Bairro da Liberdade: inexpugnável trincheira oposicionista

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Peço vênia aos nossos leitores para reproduzir um primoroso texto da lavra de Wagner Baldez, servidor público aposentado e humanista militante. Assim, para o nosso deleite, passemos à leitura do venerando artigo:

Envolvido por uma aura de satisfação, reservamos o tempo, embora exíguo, para falarmos de dois valorosos personagens, exemplos de dignidade e profundo idealismo, na maneira de se conduzirem como líderes do bairro onde residiam: Aldionor Salgado e Maria José Braga. O bairro denomina-se LIBERDADE, coincidentemente, pelo nome, se deduz o que se passava na mente de seus moradores!

Entretanto, já se foram os tempos em que a maioria dessas localidades se arregimentarem, na defesa dos Partidos de Oposição contra os maus governos. Dentre essas comunidades, a que mais se distinguiu foi o bairro da Liberdade; motivo pelo qual era considerado a inexpugnável trincheira oposicionista!

Atualmente, poucas as pessoas, a não ser os diletos filhos e alguns amigos, entre os quais o autor da presente matéria, conservam na memória a história desse verdadeiro e grandioso acontecimento, construído por um punhado de bravos e agregados companheiros, tendo por contribuição um único desejo: a liberdade do nosso Estado!

Dona Maria Braga, levada por uma acendrada paixão, fez de sua casa o comitê oposicionista, frequentado por jovens, na maioria, amigos dos seus filhos. Entretanto, o que mais causava admiração consistia no seu profundo entusiasmo, que a todos contaminava, por verem nela um exemplo direcionado à defesa de uma nobre causa!

A maneira carinhosa como tratava os seus liderados, dando a nítida impressão de filhos, ao ponto de fornecer lanches e até refeições. Entre os mais assistidos constava os jovens Osmundo, Lourenço, Pedro Paulo e até o padre Bráulio. Ressaltando serem seus prediletos, devido à garra como atuavam no campo da política.

Ficávamos perplexos ao assistir toda aquela intensa movimentação conduzida pela líder e dona da casa; e nos nossos monólogos, dizia de mim para mim, como seria possível uma mãe de família, com sérias dificuldades de ordem financeira, possuir tanto fôlego e coragem para enfrentar situações análogas; ainda mais tendo aos seus cuidados uma extensa prole composta por 11 filhos?!…

Sem dúvida, além das qualidades que era possuidora, fora uma autêntica figura altruística! Chegamos à conclusão que todas essas extraordinárias façanhas lhe retemperava o espírito sequioso de sonho e renovada esperança! Por tudo que presenciamos, tornou-se a razão de nos colocarmos na posição de leais admiradores da família Braga.

A vida dessas criaturas, repetimos, enfrentando surtidas “dificulridades” – termo empregado por alguns interioranos. Adoro! –, tornara-se um verdadeiro estigma; porém, combatido com o rigor da altivez e determinação: razão pela qual os filhos nunca passaram fome!

A simplicidade como ela nos narrava as etapas da vida, dava-nos a impressão não de uma longa epopeia, mas de uma histórica página lírica. Nascido no Município de Peri-Mirim, com o passar dos anos o casal resolveu se mudar para a capital, no desejo de dar aos filhos melhores condições no campo da educação; já que o ensino aqui era de boa qualidade. O resultado dessa importante decisão é que esses obstinados guerreiros conseguiram, aos trancos e barrancos, formar todos os 11 filhos, atualmente assumindo importantes cargos através de concursos. Mais uma etapa superada pelo clã dos Braga.

Quando da visita que lhe fizemos, a convite do nosso estimado hermano Walter – tratamento que me faz lembrar os altaneiros cubanos – e conservando uma impressionante lucidez, ela dizia-me: “Companheiro Wagner Baldez, eu e meu inesquecível marido Tetê trabalhamos com os dentes para comer com a gengiva”.

Emocionei-me ao ouvir tão significativo e emblemático ditado mencionado com espirituosa comparação; ainda mais por tratar-se de uma pessoa com seus 89 anos! Abracei-a afetuosamente, ensejo em que recordamos os episódios vividos naquela saudosa época…

A campanha movida era à favor de Haroldo Saboia e Helena Heluy, resultando numa gloriosa votação: 80% dos votantes! Sentimo-nos reconfortados em poder prestar as nossas homenagens a esses reconhecidos guerreiros, por tais comprometimentos assumidos. Eis, portanto, os motivos de considerá-los condôminos dos nossos corações, como também hóspedes permanentes de nossas lembranças.

No dia 3 de janeiro de 2018, Dona Maria Braga completará 90 anos de gloriosa existência; data em que, todos seus companheiros de luta se farão presentes para festejar o seu aniversário; oportunidade em que exaltaremos, embora postumamente, a figura do comunista da gema, que, em vida, se chamava Aldionor Salgado, assíduo discípulo, como nós outros, da brava e exemplar Maria Aragão.”

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