O espírito natalino enfrenta a Pandemia

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Lá vem ele, de novo. É o ESPÍRITO DE NATAL. Nestes tempos pandêmicos desconfiava-se que ele pudesse não aparecer. Sabe como é, vírus, pandemia, pânico, medo, horror. Temia-se que o velho Espírito de Natal recuasse, ou desse para trás, já que faz parte do grupo de risco naturalmente, pela antiguidade.

Chega trazendo tanta coisa junta que andava escondida, depositando-a aos pés da população alvoroçada e ansiosa: amor, alegria, solidariedade, esperança, de tal forma abundantes e  gratuitas que pouca gente se dá ao trabalho sequer de perguntar: afinal de contas, quem é esse cara?

Ora, para simplificar, porque nem Freud explica, conjecturamos  logo que seja alguém da parte de Deus, um anjo, enfim. Alguém dessa turma especial, generosa pra valer, mas inatingível, alguém que só convêm aparecer na Terra uma vez por ano com essa estranha capacidade de coisas bonitas, mas, até certo ponto,  inexplicáveis.

Alguém que tem o dom até de alterar o clima da natureza. Os objetos inanimados parecem mais atraentes, diferentes, mais receptivos. O sol ardente já não queima da mesma forma, a chuva já não incomoda tanto, até a melancolia para de rondar como uma sombra para transformar-se numa névoa tão solidária, quanto íntima.

Sua visita, porém, todo ano tem um fim indefectível e, lá pelo dia 29, véspera do réveillon, como faz todo ano, ele levanta sua mala, sacode suas asas e, como um pássaro repelido, vai embora. Os humanos voltarão aos seus mesquinhos afazeres, às suas rotinas de se debaterem nas redes sociais por ideologias de araque, de se xingarem no trânsito, de mandarem para o inferno uma suposta paz que fingiam procurar.

As crianças logo se aperceberão que ele se foi. Os pais voltarão a ficar mal humorados e tensos. Os desejos de paz e felicidade serão  deixados para trás e os adultos se encaminharão para afogar as mágoas e apreensões rumo ao réveillon saudando, como histéricos, uma passagem de tempo que não tem significado algum.  

Mas isso serão outros quinhentos e outros covides. O ESPÍRITO DE NATAL finalmente apareceu, tratemos então de aproveitar e guardá-lo em nossos corações, transbordando sua presença em nossas confraternizações e desejando um Feliz Natal a todos.

Mas, como seguro morreu de velho, será oportuno não olvidar  algo fundamental para nossa segurança. Fiquemos alertas, no réveillon o ESPÍRITO DE NATAL terá partido e não estará mais de sentinela para nos ajudar a enfrentar os Covides. 

José Ewerton Neto é autor de O abc bem humorado de São Luis

O abc bem humorado de São Luis chega à sua terceira edição e já pode ser encontrado nas boas livrarias da cidade.
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MARADONA E GARRINCHA. Mágicos e trágicos

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

Personagens chaplinianos, anti-atléticos, desprovidos de beleza física  ou inteligência especial, a quem somente a genialidade seria capaz de sacá-los do lodo da história para convertê-los em mitos, no panteão de guerreiros e ídolos cultuados por uma nação .

Personagens que parecem saídos da ficção mas que, com certeza, vieram  da dura realidade dos desesperançados das favelas e periferias. Personagens que, não fosse pelo futebol, estariam condenados ao esquecimento e ao abandono,  mas a quem Deus, um dia,  parece ter depositado na testa dos mesmos uma estrela dizendo: “Vai estrela, brilha no caminho desses gauches da vida, e os torna  dribladores do destino”.

E deu-lhes a paixão por uma bola de futebol para exercitar justamente isso: o drible. Ao iniciar no Botafogo, Garrincha foi visto de longe pelo  craque Nílton Santos, merecendo dele o comentário irônico: “A coisa ta feia por aqui. Até aleijado aparece para  jogar futebol!” Mas o aleijado tinha paixão, de fato, pelo drible e ao colocar a bola pelo vão das pernas do craque começou a escrever a sua  história .

O outro, argentino, franzino, atarracado, cara de índio,  cujo biotipo parecia mais apropriado a um futuro vigia de puteiro.  A quem tive a sorte de ver quando sua fama despontava, no Maracanã em amistoso contra a seleção brasileira. Então, o índio atarracado não precisava driblar o inferno da droga para chegar ao céu,  tanto que eu pude ver o paraíso em seus pés, sem que ele sequer se esforçasse para isso.

A trajetória de ambos fora dos campos todo mundo sabe. Um se entregou à bebida, o outro às drogas. Após a morte do ídolo argentino, sob o manto da comoção  generalizada esperei que  da parte dos comentaristas houvesse uma menção à Garrincha , o gênio das pernas tortas que nos deu duas Copas . No entanto, veio a alusão  a um Airton Sena, parecido ao argentino apenas no final precoce.  

A comparação nada tem a ver. A engenharia e a precisão das corridas de Fórmula 1 não permitem a magia do futebol para amaciar mecanismos, como a uma bola. Ali o que predomina é a condição tecnológica do equipamento onde  não há espaço para mágicos, mas para os intrépidos. Sequer nas origens se pareciam. Ayrton Sena era filho de gente aquinhoada, se pareceu com Maradona na tragédia que comoveu os dois países, mas foram distintos nas paixões, na irreverência e nos sonhos.  

 “Sua ilusão entra em campo no estádio vazio, e ainda na rede balança seu último gol ”. O som da antiga balada composta em homenagem a Garrincha, interpretada  por Moacir Franco, ressoa insistente em meus ouvidos Talvez porque  devesse ser executada agora também nas rádios argentinas, transformada num tango,  que os meninos da Villa Fiorito, onde nasceu Maradona, cantariam  para homenagear aquele que foi seu maior ídolo.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, novela de ficção sobre lendas maranhenses em segunda edição
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COMO XINGAR NA PANDEMIA

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, quinta-feira

Estudo desenvolvido há alguns anos pela Escola de Psicologia da Universidade de Keele, na Inglaterra, publicado pela revista especializada  NeuroReport afirma que falar palavrões  ajuda a amenizar a dor física.

Esta notícia deve ser revista e propagada, especialmente nestes tempos de Covid19 em que faltam vacinas, remédios e leitos. Fico imaginando, um indivíduo, morto de dor, chegando ao SUS, diante de um médico de plantão, já perfeitamente inteirado dessa descoberta científica e adepto desse recurso, tão barato, para aliviar os males. Diante desse cliente aos berros, o médico dirige-se para a enfermeira.

– Se faltam remédios, enfermeira, mande  ele xingar.

– Xingar quem, doutor?

– Ora, mande-o  xingar qualquer coisa: Deus, o mundo, Bolsonaro, o juiz de futebol, pode xingar até a gente, se preferir.

À vista dessa alternativa, o doente, claro, não se faz de rogado.

– Médico filho da puta!, Enfermeira piranha!, Hospital de merda!

– Doutor, ele não para de xingar.  Os outros estão escutando.

– Sem problemas, deixe-o à vontade. Quanto mais alto ele xingar  melhor.

O doente enfim pára, extenuado. O doutor, com expressão vitoriosa, indaga para a enfermeira.

– E agora, enfermeira, como está o nosso doente?

– Ele diz que aliviou a dor.  

– Eu não disse? Chame o próximo.

2. Evidente que os médicos precisarão se especializar cada vez mais nessa matéria, tendendo a surgir os mais talentosos, ou seja, aqueles capazes de receitar o palavrão mais apropriado para cada sintoma. Ao invés de Novalgina: Sacana sem-Vergonha!; ao invés de Buscopan: Cadela Vagabunda!; ao invés de Atroveran: Corno safado!

Torna-se evidente que uma das complexidades para a adoção e proliferação desse tipo de remédio é que muitos doentes carecerão de altas dosagens de xingamento para aliviar suas dores, mas, onde encontrar esse palavrão, já tão desperdiçado no dia a dia?

Supõe-se que isso se resolva inventando-se novas matérias-primas, ou seja, novos palavrões. Enquanto isso ainda não foi feito, uma boa forma de aliviar as dores no pandemônio atual seria pedir que os pacientes xinguem o Covid19  o mais alto que puder. Exemplos práticos a serem receitados: Covid 19 vá-se F…!; Enfie o Covid nos seus, ladrões da saúde!; ou Volte para a China, Covid sem-vergonha!

Os médicos poderiam incluir a OMS também no meio. Ainda que não aliviasse  a dor, faria muito bem à saúde.

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VANUSA E SEU CAMINHEMOS

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Caminhemos, talvez nos vejamos depois. Vida comprida, estrada alongada…”  Erivelto Martins

O Caminhemos, de Vanusa Santos Flores, a Vanusa, chegou para mm pela primeira vez em forma de balada-rock , ao invés de samba-canção tradicional composto por Erivelto Martins. A cantora, que começou a fazer sucesso na esteira da jovem- guarda , teve a feliz idéia de incluir Erivelto em seu repertório (gravou também Mensagem, sucesso anterior de Isaurinha Garcia, na mesma época e estilo).

Claro que ambas as músicas tornaram-se um dos alvos de aprendizado para mim, que aprendia violão, estimulado por meu pai, que  tocava esse instrumento musical muito bem, me ensinava,  e me iniciou no rico  repertório e no conhecimento de Erivelto Martins, até então um compositor desconhecido para mim.

Não  que eu tenha me tornado um ardoroso fã de Vanusa , embora dela apreciasse algumas canções.  Vanusa era uma cantora que parecia estar sempre a meio caminho, sem jamais despertar arroubos incondicionais de seus fãs. Não tinha aquela palpitação que distingue os grandes artistas e que, muitas vezes se associa a um destino trágico, como acontece com alguma freqüência em talentos especiais que se dilaceram pela arte. Não era uma Amy Whinehouse ou Billie Holliday, nem uma Elis Regina ou mesmo Cássia Eller.

Era bonita, mas não formosa ou deslumbrante. Cantava bem, mas não beirava as melhores artistas da época. Selecionava algumas boas canções, mas seus discos eram irregulares, vendia discos, mas nunca teve um sucesso arrebatador. E, assim, ela foi traçando a sua trajetória cada  dia mais arrefecida até falecer esta semana, com a notícia de sua morte ganhando as redes sociais, sua partida chegando de longe como se seu Caminhemos na vida houvesse findado faz tempo. Sem despertar o choro e a comoção devotadas  a um grande ídolo.

No auge do sucesso Vanusa foi atriz também, chegou a protagonizar a novela Cinderela 77 exibida pela TV Tupi, com o cantor Ronnie Von, que sobre ela se pronunciou  após sua morte: “Para mim é a perda da minha princesa, da minha Cinderela 77. Uma época em que nós confidenciamos uns aos outros, nossas alegrias e nossos momentos emocionais.” Foi casada  com o cantor galã Antonio Marcos (que morreu cedo e teve problemas com o álcool em cuja data de aniversário partiu, coincidentemente)  e, a partir daí, tem-se a impressão de que Vanusa passou a alimentar a cena artística mais por sina do que por prazer.Sofria de demência e morreu num asilo para onde foi encaminhada por seus familiares o que motivou as habituais comentários nas redes criticando a postura da família e o distanciamento a que foi relegada.

Porém, ainda que se queira estabelecer seu fim em um asilo  como um contraponto cruel a quem foi tão famosa, a verdade é que essa circunstância nada tem a ver, ainda que minimamente, com sua trajetória artística. Tem a ver mesmo com o fato de sermos humanos, demasiadamente humanos e, como tais, tantas vezes desprovidos de humanidade, especialmente para com os idosos,  quando  estes precisam de nós, mais da gente que a gente deles.  

                                                           [email protected]

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O QUE AS CELEBRIDADES LEEM

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

As celebridades internacionais gostam de ler. E bem. A julgar pela lista de livros preferidos de alguns, de fazer inveja a muito intelectual meia boca, que se agarra a dois livros curriculares  e fica por aí.

Gostaria de reproduzir toda a lista, mas citarei por causa do espaço apenas as que coincidiram com leituras minhas.

Começo por Tom Hanks, ator,  que escolheu A Sangue Frio de Truman Capote, este célebre romance-reportagem que teria inaugurado o gênero. O livro, que como reportagem atinge o ápice se dá melhor ainda como romance. Uma obra-prima da narrativa policial.   Lady Gaga, por sua vez,  preferiu Cartas a um Jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, o que traduz o extravasamento  de  seu coração poético por trás da cantora e atriz sensível que é.

Mel Gibson e Kit Harington preferiram  !984 de George Orwell, um romance, para o meu gosto, menor do que o frenesi que causa, cujo desencantamento para mim se origina justamente pelo que carrega de  simbologia político-social uma alegoria distópica que se tornou tão repetitiva que foi imitada por Chico Buarque em seu romance Fazenda Modelo.  Jessica Biel, a bela,  veio de Suave é a Noite de Scott Fitzgerald, um romance tão soberbo quanto o título, cuja narrativa se ombreia à de O Grande Gatsby, o romance mais famoso do autor, o que não é pouca coisa.    

Jennifer Lawrence, a cantora e atriz,  escolheu Levantem bem alto a cumeeira de J.D. Salinger que foi o autor com mais citações (3 vezes) por causa das duas de O apanhador no campo de centeio, este hino à liberdade da juventude no que ela tem de angustiantemente eterna em sua   efêmera passagem. Foi o escolhido também por Woody Allen, o que dispensa comentários.

Espremido pelo espaço gostaria de não deixar de citar um romance  que peguei por acaso num sebo e a ele me deliciei por algumas aceleradas  horas, chamado O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon, preferido do cantor Donald Glover,  um romance surpreendente desde o título,  que trata de um caso que beira o policial sobre o ponto de vista de um autista, envolvendo dramaticidade,humor e poesia, causando no leitor extraordinária empatia pela persona representativa desses humanos especiais.  

Passando para os políticos, o escolhido por Barack e Michele Obama foi o livro Uma canção para Salomon, de Toni Morrison, o único dos citados nesta crônica que ainda não li.  Toni Morrison, uma escritora  negra  Premio Nobel, apontei neste texto  para que se possa destacar também a formidável sincronia que paira nesse simpático casal.

De todas as escolhas, porém, a que mais me surpreendeu foi a de Donald Trump. Sim, ele mesmo, seu livro preferido sendo O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale, um livro a meio caminho entre auto-ajuda e religioso, que li  na juventude, e que não me constranjo em indicar como livro de formação para qualquer um, independente de sua crença religiosa ou inexistente. É um livro marcante para minha formação, não literariamente, mas pela sedimentação de uma expectativa filosófica, baseada em trechos bíblicos,  de muita utilidade para a travessia da minha juventude.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas. Em segunda edição este é o primeiro livro de ficção científica sobre lendas maranhenses. Aventura , mistério e informação a um só tempo..

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A ART DE INVENTAR NOMES

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Carolina, Mateus, Vera, Clara, Bianca, Artur, Sofia, Cristina, Guilherme, Solange...são todos nomes belíssimos. Então por que inventar um nome  para seus filhos se, afinal de contas, não é o nome que faz a pessoa, mas o inverso?

Será? Os numerólogos acham que não e faz tempo que induzem muitas pessoas, especialmente celebridades, a alterarem o nome próprio,  à cata de uma sorte influenciada por uma nova disposição de letras. No passado foram Jorge Benjor e Zagallo e hoje estão aí as Anittas e Gusttavos Limas aparentemente se dando muito bem com um exército de t acrescidos ao nome original.  Ora, se uma simples letra é capaz de fazer diferença no rumo do sucesso, quanto mais um nome. Será que não existiriam também mais mistérios entre o nome e a pessoa e seu destino, do que sonha a vã inteligência humana?

A julgar pela ascensão de certos artistas a partir de certos  apelidos ou mudança de nome (pseudônimos) parece evidente que sim. Será que se Silvio Santos tivesse continuado o senhor Abravanel teria chegado onde chegou? E Xuxa, se tivesse sido para sempre Maria da Graça Meneghel? Lula teria saltado de torneiro mecânico para presidente da república, à reboque de um tal Luis Inácio da Silva?  E Pelé?! Tão vibrante com o apelido  a ponto de o próprio Edson Arantes fazer distinção entre ambos! Para sentir ‘o drama’  da coisa tentem imaginar um  gol de Pelé  (ao invés de sua extraordinária musicalidade que já parece um gol) narrado assim: Gooooooooooooooooooolaaaçooo de Arantes..! Não dá, né?

Quando concluí meu curso de pós–graduação em Jornalismo Cultural escolhi como tema do trabalho final o tema A invenção de Nomes próprios: algo mais que um mero costume. Será Arte? http://www.cambiassu.ufma.br/cambi_2008/ewerton.pdf Neste, contrapus ao hábito comum de se ridicularizarem os nomes próprios inventados, uma visão artística do que se considera mania, justamente porque já encontrei belíssimas combinações, no cotidiano, com sonoridades criativas e originais. Um colunista da revista Veja, certa vez, em tom irônico chegou a depreciar nas páginas amarelas esse costume, como um hábito nordestino típico de classes inferiores. Que, no entanto, comprova-se ser muito apreciado pelas celebridades, certamente com o fim de dotar  seus filhos de originalidade e charme;  pois “que é a incessante busca do homem por prestígio e fama mais do que a busca de algo que o distinga dos demais?” Como dizia Dostoiévski ‘o original é um indivíduo que se põe  à parte’. Se um rosto  é a sala de visitas do ser humano seu nome é o cartão de visitas, a primeira imagem que se forma de alguém antes até de conhecê-lo.

Um nome original e potencialmente belo: essa coisa que mesmo o mais humilde humano pode presentear seu filho, tão colada à sua vida como uma ruga ou uma tatuagem, é uma dádiva preciosa e cara. Daí que o esforço dos mais humildes em inventá-lo para doar a seu filho de originalidade, a única riqueza que lhe é accessível,  tem algo de sublime e transcendente, ao contrário do constantemente risível, tão propalado por alguns a partir de algumas escolhas frustrantes.  

Por comodismo e segurança, poderemos sempre escolher um nome consagrado para nossos filhos, assim almejando a tranqüilidade futura de jamais sermos acusados por estes de um equívoco, porém, se pretendemos  dotá-los  de um nome único  e especial, que mal há de…? “Inventar um nome é como inventar uma vida, portanto é arte. “

josé Ewerton Neto é autor de O ABC BEM HUMORADO DE SÃO LUÍS, agora em terceira edição

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As 80 magias de Pelé

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1.A magia do futebol

O futebol é um esporte extraordinário. Somente no futebol  um aleijado como Garrincha poderia ter sido um gênio, competindo com grandalhões saudáveis e perfeitos. Somente no futebol um sujeito baixo  e atarracado, com  cara de porteiro  de boate  de quinta categoria, feito Maradona,  seria um extra-classe; somente no futebol um time do interior  sem dinheiro e sem torcida,  como o Santos FC poderia, em pouco menos de dez anos, se transformar no melhor time do planeta.

Pois foi esse esporte fascinante que conferiu a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que esta semana completou 80 anos de vida,  o título de melhor atleta do século, mesmo disputando com atletas legendários de outros esportes mais solicitados em países muito ricos como os USA. E foi ele, Pelé, o mágico capaz de transformar nas décadas de 50/60  um time de interior,  o Santos FC, num time de futebol que, ainda hoje, parece carregar o dom de uma sina memorável. Haja vista o surgimento de jogadores como Robinho e Neymar.

As novas gerações que não viram o apogeu do Santos FC  não têm idéia da tolice que falam quando tentam equiparar os feitos internacionais do São Paulo FC aos do Santos, da era Pelé. Isso seria desculpável para torcedores, mas não para analistas de futebol profissionais. O São Paulo ganhou, sim, títulos de torneios mundiais, mas nunca foi sequer considerado o melhor time do mundo. Há uma diferença básica. O Santos  ganhou títulos porque era o melhor e não foi o melhor apenas porque ganhou títulos. O  Santos era tão melhor que prescindia de títulos, tanto assim que os desprezou, negando-se a disputar o torneio Libertadores da América, cujo inchaço de times promovidos para disputar a competição,   incluindo os vices,  tinha por único objetivo poder ver Pelé e Cia se exibindo de graça.   

2.Pelé, o mágico. 

Pelé era o craque, Edson o homem. A ponto de o próprio Edson se referir a Pelé como outro personagem. As pessoas confundem as coisas. Tive oportunidade de ser inserido nas redes sociais em  debates nos quais muitos se manifestavam contra as homenagens prestadas ao craque por causa de seu comportamento (lamentável, diga-se de passagem)  no episódio de seu distanciamento da própria filha. Lembro, porém, que as homenagens que lhe estão sendo prestadas, se referem ao esportista excepcional, não ao homem.

 3. Em certeira crônica sobre o futebol, neste domingo,  o confrade e amigo Elsior Coutinho lembrou de várias expressões usadas por comentaristas e torcedores numa interessante listagem de termos bélicos adaptados ao jargão futebolístico.  

Isso me fez lembrar o que havia lido na revista Superinteressante quando cientistas evolutivos explicavam o formidável fascínio que este exerce na mente, especialmente  masculina, pelo  fato desse  esporte se desenvolver como uma estratégia de combate, que motivou o ser humano nas suas lutas pela sobrevivência. O instinto gregário, a luta, o ataque e a defesa, o estrategista, e o gol como objetivo a ser alcançado, fazem parte do ardor com que lutamos  nos mais remotos tempos.   

A tudo isso o futebol acrescenta o fascínio da imprevisibilidade. Somente no futebol um pequeno Davi pode vencer o gigante Golias. Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para sobreviver poderia se  tornar um  Rei de todo o Planeta ,   como Pelé se tornou.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, novela de ficção sobre lendas maranhenses, agora em segunda edição
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o paraíso chega às Escolas

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“ Sempre imaginei o paraíso como uma espécie de Biblioteca.” Jorge Luis Borges  

A cena se passa em uma escola simples, do subúrbio. No intervalo das aulas, eis que,  saindo de suas salas,  os estudantes deparam com uma novidade: uma vasta e sinuosa estrutura de madeira, dotada de compartimentos interligados, ganha corpo pela primeira vez,  no interior dos muros da escola .

Ao  se aproximarem ainda mais ,  os atônitos alunos se defrontam com algo que conhecem bem:  livros e mais livros  organizados em prateleiras. Como se fossem estantes, várias estantes. Melhor ainda, como se fosse uma Biblioteca. Uma elegante, original, e simpática Biblioteca. Extasiados, os estudantes se interrogam entre si diante daquela visita, para eles  somente possível existir  no mundo da fantasia .

Uma aluna não se contêm, e se dirige  ao senhor que aparenta ser o responsável por aquela visita surpreendente e mágica.

– Moço, como é bonita essa espécie de Biblioteca! Como se chama? Por quanto tempo ficará aqui, conosco?

            Com um fraterno sorriso ele responde.

– Para sempre mocinha. Seu nome é GIROTECA,  e permanecerá em sua escola para sempre. Trata-se de um presente, concebido por nossa equipe para estudantes e professores, e que lhes foi doado pelo Prefeito da sua cidade, que apoiou esse projeto juntamente com seus auxiliares administrativos. Parabéns!

A aluna, extasiada corre para transmitir a novidade. Aos abraços, os professores também compartilham da festa.

2.  A GIROTECA.

Giroteca foi o nome dado a um projeto concebido pelos dois  parceiros  do empreendimento Kléber Castro  e Milton Lira, e nasceu da convivência de ambos com o ambiente dos  livros, de onde extraíram inspiração para a  criatividade e a ousadia com que lutaram pela sua realização.  O referido  projeto tem utilidade e praticidades imediatas para qualquer um que ponha os olhos na arquitetura da maquete inicial do projeto, tornando-se, a partir desse deslumbramento inicial, quase  um dever adotá-lo,  pelos   executivos da área de Educação. Por isso, o Projeto foi imediatamente validado entre outras 20 tecnologias modernas pelo Ministério da Educação, através da Portaria 12, de abril de 2019, sendo a única do Norte e Nordeste.

Seu baixo custo, 70 % menor que os tradicionais, aliada à facilidade de  adaptação a imóveis já construídos, torna possível cumprir o disposto pelo Ministério de Educação que determina como obrigatória a todas as Escolas deste país a disponibilização de  uma Biblioteca .

A essa praticidade se aliam muitos outros atrativos. São 1700 livros em quatro módulos, providos ainda de data-show, e-books, áudio-livros,   mapas e literatura inclusiva. Um relevante aspecto  destaca o referido projeto em termos do apoio à cultura maranhense em especial, contemplando a produção local (cada vez mais exuberante e nada devedora do restante do país)  com 25 % de seu acervo, o que significa,  reverberar um dom que doou à cidade o seu mais caro título,  de Atenas Brasileira, permitindo, ao mesmo tempo, confirmar esse título e incentivar o surgimento de novos escritores para  perpetuação dessa honrosa marca. A cidade e seus habitantes estão, sem dúvida,  de parabéns!  

Obs. A cena inicial que inspirou esse texto não foi uma ficção autoral, mas um fato absolutamente real, presente na primeira Escola contemplada com ‘essa espécie de …Paraíso’ , como disse J.L.Borges.

JOSÉ EWERTON NETO é autor de O entrevistador de lendas.
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BUNDA COMO PALAVRA

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Vinte anos atrás circulou em todo o Brasil a revista chamada BUNDAS, com conteúdo de humor político na linha anteriormente seguida pelo famoso jornal O Pasquim, inclusive contando em sua equipe com alguns jornalistas remanescentes do antológico semanário que marcou época.

Há uma semana, surpreso e quase completamente esquecido da mesma, resgatei alguns exemplares dessa revista num sebo. Em uma de suas edições, a de número 48, deparei com uma matéria de Sérgio Augusto, um de seus colaboradores,  em que este apontou a palavra Bunda como a mais bonita da língua portuguesa. E explicou o motivo: 

“Tenho para mim que quando alguém me pede uma palavra bonita a escolha seja ditada mais pela eufonia do que pela expressividade semântica. É o som e não o sentido, que embeleza ou enfeia um vocábulo. Pelo menos os poetas deveriam saber disso. Alguns dos nossos não sabem, daí o prestígio de vocábulos como liberdade, esperança e democracia, entre os bardos da terra. Baudelaire e Joyce teriam ficado horrorizados com essas escolhas. Para Baudelaire a palavra mais bonita da língua francesa era hemorroides. Joyce preferia cuspidor que na língua dele também significava escarradeira, mas que, evidentemente, soa mais agradável aos ouvidos , quando pronunciada à irlandesa”

Quando encarei esse tema, neste jornal, nos tempos do Hoje é dia de… argumentei de forma semelhante, porém fui mais longe, sugerindo que as palavras, muitas vezes  se rebelam ao significado que lhes impõem e continuam belas ou feias independente da semântica em que foram inseridas . Em defesa de minha tese  me socorri do definitivo – para mim – postulado do romancista francês  Vítor Hugo: “ As palavras como se sabe são seres vivos” A crônica intitulada ‘Com quem se parecem as palavras’ foi muito solicitada  então pelos leitores tendo inclusive a sua frase final “ A palavra pássaro é um outro pássaro” sido escolhida como epígrafe de um dos poemas do belo livro de Weliton Carvalho lançado este ano   Ócios do ofício. Isso me levou a incluí-la  no meu primeiro livro de crônicas, O ABC bem humorado de São Luis, hoje em terceira edição.

Mas, seria a palavra Bunda efetivamente  merecedora do galardão de a mais bela,   pelas razões citadas?  Lembro de que entre os leitores que me mandaram mensagens na época houve  aqueles que se deixavam levar pela semântica  apontando   Mãe, Coração , Liberdade ou a própria palavra Bonita ( como foi a opinião  do articulista amigo José Neumanne Pinto). Surgiram vocábulos pleiteantes ao título entre aquelas cuja sonoridade se impõe à rejeição natural do que traduzem, como  Holocausto, Lúcifer, Vândalo e Vendaval, como também aquelas nas quais o sentido e a sonoridade se entrecruzam vitoriosos por terem a sua eufonia sintonizadas com a sugestão de seus significados como Aurora, Paraíso, Harmonia, Vitória ou Pássaro. Essas  sairiam como  favoritas numa competição  porque não demandariam  restrições de nenhuma ordem.  

Quanto à palavra Bundas, podem dizer tudo da mesma, menos de que seja feia, independente de não poder ser citada com naturalidade  nos ambientes e nos discursos.

 Assim como uma rosa é uma rosa é uma rosa, uma bunda é uma bunda é uma bunda, possuindo ainda uma adicional peculiaridade vitoriosa. Mesmo não sendo a mais bonita, é sempre bom lembrar que, nesta vida, em qualquer lugar da fila em que alguém se ponha estará, certamente,  atrás de uma.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, agora, chegando às livrarias em terceira edição

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Os diamantes não são eternos

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Todo ser humano almeja a eternidade e comporta-se como se isso fosse possível. Na vida pós-moderna (especialmente após a virada do século) a cultura da ilusão e do apelo ao imediatismo procura excluir a morte da realidade cotidiana mediante a ocultaçãode sua presença  e do que ela representa.

Assim, tudo aquilo que a morte carreia é, propositadamente,tratado com distanciamento e indiferença, e isso se manifesta de variadas formas: No desprezo cada vez maior à velhice ; Na exaltação exacerbada à beleza e a juventude ; Na condolência pelos assassinos (cruéis, mas vivos) ao invés de pelas vítimas (honestas, mas mortas) ; Na falta de afeto pelos doentes terminais, confinados e entubados nos quartos dos hospitais, em vezde no convívio de seus familiares.

Esse comportamento é constatável no artificialismo a que tendem os funerais nas regiões urbanas, onde predomina o distanciamento afetivo, expresso nas conversas em paralelo e expressões de riso e até de alegria, diferentes da solidariedade espontânea que somente ainda se vê nos rincões mais afastados.

 Igualmente, os valores trazidos pela consciência da finitude da vida ficam relegados, cada vez mais, a segundo plano: a humildade, a honestidade, a maturidade e a reflexão  são interpretados como sendo incompatíveis com a agressividade necessária para competir no mundo atual e são desestimuladas pelos livros de autoajuda e pelas palestras de empreendedorismo que proliferam nos ambientes sociais.

Naatual Pandemia, esse comportamento, ao invés de interrompido ou, pelo menos,amenizado pela iminência da morte, ganhou tons mais concretos de efetivação como se a Pandemia o referendasse. As pequenas regras de solidariedade ao ente terminal, como a contrição, a reserva, o luto e a oração foram substituídos por um ‘salve-se quem puder’ muito adequado a quem já dispensaria os esforços de demonstração de pesar durante as exéquias de alguém.

Nada de estranhar que na Europa empresas hajam se especializado em prestar um ‘serviço de eternização’, digamos assim, transformando as cinzas dos mortos em diamantes. A procura desse serviço virou uma mania para quem pode pagar. Claro que a homenagem assim prestadatem valor afetivo, mas cedo reverbera uma verdade que a empobrece, pois induz à reflexão de que o dinheiro podendo comprar tudo, ao não conseguir vender a eternidade,  tenta, pelo menos, permutar seu símbolo. No fundo, não passa de um“Compra-se memória”, quemesmo quando visto pelo lado do negócio, tem um  custo-benefício do tamanho de um engodo. O dinheiro é gasto à toa, porque as mesmas cinzas conservadas em depósito mais humilde, se referenciadas com ternura teriam valor equivalente ou maior.

“Os diamantes são eternos” é um filme antigo de James Bond. Vá lá que isso seja verdade, porém,um ser humano, que em vida é  constituído de corpo e memória,  pode até transformar os restos de seu corpo em diamante, mas nunca em memória. Ao contrário esta terá de ser efetivadadurante a sua vivência como única chance de eternizar-se, findo o corpo.

A evolução tecnológica pode muita coisa, mas jamais conseguirá dourar a memória do que alguém fez ou do que construiu em prol dos homens e da sociedade. O que, por ser accessível ao mais humilde dos homens, é o seu maior diamante,e o único capaz de eternizar-se.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

As mais belas lendas maranhenses em formato de ficção. `Segunda edição à venda nas livrarias.
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