Estava lá, na minha infância pobre, jogando bolinha de gude, empinando curicas, nadando, no Rio Pindaré.
Estava lá, quando, meus pais preocupados, me mandaram estudar na capital.
Estava lá trabalhando, aos treze anos, como menino de recados e faz tudo de seu Eduardo Aboud.
Estava lá, homem quase feito vendendo tecidos, jóias e quinquilharias para poder andar de lambreta.
Estava lá homem feito, me fazendo mais homem ainda, casando com o amor da minha vida e tendo com ela meus filhos, que, são eu, em partes, em horas, em situações: afobado, alegre, leal, negociante, desconfiado…
Estava lá, comerciário e comerciante, industriário e industrial; empresário, nada disso nunca me senti, eu estava lá e vendia. Só isso. Sem saber montei a primeira loja de, conveniência do Brasil. A Meruoca.
Estava lá político, na minha querida região do vale do Pindaré com meu Povo, com, meus amigos. Devo, encontrar alguns por aqui. Biné, Milet, Adroaldo, Nunes Freire, Dr. Pedro Neiva, Sena Rosa. Devo encontrar um homem a quem sempre me opus, mas que nos últimos anos, amigo maior de seu filho me tornei. Dr. Newton Bello.
Estava lá jogando bombom, repetindo meu nome mil vezes, pintando o chão, narrando jogo de futebol; meu filho não achava que desse resultado. Deus. Dá. inventei coisas sem pretensão de inventa-las.
Estava lá Deputado Estadual e Federal por quase trinta anos. Criei municípios, e um em particular administrei e amei. Zé Doca. Parece comigo. É rápido, apressado, tem progresso, tem trabalho e boa gente.
Estava lá para ver meus filhos criados, homens de bem, trabalhadores, honestos, leais, amigos de seus amigos e respeitadores de seus desafetos.
Estava lá para fazer todas as coisas que gostava, e as fiz. Arrepender-se de ter feito algumas coisas erradas de pouco adianta agora, mas se com elas prejudiquei alguém peço desculpas e me penitencio.
Estava lá para ver, brincar, ensinar e aprender com as crianças que tanto, amei. Dentre elas, minha tão amada e querida neta. parte de mim. Minha Laila, minha Lalica.
Não estava lá para ver o meu netinho, também tão amado, mas o vejo sempre. É forte, bonito. Vai continuar o meu nome.
Estava lá nas ocasiões mais mercantes do meu tempo. Fui o centro da minha tempestade. Não posso me queixar de nada. Sempre tive sorte, amigos, sempre me sai bem. De um jeito ou de outro as coisas acabaram dando certo: Na infância, na juventude, na maturidade e na velhice; no esporte, nos negócios, na política e na vida.
Estava lá durante trinta e cinco anos com uma mulher maravilhosa, amiga, compreensiva, companheira. Pessoa de um coração sem igual, de uma bondade extraordinária, acho que se minha alma era má, ficou boa por sua causa e se boa fosse, melhorou convivendo com Chica ou mãe, o que ela era de mim e agora é de todos estes de quem cuida com tanto amor e dedicação. Te Amo.
Estava lá para ter irmãos, parentes, amigos dos melhores, empregados de anos de dedicação, pessoas que confiaram em mim e em que confiei. Muitas vezes era temperamental e até grosseiro, mas sei que os que me conheciam de perto, sabiam que não era por mau, sabiam que logo voltava ao normal e as coisas continuavam.
Estava lá em vários lugares, por quase sessenta anos, mas de sessenta se contarmos o tempo que passei dentro de Mariak, minha Mãe Maria Haickel, a olhar o olhar sereno do meu velho pai Elias.
Estava lá em Coroatá no dia 07 de setembro de 1993, entre amigos, brincando, comendo…
Estava lá… Estou indo, estou indo…
Estava lá e vi o pânico dos que estavam comigo, vi o desânimo, o desespero e o sentimento de traição e abandono que meus filhos, juntos, sentiam, vi a tristeza e a saudade de Chica, de Estelita e de Yolanda. Vi tudo, toda a minha vida num ultimo suspiro.
Esta lá e vi meu filho e meu genro, quase filho, ao me receberem, inerte. Vi o que foram capazes de fazer. Eu não seria tão corajoso, tão forte.
Estava lá e vi meu outro filho ir para casa, pensando sem pensar, andando sem andar, diletante. Deitou-se em minha rede, cheirou o meu cheiro no lençol, chorou o meu choro, dormiu o meu sono. Queria acordar com ele, queria sonhar com ele. Tenho certeza que não acreditava. Jamais o deixei ser totalmente, jamais o soltei, sempre esteve a minha sombra. Estava perdido. Mal sabia ele que nos últimos anos, eu era quem o seguia. Tive dois filhos dei a um a possibilidade de usar o cérebro através da boca e ao outro a razão de usar as mãos pelo cérebro. Um quase perdi várias vezes, o outro nunca quis se perder. Acho que hoje eles sabem que, o que os torna forte é o seu amor e a união.
Estava lá no meu velório, em minha casa, muitos amigos, todos os parentes, autoridades. Havia até conspiração. Não os condeno, faria o mesmo. Não fui e não sou santo nem hipócrita.
Estava lá no meu velório na Assembléia, casa onde passei boa parte da minha vida, onde estava sendo seu presidente, na minha cabeça apenas gerente. Muita gente. Fiquei orgulhoso e chorei, não queria morrer, nunca quis, era a fase mais feliz da minha vida; mais maduro, mais compreensivo, menos intransigente, menos preocupado.
Estava lá no meu enterro. Cheguei de carro de bombeiro, guarda de honra, essas coisa que em vida não dava muita importância. Muita gente. Chorei de novo. Quero ir para casa. Minha mulher, meus filhos, meus parentes, amigos, funcionários, conhecidos, todos lá me fizeram ver que era definitivo. Não me conformei. Hoje começo a compreender.
Estava lá na missa de 7º dia, todos ainda consternados. O Padre Lucio, simpatizante da esquerda, meu amigo do Maiobão, oficiou. A rua estava bloqueada, A Igreja era a Rua do Egito, em frente à Assembléia. Havia muita gente. Chorei novamente.
Estava lá na missa do 30º dia, desta vez a igreja coube a todos mais o padre ainda era o mesmo e a dor ainda doía. Chorei.
Estava lá em todos os instantes com Chica, Joaquim, Nagib, Laila, Ivana, Lucia, Estelita, Yolanda, Rose, Lucinha, Rochinha, Tadeu, Antonio, Santana, Carol, Jorge, Mônica, Catita, Vinicius…
Estava lá quando meus filhos com ajuda de alguns amigos tentavam pagar as dividas que deixei. Pagaram algumas e continuaram pagar as outras, pois foi como eu lhes ensinei.
Estava lá quando nasceu Nagib Neto, meu netinho que não me conheceu, mais que eu amo, falem de mim para ele.
Estava lá em quase todos os lugares e horas. Não todas, mas estava.
Estou, quando Chica chora ou rir, quando Estelita me imita, quando Loló lembra, quando Lalá vê a fita, quando Binho faz negócios e quando Joaquim faz política.
Estava lá na missa de 1º ano. Estavam apenas os que lembraram ou os que puderam ir. Meu substituto, o Manoel, Marly que alfabetizou meus filhos e um dos mais dignos Deputados que já conheci, um chovem chamado Clodomir Filho. Os outros devem estar se virando, pois a luta é difícil, eu sei.
Revi meu compadre Daniel, meus amigos William Nagem e Alberto Abdalla. Lá estava meu ex-patrão e amigo Cezar Aboud, meus amigos Zé Bento Neves, Zé Elouf e Celso Cotinho.
Joaquim ficou perto de Newtinho, onde eu ficaria, Nagib ficou do lado de fora da Igreja onde eu preferia ficar.
Vi meu amigo de infância e adversário João Maluf. Meu primo e amigo Alberto Hadade. Roberval não foi, está doente, mas a mulher e a filha estavam lá. Os parentes acho, que todos estavam; irmãos, primos, sobrinhos, e até Gloria, que Chica estava preocupada com a saúde dela eu vi.
Vi a surpresa gostosa e alegria que meus filhos tiveram ao ver um certo amigo deles entrando na Igreja com a esposa. Ele é amigo mesmo, não troquem nada por seus amigos, pois eles são o que de mais valioso há na vida.
Meus pretos estavam lá: Celso, Ivan, Gilmar, Regina, Miriam, Nelci… Meu irmão de criação Raimundo Nagib. Meus amigos Portela e Malheiros. Dona Otávia e Dona Rosário. Meus compadres e afilhados.
Funcionários da Assembléia e da Barraca. De Alda minha secretária fiel ao chefe de gabinete.De Verde com quem às vezes discutia, com quem implicava a Heloisa a quem admirava. Telefonistas e administrativos, funcionários que sempre tive como amigos. Até jornalistas havia. Não rádios, jornais. TV só o Ivison Lima do Raimundinho. Mas estavam lá o Raí, como eu chamava, o Ademário e aquele menino que fazia a locução das minhas campanhas e de Joaquim, não lembro o nome. Havia muita gente, pensei que fosse menos. Por um instante fiquei triste, queria estar ali. Mas o Padre Hélio Maranhão que rezava a missa lá pela as tantas, fez-me rir ao dizer … um por todos… e eu cá comigo, me lembrei dos meus filhos que adoravam capa-espada e gritei: todos por um. Era isso que estava acontecendo ali: Todos por um e por todos. Não chorei, não vou mais chorar. Não chore. Sejam unidos, se dêem amor, compreensão, amizade. Conversem, façam as coisas da maneira mais correta. Procurem ajudar a quem lhes procurar, sejam caridosos.
Estavam lá no cemitério. As minhas rosas, as minhas flores. Os meus.
Estava lá em casa.
Estava. Estou.
* Este texto deveria ter sido psicografado pelo médium Francisco Candido Xavier.
Li esse seu texto e além de não ter entendido nada, achei uma babaquice. Até comentei com meu pai que uma vez havia me dito que te conhece. Ele estranhou um texto seu ser tão ruim como eu disse que era e veio ler, só aí então depois que ele me explicou sobre o que se tratava, é que entendi… É que esse é um assunto muito sacal pra minha cabeça, mas adorei a explicação do final. Solução genial. Mas vê se escreve sobre coisas mais leves, textos menores…