O poder do voto consciente

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Miguel Cançado
“O lamentável desfecho do julgamento da constitucionalidade da Lei Ficha Limpa no Supremo Tribunal Federal na última semana, quando a proclamação do resultado ficou suspensa em relação à aplicação ou não das regras para as eleições deste ano, evidencia o que já vem se revelando ao longo da história política brasileira: a efetiva mudança somente virá pelas mãos da sociedade. Infelizmente, o choque de moralização que tanto ansiamos por parte das instituições ainda é uma promessa distante ou, para ser otimista, que acontecerá de forma muito gradativa e morosa.

Após sucessivos escândalos de corrupção e de improbidade administrativa em diversas esferas governamentais, a promulgação da Lei da Ficha Limpa (Lei complementar nº 135/2010) foi um alento para o cidadão brasileiro, já cansado e descrente de ver eleitos políticos descompromissados e oportunistas.

Assim como a Lei da Ficha Limpa chegou ao Congresso por meio de milhares de votos de cidadãos que acreditaram que poderiam transformar o projeto em lei, a população tem que acreditar no poder do resultado das próximas eleições.

No dia 3 de outubro, cabe a cada um de nós decidir qual candidato merece ser nosso representante nos cargos de presidente da República, senador, governador, deputado federal e estadual.

Parece utópico, mas é exatamente assim que funciona. Durante a campanha eleitoral, o cidadão é alvo do assédio das centenas de candidatos, que se digladiam entre si, quase como se estivessem em guerra, pelo voto de cada um dos brasileiros. Se esse voto não tivesse validade, como muitos pensam na hora de votar (“sou apenas um voto, não vou fazer diferença”), não haveria tanta disputa pela confiança do eleitor.

Exercer a cidadania não é apenas comparecer à urna eleitoral, é um processo que começa antes do dia da eleição, com a busca de informações sobre os candidatos, sobre os partidos, sobre a história deles no contexto nacional e regional. Voto consciente é aquele que é exercido com reflexão, avaliação, questionamento. Assim se exerce, de fato, a democracia e a cidadania.

A decisão de eleger ou não um candidato que tenha ficha suja, entre outros parâmetros, é individual e não tem preço. É preciso questionar se o candidato tem condições de realizar o que promete, se suas propostas são factíveis e se são pertinentes para toda a sociedade. A responsabilidade de votar em alguém interessado na coletividade é a mesma responsabilidade que o político tem de representar com dignidade o seu eleitor. Cobrar essa postura é votar seriamente, é eliminar da vida política aqueles que desonram o povo e fazem dele instrumento de manipulação para defender interesses próprios.”

(Mguel Cançado é Dretor-tesoureiro do Conselho Federal da OAB)

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