Os dez do século

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A mãe, a princesa, o estudante, o ideólogo, o psicólogo,
o cientista, o estadista, o pacifista, o prisioneiro e o peregrino

Escolher a mulher mais bonita do século é fácil. Qualquer um escolhe. É uma simples questão de gosto. A minha é Ava Gardner, mas mesmo assim lembrei-me de pelo menos outras dez que poderiam com ela disputar. Agora, apontar as personalidades mais marcantes, mais importantes, mais influentes, deste século, são outros quinhentos. Primeiro porque cada pessoa tem sua própria perspectiva de julgamento. Segundo, que em se tratando de personagens que fizeram a história recente da humanidade, o que não faltam são nomes. Aliás, surgiram nas últimas semanas, listas e mais listas com um vasto arsenal destes personagens, nos principais veículos tanto da imprensa brasileira como da internacional.
Na avaliação que se faça de figuras históricas é preciso, sem dúvida, considerar o grau de idealismo, a honestidade pessoal e a coerência de propósitos – vale dizer, a correspondência entre pensamento e ação – de cada personagem. Não se pode deixar de lado, no entanto, o grau de acerto de sua visão de mundo, o descortino ou, ao contrário, o equívoco histórico fundamental em que tenham caído, por mais que se dispusessem ao sacrifício pela promoção de seu ideal. Fica claro para mim também, que esse tipo de escolha não deixa de ter grande influência da personalidade de quem escolhe. Na minha concepção, por exemplo, fazer listas é sempre injusto, porque toda lista tem, previamente, um tamanho definido e isso por si só, já é um fator excludente. Também sou daqueles que acha que o valor maior das pessoas, consiste no uso que elas fazem do seu direito mais individual e primordial, do seu livre arbítrio. Posto isso, declaro a minha característica de dar mais importância, àqueles que influenciaram nosso mundo e nosso tempo, mais por causa de suas ações, sejam individuais ou coletivas, motivados por sua escolha antropológica, sociológica, psicológica ou ideológica e menos por causa de suas atribuições profissionais ou funcionais. São os casos dos cientistas, artistas, esportistas e estadistas, pelos quais, apesar de ter grande admiração e profundo respeito, não fazem nada mais que suas obrigações, quando agem apenas e tão somente, no estrito cumprimento de seus deveres e das suas funções.
Madre Teresa de Calcutá, a mãe dos desamparados, pobres, miseráveis e doentes, mulher que encarnou os ensinamentos da bondade, distribuiu conforto aos desvalidos e provou que mais vale doar, mesmo tendo muito pouco, que negar, ficando com um tudo mesquinho. Lady Diana Spencer, princesa da Inglaterra, mãe do futuro rei. Rica e famosa, usou seu imenso prestigio e sua privilegiada posição na mídia internacional para agir na defesa de causas humanitárias. Sun Yat-Sen, que ninguém saberá de quem se trata se não for explicado: quem não se lembra daquelas imagens emocionantes transmitidas ao vivo, para todo o mundo, direto da praça da paz celestial em Pequim, onde um jovem chinês enfrenta uma linha de tanques, portando como armas, apenas seu grande espírito e aquele seu frágil corpo, posicionado como se quisesse tirar aquelas enormes e pesadas máquinas de guerra para uma contra-dança. Era ele. Por isso é que estes personagens são para mim alguns dos mais importantes de nosso século.
Coisa curiosa acontece no que diz respeito aos homens que ocupam o cargo mais importante da terra, a presidência dos Estados Unidos: pelo fato de que, essa posição já é muito importante, os seus ocupantes só se sobressaem verdadeiramente quando são realmente excepcionais ou então quando algum grande acontecimento ocorre durante o seu mandato. Por isso, quase todos os presidentes americanos deste século foram importantes, (Theodore Roosevelt, Truman, Eisenhower, Kennedy, Nixon, Carter, Reagan, Bush e Clinton), porém, o que realmente fez a diferença, no seu e no nosso contexto, foi Franklin Delano Roosevelt, o homem que, mesmo em cadeiras de rodas, tirou seu país da falência e ajudou o mundo a livrar-se do flagelo do nazismo.
Em todas as listas de que tomei conhecimento, há um destaque especial para Marx, Freud e Einstein, que são apontados como os três pensadores que moldaram o século 20. É bem verdade que cada um, à sua maneira, virou o mundo de cabeça para baixo. Eles merecem uma distinção especial. Marx, mudou o mundo pelo ponto de vista da ideologia política e social, a ditadura do proletariado. Freud, por sua vez, muda o nosso entendimento do homem como individuo e como parte da engrenagem psico-antropológica, visto através da psicanálise. Enquanto o cientista mais matemático, mais físico dessa lista, com certeza, o mais importe de todos os tempos, (mesmo assim, ficou reprovado duas vezes no ginásio) passa para historia como o maior humanista deste século, pois mais do que qualquer um, este homem, que tinha tudo para se distanciar de Deus e das explicações metafísicas da nossa existência, ao contrário, atesta que não há incompatibilidade entre a fé a ciência.
Três homens de cor, estão entre os mais importantes deste século. Três príncipes: um príncipe amarelo, defensor internacional dos direitos humanos e da não violência. Mahatama Gandhi; um príncipe negro dos africanos do sul. Nelson Mandela; um príncipe branco da Cúria Romana. Karol Wojtyla,ou melhor, João Paulo II .
Gandhi, na primeira metade do século e para todo o sempre, representa a esperança de todo aquele que busca a justiça através da paz e simboliza a imensa força que pertence aos mais fracos.
Mandela, que mesmo aprisionado por 28 anos, foi o líder – talvez o último de uma espécie em extinção, a dos heróis salvadores de seu povo – que, com seu carisma e obstinação, conseguiu desencadear em seu país um dos mais fascinantes processos políticos deste século: a desmontagem da apartheid, regime que dividia, por lei, negros e brancos na África do Sul.
Já o polonês Karol Wojtyla, o papa que um dia foi chamado de Atleta de Deus e que, depois de chegar à todo-poderosa Cúria Romana, teve papel importante na dissolução do comunismo. Primeiro papa não italiano depois de cinco séculos, João Paulo II chega ao alvorecer do ano 2000 com um fascínio todo especial porque, mesmo alquebrado pela doença e sob o peso da idade, ele insiste em ser o admirável peregrino do mundo, onde prega a paz a união e a fraternidade entre os povos.
Estes dez nomes, formam no meu entender, a galeria de maiores personagens de nosso tempo.
Que as pessoas do futuro procurem supera-los sempre, pois só essa tentativa já fará com que nosso mundo se torne um lugar melhor para se viver.
Um feliz ano 2000 para todos nós.

2 comentários para "Os dez do século"


  1. Fabio

    Uma das cenas mais impressionantes e maravilhosas que já tive a oportunidade de testemunhar foi essa, desse chineizinho de quem nem o nome eu sabia, “dançando” na frente daqueles tanques.

  2. John Pierre

    Gostei da Lista que você colocou, mas deve acrescentar mais alguns como: Irmã Dulce, Ruy Barbosa, Luiz Inácio Lula da Silva e por último Franklin Delano Roosevelt.

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