Da caderneta ao computador, futsal amador em SP tem mais de 2.000 jogos por semana
Em 1982, Wilson Dragonette, o Batalha, estava desempregado. Resolveu, então, aceitar o convite de um amigo e aparecer uma quadra de futebol de salão na Mooca. Apitando as peladas do local, ele conheceu jogadores e técnicos. Foi então que uma pequena caderneta entrou em cena.
“As pessoas estavam sempre buscando um time para enfrentar. Como o Batalha estava sempre por lá, os amigos foram pedindo para marcar os jogos. Ele anotava o nome do time, o endereço da quadra e os horários em que o pessoal jogava. Registrava tudinho na caderneta. Tenho guardada a caderneta até hoje”, lembra Cecília Franchini Dragonette, mulher de Batalha, que morreu em 2011.
Foi assim, a partir da caderneta do Batalha, que nasceu um dos maiores fenômenos do esporte amador brasileiro. A Liga do Batalha, como ficou popularmente conhecida a Batalha Promoções Esportivas, é apenas uma das muitas empresas que atuam no setor de marcação de jogos na cidade de São Paulo.
E o mercado para isso é enorme: hoje, pelo menos 2.000 jogos amistosos são marcados a cada semana, envolvendo um volume incontável de atletas. Só o Batalha tem quase 1500 times de futsal ativos jogando a cada semana. Outra empresa que atua no mercado, a FutLiga, tem mais 500. Entre esses times, a grande maioria tem dois quadros, fazendo com que cada duelo marcado envolva duas partidas.
“A prática do futsal é muito grande. Antes, São Paulo tinha muitos campos de várzea. Agora, a cada esquina você tem um ginásio, uma quadra. Só contando atletas federados, são 8 mil. O número de pessoas que jogam o esporte, então, é muito maior. Pela Federação Paulista, além dos campeonatos oficiais, temos torneios abertos. Mas serviços como o do Batalha acabam entrando em uma área em que a Federação não atua”, diz José Carlos dos Santos, vice-presidente técnico da Federação Paulista.
O serviço de marcação de jogos não poderia ser mais simples. O cadastro de uma equipe tem o dia da semana e horário em que ela está disponível para jogar e se tem uma quadra própria. Quem tiver, pode receber os amistosos. Quem não tiver um local próprio, joga apenas com visitante. A partir daí, quem faz o trabalho é a empresa, que monta a tabela de jogos após tabular os dados.
“No começo, a coisa era por telefone mesmo. A gente tinha os dados dos times, cruzava horários e dias dos jogos e ligava para as equipes para marcar as partidas. Às vezes, eram duas, três ligações por jogo”, lembra dona Cecília. “Hoje, o serviço já está informatizado. Mas muita gente ainda prefere ligar”.
Mais nova, a FutLiga foi a primeira a informatizar a marcação. “Nós já éramos uma empresa de informática e tínhamos a tecnologia de banco de dados. A idéia veio do meu sócio, que joga futsal e tinha dificuldades para marcar as partidas. Resolvemos montar o serviço. Praticamente não temos contato via telefone”, fala Ângelo José Segatti, diretor comercial da empresa.
“O site é a própria ferramenta, é o banco de dados. O time informa que é mandante e joga de sábado. O sistema faz a pesquisa e convida um time que joga como visitante aos sábados. O site estrutura tudo isso e dispara um convite. Se for aceito, o sistema já marca a partida. Os usuários têm autonomia total”, completa.
FUT LIGA TEM ATÉ TORNEIO DOS CAMPEÕES
Uma das atrações do serviço prestado pela FutLiga é o Torneio dos Campeões, que envolve os 32 melhores times da temporada anterior. Como o sistema, além de marcar as partidas, armazena os placares (informados pelas próprias equipes), ao final do ano a temporada sempre tem seus vencedores.
“É como se fossem as finais do campeonato anual. Os times são convidados, pagam uma taxa de inscrição e nós fornecemos a quadra e os juízes”, conta Ângelo Segatti. O torneio de 2012, inclusive, terminou no último domingo.
BRIGAS E W.O GERAM MULTAS PARA TIMES
• No mundo do futsal amador, algumas coisas não são aceitas. Times que costumam se envolver em brigas, por exemplo, ficam marcados e têm dificuldade maior de encontrar adversários. Quem não aparece para jogar, também.
“Existem regras. Apesar de ser brincadeira, os times levam muito a sério. Sempre que alguém dá W.O., é multado, com pena em dinheiro e perda de acesso ao site. Essa multa vira reembolso para o adversário. Segundo nosso banco de dados, 5% dos times não aparecem”, diz Ângelo Segatti, da Futliga.
“Temos controle dos times. Sabemos quem são os mais briguentos e colocamos uma observação na ficha. Controlamos os W.O., multamos quem falta a jogo e exigimos explicações. Quem é punido, pode pagar uma taxa ou fica um período sem jogar pela Liga”, diz Cecília Dragonette, da Liga do Batalha.
O W.O., inclusive, é o motivo para muitos times evitarem jogar em casa pelos serviços de marcação. A maioria dos times não é dona das quadras em que atuam, apenas alugam os locais, semanalmente, por duas horas. Por isso, têm de arcar com o prejuízo quando o rival não aparece. Jogando sempre fora de casa, existe a garantia que o adversário, que já bancou o aluguel da quadra, vá aparecer – é bom lembrar que o aluguel costuma ser dividido entre as duas equipes.
Por Bruno Doro
Uol