A VERDADEIRA HISTÓRIA DO TEMPO

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artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão

Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas

 

Tem tempo pra tudo neste mundo, menos para falar do tempo, já parou pra pensar sobre isso, leitor? Claro que não, porque o tempo… Bem, o tempo…

Durante muito tempo o homem pensou que conhecia o tempo. Sim, porque em qualquer lugar do mundo lá estava ele, o tempo, o mesmo de sempre, com pequenas variações de humor ( às vezes rindo, às vezes chorando, às vezes queimando, às vezes jorrando tempestades). O mesmo estoicismo de sempre, lavando a mão para as presepadas humanas, nem aí para as nossas reclamações e dramas.

Um belo dia, porém, no século passado, Albert Einstein, um humano um pouquinho mais inteligente  que os demais surgiu com a ideia de que o tempo não existe como entendemos, é apenas uma ilusão:  o tempo e o espaço são relativos e, no fundo, a mesma coisa. A partir daí tudo embaraçou na cabeça dos homens a ponto de a conversa mais ouvida na atualidade ser  justamente “não dá tempo” que traduzida em bom linguajar significa “deixa o tempo pra lá, não dá muito papo pra esse cara, tratemos é de viver.”

Um pouco antes de se chegar a esse ponto (de coexistência não pacífica) ao entender que o tempo o perturbava, o homem teve a ideia de que poderia controla-lo. Nessa ocasião, inventou uma caixa a que denominou relógio e enfiou o tempo lá dentro. Ali, contido e demarcado por uma escala pensou que o tempo estava submetido como um escravo, pronto para servi-lo. ”Brilhante”,  pensou o cara que inventou o relógio. “Gênio!” asseverou a plateia “Agora o desgraçado está preso numa gaiola!”.

 

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Mas, qual o quê, o feitiço logo virou contra o feiticeiro e, de repente,  o ser humano é que ficou algemado, ao invés de controlar o tempo, ele é que passou a ser controlado pela máquina.

Hoje, depois da virada do século, aí é que nos controla cada vez mais. ‘O tempo urge’, dizemos quando acordamos, mas bem melhor diríamos que o tempo ‘ruge’, isso sim, pois é a mercê de sua vingança  que seguimos todos, autômatos definitivos, apressando-nos rumo a lugar nenhum.  Essa pressa, a que uns chamam de velocidade, outros de aceleração, faz vibrar algo que bate dentro de nós num ritmo descompassado apenas para cumprir as ordens da caixinha. “Pressão alta”,  diz um parente “Pressão alta”, grita a enfermeira “Mais pressa, grita o médico!” e lá vamos nós, céleres em cima de uma maca, sempre cumprindo as ordens do relógio, rumo a UTI e…  daí,  à morte.

Tornando cada vez mais pertinente uma pergunta crucial: “Afinal de contas, que raios de relação  tem o tempo com Deus? São amigos ou inimigos, quem veio antes ou depois?” Porque se o tempo se disfarça de vida para controlar os humanos, Deus parece permitir isso,  tanto é assim que o usa costumeiramente para concluir seus desígnios nem sempre previsíveis ou inteligíveis. “Cúmplice de Deus, ou um autor poderoso à sua revelia?” Ninguém jamais saberá, o que se constata é que quanto mais vivemos, graças à tecnologia, menos tempo dispomos,  deixando-nos pouca opção a não ser nos agarrarmos à fala religiosa  que diz que a ressurreição, ela sim, acaba sendo a suprema vitória, a paz completa, a liberdade, enfim.

Nessa ocasião o tempo, que já era espaço se subjugará em infinito, depois em luz e nos misturaremos com a essência da vida, libertos, afinal, do tempo e seus humores.

E nosso único relógio serão as estrelas.

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POBRE. MAIS PARA DOA DOR, QUE DOADOR.

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artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão

autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

Reportagem recente do Fantástico enfatiza o drama da doação de órgãos: doentes à espera de um doador que não vem. Sem eufemismos, de um morto que não  chega. Nessa ocasião, cessam os orgulhos e as vaidades e todos se igualam. Ricos ou milionários que antes evitavam os pobres agora não se incomodam em misturar seus órgãos com os dos miseráveis, desde que lhes permitam um pouco da saúde que o dinheiro não lhes conseguiu comprar.

“Não há grande homem para seu criado de quarto!”, dizia Napoleão Bonaparte, e a morte corrige essa injustiça: equaliza a todos. Diante do drama surge naturalmente a pergunta: “Por que motivo o débito de doadores aqui no  Brasil é tão grande , justamente um país onde seu povo é tido como cordial e solidário?”

Sem  a pretensão de intuir a causa , ouso sugerir que uma das razões está justamente nas atitudes de ricos, especialmente aqueles que quando egressos da política  ficaram ricos e poderosos sem causa parente. Ao escancararem a ambição que os movem, a ponto de se apossarem do bem coletivo, introduzem a desconfiança no cérebro das eternas vítimas  “Será que meu parente morreu mesmo, ou estarão matando-o para beneficiar os de sempre ?”

Foi por isso que um amigo meu, Juca Polincó  veio com esta: “Pobre não deveria doar nada a rico”. E enfileira uma série de razões para justificar a sua teoria da incompatibilidade de órgãos de pobre em corpo de rico:

 

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Juca Polincó

PÉ. O pé do pobre é pé-de-chinelo, quase sempre um depósito de fungos e bicheiras. Não serve para andar em shoppings  luxuosos, nem participar de celebrações em hotéis de luxo, cruzeiros em transatlânticos, e férias em Dubai. Enfim, um pé desacostumado ao chão onde rico pisa , tropeça em qualquer tapete.  “Pé de pobre pra rico não dá pé!”

SANGUE. O sangue do pobre é sangue de barata, ou seja, sangue que não corre cem por cento nas veias, tanto assim que  aguenta, sem reclamar, tanta injustiça.  Como não há escala diferenciada para medir pulsação de sangue de pobre e de rico, é de se esperar que depois do transplante realizado os aparelhos  alarmem anunciando que a pressão do milionário está baixa, o que será um deus nos acuda.

CORAÇÃO. O coração do pobre é honesto, humilde por obrigação, espontâneo. Uma prova disso é que passa ano sai ano  continua votando nos mesmo políticos que o enganam e roubam. É um coração que não funciona a contento em corpo de rico, que, como todos sabem, precisa  ter o peito fechado para doações e apelos de qualquer natureza. (Recente pesquisa comprovou que os pobres doam mais,  do pouco que têm,  que os ricos,  do muito que possuem).

PELE. A pele de pobre é casca dura de tanto pegar sol, mas nas partes subcutâneas é pele de cordeiro, de animal manso e obediente. Pele de rico é, ao contrário, macia por fora, mas  dura, por dentro: impenetrável e  seca. Imune  a apertos de mãos, abraços, solidariedade etc.

OLHO. O olho de pobre é olho que só aumenta de tamanho depois que morre ou leva susto. Jamais poderia  viver na órbita de um rico que precisa sempre ter olho grande para aumentar cada vez mais o seu quinhão de posses indevidas.

 

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Não vê o olho do Nestor Cerveró? Depois que enriqueceu nem coube mais na órbita original e invadiu o meio do rosto.

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O PRÊMIO QUERIA UM PRÊMIO

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Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas.

(artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão,quinta feira)

  A recente premiação do Nobel de literatura para Bob Dylan, poeta e músico (porém, mais músico que poeta)  indignou muita gente no meio intelectual e provocou um daqueles debates sem solução a que já estamos acostumados, em outros temas. Neste  caso: até que ponto um prêmio de literatura deve ser exclusivo de quem pratica a literatura através da escrita de livros?

 

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Alguns elementos para o debate:

1.Bob Dylan tem tal envergadura como ícone da cultura universal  do final do século passado que não vale a pena esmiuçar sua biografia à cata de referências que o credenciem como artista. É desses talentos que, surgindo raramente, conseguem aglutinar multidões em torno de seu brilho, e conseguem cintilar, mesmo num céu já polvilhado de estrelas.

  1. Seu talento musical, no entanto, é de tal  forma exuberante que limita a compreensão do seu alcance literário e esse parece ser o xis da questão. Como dissociar uma coisa da outra? Se a concessão de um prêmio é, por natureza,  competitiva, deveria ser elementar que todos pudessem disputa-lo em igualdade de condições. Ora, soa como covardia para com os demais poetas do mundo ( que escrevam apenas livros) que um deles possa concorrer  a um prêmio literário à reboque das músicas que canta, e das fascinações que suscitou a partir disso.
  2. Parece oculto a tanta gente que discordou da escolha, o fato de que a literatura sai ganhando com a eleição de Dylan de uma forma sutil, porém mais explícita do que aparenta à primeira vista.  Sim, a velha Literatura sai dos debates irradiando mais uma vez a sua notável abrangência  e sua face universal ( principalmente para os que disso ousam duvidar) de maior de todas as artes.  Só mesmo a Mãe  Literatura, poderia encampar , sob debates, ou não , um divo de outra arte, colocando- o  premiado sim, mas como um refugiado,  sob seu manto.

4.A atribuição do Prêmio de Literatura para Dylan (sendo ele estranho no ninho ) nada tem de  inovadora, inusitada, sequer original. Aqui mesmo, no Brasil, escritores e críticos literários que se escandalizaram  com a escolha do músico, aceitam naturalmente que Chico Buarque de Holanda, por exemplo, seja concorrente a prêmios literários e os vença , sem mérito literário, certamente porque pesa na concessão do prêmio, a densidade de seus títulos  oriundos da música . No caso de Dylan há uma diferença. O norte- americano jamais se propagou  escritor ou poeta, como fez Chico Buarque . Não foi ele quem procurou o Nobel, mas, o vice-versa que aconteceu.

Dito isso, os argumentos contra e a favor de Dylan/Nobel,  se exaustivamente discutidos, apenas escondem  o aspecto mais danoso dessa problemática. Até que ponto hoje se fazem prêmios para…premiar o prêmio? Seja na Suécia, no Brasil ou em Portugal? Quantos dos prêmios imerecidamente ganhos por Chico Buarque, Gabriel Pensador e outros aconteceram apenas por que, hoje em dia, não se fazem mais prêmios para premiar o escritor, mas escolhe-se alguém famoso para engradecer o prêmio?

Neste sentido, o maior dos prêmios, conhecidos, o Nobel apenas se tornou mais uma vítima dessa doença típica da modernidade: a de querer aparecer – como diria o caboclo. E escolheu para isso (maquiavelicamente, diga-se de passagem) alguém acima de qualquer suspeita: o grande Bob Dylan.

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LUDMILA E O NOBEL DE…físico

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Essas e outras notícias comentadas por Juca Polincó, o filósofo politicamente incorreto da Periferia.

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1.Os cientistas David, Duncan e Michael ganharam o prêmio Nobel 2016 de Física há poucos dias investigando o estado exótico da matéria.

Comentário de Juca:

“Imagine o impacto para seus estudos quando virem a foto do rosto de Ludmila após a cirurgia que fez. Agora vão ter que evoluir para estudar a transição da matéria para estados super-exóticos!”

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2.Cláudia Leite disse em programa de tevê que rasgou calça dançando KUDURO

comentário de Juca:

” Bem melhor do que rasgar o KU dançando PDURO , certo, Cláudia? Ou não?”

3. Adolescentes foram transformados em robôzinhos, diz a Polícia que de 130 incendiários , 32 eram adolescentes.

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4. Mulher Melão provou que tem palavra. Na noite da última quinta-feira (13), Renata Frisson, resolveu cumprir a promessa feita aos torcedores rubro negros e postou uma foto como veio ao mundo, em seu perfil no Snapchat. A regra era tirar uma peça pra cada gol.

Comentário de Juca:

“Mulher de palavra ( e de bunda solta ) é essa daí . O problema é que se ela for esperar cada gol  de Leandro Damião e Guerreiro pra  tirar uma peça , vai morrer de bunda frustrada por não poder exibi-la. Será que, como dizem os rivais palmeirenses, vai precisar pedir ajuda da Rede Globo pro Flamengo fazer gol e ela poder mostrar a bunda?”

 

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AQUI SE FALA É ASSIM

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artigo publicado quinta-feira no jornal O estadodo Maranhão

Jose Ewerton Neto, autor de O ABC bem humorado de São Luís

 

Aqui se fala assim. Ou se falava? Dia virá ( e não falta muito) em que do Oiapoque ao Chuí só haverá uma fala, sem a riqueza idiomática peculiar a cada região do país.  E essa fala será em uníssono, repetição das asneiras que se repetem na Tevê: no maneirismo dos apresentadores, nos tiques das celebridades das novelas, uma coisa só.

Bem, o que ainda se fala por aqui estará na reedição de O ABC bem humorado de São Luís, ainda  uma vez explorando sua provável origem risível.

BICA. Torneira.

O maranhense chama torneira de bica porque num estado com tanta abundância de água de chuva, o fato de as torneiras viverem secas só tem uma explicação. Para muita gente, o negócio de água virou bico.

PEGADOR. Brincadeira de esconde-esconde. Originalmente, de crianças.

A brincadeira adquiriu esse nome por aqui porque o garoto, futuro ‘pegador’, começa sua futura vocação de Don Juan se escondendo com as meninas, sabe-se lá onde.

JUÇARA. Açaí

O maranhense chama açaí de juçara porque lembra uma crioula com esse nome, suculenta, gostosa e que vai lhe dar muita força e algo mais.

ATRACA. Diadema ou tiara.

O que lá fora é chamado de diadema ou tiara ganhou por aqui o nome de atraca, porque, antigamente,  os marinheiros quando aportavam no Desterro  doavam tiaras para as meninas da Rua 28, (zona do baixo meretrício) com o objetivo, pré-anunciado, de atracá-las.

RI-RI. Fecho éclair, zíper.

O maranhense chama zíper de ri-ri porque, via de  regra, quando ele abre o de sua parceira e ri de felicidade. Depois é a vez de ela rir, quando abre, por sua vez,  o dele.

BANHAR. Tomar banho.

O maranhense diz banhar ao invés de tomar banho porque, ao contrário dos que aqui chegaram tentando impor a fala “tomar banho”, não está tomando o banho de ninguém, aqui chove o suficiente, não há razão para isso.

BALDIAR. Vomitar

O maranhense diz baldiar ao invés de vomitar porque no carnaval de antigamente ( quando o daqui era o terceiro do Brasil) ao chegar na quarta-feira de cinzas estava tão bêbado que na hora de vomitar confundia o penico com um balde.

PEGAR CORDA. Ficar zangado.

O maranhense , quando está zangado diz até hoje que está pegando corda porque na época da escravidão quando o feitor se zangava , bastava ameaçar os escravos: “Já tô pegando a corda!”

DIZENDO. Algo está ‘Dizendo’, quando dá uma impressão muito positiva.

O maranhense julga que uma coisa espetacular está dizendo por que certas bocas gostosas  (mudas e não oficiais, de sua parceira ) no seu entender, só faltam falar, e dizem mais que se pudessem.

CINTURÃO. Cinto grande.

O maranhense chama cinto de cinturão porque quando as crianças apanhavam de cinto,  a dor era tanta que viam tudo no aumentativo. Não parecia cinto, mas um cinturão.

HEIN-HEIN. Concordância, negação. Fala-se com a voz anasalada.

Essa expressão típica maranhense tanto pode significar sim como não. Até hoje, as grandes decisões administrativas maranhenses são tomadas desse jeito. Daí…  nosso  caos organizacional .  Antigamente, durante o casamento,  tanto o noivo como a futura esposa diziam Hein Hein, ao invés de sim ou não, quando o padre perguntava. Acontece que ao sair logo depois, atrás da virgindade da esposa,  o marido, atônito perguntava “Hein? Onde?” Ela respondia Hein, Hein, confirmando que havia acabado de surgir um corno novo na praça .

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FRASE BESTA

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Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas

 

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De vez em quando, alguém que pretende se colocar num patamar superior,  de onde possa contemplar abaixo pessoas, a seu ver, carentes de atributos físicos, comenta: “Que me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental”.

E para isso se socorre dessa  frase,  do poeta Vinícius de Moraes que, de tão repetida, virou clichê, sem se dar conta de que, ao pronunciá-la, se torna tristemente feio (dessa feiura que se apropria daquele  que  não sabe o que diz), fazendo  com que outro alguém, atentando à sua figura , constate  estar diante de um paradoxo: “Como um sujeito feio desses tem a coragem de criticar as mulheres feias?”.

Neste ponto cessa a incoerência para imporem-se a pretensão e o oportunismo. O repetidor  ‘aluga’  o talento de Vinícius de Moraes para doar-se a aura de sapiência e infalibilidade, justificando-se, nas entrelinhas : “Não sou eu quem estou achincalhando uma grande parte das mulheres, mas o poeta. As feias que me perdoem”.

Como se um grande artista, como Vinícius de Moraes,  não pudesse criar uma frase, no caso um verso,  indigno de si, caso tenha se referido apenas ao aspecto físico.  No plano  sentimental a expressão não faz jus, sequer,  à sua fama de mulherengo e apreciador de mulheres . Isto porque um grande amante e conquistador (leiam livros que esclareçam  a psique do Don Juan, especialmente o romance Casanova de Andrew Miller) ama todas as mulheres e não apenas uma. A mulher que um homem galante privilegia  tem na beleza física apenas um detalhe,  porque ela é a representação de todo o  gênero feminino em uma só. Esse é o seu dom. Não há na boca do verdadeiro conquistador  palavras de desprezo a  um determinado contingente das mulheres, só elogios.

Se no plano sentimental é frase é infeliz, no plano poético é mais ainda, porque “O que é mesmo a beleza?” A interpretação corrente é a de que o poeta  estivesse se referindo ao aspecto físico,  então porque teria usado o termo beleza  de forma tão limitadora?

E, depois, o que o credenciava a falar das mulheres com tal autoridade? Em que medida as mulheres do mundo, supostamente desprovidas de encanto,  foram atingidas por seu insulto a ponto de ser necessário pedir perdão ? Não sendo isso suficiente, há de se acrescentar ao ato falho  mais um ingrediente : a arrogância, já que no conteúdo da frase há um desprezo machista à todas mulheres, não somente às feias (que só as muito ingênuas não conseguem alcançar).

 

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Justamente porque a beleza é esse dom praticamente indefinível que não está ao alcance da interpretação de qualquer um. Que existe de mais belo do que as  mulheres de rostos ovalados e com os olhos vazados do pintor  Modigliani? E, no entanto, para o entendimento de muita gente são expressões de feiura  e não de beleza. Evidente que Vinícius de Moraes, um grande poeta,  devia saber disso. Presumir o contrário seria desqualifica-lo como homem sensível e como um apreciador do sexo feminino.

Falha pior que a do  poeta,  no entanto, cometem aqueles que,  sequer tendo a preocupação de serem originais,  repetem a frase  à exaustão, tornando-se cada vez mais parecidos com o que vivem repetindo: uma grande besteira!

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FELICIDADE OU MORTE!

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Jose Ewerton Neto, autor de O ABC bem humorado de São Luís

 

Felicidade ou morte é o título de um dos livros da lista brasileira de best-sellers de autoajuda. Portanto, caro leitor, seja feliz ou morra, mas, se preferir,  compre depressa o livro e saia por aí dizendo que é feliz. Caso se sinta longe disso, minta que é feliz, grite que é feliz, jure que é feliz. Ou isso ou a morte. Qual dos dois você prefere? Claro que não é a morte, não?

 

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Mas, pera aí. Pense, por alguns segundos, que Suzana Vieira se diz feliz, Galvão Bueno também, e Renan Calheiros, e Nicolás Maduro, e Donald Trump.  Hum…E aí? Tem mesmo certeza de que vale a pena ser feliz? Enquanto isso:

Fomos encontrar a Felicidade. Ela própria. Soubemos que está depressiva e fomos saber o que ela pensa a respeito de mais um livro sobre si. Estava pronta para desabafar.

– Não aguento mais.

            – O quê, precisamente, Dona Felicidade?

            – Tanta gente obsessiva atrás de mim. Tanta procura,  tanta adulação, tanta loucura. Tanta gente que diz que me possui. E, pior, sequer sabem o que sou e quem eu sou.

            – E quem você é?

            – Isso é o que eu gostaria de saber. Todos tentam me explicar: filósofos, médicos, escritores, psicólogos, cientistas… Séculos e séculos dedicados a isso, em vão. Só palavreados pra lá e pra cá. Se felicidade é isso que todo mundo pensa que eu sou, desconfio de que nunca fui feliz e nunca vou ser.

            – Se a sra. me permite, estamos diante de mais um problema de identidade. Isso costuma ser grave nas pessoas sensíveis como a senhora.

            – Se fosse apenas isso… A questão é que, mesmo sem saber quem sou me procuram como se eu fosse a chave da salvação para tudo e todos. De repente, me julgam capaz de resolver todos os problemas do mundo.   Ora, eu não sou Deus! Não posso livrar alguém de suas muitas mortes. Definitivamente, não sirvo pra isso.

            – Muitas mortes!? Julgo que estou entendendo a senhora. Não há só uma morte, mas várias, e cada  ser humano é senhor das suas, desde que as enfrente. No entanto,  transferem todas as suas mortes para a senhora. Tanta carga lhe fez sobrevir o estresse, não foi?

            – Estou pra ficar louca com tudo isso!

            -Poxa, dona Felicidade! Como chegaram a tanto, como isso foi possível? Vejo-a extenuada, cansada, pressionada por tanta incompreensão. Não sei o que dizer… Talvez… Bem, só me resta sugerir…

            – O quê, pelo amor de Deus!

            – A sra. deveria procurar um analista, Dona Felicidade. Claro, nem todos se dão bem, mas para muitos funciona. .

            – Jamais! Conheço-os muito bem: eles me usam de forma imprópria, como remédio para seus doentes. Dizem: “procurem  dona Felicidade, ela resolverá seus problemas”. Ora, como um remédio pode procurar  a si como remédio?

            – A sra. tem razão, desculpe minha insensatez. É que me causa amargura lhe ver assim, infeliz. Queria muito que a sra. continuasse feliz. Para bem da vida humana, pelo menos. Senão…

            – E quem lhe disse que me incomoda ser infeliz? E por que a morte me assustaria? Acredite, com tanta gente falando asneira a meu respeito, dia e noite, até que gostaria de ser infeliz, só para que me deixassem em paz, compreende? Estou prestes a adotar um lema: Infelicidade ou morte!

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Ronaldo + (Brad Pitt – Angelina) = ?

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AS MELHORES NOTÍCIAS DA SEMANA

comentadas por Juca Polincó ( o filósofo politicamente incorreto da periferia ).

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1.Anunciada a separação de Angelina Jolie e Brad Pitt

Comentário de Juca: ” E agora, o que vai ser da minha fantasia sexual? , sem os dois?”

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2.Depois que Alexandre Borges imitou Ronaldo, o Fenômeno e foi pego com dois travestis , num vídeo que bombou  na Internet, a Globo vai retirá-lo das novelas por um tempo para poder ‘descansar” a imagem.

Comentário de Juca:

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3.Cantor de forró chamado Jonas Esticado faz muito sucesso no interior do nordeste e pretende fazer sucesso nacionalmente.

Comentário de Juca:

“Esticado esse rapaz,né? Mais esticado do que ele só…”

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Até a próxima semana.

Ass. Juca

 

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DE VOLTA A BEN-HUR, o filme

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Tivesse eu que apontar 3 filmes marcantes em diferentes fases de minha vida eu escolheria sem pestanejar: Ben-Hur na minha infância; Dr. Jivago na adolescência e A primeira noite de tranquilidade na maturidade. (Maturidade, como se sabe, é aquele breve intervalo de vida que sobra, após a eternidade da juventude).

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Ben-Hur e Dr. Jivago foram filmes premiados com vários oscars. A primeira noite de tranquilidade, sequer pertence aos cânones dos críticos de cinema. As razões de minha escolha fogem à objetividade da análise dos entendidos em cinema e prendem-se às sensações que os cristalizaram em minha memória  por diferentes motivos. Isso é assunto para outra crônica, mas que outras sensações, além das existentes somente na infância, são capazes de perpetuarem-se a partir de um êxtase?

Ben-Hur não representou para a minha formação infantil apenas um filme assistido e admirado, porém uma descoberta. O glorioso impacto deu-se quando descortinei,  à vista daquela tela, cenas memoráveis quase ao alcance da mão. Lembro-me de que então, de férias em São Luís, vindo de Guimarães onde morava, minha tia Rosa Ewerton, que era professora, me levou ao cine Éden, onde Ben-Hur permanecia em cartaz. A fita teve uma duração longa e ela, ou porque não tivesse se prevenido ou porque não contasse com minha reação de não arredar o pé de frente da tela, acabou chegando atrasada à sua aula.

Além do filme, havia mais: um álbum de figurinhas onde se reproduziam cenas do filme e que eu passei a colecionar,  e a colar com afinco , tornando possível sedimentar ainda mais o entusiasmo alcançado. Agora sim, eu tinha à minha mercê para contemplação a hora em que bem entendesse, a disputa entre o bem e o mal  travada entre dois heróis em que, surpreendentemente, nenhum parecia monstro ou bandido:  Ben Hur e Messala;   a corrida de bigas, o sofrimento nas galés, a sorte, a esperança , a transcendência, a generosidade, o medo, o abraço, o milagre.

Quando vi há duas semanas nas páginas de Veja o anúncio do filme, descobri, a seguir, que já estava em cartaz nos cinemas da cidade. Hesitei em me decidir a vê-lo, com receio de macular todo o encanto que um dia sentira, embora, no fundo, eu soubesse que iria. Existe um jorro  incontrolável que nos leva de roldão ao encontro do que nos magnetizou um dia, sem que possamos recuar.

Claro, não assisti o mesmo Ben-Hur, nem senti igual  deslumbramento , mas fiquei deveras recompensado. Para ali não fora com o propósito de analisar um filme ou de comparar uma versão à outra. Fui com a missão concedida a mim mesmo de rever a emoção que um dia senti, para dizer: “estou eu aqui de volta, sei que você não é o mesmo, mas vim agradecer pelo prazer que um dia me foi proporcionado ”.

De forma que se alguém,  que assistiu ao Ben-Hur da época, pedir-me um aconselhamento sobre se deveria ir, eu responderei : Vá. Idem para quem não tenha assistido a primeira versão. Não sei se o Ben-Hur 2016 é tão perfeito, grandioso e épico como o primeiro, seguramente não é. Mas, diria que isso não interessa e que o espectador terá diante de si, mais uma vez,  uma narrativa mágica e envolvente. E, com certeza, mais importante de que uma análise cinematográfica, é  encontrar-se diante de uma bela história, com todas as emoções que ela traz.

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QUALIRA, E OUTRAS PÉROLAS

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A seguir, mais pérolas do linguajar maranhense a serem inseridas, este ano,  na próxima edição de O ABC bem-humorado de São Luís, escolhidas segundo o potencial de sátira que norteou a primeira edição.

1.COCHICHOLO. Pequena casa, casinhola.

No Maranhão 3 cochicholos + uma rua e + um quebra-molas, são suficientes para improvisar  um 4º cochicholo ,  a partir de então denominado de Prefeitura Municipal,  com um espertalhão enfiado lá dentro.

2.COURO. Mulher velha e feia.

Mais uma dos machões empedernidos da Terra . Para justificar que não davam no couro, os homens passaram a apelidar suas pobres mulheres de couros. Couro neles!

3.DANISCA. Mulher de mau gênio, resmungona e birrenta.

Ex. “O Brasil levou tanto tempo para ter uma presidente do sexo feminino, chamada Dilma, só para se descobrir que no Maranhão há um nome mais  apropriado para ela: Danisca.

4.DERRESSOL. Doce feito de mel de cana e coco  ralado.

Nada a ver com sol. Originou-se no tempo do  réis. Os meninos  saiam e a maior parte deles se dirigia à venda para comprar “de-réis-só”

5.DISGROTA. Infortúnio, desgraça.

Como bem disse Dante na sua Divina Comédia: “Não há pior disgrota na vida do que recordar os tempos áureos da juventude, na velhice.”

6.DORDOLHO. Nome popular de conjuntivite.

Auto-explicativo: dor de olho fica bem mais inteligível. Esse negócio de conjuntivite parece mais Conjunto de Vinte. Ou de vítimas.

7.EGUAGEM. Sutileza, manha.

 

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A palavra égua serve pra tudo no Maranhão, até para elogiar políticos safados.  Mas, por que será então que “Pai D’Égua” é elogio, e “Filho de égua” é insulto?  Dizem que é porque ao invés do avô pai d’égua que está pra morrer, os filhos de égua têm mais tempo para serem insultados.

  1. PRAGA. Mosquito.

Denominação dos maranhenses aos mosquitos. Já houve registros de maranhenses em visita ao Sul do Brasil que levaram  tapa na cara por perguntarem à vendedoras feias  se elas tinham remédio pra praga.

9.QUALIRA. Gay, veado, baitola.

O Wikipédia jura de pés juntos que o nome artístico de qualira nasceu porque houve em tempos idos um bloco de carnaval em que se destacava um rapaz efeminado que tocava uma lira ( instrumento de cordas dedilháveis de larga difusão na antiguidade) Então a plateia dizia: “Lá vem ele com a Lira”. A Frase foi diminuindo até chegar a “com a lira” e, daí a qualira.

Sugere-se que a coisa foi um tanto diferente e que houve também, nos tempos do império um português abastado que morava em São Luis chamado Lira, e que  tentava desesperadamente  cumprir seus dons masculinos diante de uma mulher portuguesa muito fogosa. A mulher, diante de suas tentativas vãs gritava pra quem quisesse ouvir “ Qual,  Lira, não vai adiantar!” De tanto Quál Lira!,  no ouvido Lira acabou virando qualira acompanhado, hoje, por uma uma pá de assemelhados bem maior do que o estádio do Castelão.

10.REGADA. Linha de intercessão das nádegas.

Essa linha, que faz parte do imaginário masculino e não tem vida real, às vezes é substituída por um artifício que as mulheres usam, denominado fio dental. E que tem vida real menor ainda.

11.SORONHO. Cigarro feito de maconha.

Teria se originado da expressão muito usada pelos praticantes. “Melhor que isso, só em sonho!” Deu em Soronho.

12.SOBROSSO. Susto, medo.

Teria se originado da expressão: “Tremia tanto que a carne fugiu e só sobrou o osso”. Daí, o sobrosso.

 

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