Certa vez, seguindo o conselho do mestre Shakespare, procurei não achar impossível, algo que só me parecia improvável.
Como já cantava o grande Milton Nascimento amigo é coisa pra se guardar. O difícil é fazer a diferença! De tudo. De quem é realmente amigo. De onde e de como guardar cada tipo de amizade que nos aparece.
Por favor, não encare a frase a seguir apenas como mais um clichê tolo. Cada um de nós precisa desesperadamente de pelo menos um verdadeiro amigo. Todo mundo sabe disso, não é?
Posso ser mal interpretado e até crucificado pelo que vou dizer agora, mas vou correr o risco: acredito que a amizade é um sentimento mais importante que o amor. O amor não é um sentimento puro, cristalino, sem misturas. É na verdade é um híbrido resultante da combinação de sentimentos unitários e indivisíveis. Se o amor fosse uma cor, não seria uma cor primária. Nem amarelo, nem azul, nem vermelho. O amor seria branco, cor que possui em si todas as outras cores, menos o preto que é a ausência de cor, a ausência de luz.
É muito fácil, senão provar, pelo menos defender essa tese. Sem amizade não há amor. Sem respeito não há amor. Sem compreensão não há amor. Sem lealdade não há amor. Sem companheirismo não há amor. Sem dedicação não há amor. Pelo menos no que diz respeito ao amor, suas partes são mais importantes que seu todo, pois sem uma única dessas partes, não há um todo. O que há é um pedaço, que até parece ser grande, mas que na verdade é pequenino e triste, porque esse amor se torna um sentimento equivocado e falso. É por isso que digo que a amizade é maior que o amor.
Existem vários tipos de amizades e de amigos. Existe aquele amigo que você conhece desde o colégio, na infância, e que depois nunca mais vê, mas que quando reencontra sente que há algo que os une. Esse algo ou é o companheirismo de uma época em que tudo na sua vida era ilusão e sonho, ou é a amizade que se consolidou em anos de convivência.
Existe aquele amigo que era como unha e carne conosco. Nossos companheiros de alcatéia, de jogos de basquete, e até dos embalos de sábado à noite. Amigos que a vida e suas circunstâncias trataram de afastar, mas se esse sentimento é verdadeiro, ele reverbera dentro de você quando reencontra o amigo.
Há os amigos de ocasião, os de precisão e os de opinião.
Há o amigo inesperado, que você jamais pensou que fosse tão amigo.
Há amigos que ligam toda semana apenas para almoçar ou para ir ao cinema. Com quem não aprofunda muito a amizade, mas sabe que há respeito, vontade de conviver e camaradagem.
Há o amigo que lhe dá o filho para batizar, não porque você é rico ou poderoso, mas porque acredita realmente que você possa vir a ser uma referência para aquela criança, para aquela pessoa.
Há um tipo de amigo que te ajuda a ganhar dinheiro, mas que, além disso, do dinheiro que ganham juntos, você sente que há uma coisa mais forte que os une. Uma coisa mais forte que o vil metal.
Há também um tipo de amigo muito estimado, por quem você daria seu braço direito, aquele amigo que não mediria esforços para vê-lo bem e feliz. É esse que importa. Por isso, muito cuidado para não ser injusto nem ingrato com os amigos que realmente importam.
Há amigos incondicionais como seus pais e seus irmãos, de quem você pode até discordar e divergir, com quem você pode até brigar, mas aos quais sempre que você recorrer, estarão do seu lado, para o que der e vier.
Chego à conclusão que eu sou um sujeito de muita sorte, pois tenho grandes e bons amigos. De pessoas pobres, simples e humildes até gente rica, sofisticada e poderosa. Mas eu não faço distinção de minhas amizades segundo esse critério. O critério em que me baseio para aferir uma amizade é o critério da reciprocidade. Sei que esse não é o melhor critério, mas é o meu, é o que aprendi a usar.
Ando meio ressabiado com certos tipos de amigos que tenho visto por aí. Há aquele a quem você sempre se dedicou, foi companheiro e defensor e lhe troca por outro, temporariamente mais bem colocado que você. Existe um que imaginamos ser amigo mesmo, e por um desentendimento besta, lhe atinge no lado pessoal. Ou então aquele outro que lhe era tão caro, em quem depositava tanta confia, a quem tanto se dedicava, quando você liga para ele buscando conforto, diz não poder lhe atender naquele momento, pois está assistindo sua telenovela favorita. Por fim, há aquele que ama canjica e lhe troca por um bom prato dela. Você se quiser, que espere essa canjica esfriar.
Amigo é realmente coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito e nos dois hemisféricos do cérebro. Amigo de verdade.
Sabe o que deveria se fazer com certos tipos de amigos? Descartá-los como se faz com rei em jogo de burro ou ralá-los junto com o milho para fazer uma gostosa canjica. E eu odeio canjica.
Você é um dos poucos escritores que eu gosto de ler, principalmente porque você fala de coisas simples, do dia a dia, coisas que devem acontecer com você e conseqüentemente acontecem com outras pessoas. Em muitas de suas crônicas eu me sinto retratada, sinto retratadas situações que acontecem comigo e com pessoas a minha volta. Parabéns.
PS: Apesar de admirar muito sua atuação como parlamentar, quero deixar registrado que só não votei em você por causa de seu partido e do grupo político que você faz parte.
É “meu amigo”… !
E como saber quem realmente são os amigos??!!!?? 🙂
Muito legal! Parabéns…
Que beleza de artigo,nessa epoca de amigos de conveniencia ele é muito importante para darmos valor a nossos verdadeiros amigos,abraços!
AMIGO, concordo, é muito difícil fazer a diferença, mas posso dizer que você está bem guardadinho no meu coração, afinal não é todo dia que ganho de presente um amigo tão especial como você.
Então se a minha amizade fosse uma cor, seria, com certeza, BRANCA que traz pureza, sinceridade e verdade.
Conte sempre comigo
Beijos
Drika
Concordo em quase tudo com a Rosangela, menos com o Postscrip. Continue assim, você é ótimo!
Deus te conserve sempre essa pessoa tão especial.Me sinto feliz em ser sua amiga; é tão bom ler tuas crônicas; vc escreve o que muita gente sente e não consegue transmitir. Beijos.