Homero, Mallory, Brown, Mainardi.

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Os dias que tenho passado preso na cama (na rede para ser mais preciso, pois apesar de ter em meu quarto uma cama que mede quatro metros quarados, só durmo em rede) têm servido para me dedicar a algumas das coisas que mais gosto.
Estando proibido pela minha condição clinica de dedicar-me a outras que tanto aprecio, e por estar sofrendo de falta de apetite proveniente dos medicamentos que tenho tomado, os únicos prazeres que me restaram e dos quais não tenho me fartado são os prazeres da mente.
Tenho tido mais tempo para ler e pesquisar para o livro sobre cinema, filosofia e psicanálise que estou escrevendo (muitas vezes esse trabalho parece mais uma briga de eu comigo mesmo).
Mas a coisa que mais tenho feito nestes dias é ver televisão. E que diferença da televisão de agora para aquela do tempo em que tive sarampo e tendo que ficar em repouso absoluto meu pai me deu o meu primeiro televisor. Lembro-me como se fosse hoje. Era um aparelho Telefunkem e a transmissão ainda era em preto e branco.
Naquela época só tínhamos a TV Difusora, canal 4 quatro (a TVE, canal 2 só exibia aulas). Hoje são mais de 200 canais de televisão, com uma programação variada e eclética.
Tem de tudo para todo gosto. São canais infantis, canais direcionados as donas de casa, aos desportistas, aos religiosos. Existem ate os canais que exibem os trabalhos dos três poderes da republica. E como não poderia deixar de ser há os canais dedicados aos cinéfilos de todas as espécies e aos loucos por informação, cultura e entretenimento.
Eu sou um destes que ama cinema independentemente do filme, do gênero, da nacionalidade… mas também sou fanático por documentários, biografias, reportagens e entrevistas.
Estes dias apesar de estarem sendo dias de dor, de ansiedade e de impaciência, pelo menos tem sido dias de distração. Pena que a grande maioria da programação eu já tenha visto. Mas não faz mal, isso reaviva o conhecimento e muitas das vezes nos dá uma outra percepção que não tivemos anteriormente.
Gostaria de comentar aqui alguns programas que vi recentemente.
O primeiro é sobre a guerra de Tróia, a Ilíada de Homero. O History Chanel está exibindo um documentário que enfoca essa história, meio mitológica meio real, de mais de três mil anos, e que até hoje ninguém sabe dizer ao certo se ela é, pelo menos em parte, fato ou mito. Uma história que só foi documentada 500 anos depois de supostamente ter acontecido, pois ate então não existia uma escrita grega que praticamente foi inventada, adaptando-se o alfabeto fenício e acrescentando-se as vogais, para registrar tais feitos. O fato mais incrível é que essa historia conseguiu manter-se em uma única linha de narrativa e de lógica, tendo sido muito pouco modificada durante todo o tempo em que passou sendo cantada e contada oralmente até ser ditada por Homero.
Outro documentário, no canal Mundo, conta uma historia muito mais recente, dois mil anos mais nova. A história do Rei Artur e da Távola Redonda que não se manteve tão fiel. Tem pelo menos uma dúzia de versões diferentes e mais de cem pequenos acréscimos ou decréscimos, dependendo de seu narrador, dentre os quais se destaca sir Thomas Mallory.
Mas duas coisas me chocaram nesse meu mergulho quase que forçado pelos canais de TV por assinatura. A primeira é a reportagem investigativa feita pelo Discovery Chanel sobre o tal Código da Vinci, livro de Dan Brown, o qual fiz questão de não ler, pois não gosto que alguém imagine que possa me enganar. Eu até posso me enganar, sabendo ou sem saber, mas não admito que um espertinho qualquer tente me enrolar com um papo velho e furado. Esse documentário expõe as vísceras, mesmo que milionárias, desse novo tipo de charlatão cultural.
A outra coisa que me causou indignação nesses dias de convalescença foi a participação de um cidadão pernóstico, chamado Diogo Mainardi no programa Manhatan Concection do ultimo domingo.
O arrogante e prepotente articulista conseguiu proferir opiniões deploráveis em não mais de dez minutos de aparição no programa. A primeira foi que, para o mundo, o projeto de Lula estaria acabado porque jamais ele poderia se sentar a uma mesa com lideres mundiais sem que estes não cochichassem sobre o dinheiro pago pelo PT a Coteminas (fabrica têxtil de propriedade de vice-presidente, José Alencar). O imbecil se esquece que à mesa que Lula sentasse ele deveria estar na companhia de Clinton, o da Mônica Lewinsky ou do Bush da guerra suja do Iraque e da Eron. Com o comprovadamente corrupto primeiro ministro Berlusconi, da Itália, com o simpático e carismático ditador cubano Fidel Castro, ou em outros tempos, até mesmo com o quase perfeito Nelson Mandela, que já foi casado com a dona Wine, aquela que mandou assassinar um militante.
Outro absurdo do Mainardi foi achar maravilhoso que o teatro da opera de Veneza, onde ele teve o privilegio de morar, tenha pegado fogo para poupá-lo de ver espetáculos enfadonhos. Além de dizer alguns impropérios contra a figura de John Lenon e música dos Beatles.
Moral da historia: Ficar doente nunca é bom, mesmo que se possa aproveitar para descansar, estudar, pesquisar e escrever.
Em meio a isso tudo a gente pode acabar encontrando um cidadão culto, bem educado, inteligente, mas que se mostra um chato, imbecil, arrogante e prepotente. É melhor estar bom, trabalhando e não perdendo tempo com esse tipo de figura.

1 comentário para "Homero, Mallory, Brown, Mainardi."


  1. Carlos Alberto

    Concordo com você: Homero é tudo, Mallory é sensacional, Dan Bronw é realmente um enganador e esse Diogo Mainardi é mesmo um chato pernóstico. Mas concordo principalmente com você que o History, o Discovery e o A&E Mundo são o que há de melhor em termos de programação de televisão.

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