Grosseria versus deboche.

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Em homenagem ao saudoso Emanuel da Cunha Santos Aroso, homem que, ao longo de toda a vida, jamais foi grosseiro.

Na manhã da ultima terça-feira, 16, em entrevista ao radialista Roberto Fernandes, na radio Mirante AM, comentei a atual crise que assola o país e que tem servido para desmistificar tanto o partido dos trabalhadores quanto alguns de seus membros, até então, tidos como personalidades políticas diferentes de todas as outras. Disse naquela ocasião que caía o ultimo véu da ultima vestal. Que as ações da direção nacional do PT e as atitudes de pessoas ligadas ao partido, comprovam o que já havia dito antes: tanto os dirigentes do partido dos trabalhadores quanto o próprio partido são feitos do mesmo material dos outros. Na pratica, pouca diferença existe entre o PT e o PL, o PP, o PFL, o PSDB, ou o PMDB… Apesar dessa constatação afirmei naquela ocasião e reafirmo hoje, que não sou favorável a uma possível proposta de impechemam do presidente Lula. Isso causaria danos irreparáveis a nossa estabilidade institucional, social, e principalmente econômica, logo agora nesse momento em que a nossa economia começa a se organizar e se estabilizar.
Saí do estúdio da radio e fui para sessão da Assembléia Legislativa, onde abordaria o mesmo assunto no grande expediente. Ocorre que naquele dia não foi possível, pois o Deputado Mauro Bezerra ocuparia o horário.
Então, na quarta-feira, 17, resolvi analisar o assunto no plenário do legislativo estadual, no que fui bastante aparteado, principalmente pelos meus colegas de oposição(?), ou melhor, de esquerda.
Em certa altura de meu discurso, ilustre membro do nosso legislativo me pediu um aparte e de forma não muito elegante, diz que não iria admitir que nenhum hipócrita jogasse o PT na vala comum. Que não admitiria que pessoas como eu, denegrisse a imagem do PT, partido sério, de pessoas éticas e de parcela importante e considerável do povo brasileiro.
E é aqui, nesse ponto, que quero focar meu assunto deste domingo. Recebi vários telefonemas e muitas pessoas me abordaram naquela mesma manhã dizendo que fui muito brando e delicado em minha resposta ao tal aparte. Que pelas palavras usadas e pela forma como fui tratado, deveria ter sido mais duro em minha resposta. Que deveria ter sido tão ríspido e tão pouco elegante como foram comigo, no mínimo para deixar muito bem esclarecido quem eram realmente os hipócritas. Para isso bastaria mandar buscar um dicionário e ler o significado da palavra hipócrita: Do grego hypokrités, ator. Adjetivo. Diz-se daquele que age com hipocrisia. Demonstração de uma virtude ou de um sentimento louvável que realmente não se possui. Impostura, fingimento, simulação, falsidade. Bastaria isso para descaracterizar e rebater as palavras tão mal colocadas. Lendo o significado da palavra hipócrita talvez as pessoas se dessem conta de que aquele adjetivo não poderia ser usado contra mim. Contra mim não, mas contra a direção nacional do PT, contra alguns membros desse partido, envolvidos de alguma forma em todo esse mar de lama.

Ao contrario disso não respondi como tanta gente gostaria que tivesse feito, de forma ríspida, grosseira e deselegante para com uma pessoa a quem tenho admiração e respeito. Não fui contra ela com a força que tantas pessoas acharam que deveria ter ido. A ela, só respondi que não era eu quem estava jogando o PT na vala comum, mas sim os dirigentes e os membros do próprio PT envolvidos nesse lamentável escândalo. Que não era eu que estava denegrindo a imagem do maior partido de nosso país, mas sim, que eram as figuras mais exponenciais do partido dos trabalhadores que o faziam. E mais, que em recente entrevista a um jornal local, perguntado sobre o fato do suposto envio de dinheiro para as eleições municipais do ano passado por parte da direção nacional do PT, para membros do partido no Maranhão, eu reafirmei da tribuna o que já havia dito aos jornalistas, que não acreditava que algum membro do partido dos trabalhadores do Maranhão tivesse recebido dinheiro proveniente de qualquer esquema de corrupção, principalmente os deputados estaduais do partido em nosso Estado.
Vejam só como são as coisas! Eu, que naquela manhã, mesmo com o falecimento de um querido amigo, estava ali apenas para levar ao plenário da ALM uma discussão sobre o momento delicado pelo qual passamos, e fazer uma pequena analise dos caminhos possíveis para uma reforma política e principalmente eleitoral para o nosso país, na opinião de muitas pessoas, algumas bastante importantes e experientes, deveria era ter respondido ao tal aparte de maneira mais dura e contundente, grosseira mesmo.
No entanto procuro me comportar de maneira diferente. De maneira que tanto minha mãe quanto minha filha possam se orgulhar de mim. Procuro não levar para o lado pessoal nem a defesa de minhas idéias. Não coloco as minhas opiniões e os meus posicionamentos para competir, com a grosseria ou com o destempero. Ao contrario eu as coloco, na hora que quiserem e onde quiserem, para se confrontar com outras opiniões e posicionamentos, desde que no ringue só entrem as idéias. Posso até aceitar a entrada da dialética e do pragmatismo, mas jamais da hipocrisia. No entanto me reservo o direito de, se necessário, lançar mão de algum deboche.
Grosseria é instrumento dos despreparados. Sarcasmo, dos mal humorados. Ironia dos estressados. Mas o deboche, este é o instrumento daqueles que podem se dar ao luxo de serem leves e sutis em uma simples brincadeira ou em uma mera gozação, ou mesmo ainda em se tratando de uma coisa muito séria.

4 comentários para "Grosseria versus deboche."


  1. Alvaro

    Você realmente me surpreende!
    Agora que o PT sagrou-se campeão de votos, reelegendo o presidente da republica de maneira consagradora, ainda assim você vem me falar nas mazelas do partido!!!??? Ou você é muito louco ou é realmente um político coerente.

  2. João Carlos

    Ontem quando fui entrando na galeria da ALM, o senhor estava começando o seu discurso.
    Fiquei impressionado. Quando o senhor começou a falar, todo mundo que estava distraído, conversando, parou para ouvir. Além de prestarem atenção no seu discurso, concordaram com ele. Inclusive um grupo de jornalistas que estavam perto que disseram que o senhor estava certo em sempre defender os interesses poder legislativo, independentemente de quem seja o governador.
    Depois que o senhor acabou seu discurso, aí foi que deu pra notar a diferença. Ninguém mais ficou tão atento, ninguém mais levou tão a serio o que os outros deputados falavam.
    Parabéns. Pena que eu não tenha votado no senhor.

  3. Anônimo

    Deputado, tenho uma concepção diferente sobre o irônico e o debochado. Acredito que quem ironiza tem domínio, conhecimento para fazer uma ironia e a faz dentro de um contexto e chega a levar seu “opositor” no diálogo a nocaute pelo simples fato deste não conseguir decifrar o que foi dito com ironia. o deboche não. Parece-me que os debochados sempre perdem os argumentos e começam a fazer piadinhas ou provocações, que muitas vezes, fogem do contexto da discussão. O que vc acha?

  4. Joaquim Nagib Haickel

    Concordo plenamente! Usei o debochado no lugar do irônico,nessa crônica, para amplificar minha indignação. Troquei o irônico pelo debochado de propósito, como provocação, como ironia!
    Maravilhoso que mais alguém tenha notado. Um grande amigo meu já tinha feito a mesma observação.
    PS:Deixe, por favor seu nome e seu e-mail.

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