Falcão: “Não temos um craque na nova geração do futsal”
Todo esporte que se preze tem um atleta como referência. No fustal mundial, o jogador que todos se espelham é Alessandro Rosa Vieira, mais conhecido como Falcão. O craque conversou com a equipe de reportagem do LANCE!Net e fez uma viagem até o começo de sua carreira, relembrou da máquina das quadras que o Atlético-MG montou em 1999.
O jogador também não se esqueceu de comentar sobre a inesquecível conquista do Mundial deste ano e suas expectativas para o futuro do futsal no Brasil:
– Hoje, temos bons jogadores que podem manter a nossa tradição de títulos, mas, infelizmente, ainda falta um craque ao esporte. Espero que apareça um alguém desse patamar em breve – disse.
Confira, abaixo, o bate-papo com o atleta, de 35 anos, e bicampeão mundial pela Seleção Brasileira:
L!Net: Aquele time do Atlético de 1999 foi o melhor time que você jogou?
Falcão: Foi o melhor, sem dúvidas. O Atlético juntou grandes jogadores em sua melhor fase. Manoel Tobias, Índio, Rogério… Isso falando apenas da base do time campeão. Não dava para imaginar aquele time perdendo de ninguém, sempre falávamos isso. Era um time que dificilmente perderia a Liga Nacional, a não ser que acontece uma catástrofe. Atualmente, todos têm que ralar muito para ganhar. Aquele time era excepcional. Vejo aquele jogo da final contra o Rio de Janeiro umas duas, três vezes por ano. Foi especial para mim.
L!Net: Aquela final contra o Rio de Janeiro representou o que para você?
Falcão: Foi o jogo da minha firmação no futsal. Eu tinha 22 anos, estava em um time repleto de craques e queria mostrar meu potencial. Acho que a minha personalidade fez a diferença naquele dia. Os três gols que fiz me deixaram muito feliz. Eles abriram o placar, eu empatei o jogo, fiz o 2 a 1. Depois o Manoel Tobias marcou o 3 a 1, ele diminuíram, eu fiz o 4 a 2 e o Índio marcou o nosso quinto gol. Eles ainda fizeram dois de falta. Não tem como eu me esquecer desse jogo. Foi importante por tudo o que aconteceu. Espero que, no dia do evento, passem lances da partida em um telão para a torcida acompanhar e ter ideia do que foi aquela decisão.
L!Net: O que você pode dizer da torcida do Atlético?
Falcão: Falam muito de Flamengo e Corinthians por estarem em estados mais populares. Mas só quem conhece sabe o que é a paixão da torcida do Atlético. Naquela final de 1999, o Mineirinho recebeu mais de 25 mil torcedores. É impressionante. E ficou nisso, porque não tinha mais espaço. Se coubesse 50 mil, venderiam todos os ingressos. A torcida do Atlético é impressionante, uma das mais apaixonadas que eu vi.
L!Net: Como vê a situação do futsal mineiro hoje?
Falcão: Espero que os dirigentes mineiros invistam mais no futsal. Hoje, em Minas Gerais, temos o Minas Tênis Clube que sempre dá trabalho na Liga Nacional, mas dificilmente será campeão. Tem uma molecada boa no time, com muito potencial. Todos que aparecem na equipe saem para clubes maiores. Por isso, a dificuldade em montar um time que lute por títulos. Espero que, com este evento do dia 18 (de dezembro), os dirigentes mineiros vejam que o estado tem um público apaixonado por futsal e voltem a investir no esporte.
L!Net: De onde surgiu a ideia de fazer o Futsal Fest / Jogo das Estrelas do Futsal no Mineirinho?
Falcão: Foi uma ideia que eu e o Manoel Tobias tivemos. Lembramos daquele jogo contra o Rio de Janeiro, em que a torcida do Atlético bateu o recorde de público mundial do futsal e pensamos que poderíamos nos reencontrar. Hoje, sou recordista em títulos de Liga Nacional, mas aquela foi a minha primeira. Da maneira que aconteceu, não tinha como esquecer. Ainda era novo, tinha 22 anos, estava aparecendo para o esporte.
L!Net: A final da Liga Nacional de 1999 reuniu Falcão e Manoel Tobias. Hoje, vocês são considerados os “Pelés” do futsal. Para você, quem foi melhor?
Falcão: Acho que essa é uma dúvida que não pode existir. Os nossos números são inquestionáveis. Ninguém pode mudar o que fizemos, mas cada um tem o seu estilo, não dá para comparar. É melhor considerar que são dois craques e pronto.
L!Net: O Mundial deste ano foi impressionante. Você teve um problema na panturrilha no primeiro jogo. Depois, sofreu com uma paralisia facial. Dá para descrever a emoção dessa conquista?
Falcão: Nós passamos por tanta coisa que chega um momento em que achamos que não dá para viver mais nada. Não imaginei que o título seria assim, foi um roteiro perfeito. No início, tinha tudo para ser frustrante. Depois, porém, a história foi outra. As coisas mudaram. Antes de viajar, passei por um exame na virilha, porque senti algumas dores. Entrei, joguei e, logo na primeira partida, senti um problema na panturrilha. Consegui voltar às quadras em 10 dias. Foi muito rápido. No fim, tive uma paralisia facial, acho que por toda a responsabilidade que tinha. O mais importante foi conseguir aquele título. Quando ele chegou, parecia uma criança.
L!Net: A conquista deste Mundial foi a mais importante e emocionante de sua carreira?
Falcão: Passei por muita coisa na vida. Aquele título pelo Atlético, em que era apenas um garoto no meio de tantos craques. Depois, tive a responsabilidade de decidir para a Seleção Brasileira no Mundial de 2008. Contudo, nenhum título foi tão emocionante quanto esse Mundial. Não é por ser o mais recente, mas por tudo que passei antes de chegar à Tailândia. O exame na virilha no Japão, a contusão na panturrilha e a paralisia facial. Foi um roteiro impressionante. Acho que tudo isso causou uma comoção acima do normal aqui no Brasil. Quando voltamos, as pessoas falavam comigo: “Chorei com você”. Acho que todos esses ingredientes foram importantes para o povo brasileiro acompanhar ainda mais o esporte. Posso dizer que vou deixar um legado para a molecada que chegará à Seleção.
L!Net: Você falou que pretende deixar um legado para os novos jogadores. Como você enxerga a atual safra do futsal?
Falcão: A safra é muito boa, não é espetacular como de outros anos, mas é boa. Hoje, não temos nenhum craque aparecendo no futsal. Isso me preocupa um pouco, porque nenhum esporte vive sem ídolos. À exceção do futebol de campo, que tem um apelo bem maior no Brasil, as outras modalidades precisam de um ídolo que faça a família brasileira sentar em frente à televisão para assisti-lo. Hoje, temos bons jogadores que podem manter a nossa tradição de títulos, mas, infelizmente, ainda falta um craque ao esporte. Espero que apareça um alguém desse patamar em breve.
L!Net: Além dos vários títulos coletivos, você tem dois prêmios individuais da FIFA. Acha que um “novo Falcão” pode aparecer em breve?
Falcão: Sempre fiz as coisas por prazer, querendo valorizar e trazer mais público aos jogos de futsal. Mas eu acho que não adianta dar drible, chapéu, caneta e não fazer gols. É preciso ter objetividade em quadra. Sempre fiz as minhas jogadas de efeito, mas buscando os gols. Não importa se estou jogando com meus amigos na rua, ou em uma final de campeonato, eu sempre vou tentar marcar gols e com irreverência. Tem hora que a beleza não importa. No Mundial deste ano, eu conversei com o Ricardinho, de Portugal, e comentei isso com ele. Dentro de quadra, temos que buscar o gol. Já provei para todo mundo que, apesar dos dribles, não faço isso para humilhar ninguém. Esta é a minha maneira de jogar.
L!Net: Você teve uma curta passagem pelo futebol de campo. Ficou decepcionado por não dar certo?
Falcão: Eu acho que tem dois lados daquela situação. Primeiro, estava no clube certo com o treinador errado. O São Paulo me ofereceu um contrato de três anos naquela época. Mas não tive oportunidades e também, por mais que jogasse em outra situação, a saída foi uma opção minha. Tinha 27 anos à época, nenhum time iria me contratar. Era um jogador mais experiente. Hoje, aos 35 anos, eu estaria em qual clube? Não sei. Talvez, estivesse em um time de menor expressão, ganhando dez vezes menos o que ganho como jogador de futsal. Naquela ocasião, os meus patrocinadores conversaram comigo e fizeram uma ótima proposta. Se pudesse escolher novamente, não mudaria nada nesta história.
L!Net: Hoje, aos 35 anos, você já pensa em parar?
Falcão: Eu penso, é claro. No futsal, as coisas são um pouco diferentes do futebol. Tenho mais mobilidade dentro de quadra que no campo. Em um jogo, eu posso jogar apenas oito minutos, ou posso descansar durante a partida e, depois, retornar à quadra. Tenho alguns negócios no ramo da construção hoje. Minha intenção é atuar por mais dois, três anos e parar. É claro que, se eu chegar aos 38 anos e perceber que ainda tenho condições de jogar, devo continuar em campo.
Fonte – LANCENET
Opinião do Blog
Muitos diziam que como Manoel Tobias não iria aparecer. No futsal brasileiro temos o privilégio de a cada hora aparecer um craque. Mas recentemente, depois de Jackson, veio o Manoel, depois o Falcão e com certeza logo logo surgirá um novo craque. O futsal hoje esta muito diferente de dez anos atrás. A força e a marcação são fatores fundamentais para qualquer técnico montar o seu esquema tático. Não podemos esquecer que a inteligência e a habilidade não podem faltar nunca. Por isso que Falcão ainda é hoje o melhor jogador de futsal do Brasil e do mundo, mesmo estando com seus 35 anos de idade. Falcão será sempre lembrado por várias e várias gerações como exemplo de superação, assim como Ronaldo Nazário é para o futebol.