseana. Apesar de privilegiar mais uma tendência que a outra, chegando mesmo a ser pessimista, ainda assim errei.
O que aconteceu foi que Roseana no segundo turno só obteve algo em torno de 10 mil votos a mais que no primeiro, enquanto Jackson amealhou uma faixa de 460 mil.
Uma semana antes de 29 de outubro, um determinado instituto de pesquisa, registrou e fez divulgar na imprensa, um levantamento que apontava Jackson 16% a frente de Roseana, o que totalizaria 480 mil votos de diferença em favor do candidato do PDT.
Tendo em vista que o resultado das urnas confirmou o vencedor com apenas 1,5% a mais de votos que a vencida, me diga! Quem errou mais? Eu, que sem ter a vantagem cientifica de nenhuma pesquisa estimei que Roseana ganhasse por 10 mil votos, menos de 0,5%, ou o tal instituto de pesquisa que previa a vitória de Jackson por 480 mil votos de diferença, 16% do total dos votos validos?
Não precisa ser vidente, estudioso, conhecedor ou instituto de pesquisa para acertar o resultado de uma determinada eleição, mas precisa ser serio para assumir sua posição, seja ela política ou meramente moral.
Os estudiosos podem apresentar seus levantamentos e os institutos de pesquisas podem apontar seus prognósticos, mas em matéria de eleição quem decide mesmo é o eleitor e sua vontade livre e soberana não pode ser questionada por quem quer que seja a não ser por ele mesmo e somente quatro anos depois.

PS: Quero aproveitar a oportunidade para agradecer aos 32.791 eleitores do Maranhão que me confiaram o seu voto, e dizer-lhes que, farei tudo para continuar representando-os da melhor maneira possível na ALM.

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Deu no New York Times

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A cidadezinha de Beckman, situada no oeste do estado da Luiziana, foi sacudida por uma descoberta no mínimo surrealista. Os habitantes passaram os três últimos anos sofrendo com um incendiário que atacava de forma sistemática e profissional. Queimava carros, casas, trailers, escolas e até prédios públicos.
Mas uma coisa curiosa acontecia: o incendiário era cauteloso e cuidadoso, nunca houve nenhuma morte causada pelos incêndios. No máximo, o que aconteceu de mais grave foram algumas pessoas queimadas, e alguns braços quebrados.
Os incêndios eram semanais mas às vezes paravam, era como se o incendiário brincasse com a população. Às vezes havia dois ou três incêndios na mesma semana e por três vezes foram dois na mesma noite, o que fez a polícia imaginar que se tratava de uma gangue.
Os bombeiros de Beckman passaram a ser muito requisitados. Realmente davam conta do serviço. Faziam um trabalho irretocável e excepcional. Passaram a aparecer na mídia nacional e a dar entrevistas. Foram objetos de reportagens no “sixty minutes” e no “four-eight hours”, além de serem entrevistados por David Letterman, Jan Reno e Oprah Winfrey em seus talk-shows diversas vezes. Algumas redes de TV locais e nacionais acompanharam os bombeiros de Beckman em várias missões.
Os “Anjos do Fogo”, como passaram a ser conhecidos, eram liderados pelo capitão Richard McCain, um veterano da guerra do Vietnã, herói condecorado pelo Congresso por ter salvo três colegas atingidos por fogo amigo. Diz-se que é fogo amigo quando um soldado é alvejado sem querer, por balas de seus próprios companheiros. É um acidente comum nas guerras. Voltou para sua terra natal e, por ser um homem enérgico, foi convidado pelo prefeito para assumir o comando geral da segurança de Beckman. Porém logo se atritou com um superior e um subordinado. O procurador do condado e o xerife da cidade achavam muito estranha a forma de agir de McCain que, apesar de ajudar a manter a lei e a ordem, usava métodos um tanto estranho: fazia acordo com bandidos, acobertava assaltante, defendia alguns interesses muito específicos além de ter enriquecido muito rapidamente.
McCain não poderia destituir o xerife, seu subalterno, já que este é eleito pela população, muito menos o procurador.
Quando a situação estava incontrolável, o prefeito Robert Strasberg aproveitou a aposentadoria do comandante do corpo de bombeiros da cidade e transferiu McCain para aquele cargo, muito menor e menos importante.
Mas agora McCain era o centro das atenções, mais que qualquer um em Beckman, potencial candidato a prefeito. Mesmo em relação ao estado da Luiziana ele tinha tanto ou mais prestígio que o governador.
Pois bem, um congressista da Luiziana, nascido em Beckman, preocupado com a grande quantidade de incêndios e com o iminente descontrole da situação, aciona os serviços especiais do FBI, que infiltra na cidade um casal de agentes e um outro agente disfarçado de paramédico. Durante três semanas investigaram tudo na cidade, inclusive os dois incêndios que ocorreram e chegaram a poucas conclusões. A mais importante era que o incendiário agia quando os locais estavam vazios ou então de madrugada, ou ainda usando bombas incendiárias de efeito retardado.
Armaram então uma armadilha para pegá-lo, instalaram na casa onde moravam um sistema de câmeras com infravermelho acoplado a um sistema de transmissão via internet, e começaram a se misturar na sociedade local, passaram a ser vistos, criaram vínculos e fizeram amigos. Enquanto isso o outro agente, o paramédico, investigava as gangues, os subúrbios e os guetos.
Freqüentemente os Waltons, codinome do casal de agentes, deixavam sua casa a sós para tentar pegar em flagrante o incendiário ou os incendiários de Beckman. Até que, certa tarde, eles deixaram sua casa aberta e saíram rumo à cidade vizinha de Louis Ville, onde iriam ficar monitorando suas câmeras.
Lá pelas tantas, eles observaram que alguém havia entrado em sua casa. Esperaram, pois podia ser um simples ladrão, mas quando viram o homem plantando bombas de efeito retardado sob o fogão e na garagem, ligaram imediatamente para o seu parceiro em Beckman. O incendiário estava visto, porém não identificado pois estava com roupas negras e usando uma balaclava de ski (balaclava é uma espécie de capuz que envolve toda a cabeça, ficando apenas os olhos de fora, usada por esquiadores ou pilotos de automobilismo).
Imediatamente acionado, o outro agente chega ao local que ainda não começara a arder e dá voz de prisão ao incendiário, que reage à bala, mas é alvejado na coxa direita, ficando imobilizado.
Algemado o incendiário, desarmadas as bombas, chamados os “bombeiros”, a polícia e os paramédicos, qual não foi à surpresa de todos quando, após tirarem a balaclava que o camuflava, e o macacão preto que usava, apareceu ninguém menos que Richard McCain, o comandante do Corpo de Bombeiros de Beckman, um tanto sujo, ferido na coxa, mas com sua farda de autoridade.
Mais tarde outras investigações foram feitas e descobriu-se que McCain havia disparado nas pernas de seus companheiros do Vietnã para ter a glória de herói salvador, tendo ele atirado com a arma de um soldado caído morto ao seu lado por uma granada vietcong, precavendo-se contra o exame de balística, para que não fosse incriminado.
Agora a população de Beckman, na Luiziana, sabe que quem ateava fogo em suas casas e em seus carros era o mesmo herói que aparecia para apagá-lo.
Até hoje existem pessoas que não acreditam nessa história e algumas outras que preferem não acreditar.

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Conversa sobre caos.

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“No inicio, era o caos…” Qual a intenção do sujeito que escreveu no Gênesis tais palavras? Ou melhor, qual a intenção dos que, através da tradição verbal, fizeram com que essa idéia, essas palavras, chegasse até nós.
Quando escrevo, costumo pensar que existe o mundo e existe a palavra, existe a nossa experiência com mundo e a nossa experiência com a palavra. Na página em branco, na tela do computador, diante de mim está o caos do mundo e o caos da palavra que vou tentando ordenar, operando, deste modo, uma passagem, do vazio e/ou da desordem, para o ordenamento de meus pensamentos e de minhas idéias. Assim, por analogia, posso deduzir que caos é o total vazio, a existência absoluta do nada ou do mesmo modo, a definitiva inexistência qualquer coisa. Há também a possibilidade de caos, ser o que esta no dicionário, “grande confusão ou desordem”, sinônimo que se associa, pelo excesso de uso, imediatamente a essa palavra de origem grega.
Penso sobre o caos, que pode ser aquele causado por medidas econômicas do governo ou do mercado, que de vez em quando nos surpreendem, ou o caos ocasionado pelas chuvas, engarrafamentos, inundações ou catástrofes. No mundo da Física, por exemplo, os cientistas insistem em pesquisar sobre um tipo especial de caos, que assola o mundo microscópico da matéria, provocando desordem entre os átomos de uma mesma substância. Já na medicina, o caos é provocado pela desordem causada por átomos de uma substância alheia ao meio em questão, no caso o corpo humano.
Alguns filósofos acreditam que o caos não é tão desorganizado. Há uma certa ordem escondida por trás da confusão aparente. É possível então aproveitar certos estados “organizados” do caos estabilizá-los e devolver a harmonia à bagunça? Sou dos que acredita firmemente nisso.

Já houve quem apontasse o tema caos como forte candidato ao Prêmio Nobel de Física. Mas não vingou. Ganharam os quarks, as menores partículas da matéria comum. Há uns 30 anos, o cenário era mais pobre, cientistas achavam que não havia remédio para o caos. Mesmo a mais poderosa das matemáticas não poderia prever o futuro depois de instalada a desorganização. Com o status adquirido nas últimas décadas, o caos ganhou vigor e virou moda. Resultados teóricos e experimentais já comprovaram que até mesmo a passagem para o estado caótico é feita sob uma determinada ordem.
Eu prefiro, no entanto, estudar e pensar no caos de uma forma mais didática. Vejamos a agricultura: Antes do plantio há o caos, vazio ou desordem. Com trabalho se prepara a terra, se semeia, se colhe. Armazena-se e se come o fruto do fruto desse trabalho e recomeça o ciclo.
Em tudo, no mundo e na palavra, na idéia e na ação, o caos é presente, pois é somente dele que nascem as coisas. Só existe fato no caos, seja por existir o vazio, seja por haver a desordem. O certo mesmo, é que continuamos no inicio de onde acho que nunca saímos, no caos.
Hoje entendo um pouco mais da alma do poeta, pelo menos daquele que quando indagado de quando e como escrevia seus versos, respondia: “nunca quando esta tudo normal. É preciso cabeça ou vida, em calmaria ou vendaval.”

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Carta para Zahle, Líbano.

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São Luís, Maranhão, Brasil, Mundo, 14 de setembro de 2001.

Caro “Brimo” Aziz,
Quando faltam adjetivos para qualificar-se uma coisa, um sentimento, um fato, é porque essa coisa, esse sentimento, esse fato são inomináveis e inqualificáveis ou porque a língua é pobre. Hoje e desde a ultima terça-feira, 11 de setembro, a humanidade confronta-se com um problema menor, mas preocupante: todas as línguas e formas de comunicar-se usadas pelos homens, sobre esse planeta, padecem de pobreza, pois não existe como, com poucas palavras, explicar-se ou sequer comentar-se o que aconteceu naquela pequena ilha americana, nas proximidades da latitude norte 40º 42’ 51’’.
No inicio, era um aparelho de Tv que mostrava uma das paisagens mais conhecidas em todo mundo, o complexo do Word Trade Center, localizado ao sul da ilha de Manhantan em Nova York. “Acabou de ocorrer um inacreditável desastre. Um avião de passageiros chocou-se contra uma das torres do Word Trade Center”. Eu que chegava para uma reunião, lívido, desabei num sofá em frente da Tv e liguei-me na tragédia que ainda no inicio, já transtornava. Meia dúzia de minutos depois, olhando para aquele mesmo aparelho que nos ligava ao mundo, presenciei com esses olhos incrédulos o suicídio de alguns fanáticos radicais e o homicídio deliberado e instantâneo de algumas centenas de pessoas inocentes, quando um outro avião entrou parede adentro da outra torre do Word Trade Center, como faca rígida e quente em um macio cubo de manteiga. Inacreditável, inimaginável, assombroso, terrível, horroroso, pavoroso, impossível… Não há palavras que possa definir tamanha infâmia, tamanha covardia.
Em mim, quando me aflige a angustia e o desanimo, as articulações dos meus ombros ficam impotentes e meus braços perdem a força e a vontade de mover-se, fico desombrado. Foi como fiquei durante horas. Não consegui durante horas sorver um suspiro profundo, minha respiração ficou curta, pequena. Meus olhos pareciam querer sair das órbitas. Não sabia o que pensar, apesar de saber instantânea e instintivamente do que se tratava.
TERRORISMO: Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-lhes à vontade pelo uso sistemático do terror. Forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante o emprego da violência. Ao dicionarista não cabe qualificar e sim explicar e esclarecer o que é terrorismo, mas a nós cidadãos do mundo, membros do partido da humanidade, cabem abominar, rechaçar e combater a suprema loucura daqueles que transferem os campos de batalha para as ruas das cidades, para as casas das pessoas comuns, para o dia a dia de todos nós.
A questão subjetiva da crença teológica por um lado, e por outro, à vontade de impor o seu modo particular e pessoal que encarar e exercer a vida, suas relações e seus desdobramentos são os mais complicados dos problemas que existem na atualidade. É a guerra cultural, somatório da guerra bélico-financeira com a cruzada preconceito-religiosa. É o caos total.
Nessa altura do campeonato não me lembro quem foi que disse que guerra nenhuma se ganha, que em qualquer guerra todos os lados são perdedores, e quem o disse também não importa, o importante é que isso é a mais pura verdade. Se numa guerra convencional restrita a soldados e exércitos, que estão lá para matar e/ou morrer, ninguém vence no final, imaginem numa guerra onde o soldado é o seu vizinho, o seu irmão, você, e as armas não são tanques ou mísseis, mas são os meios de transportes que usamos, a água que bebemos, o ar que respiramos?
Não sei mais como continuar escrevendo, meu coração fica pequeno, minha garganta fecha, meus olhos se afogam. A angustia toma conta. Não posso, não podemos, não podem, permitir que a raiva e a vingança tomem conta de nossos espíritos, dos espíritos deles.
Miremo-nos neste caso, no exemplo de um profeta neutro, Buda. Digamos não a violência, vamos procurar os culpados, vamos prende-los e julga-los, mas de forma justa e inexorável. Não vamos correr o risco de punir inocentes, pessoas comuns: crianças, mulheres, homens, velhos, e todos aqueles a quem um dia, um outro profeta, deu de herança os seus reinos.
É bem verdade que o povo palestino tem sido sempre tratado de modo desigual, seja política, seja econômica, seja religiosamente, mas isso não da o direito a qualquer individuo ou a qualquer nação tomar em suas mãos as vidas, os destinos de pessoas inocentes. Esse ato de terror ao invés de ajudar as causas palestinas e muçulmanas, prejudica, espero que não de forma irreversível.
Rogo ao Deus todo poderoso, Deus de todas as religiões, que guie os passos e as atitudes daqueles que dirigem os destinos da humanidade, impedindo que mais uma vez inocentes paguem por pecadores, como aconteceu no caso dessa maravilhosa terra dos meus avós, o Líbano, que até hoje não conheço, mas que pretendo conhecer antes do fim dos tempos.
Um grande e esperançoso abraço em todos e que Deus nos proteja.

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Cheiro de Mãe Didi no ar

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Mesmo depois de uma noite como há muitos anos não se via, na ultima terça-feira, dia 5, acordei cedo, como sempre. Mas havia no ar, um forte cheiro que me lembrava mãe Didi.
Êta paragrafozinho que carece de explicação! Pelo menos três explicações se fazem imprescindíveis para que alguém entenda o que tentei dizer aí em riba.
A primeira é sobre a noite de segunda-feira, dia 04. Há muitos anos não presenciava tamanho vendaval. Foi uma chuva fortíssima, de ventos intensos e em várias direções. Coisa de filme de terror ou de cinema catástrofe.
A segunda explicação que se faz necessária, é: Quem é mãe Didi. Raimunda Leite era o seu nome. Ela foi a mulher que ajudou minha avó a criar seus filhos, principalmente minha mãe, então uma criança magrinha e asmática.
E finalmente, em terceiro lugar, porque acordei sentindo o cheiro de mãe Didi! Não que ela usasse algum perfume especial. Usava leite de rosas. Mas não era esse o cheiro que me chamava atenção. Era um dos cheiros de minha infância e olha que a minha infância foi repleta de cheiros. O cheiro de plástico, que era uma substancia nova para a época. Do cheiro do rinoceronte Cacareco eu nunca esqueci. O cheiro de asfalto queimado, a cidade estava sendo literalmente “pinchada”. O cheiro diferenciado da Pepsi e da Coca e o cheiro cor de rosa da Jesus. O cheiro (não a visão) da cozinha do Jaguarema. A gasolina tinha outro cheiro na minha infância. As manhãs tinham um cheiro diferente. O cheiro do sabão de coco ainda é o mesmo, mas outro dia peguei uma barra de sabão (Andiroba?) e é completamente diferente.
Mas na terça feira, a casa exalava um cheiro que me remetia à mãe Didi. Saí procurando de onde vinha tal odor até chegar na cozinha e dar de cara com Lili esquentando pão numa grelha. Ai minha memória voltou como se tivesse rebobinando uma fita VHS. Só faltava fazer aquele barulhinho característico. Voltei no tempo. Dei um pause no momento em que mãe Didi esquentava um pão num fogareiro usando uma grelha. Lembrei que às vezes, quando não havia grelha, ela enfiava o pão em um garfo e ficava rodando ele até assar igualmente. Quem de vocês que nasceu entre 55 e 65 que nunca presenciou uma cena dessas?
O cheiro de mãe Didi era o cheiro do pão grelhado que tomou conta da casa, das minhas narinas, do meu cérebro e da minha memória.
Agora, aqui, escrevendo, relembro de dois outros cheiros que me remetem até mãe Didi. O primeiro é curioso. É o cheiro das cascas de laranjas secas com as quais ela fazia chá e o segundo é cheiro abafado das mil caixinhas de metal onde ela guardava de um tudo: Linhas, botões, agulhas, broches, papeis, retratos, rótulos, caixas de remédios velhas…
Lembro-me que já bem velhinha, ela fazia questão de levar ela mesma a comida para o vigia, mesmo já andando com dificuldade. E pobre de quem tentasse impedi-la. Ficava zangada.
Lembro-me também que foi dela a primeira tentativa de explicação que eu ouvi de alguém para o amor. Certa vez, ela me viu meio quieto, o que sempre foi muito raro, notou que eu estava pensativo, quase triste, e foi falar comigo, perguntar o que eu tinha. Como é de mim, e sempre foi, desconversei, disse que não era nada. Ai ela me saiu com essa: “Jotinha, tu sabe o que é o amor?” Eu fiquei sem entender nada. Devia ter uns doze anos e me perguntava! O que saberia sobre o amor àquela velha mulher que jamais havia sequer tido um namorado? “É quando agente não pensa em outra coisa. Quando o coração da gente dispara, parecendo que vai sair pela boca e quando os joelhos da gente não param de tremer, mas não é medo.” Na hora achei engraçado. Só vim entender o que ela queria me dizer, tempos depois, quando senti aqueles sintomas descritos por ela com tanto perfeição.
Afinal de contas porque estou falando tanto de mãe Didi? Deve ser porque estou sentindo falta do que ela tinha de melhor para oferecer a esse mundo: solidariedade através de ensinamentos simples e generosidade através de pequenas ações. Esse pouco, feito por muitos, é tudo.

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A verdadeira beleza

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Na praça do mercado de Nazihr, uma cidadezinha próxima a Agra, na Índia dos marajás, numa certa manhã de outono, um jovem de nome Vasti, exibia seu coração, que todos achavam o mais bonito do lugar. Uma grande multidão em torno dele admirava seu coração, pois ele era perfeito. Não havia nele um único sinal que lhe prejudicasse a beleza. Todos reconheciam que realmente era o coração mais bonito que jamais haviam visto. Vasti estava vaidoso e ostentava seu coração com crescente orgulho. De repente um velho homem, um tanto eremita, conhecido pelo nome de Mehta, montado em seu cavalo, surgiu no meio da multidão, desceu do cavalo e bradou: “Seu coração nem de longe é tão bonito quanto o meu!” Todos olharam para o coração do velho homem que Batia regular e fortemente, mais era cheio de cicatrizes. Havia lugares onde faltavam pedaços e também partes com enxertos que não se encaixavam bem, e tinham as laterais ressaltadas.
A multidão se espantou! Como aquele homem podia dizer que seu coração era mais bonito?
Vasti olhou para o coração do velho Mehta e disse, rindo: “O senhor deve estar brincando! Compare seu coração com o meu e veja. O meu é perfeito e o seu é uma confusão de cicatrizes e emendas!”. Disse-lhe então o velho homem: “O seu tem aparência perfeita mais nunca trocaria o meu por ele. Estas marcas representam pessoas a quem dei o meu amor. Eu arranquei pedaços do meu coração e dei a elas e, muitas vezes, elas me deram pedaços de seus corações para colocar nos espaços deixados no meu; como esses pedaços não eram de tamanho exato, hoje parecem enxertos feios e grosseiros, mas eu os conservo como lembranças de amor que dividi com aquelas pessoas. Algumas vezes eu dei pedaços do meu coração e as outras pessoas que o receberam não me deram em retorno pedaços dos seus. Esses são os buracos que você vê. Dar amor, dar o coração, é arriscar. Embora esses buracos doam, eles permanecem, aí, abertos, lembrando-me do amor que tenho por aquelas pessoas, e tenho esperança que um dia elas me dêem retorno desse amor e preencham os espaços que ficaram vazios”.
O jovem Vasti, tendo então entendido o que é realmente o significado da beleza, em silêncio, com lágrimas rolando pela face, caminhou na direção do velho homem, olhou para o próprio coração e arrancou um pedaço, e com as mãos trêmulas ofereceu-o a ele. Mehta pegou aquele pedaço, colocou no seu coração e tirando dele um outro pedaço, colocou-o no espaço deixado no coração do jovem. Coube, mais não perfeitamente, já que havia irregulares beiradas.
Vasti olhou para o seu antes tão perfeito coração, já não tão perfeito depois disso, mas, no entanto muito mais bonito do que sempre fora.
Diante da multidão que os observava em respeitoso silêncio, eles se abraçaram e saíram andando lado a lado, seguidos por Gita, o cavalo do homem velho, cujas patas batendo no solo emitiam o som de corações pulsando.

* Crônica adaptada de uma estória antiga, mas pautada em acontecimentos recentes.

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A gota d’água e o ponto final.

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Carta de Oscar Wilde a seu amante, Lorde Alfred Douglas, o Boise.

Querido Bosie,
Ao contrario das outras vezes, desta, procurei simplesmente não reagir, não revidar, não responder de forma meramente reflexa. Procurei pensar bastante, deixar passar os dias. Analisei e refleti sobre o caso todo. Fiz um retrospecto, uma mea culpa até chegar a uma conclusão que espero, seja a mais correta e definitiva.
Agora, depois do que aconteceu na última terça-feira, eu tive a certeza mais que absoluta de tudo que você é capaz de fazer, de até onde você é capaz de ir. Certeza essa que eu já deveria ter tido há muito tempo, mas que só tive agora devido ao fato de eu ser um sujeito muito teimoso, muito cabeça dura, porque qualquer pessoa normal já teria facilmente constatado, tempos atrás, que é impossível ter um relacionamento baseado em confiança, respeito, entrega e devoção com alguém como você.
O que realmente aconteceu não importa. O que importa é a armação de toda a mentira, o que importa é toda a dissimulação que você arquitetou, é a sua incapacidade de se manter leal, de ser coerente.
Mas para mim não faz mais nenhuma diferença. Tudo que já havia acontecido, todas as mentiras e dissimulações já bastava. Tudo que já acontecera antes já fora o suficiente há muito tempo, só eu insistia nessa novela.
Eu é que nunca quis enxergar, mas a nossa história já havia sido escrita há muitos anos atrás, a História de Peter e Mary Farm: No condado de Yorkshire havia um homem chamado Peter Farm. Peter tinha uma pequena propriedade e uma mulher mais jovem que ele. Eles viviam muito bem, na medida de suas posses e de suas possibilidades. Apesar da grande diferença de idade entre eles, a única coisa que Peter exigia da mulher era que não fizesse nada que ela mesma pudesse imaginar que ele, o marido, não concordaria. Certo dia, as irmãs de Mary passaram em sua casa e a convidaram para fazer um piquenique no campo, e ela foi. Quando ela voltou para casa encontrou suas coisas arrumadas no meio da sala e Peter sentado numa cadeira. Ele mandou-a ir embora com as irmãs e não mais voltar. Ela indagou o porquê: “Só porque fui com as minhas irmãs fazer um passeio?” – “De modo algum. Mas pelo fato de você, na volta do passeio, ter pulado a cerca do pomar dos Grhams e tirado algumas pêras para trazer de presente para mim.” – “ Mas só por isso?” – “Lógico que não! Eu estava por lá conversando com James Grhams e ouvi o que você disse para suas irmãs: Não contem para o Peter que peguei estas pêras do pomar dos Grhams, ele não concordaria com isso. Vamos dizer a ele que compramos de uma simpática velhinha na estrada. “
Bosie, querido, o que eu quero é ser feliz, é encontrar alguém que possa cuidar de mim, alguém em quem possa confiar. E está muito claro que é impossível ser feliz com alguém que diz uma coisa e faz outra, com alguém que dissimula e tenta enganar até ao espelho. Está muito claro que se você é incapaz de cuidar de si ou de quem quer que seja, então como é que vai cuidar bem de mim?
Com a alma atormentada, a mente embriagada e o coração embargado, me despeço,
Oscar.

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