A VERDADEIRA HISTÓRIA DO TEMPO
artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão
Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas
Tem tempo pra tudo neste mundo, menos para falar do tempo, já parou pra pensar sobre isso, leitor? Claro que não, porque o tempo… Bem, o tempo…
Durante muito tempo o homem pensou que conhecia o tempo. Sim, porque em qualquer lugar do mundo lá estava ele, o tempo, o mesmo de sempre, com pequenas variações de humor ( às vezes rindo, às vezes chorando, às vezes queimando, às vezes jorrando tempestades). O mesmo estoicismo de sempre, lavando a mão para as presepadas humanas, nem aí para as nossas reclamações e dramas.
Um belo dia, porém, no século passado, Albert Einstein, um humano um pouquinho mais inteligente que os demais surgiu com a ideia de que o tempo não existe como entendemos, é apenas uma ilusão: o tempo e o espaço são relativos e, no fundo, a mesma coisa. A partir daí tudo embaraçou na cabeça dos homens a ponto de a conversa mais ouvida na atualidade ser justamente “não dá tempo” que traduzida em bom linguajar significa “deixa o tempo pra lá, não dá muito papo pra esse cara, tratemos é de viver.”
Um pouco antes de se chegar a esse ponto (de coexistência não pacífica) ao entender que o tempo o perturbava, o homem teve a ideia de que poderia controla-lo. Nessa ocasião, inventou uma caixa a que denominou relógio e enfiou o tempo lá dentro. Ali, contido e demarcado por uma escala pensou que o tempo estava submetido como um escravo, pronto para servi-lo. ”Brilhante”, pensou o cara que inventou o relógio. “Gênio!” asseverou a plateia “Agora o desgraçado está preso numa gaiola!”.
Mas, qual o quê, o feitiço logo virou contra o feiticeiro e, de repente, o ser humano é que ficou algemado, ao invés de controlar o tempo, ele é que passou a ser controlado pela máquina.
Hoje, depois da virada do século, aí é que nos controla cada vez mais. ‘O tempo urge’, dizemos quando acordamos, mas bem melhor diríamos que o tempo ‘ruge’, isso sim, pois é a mercê de sua vingança que seguimos todos, autômatos definitivos, apressando-nos rumo a lugar nenhum. Essa pressa, a que uns chamam de velocidade, outros de aceleração, faz vibrar algo que bate dentro de nós num ritmo descompassado apenas para cumprir as ordens da caixinha. “Pressão alta”, diz um parente “Pressão alta”, grita a enfermeira “Mais pressa, grita o médico!” e lá vamos nós, céleres em cima de uma maca, sempre cumprindo as ordens do relógio, rumo a UTI e… daí, à morte.
Tornando cada vez mais pertinente uma pergunta crucial: “Afinal de contas, que raios de relação tem o tempo com Deus? São amigos ou inimigos, quem veio antes ou depois?” Porque se o tempo se disfarça de vida para controlar os humanos, Deus parece permitir isso, tanto é assim que o usa costumeiramente para concluir seus desígnios nem sempre previsíveis ou inteligíveis. “Cúmplice de Deus, ou um autor poderoso à sua revelia?” Ninguém jamais saberá, o que se constata é que quanto mais vivemos, graças à tecnologia, menos tempo dispomos, deixando-nos pouca opção a não ser nos agarrarmos à fala religiosa que diz que a ressurreição, ela sim, acaba sendo a suprema vitória, a paz completa, a liberdade, enfim.
Nessa ocasião o tempo, que já era espaço se subjugará em infinito, depois em luz e nos misturaremos com a essência da vida, libertos, afinal, do tempo e seus humores.
E nosso único relógio serão as estrelas.