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Outro dia, zapiando pelos mais de 200 canais de televisão disponíveis, deparei-me com o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, dando uma entrevista no programa do Jô. Lá pelas tantas ele tentou resumir e simplificar os motivos que levaram o grupo liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães perder as ultimas eleições: porque já era tempo de perder disse ele explicando que Antonio Carlos já detinha o poder na Bahia há tempo demais e que chega uma hora que as coisas precisam mudar.
Quando ouvi o que ele disse, imediatamente, me lembrei de uma conversa bem parecida com essa que tivemos, eu, meu pai e meu tio Zé Antonio, logo depois de perdemos a eleição para Prefeitura de Pindaré.
O mesmo aconteceu em São Domingos. Um grupo deteve o poder por 16 anos e agora o outro já comanda o município há 18. Isso também é o que deverá acontecer nas próximas eleições municipais em São Bernardo, onde um único grupo tem se mantido no poder nos últimos 46 anos. Já ta na hora de perder, né!?
Imaginei que além do fator tempo, outras coisas contribuíram para a queda de Antonio Carlos na Bahia, então liguei para um amigo e ex-colega constituinte, que é intimo de ACM, pra saber dele quais os verdadeiros motivos que levaram o governador Paulo Souto a não se reeleger.
Ele fez um mau governo?, perguntei-lhe, ao que ele foi categórico em dizer que não, muito pelo contrario, fez um ótimo governo tanto política quanto administrativamente. Então o que foi que houve? Ele me enumerou alguns erros inacreditáveis de serem cometidos por um grupo que se imagina ser profissional na política.
Em primeiro lugar ele disse que havia certa sensação de já ganhou, o que prejudicou a todos, inclusive as bancadas na Câmara e na Assembléia. Em segundo lugar, a escolha dos candidatos à vice, a senador e seus suplentes foram grandes equívocos e até certo ponto arrogância e prepotência.
O candidato à vice, que foi nosso colega na constituinte e é uma grande figura, um político de primeira, era o nome mais indicado pra ser o maior puxador de votos na chapa para Câmara Federal. No lugar dele deveriam ter colocado alguém novo, ligado ao pólo petroquímico, um deputado estadual, um prefeito de uma cidade importante. O terceiro erro crucial do PFL baiano foi também um grande acerto do PT. A candidatura de Rodolfo Tourinho pesou muito na campanha, enquanto João Durval do PDT contava com o beneplácito do PT que não tendo candidato a senador, ficou livre pra pedir votos só para governador, o que agregou pra si, para o PT, muitos votos de todos os candidatos ao senado. Isso sem contar que muitos agregados de ACM e de Souto, trataram de se garantir e buscaram um mandato de deputado numa das duas esferas, o que ao invés de ajudar, acabou prejudicando. Poderíamos ainda citar um quarto erro, o fato de o grupo liderado por ACM, pela primeira vez em muitos anos, não ter se renovado, não apresentou novas lideranças capazes de motivar o eleitor a votar em suas propostas que também não foram renovadas. O grupo envelheceu.
Depois dessa conversa, resolvi ligar para dois outros velhos amigos meus, também ex-constituintes, para saber o que aconteceu nos seus Estados.
Liguei para um amigo no Para e para um outro no Paraná. Dos dois ouvi comentários bem parecidos.
No Para o governador Almir Gabriel posicionou-se contrario a criação do Estado de Carajás e ainda por cima optou por uma correligionária de Belém e da mesma legenda, quando poderia ter agregado um companheiro de outro partido e da região do futuro Estado do Ferro (Carajás). Esse erro foi apontado como decisivo para sua derrota. Mas Almir e o seu PSBD ainda são tão fortes que elegeram o senador Mário Couto com 52% dos votos, mas ainda assim perdeu para Ana Julia no segundo turno com 10% de diferença. Meu interlocutor também comentou que Almir Gabriel, em seus mandatos anteriores, tratou de desmontar toda a antiga base política paraense, a estrutura de sustentação do poder. Coisa do neoliberalismo. Quando ele mais precisou dessas bases, dos antigos caciques, não os tinha a seu lado, estavam do lado de Jader.
Foi comentado também que, em alguns Estados, aconteceram grandes e importantes rupturas de grupos dominantes ou simplesmente verdadeiras traições, como nos casos dos Estados do Ceara e do Tocantins.
No Paraná aconteceu a disputa mais acirrada do último pleito, 10.479 votos ou 0,10% de diferença. Aqui fica a impressão de que o fato do PMDB de Requião não ter tido candidato ao senado, e o PSDB do senador Álvaro Dias não ter tido candidato a governador, pode ter sido decisivo. Mas com uma diferença tão ínfima de votos, não há como apontar algum erro ou algum acerto mais ou menos importante.
A opinião unânime dos meus três interlocutores daquela noite é que perder uma eleição não significa necessariamente ser fraco, ruim, ou pior que o adversário. Todos concordaram que os eventuais erros ou acertos de um lado ou de outros foram menos importantes, concordaram muito mais com a explicação do governador eleito da Bahia, chega uma hora que tem de se perder mesmo. Teve um, evangélico, que citou até a bíblia: … há tempo para tudo, pra plantar, pra colher… E acrescentou, pra ganhar e pra perder, mas tudo que Deus faz é bom, Deus é fiel….
Depois dessas conversas, voltei a zapiar até cair num canal de documentários, onde uma voz grave dizia aquela celebre frase: Este filme é baseado em fatos reais. Alguns nomes e lugares foram modificados para facilitar a sua realização.
* Zapiar é ficar trocando insistentemente de canal de televisão, em busca de um programa que mais lhe agrade.
Joaquim, como sempre você aborda um tema interessante, e também como sempre, de maneira inusitada, inteligente e competente.
Falar do Maranhão falando da Bahia, do Pará, do Paraná, do Ceara e do Tocantins, nos faz ver com mais clareza tudo que realmente aconteceu e já vem acontecendo há muito tempo em nosso Estado.
Só uma ressalva, você como sempre elegante, tanto como político ou escritor, preferiu não enfiar o dedo em outras causas que levaram o nosso grupo a situação em que se encontra hoje, e nem era necessário mesmo. Temos é que tratar de levantar, sacudir a poeira e dá a volta por cima, arrumar a casa.
Já havia lido essa crônica ontem no Jornal O Estado do Maranhão, e ontem mesmo tive oportunidade de lhe dizer tudo isso. Mais uma vez parabéns!
Caro deputado,
Muito bom o seu artigo Zapiando, onde o senhor faz uma análise do que lhe foi passado por amigos de outros estados. Mas, se não for pedir muito, o deputado poderia dizer alguma coisa sobre a eleição no Maranhão,e apontar os êrros de quem perdeu.
Para bom entendedor meia palavra basta.Parabéns.
ôôh Geraldo!!! Abre os olhos, acorda… Esse texto é na verdade uma tapeçaria muito bem tecida com motivos eminentemente maranhenses!
O deputado Joaquim Haickel mais uma vez demonstra, como político, sua coragem, seu espírito independente e sua coerência, alem de sua grande competência como escritor.
Analise precisa, enfoque perfeito!
como sempre, vc não bota mão onde mão deve.visito constantemente o seu blog, e tenho um apreço pelas suas letras.
ontem estive em uma comunidade rural, e dissertei sobre a mudança política, a mundança de comando do nosso estado, e zapiando trouxe-me a lucidez.
Lúcido, coerente, objetivo…