São Luís, Maranhão, Brasil, Mundo, 14 de setembro de 2001.
Caro Brimo Aziz,
Quando faltam adjetivos para qualificar-se uma coisa, um sentimento, um fato, é porque essa coisa, esse sentimento, esse fato são inomináveis e inqualificáveis ou porque a língua é pobre. Hoje e desde a ultima terça-feira, 11 de setembro, a humanidade confronta-se com um problema menor, mas preocupante: todas as línguas e formas de comunicar-se usadas pelos homens, sobre esse planeta, padecem de pobreza, pois não existe como, com poucas palavras, explicar-se ou sequer comentar-se o que aconteceu naquela pequena ilha americana, nas proximidades da latitude norte 40º 42 51.
No inicio, era um aparelho de Tv que mostrava uma das paisagens mais conhecidas em todo mundo, o complexo do Word Trade Center, localizado ao sul da ilha de Manhantan em Nova York. Acabou de ocorrer um inacreditável desastre. Um avião de passageiros chocou-se contra uma das torres do Word Trade Center. Eu que chegava para uma reunião, lívido, desabei num sofá em frente da Tv e liguei-me na tragédia que ainda no inicio, já transtornava. Meia dúzia de minutos depois, olhando para aquele mesmo aparelho que nos ligava ao mundo, presenciei com esses olhos incrédulos o suicídio de alguns fanáticos radicais e o homicídio deliberado e instantâneo de algumas centenas de pessoas inocentes, quando um outro avião entrou parede adentro da outra torre do Word Trade Center, como faca rígida e quente em um macio cubo de manteiga. Inacreditável, inimaginável, assombroso, terrível, horroroso, pavoroso, impossível… Não há palavras que possa definir tamanha infâmia, tamanha covardia.
Em mim, quando me aflige a angustia e o desanimo, as articulações dos meus ombros ficam impotentes e meus braços perdem a força e a vontade de mover-se, fico desombrado. Foi como fiquei durante horas. Não consegui durante horas sorver um suspiro profundo, minha respiração ficou curta, pequena. Meus olhos pareciam querer sair das órbitas. Não sabia o que pensar, apesar de saber instantânea e instintivamente do que se tratava.
TERRORISMO: Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-lhes à vontade pelo uso sistemático do terror. Forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante o emprego da violência. Ao dicionarista não cabe qualificar e sim explicar e esclarecer o que é terrorismo, mas a nós cidadãos do mundo, membros do partido da humanidade, cabem abominar, rechaçar e combater a suprema loucura daqueles que transferem os campos de batalha para as ruas das cidades, para as casas das pessoas comuns, para o dia a dia de todos nós.
A questão subjetiva da crença teológica por um lado, e por outro, à vontade de impor o seu modo particular e pessoal que encarar e exercer a vida, suas relações e seus desdobramentos são os mais complicados dos problemas que existem na atualidade. É a guerra cultural, somatório da guerra bélico-financeira com a cruzada preconceito-religiosa. É o caos total.
Nessa altura do campeonato não me lembro quem foi que disse que guerra nenhuma se ganha, que em qualquer guerra todos os lados são perdedores, e quem o disse também não importa, o importante é que isso é a mais pura verdade. Se numa guerra convencional restrita a soldados e exércitos, que estão lá para matar e/ou morrer, ninguém vence no final, imaginem numa guerra onde o soldado é o seu vizinho, o seu irmão, você, e as armas não são tanques ou mísseis, mas são os meios de transportes que usamos, a água que bebemos, o ar que respiramos?
Não sei mais como continuar escrevendo, meu coração fica pequeno, minha garganta fecha, meus olhos se afogam. A angustia toma conta. Não posso, não podemos, não podem, permitir que a raiva e a vingança tomem conta de nossos espíritos, dos espíritos deles.
Miremo-nos neste caso, no exemplo de um profeta neutro, Buda. Digamos não a violência, vamos procurar os culpados, vamos prende-los e julga-los, mas de forma justa e inexorável. Não vamos correr o risco de punir inocentes, pessoas comuns: crianças, mulheres, homens, velhos, e todos aqueles a quem um dia, um outro profeta, deu de herança os seus reinos.
É bem verdade que o povo palestino tem sido sempre tratado de modo desigual, seja política, seja econômica, seja religiosamente, mas isso não da o direito a qualquer individuo ou a qualquer nação tomar em suas mãos as vidas, os destinos de pessoas inocentes. Esse ato de terror ao invés de ajudar as causas palestinas e muçulmanas, prejudica, espero que não de forma irreversível.
Rogo ao Deus todo poderoso, Deus de todas as religiões, que guie os passos e as atitudes daqueles que dirigem os destinos da humanidade, impedindo que mais uma vez inocentes paguem por pecadores, como aconteceu no caso dessa maravilhosa terra dos meus avós, o Líbano, que até hoje não conheço, mas que pretendo conhecer antes do fim dos tempos.
Um grande e esperançoso abraço em todos e que Deus nos proteja.
Pelo que estou vendo, você está postando nesse blog crônicas de diversas épocas, tratando de alguns assuntos que tem compromisso com o tempo e outras que são atemporais. Sugiro que você date os textos para que se possa saber em que contexto eles foram escritos ou publicados.