Waldemiro Viana e Milson Coutinho

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Estava dia 4, pela  manhã, no  velório do confrade  Waldemiro Viana para me despedir de corpo presente, em oração e afeto,  do amigo escritor que partia em definitivo, quando recebi outra triste notícia, o também confrade e amigo MIlson Coutinho acabara de falecer.

Num ambiente de Pandemia onde  os cuidados protetivos não são suficientes para servir de escudo contra o extravasamento da sensação de impotência e fragilidade humana, imagine a repetição dessa pungente sensação com novo impacto de melancolia e saudade. Permaneci no centro da cidade até chegar o momento de repetir, mais tarde,  a mesma jornada de despedida, desta vez rumo à Academia Maranhense de Letras onde  Milson Coutinho, outro amigo e confrade,  estava sendo velado.

WALDEMIRO VIANA.

As qualidades pessoais de Waldemiro Viana de companheirismo, afabilidade e alegria já foram tão decantadas por confrades, amigos e parentes nas redes sociais, blogs e jornais  que não cabe aqui repeti-las. A essas acresço ainda mais uma: a ironia.  Waldemiro Viana era um formidável irônico do bem. Aquele tipo de ironia desconcertante no trato das pessoas que faz  desanuviar semblantes carregados e emoldurar as faces compenetradas de sorrisos e gargalhadas, mesmo nas ocasiões mais solenes, permitindo que todos escapem brevemente da seriedade protocolar.

Essa ironia, dom de poucos, Waldemiro Viana carreou para seus romances  explicando-se assim a sedução que sua escrita exercia nos espíritos mais propensos à liberdade – e não apenas de sua livre interpretação no trato ficcional dos personagens e dos fatos. Assim, até nas situações mais angustiantes de A Tara e a Toga, um romance policial  de ficção histórica baseado no icônico e rumoroso caso do Desembargador Pontes Visgueiro, Waldemiro adicionava a sua verve peculiar, que permitiu aos leitores, mesmo no momentos cruciais da história , rir das desgraças humanas. Em outro livro A vez da caça (atenção para a curiosa escolha dos títulos segundo essa tônica),  idem quando nas situações mais inusitadas e imprevistas, o cinismo e a falta de escrúpulos desses anti-heróis fazia com que torcêssemos por eles,  como amigos a quem se perdoa o cinismo em nome de  espírito aventureiro, como tantos leitores torceram por Tom Jones, do escritor inglês Henry Fielding, à reboque de uma narrativa, como as de Waldemiro,  eivadas de deliciosa ironia.

 MILSON COUTINHO

Milson Coutinho também era da estirpe dos que fazem amizades sinceras e perenes com muita facilidade, a par dos cargos de comando que exerceu, onde nem sempre é possível agradar a gregos e troianos.

Literariamente Milson Coutinho enveredou por um gênero de elaboração árdua e complexa,  que é o da Pesquisa Histórica,  tornando-se  na AML e na intelectualidade maranhense um dos expoentes dessa corrente dedicada a esse trabalho de reavivar, documentalmente ou com alguma liberdade de interpretação, memórias e fatos que precisam ser  preservados.

Isso exige dedicação, agudeza e desprendimento e, sobretudo, generosidade, pois é um presente concebido, principalmente, para as gerações posteriores, ocorrendo muitas vezes que estas sim é que reconhecerão mais largamente o presente que lhes foi doado. Fico imaginando que ao autor dessa epopeia fundamental para os maranhenses A revolta de Bequimão só faltou brindar-nos, com aquela que seria outra obra preciosa: a sua autobiografia, sobre a sua trajetória tão rica e tão aplaudida por  todos.

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Quando a vacina chegar

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De volta para o futuro. É assim que nos sentiremos quando a vacina chegar,  anunciando o fim da pandemia.

Mas, como será esse futuro? Dá para imaginar?

1. O Pico da Pandemia até agora não foi visto. Nada, porém,  de apavoramentos! Fique tranquilo, leitor, ouso sugerir que,  até o fim do ano, “eles” darão  um jeito de anunciar sua descoberta.  

Sim, porque estaremos chegando ao fim do ano  e, algo me diz que por volta de Novembro,  no mais tardar, ele surgirá . Um milagre?

Sim, um milagre chamado Reveillon.

Pode-se imaginar, no planeta Terra, um ano sem réveillon? Pode até não ter ano, mas Réveillon tem que ter. Para felicidade geral, pela  certeza de que estamos vivos ainda, uma vacina terá de surgir sabe-se lá de onde. Com morcego ou sem morcego, com cientista ou sem cientista, com OMS ou sem OMS. E o  Pico terá de ser  anunciado lá pelos idos de Novembro.  

2.Depois do Pico virá a  Vacina,  sendo fácil prever o que acontecerá,  no Brasil, esse dia.

Galvão Bueno sairá de seu isolamento, (que nos fez tanto bem)  para voltar a gritar. Só que,  ao invés de berrar gooooooool do Flamengo gritará Vaaaaciiiinaaaaaaaaaaaa!!!,   em  programa da Globo.

O presidente Bolsonaro, convencido pelos militares  decretará  luto oficial de 5 dias em homenagem ás vítimas do Covide (sua ideia inicial  era meio dia,   apenas ).

Será aprovada a mudança de nome do estádio do Maracanã para estádio Sérgio Mandetta (ideia de um deputado carioca aprovada a toque de caixa) O primeiro bebê a nascer depois da Vacina receberá o nome de Vacina, se for mulher, e Enfermeiro, se for homem  O vídeo  do nascimento será transmitido pela Globo e repostado por milhões de seguidores na net.

Em seguida, serão iniciados os preparativos para o próximo Carnaval, com aceleração máxima e cobertura do trabalho 24 h por dia. Os temas de todas as escolas de samba,  versarão sobre a Pandemia . A Turma da Mangueira, por exemplo,  terá uma ala da OMS, outra de médicos e, lá em cima, como um Deus egípcio, a figura de Tedros Adhanon em pessoa. (Adhanon, relutante a princípio , acabará aceitando o convite para desfilar na passarela do samba).

3. Decretos governamentais estabelecerão que as máscaras serão distribuídas gratuitamente, aos pares, com camisinhas. Um empresário pernambucano terá a feliz ideia de fabricar uma engenhosa Máscara/ Camisinha com dupla finalidade. Luciano Hulk, um dos entusiastas da ideia, apresentará  a máscara em seu programa e dirá que ficou perfeita para o seu imenso nariz.

Os bailes de máscara serão liberados, todos se divertirão pra valer! João Dória aparecerá vestido de Batman, o morcego do bem, no bloco da Preta  Gil.  Infelizmente, porém, um  gigantesco Covide-19 despencará  de cima de um carro alegórico e cairá na cabeça de duas folionas. Uma delas, vítima recente do Covid, ao se recuperar do impacto, no hospital,   bombará na net com esta frase: “É mais fácil escapar de um Covid de verdade do que de um Covid feito por gente.”  

Quem viver verá!

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
O entrevistador de lendas, novela, é uma aventura de ficção científica sobre as mais belas lendas maranhenses chega à segunda edição , nas livrarias
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Do jeito que as mães ralhavam

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Observem como as recomendações repetitivas e monocórdias da OMS ( que um amigo jornalista chama de Organização Mundial do Susto) se parecem com as falas de nossas mães, avós, tetravós,  não só nos seus  objetivos de nos antecipar proteção  como também no mesmo jeito das suas cantilenas imemoriais.

São os conselhos óbvios, elementares e necessários, como se estivessem ralhando com a gente, de nossas mães.  Mas, no caso da Pandemia, ausentes de uma solução,  que nunca se  esperaria  de uma intuitiva mãe – ansiosa por proteger suas crias, mas, obviamente, de uma organização Global dotada de vultosos recursos financeiros  e de inteligências científicas escolhidas a dedo para que , pelo menos em tese, fossem capazes de trazer soluções menos triviais do que apenas exortações de fuga e recolhimento.

Na prática,  repetem-se tanto as notícias pavorosas todo dia,  que nosso amigo acabou associando a OMS a uma agência disseminadora de pavor. Sei que alguém pode contrapor, com justa razão: “Como falar de notícias boas, se a realidade é tão cruel?” Sem dúvida, temos  de concordar com isso, mas com o passar do tempo e a ausência total de soluções é fácil intuir que deve haver algo deletério  nos alicerces dessa instituição para que, visivelmente,  exiba tanta  incapacidade de conduzir e orientar  soluções que façam frente  a epidemias desse porte.

Era de se esperar  estudos técnicos conclusivos sobre, por exemplo:  influência do clima;  remédios promissores ou nocivos;  perspectivas de curto e médio prazo etc. Mas o que sobressai são líderes atarantados que agem como vítimas, incapazes de se pronunciarem adequadamente sobre o manancial de dados colhidos, resumindo-se a lamentar os fatos e apontar os dedos como se fizessem parte, realmente, de  uma organização assustada e sem rumo.

E, assim, repetem as nossas mães sem serem dotados, sequer, do afeto e da empatia que ela  possuem. Basta comparar suas falas para vermos as semelhanças. A OMS, como mãe. O homem do povo, como o filho que responde.  

1.”Lá em casa, a gente conversa”.

Certo  mamãe OMS. Mas, primeiro preciso, pelo menos, ter uma casa.

2.”Você não faz mais que sua obrigação ao se proteger”.

Com certeza, mamãe OMS. Mas se minha obrigação é a de me proteger, a da senhora deveria ser a de estar propondo soluções, que já vão tarde. Ou não?

3.”Repete isso que você falou”.

Quem repete todo dia a mesma cantilena “Vá pra casa”, é a senhora. Quando  vai dizer  algo diferente ?

4.”Quantas vezes terei que falar?”

Não sei, mamãe OMS. Só espero que não seja por toda a eternidade, como a senhora parece agourar. Rezo que seja antes de morrermos todos.

5.”Se você não guardar suas porcarias, vou jogar no lixo”.

O que aprendi mamãe OMS, é que nós, seres humanos,  não passamos de grandes porcarias, frágeis e indefesas diante de um minúsculo vírus. Quanto a jogar-nos no lixo, a verdade é que essa pandemia já nos jogou lá dentro há muito tempo.

6.”Se eu for aí e achar, esfrego em sua cara”.

A senhora está falando da máscara, mamãe OMS? Fique certa de que ela está em minha  cara há tanto tempo que não sei mais como era antes.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, , primeira novela de ficção científica sobre lendas maranhenses. Segunda edição já nas livrarias
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Marta Rocha, a beleza morre

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A beleza vive. A beleza morre. A beleza que morreu desta vez chamava-se Marta Rocha.

Lembro-me de quando eu tinha uns cinco anos de idade, em Guimarães, onde minha família residida. Na ocasião meu avô, José Ribamar Ewerton, me fez decorar uma fala de sua autoria. Satisfeito com meu rápido aprendizado, mandava me chamar onde eu estivesse para que a repetisse para os amigos, quando acontecia de se reunirem num armazém defronte à minha casa.  Ele me estimulava: – Vamos lá, rapaz, mostra para essa turma que você já sabe dizer o nome completo. Compenetrado, eu repetia tintim por tintim o pequeno discurso que ele havia me ensinado e falava: “Meu nome é José Ribamar Ewerton Neto, sou moço garoto da miss Brasil, Maria José Cardoso, minha querida noiva”. Eles gargalhavam, encenavam me cumprimentar como a um adulto e diziam: “Zé Ewerton, esse moço tem futuro, e já começa pela Miss Brasil.”

Mais tarde tomei consciência, através do que via nas fotos de revistas como O Cruzeiro,  de que Maria José Cardoso “ a minha noiva” , era sim, muito bonita e , além disso, havia ganho o concurso de Miss Brasil em 1956. Mas  a beleza, a beleza de fato, não era ela, mas Marta Rocha,  que fora miss Brasil antes dela e cujos dons de formosura capitalizaram o entusiasmo  dos anos vindouros a ponto de seu nome se tornar  um sinônimo de beleza. Quando se dizia que fulana era Marta Rocha, as moças se engrandeciam muito mais do que se alguém dissesse que eram formosas.  

Confesso que para meu gosto pessoal ainda embrionário, Marta Rocha era, sim, bonita, mas não abarcava toda a  gama de suscetibilidades estéticas trazidas, a seguir, por certas atrizes como Sofia Loren , de quem me tornei ardoroso fã tão logo nos mudamos para a capital e vim a conhecer o cinema. Era fatal que Marta, como ideário de beleza, fosse sobrepujada por aquelas, cujas imagens se movimentando nas telas dos cinemas incorporavam uma dose adicional de erotismo, sedução, e amor platônico, que uma fotografia solitária era incapaz de sugerir. Dessa forma, Marta Rocha nunca foi páreo para a italiana, que me fazia sair de casa célere em direção aos seus filmes, assistidos muitas vezes à custa de burlar a idade mínima exigida.  

Em paralelo, mesmo envelhecendo, Marta Rocha continuou por muito tempo como símbolo da plenitude da beleza brasileira. Afinal era possuidora da eterna beleza, como disse a seu respeito,  Vera Fisher, outra bela,  em entrevista à rede Globo no dia de sua definitiva ida.

Ao conceber o título desta crônica em homenagem a essa mulher que obteve, como nenhuma outra, no Brasil, o máximo que pode ser  concedido à  transitoriedade da beleza física, talvez haja me inspirado no título do romance do japonês, premio Nobel, Yasunari Kawabata  intitulado Beleza e Tristeza,  no qual o narrador ao mesmo tempo em que se rende ao esplendor da beleza, traduz-lhe  a precariedade diante da derrocada humana

Como disse Stendhal  “A beleza é apenas a promessa da felicidade”.  Infelizmente, é ceifada pela morte também, sendo, no entanto,  suficiente para ter sido capaz de sobrepuja-la que, exuberantemente, nos traga, como agora,   toda  essa conjugação  de apogeu, melancolia e saudade.

A segunda edição de O entrevistador de Lendas semana que vem estará na livrarias de São Luís

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A SABEDORIA NA PANDEMIA

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A Pandemia não modifica as pessoas, apenas mostra o que elas são.   Não precisa ser nenhum sábio, basta ser apenas um observador para concluir isso. Sim, porque é justamente nas situações extremas que os seres humanos mostram suas verdadeiras faces, com máscaras ou sem máscaras.

Os exemplos são muitos, bastaria lembrar mais da metade dos respiradores comprados que jamais chegaram aos doentes, ou, então, os milhares de brasileiros que se apropriaram da ajuda de custo destinada aos carentes.   Neste caso, a Pandemia não aprimorou a dose de canalhice dessa corja, apenas a exibiu.

Mas a frase original não é essa, mas sim “O poder não modifica as pessoas apenas mostra o que elas são”,  o que me faz pensar na grande variedade de frases sábias, adaptadas, ao que se vê na Pandemia:

1.Ser ou não ser, eis a questão. Mas se você não resolveu essa questão antes da Pandemia é melhor deixar pra lá, porque em uma Pandemia se vive muito pouco para ser alguma coisa, e depois que ela acabar, se acabar,  a questão passará a ser sobreviver. Ser ou não ser será artigo de luxo. 

2.Na Pandemia brasileira a sabedoria de Jesus Cristo se transforma sob o ponto de vista dos políticos: “Dai a César  o  que  é de César, a Deus que  é de Deus e aos Corruptos o dinheiro desviado da Saúde”.

3.Em uma quarentena as aparências enganam,  como sempre, mas as máscaras conseguem esconder a feiura com mais precisão e vantagem (porque sai mais barato) do que o Botox .

4.A pressa sempre foi inimiga da perfeição, mas o Pico da Pandemia não precisava exagerar na seu passo de tartaruga.

5.Em uma Pandemia, o brasileiro, usa o ditado do jeito que lhe convêm : “Cada macaco no seu galho, cada Gafanhoto no Uruguai e cada Covid 19  numa piscina de álcool Gel.”

6.De médico e de louco todos temos um pouco mas, na Pandemia, a parte médica diminui menos que a de loucura aumenta.

7.Na Pandemia a sabedoria ressoa com mais precisão ainda quando falada desta forma: “Dize-me com que Covid 19 andas , que eu te direi quem eras”.

8. Mente vazia, como todos sabem, sempre foi a oficina do Diabo. Na Pandemia as mentes se transformaram em oficinas de fabricar lives. O que, praticamente, dá no mesmo.  

9.Para bom entendedor meia palavra basta. Mas na Pandemia metade da metade de um espirro basta para espantar todo mundo.

 10.Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Mas na Pandemia é bom lembrar que Hoje é amanhã, Amanhã virou nunca e,  quanto ao futuro,  a OMS ainda está decidindo .

12.Jamais ponha a carroça adiante dos bois, mas na Quarentena o melhor a fazer é deixar o Covid adiante da máscara.

13.Roupa suja se lava em casa, mas na Pandemia prefira lavar a roupa suja antes de entrar em casa.

14.Um dia é da caça outra do caçador, mas se o Covide é o caçador e o ser humano a caça, faz mais de 12 semanas que todo dia é dia do caçador.

O pior é que, se depender da OMS e seus cientistas, o caçador continuará deitando e rolando e a vez da caça tão cedo não chegará.      

josé Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

Segunda edição em breve nas livrarias.Primeiro livro de ficção científica sobre as mais belas lendas maranhenses
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A Nova Onda da flexibilização

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O Pequeno Dicionário da  Pandemia não para de crescer, com o surgimento de novas palavras e expressões:

1.Flexibilização. Esta  palavra acabou se tornando, de uma hora para outra, a da moda, substituindo a Pico (da Pandemia)   que reinou durante algum tempo. Agora só se fala em flexibilização. 

Acontece que, como o tal do Pico, que se escondeu e, definitivamente, ninguém sabe onde se meteu,  o  que era para vir  somente depois dele, surgiu e se estabeleceu.  Mais ou menos na base do: “Já que esse Pico não chega, vamos de Flexibilização.”

Quanto ao que isso significa, bem… Flexibilização é daquelas palavras que ninguém sabe ao certo de que trata, virando moda por isso mesmo. Vem de flexível que significa adaptável, porém, o termo agregado ao mesmo tem vários tons a mais de versatilidade, ou seja, de flexibilidade. Na prática o sujeito flexível é aquele que fica em cima do muro e nunca se sabe se é ou se não é, o que quer ou o que não quer, o que sabe ou  que não sabe, enfim, um adaptável. Já que a humanidade anda querendo se adaptar ao Novo Vírus, cai  como uma luva para os dias atuais.

Flexibilizar,  na atual conjuntura , significa dizer que se está fazendo isolamento social, mas nem tanto, saindo de casa, mas nem tanto,  vivendo mas não tanto, enfim, o que significa também dizer:  morrendo, mas não tanto, a se julgar  pelas mortes invisíveis ou não computadas.

Seu equivalente religioso é O Agnóstico, aquele que diz não acreditar em Deus, mas nem tanto. Para consumo externo este aprecia propagar que não acredita em Deus, mas admite, sim, a possibilidade de que ele um dia possa aparecer balançando um paraquedas na hora em que estiver caindo do seu avião, já que,  via de regra são os agnósticos  os primeiros a implorar por Deus nessas situações. Ou seja, agnóstico  é aquele que acha conveniente  passar a imagem de conhecedor profundo da Ciência, negando tudo o  que não se pode provar, como querem os cientistas, mas que, por via das dúvidas, também teme que sua alma um dia possa ressuscitar como um corona vírus para sofrer por todos os seus pecados.  Enfim, o agnóstico, ou o flexível,  é aquele de quem Jesus Cristo disse: “Prefiro os quentes ou os frios, porque os mornos, esses eu os vomitarei. “

NOVA ONDA. É um termo que surgiu para contrabalançar qualquer tentativa de otimismo em relação ao Corona-Vírus. Tão acostumados ficaram os seres humanos ao pavor dominante transmitido pela mídia que repetem: ‘Tá sorrindo? Não perca tempo! Vem aí a Nova Onda!’  significando  que não adianta aos que sobreviveram pular, gritar sorrir, que lá vem morte de novo.

Eu só não estava entendendo era o termo Onda, tão poético, estar se metendo nisso.  Bons tempos aqueles do  “como uma onda no mar” de Lulu. A meu ver o nome do pavor deveria ser: Nova tragédia, Nova Catástrofe, Nova aporrinhação! , até que, coisa de  uma semana atrás acabei descobrindo:

 Assim como se atribuiu ao coitado do morcego a proliferação do monstro invisível, agora se começa a desconfiar de uma nova onda catastrófica, desta vez  a partir do salmão,  tanto assim que  os chineses, sempre eles, estão  proibindo a importação do salmão chileno.

Onda, Salmão, tudo a ver, não é?

Coitados dos salmões! Dos morcegos!  E de nós!

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de Lendas primeiro livro
de ficção científica sobre as mais belas lendas maranhenses
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O NAMORADO PANDEMIA

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Livre-se do Namorado-Pandemia


Como não poderia deixar de acontecer os namorados também mudaram com a Pandemia , embora poucas já tenham se apercebido. E, por isso, se faz necessário orientar as moças para que reflitam sobre essas mudanças, até mesmo para que não comprem presentes à toa no próximo dia dos namorados.  

1.O NAMORADO LOCK-DOWN. É aquele que passou a se julgar  possuidor de total controle sobre os atos e movimentos da namorada. Enfim, a amada não pode sair mais de casa nem em fotografia do instagram.

2.O NAMORADO PICO. O namorado Pico da Pandemia é aquele para quem a data de ambos se juntarem nunca chega. Enquanto ela anseia pela por esse dia, ele contemporizando lhe diz: “ Meu bem, segura as pontas só até que cheguemos ao pico de nossas economias, que garantirá nosso futuro”.

Esse pico, obviamente, tal qual o pico da pandemia, nunca chega.

3.O NAMORADO COVIDE 19. É aquele indivíduo, pequeno, invisível, e pegajoso, que um dia, a par de todas as prevenções da namorada, arranja uma brecha em qualquer buraco pertencente a  ela ( o coração também serve) e lá se instala. Depois de invadir seu corpo o próximo passo é a sua casa. A coitada  só saberá se o expulsou de verdade quando conseguir ar puro novamente. Sem respirador.

4. O NAMORADO  VACINA. É aquele que tem solução pra tudo,  doenças e não doenças.  Até briga de cachorro ele resolve. Se a namorada compra um carro, ele, solidário,  logo se antecipa: deixa o carro comigo e fique em casa para sua segurança, meu amor!

Desconfiada da vacina que está tomando só resta à garota sair atrás de um antivírus justamente contra o Namorado  Vacina. A essas alturas já descobriu que só o distanciamento não resolve. 

5. O NAMORADO NOVO NORMAL. É aquele que se julga vários segundos à frente de todo mundo. Sua palavra de ordem é: “Tudo mudou depois da Pandemia meu bem!”.  Quando ele apresenta, aos beijos e abraços, um novo amigo de quem ela desconfia os trejeitos, ela começa a ter certeza que há algo de anormal com o seu namoradinho Novo Normal.  

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

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CONTO DA QUARENTENA

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Alírio sempre foi um solitário. Gabava-se disso. Dizia: “Quem procura a companhia dos outros é porque não consegue suportar a si mesmo”. Sem filhos, tinha uma namorada aqui outra ali, porque sedução não lhe  faltava. Esse seu modus vivendi era, para ele, a felicidade: amava as mulheres desde que não o tirassem de sua solidão, sua mais querida companheira.

Alírio sempre foi um solitário. Gabava-se disso. Dizia: “Quem procura a companhia dos outros é porque não consegue suportar a si mesmo”. Sem filhos, tinha uma namorada aqui outra ali, porque sedução não lhe  faltava. Esse seu modus vivendi era, para ele, a felicidade: amava as mulheres desde que não o tirassem de sua solidão, sua mais querida companheira.

A pandemia chegou e, com ela, a quarentena. Na ocasião  os amigos lhe diziam, com uma ponta de inveja: “Para você tudo bem, não é Alírio ? Sempre foste um lobo solitário”.

Veio a primeira semana, depois outra, mais outra, e o que não se esperava aconteceu: Alírio  perturbou-se  com essa nova solidão. A  razão foi  fácil descobrir:  “ Uma coisa é ser solitário por vontade própria, outra é sê-lo  por imposição. Estavam lhe roubando também a sua liberdade,  associada à sua solidão”. Lembrou-se de uma frase de Rubem Braga “ O chato é aquele que te rouba a solidão sem te fazer companhia.”

E a quarentena continuou. Só havia espaço agora, na vida, para políticos se digladiando, cientistas atarantados e repórteres histéricos. Uma ideia lhe acudiu: se suicidar. Por que não? Parecia-lhe uma solução factível, mas logo recuou. Talvez, se encontrasse quem o matasse, mas isso era impraticável. E Agora?

Uma coisa puxa outra. Uma nova ideia lhe pareceu exequível: matar alguém. Por exemplo: o vizinho de seu apartamento. O desgraçado perturbava sua solidão, agora angustiante, com sons de música sertaneja, estrondosos, paupérrimos, avassaladores. Isso era tétrico, horripilante, asqueroso. Um motivo mais que suficiente para matar alguém, pensou. 

Tinha um revólver antigo, escolheu o dia e a hora, mas não deu. Seu vizinho, parecendo desconfiar do motivo pelo qual ia ser morto, de repente,  parou de escutar o maldito som de dupla sertaneja e o substituiu por samba, rock e jazz, que Alírio apreciava. Alírio desistiu de sua intenção,  mas não foi apenas  por isso. Era um homem bom.

Mais dias se passaram, trazendo-lhe uma nova ideia. Matar um animal e procurar a Polícia. Passou a acompanhar cachorros e  gatos nas raras vezes em que o permitiam sair de seu apê.  Nem precisaria gastar a bala do seu revólver, bastava-lhe uma pedra. Em vão. Até que em uma manhã de desespero aconteceu. Um rato apareceu no chão de sua sala, em quietude convidativa. Mesmo tomado de inquietante compaixão Alírio apontou o revólver. Não apontou pra valer, mas o animal morreu. Lágrimas lhe desceram  dos olhos.

Em seguida, foi à delegacia se apresentar ao delegado de plantão.  

– Eu cometi um crime, pode me prender, sou um assassino.

– Como?

– Matei um pobre animal. Este rato.

– Senhor, não podemos lhe prender por causa de um rato morto. Vá para casa, descansar. Essa tensão tá pegando meio mundo

Alírio  fez a maior confusão e ameaçou chamar repórteres da tevê. Gritou que aquele era um pobre animal que, no  entanto, valia mais que os seres humanos – pelo menos ratos não corriam para suas tocas com medo de um vírus.  E devia valer muito mais,  também para Deus, porque não roubavam o dinheiro da Saúde destinado às vítimas.  O delegado tentou contornar.

– Calma,  amigo, sente-se Uma psicóloga está vindo.

– Poupe seu trabalho. Da minha solidão cuido eu. Você já leu algum dia esta  frase de Montagne? Anote-a em seu caderno:

“A solidão é muito boa, só que tem um problema. Você precisa de alguém para dizer isso.”

                                                                      

José Ewerton Neto é autor de A Ânsia do Prazer, disponível na plataforma de ebooks da Amazon

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A quarentena de Capitu

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Capitu, a que tinha olhos oblíquos e de ressaca, que pareciam uma epilepsia do mar

Capitu, a do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis era uma moça bonita “com olhos oblíquos e de ressaca“ parecendo uma epilepsia do mar. Fora isso não tinha ambições que a distinguissem de uma moça comum: um bom casamento e filhos; nada de intelectualmente especial.

Tampouco seu autor a dotou de complexidade psicológica, aquela aura que seduz pela personalidade. Capitu era bonita e brejeira, ponto final. Algumas décadas depois outro escritor, Jorge Amado, descreveu outra moça, parecida em características físicas e mentais: Gabriela, que tinha a mesma brejeirice, o mesmo ardor sexual,  a mesma singeleza de raciocínio. Mas havia uma diferença, Gabriela não controlava seus impulsos. Esses que no dizer popularesco se diz das moças atiradas: “…mulher quando quer dar ninguém segura”.

Pois Capitu não chegou a tanto. No romance, jamais foi pega praticando infidelidades. Era esposa recatada e do lar, como convinha. Devia lá ter seus desejos reprimidos e olhadelas à socapa (quem não tem?). E olha que aguentar um sujeito como Bentinho, deve ter sido uma barra!

Neurótico, obsessivo, o cara fazia tudo para levar um bom par de chifres! Millor Fernandes, escritor, chegou a constatar, nas entrelinhas do romance, que Bentinho tinha uma paixão secreta por Escobar. (Será?).  Pra completar, Bentinho jogou o nome de sua mulher na lama, para sempre, sem prova de nada.

2. Podemos imaginar como seria a Capitu, versão 2020. Esta, como aquela,  pouco lê. Preocupa-se apenas em dar  vazão aos seus prazeres imediatos. Gosta de novela, não perde o BBBrasil  e adora – como adora!- música sertaneja, porque, verdade seja dita, Capitu é uma obtusa. Parece-se com Bruna Marquezine naquele jeito brejeiro e sensual, de santinha de pau oco, como se dizia. Não tira o celular da mão, odiando  tudo o que se refere a estudo ou livros.  Sonha, isso sim, em se casar.

E não é que encontra? O Bentinho do século XX. Porque foi casar justamente com um Bentinho nem ela sabe. Bentinho é sério demais para o seu gosto, é trabalhador, religioso da Igreja Universal e talvez tenha sido por isso que o escolheu: para dar um rumo à sua vida. Têm pouca coisa em comum,  mas o fato de ele também gostar de música sertaneja lhe parece mais do que suficiente. O casamento, ao som de Luan Santana,  achou o máximo, dançou, estava feliz.

A lua de mel nem tanto. Bentinho não chegou junto e a coisa foi arrefecendo. Com alguma dificuldade (da parte dele) e boa vontade da parte dela (fantasiava com outro para aguentar) deu até para ter um filho, que hoje tem 3 anos. Por incrível que pareça esse é dele mesmo.

Até que chega a quarentena. Só dá ela, vendo lives de música sertaneja, e Bentinho, batendo panela na janela. Capitu tá que não aguenta. Durante uma distração de Bentinho ela sai de casa. Quando volta ouve o berro: Onde você estava, sua  vagabunda? Ela, com os mesmos olhos oblíquos do passado, responde:  “Ora, com o filho do porteiro. Quer saber? Não te aguento mais! Se eu transei? Com você é que não foi.”

O resto todo mundo sabe. Mais um feminicídio.

Muita gente jura que foi uma tentativa de vingança (tardia e mal sucedida) da Capitu atual pelo que a sua versão sofreu no passado. O certo é que Bentinho, o feminicida, continuará vivo  e à solta como tantos.  Como sofrem as Capitus deste país!

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, novela premiada de ficção científica sobre as mais belas lendas maranhenses

                                                                      

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José Sarney, a ilha e o mar

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Com a perda recente do poeta Ferreira Gullar e, pouco antes, do escritor Josué Montello,  permanecem na vitrine do reconhecimento nacional e internacional  à literatura dos maranhenses vivos, três  escritores não residentes em São Luís: os igualmente poetas e romancistas José Sarney e Ronaldo Costa Fernandes,  e o poeta Salgado Maranhão. Em paralelo, num período relativamente curto,  foram-se também vultos de grandes escritores e/ou intelectuais radicados em nossa terra:  Nauro Machado, José Chagas, Ubiratan Teixeira e Jomar Moraes. Foram perdas irreparáveis que provocaram inevitáveis fissuras no bloco sustentador de nossa literatura e cultura.

Torna-se assim oportuno e até urgente, a cada dia, que as entidades literárias se congreguem no esforço de prestar justas homenagens àqueles cuja envergadura conquistada com seus talentos,  os mantêm na linha de frente da exposição daquilo que a histórica vocação literária do Maranhão fez por merecer.    

Essas homenagens do povo maranhense a seus filhos ilustres ganha contornos especiais  no caso de José Sarney, por completar 90 anos , ser membro das Academias Maranhense e Brasileira e ter tido, em paralelo à sua  vitoriosa trajetória intelectual,   uma relevância política que nenhum outro maranhense alcançou (conhecida amplamente por todos, não cabendo,  aqui, repetir) .  A pergunta, óbvia, que salta aos praticantes de literatura, como eu,  diante dessa trajetória, é como ele conseguiu conciliar a pujança de sua atividade política com uma também marcante realização literária. 

A leitura do livro O dono do mar, que aprecio de forma especial por ter crescido junto ao mar ( meus saudosos pai, Juvenil Ewerton,  e avô, José Ewerton, possuíam barcos de pesca) sugere algumas soluções como respostas. Certamente lhe é inata uma imaginação fértil que permite conciliar a crueza do embate cotidiano com o onírico; da exata percepção da realidade,  com o místico.  Esse  pragmatismo, que é  necessário a todo homem do mar para sobreviver e confrontar os perigos da natureza , derrama-se no romance em contraponto ao diálogo com as lendas e o sobrenatural, numa simbiose perfeita.  

Ora, o mar é próprio da ilha, quem ama sua  ilha ama o mar, com uma cordialidade e uma devoção que surgem como uma sina em qualquer atividade a que se proponha quem nela nasceu , fazendo sobrevir, no romance, curiosamente,  uma das características mais decantadas do caráter do escritor e político José Sarney: a Cordialidade.

Neste caso, o romance O Dono do Mar a expressa também. Dos embates e da violência contra a  dura realidade das águas brotam permanentes gestos de aproximação e cordialidade com o mar, suas lendas,  e suas representações.

José Ewerton Neto é autor de Pequeno Dicionário de Paixões Cruzadas, livro de contos, lançamento em breve.

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