BELEZA E PERSONAGEM

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

Existiria uma personagem da literatura mais  bela  que todas as outras? Seria possível compará-las?

Woody Allen, o cineasta e comediante norte americano, usou da ironia para dizer que a grande vantagem da masturbação é que ela permite fazer amor com quem você quiser.  Parodiando-o, sem ironia,  poderíamos dizer que a grande vantagem da literatura é que ela permite colocar em sua heroína a beleza que você quiser. Mas, como comparar a beleza (física) das personagens se a personagem descrita pelo romancista está à espera da fisionomia que você vai colocar na mesma?

Sendo impossível responder objetivamente, posso dizer que todas as personagens dos romances que li têm a beleza que imaginei para cada uma delas, o que me permite, com certa ousadia, compará-las.

Lembro   Catarina Earnshaw de  O Morro dos ventos uivantes . Bela, desde criança, mas não sei se sua beleza, meio bucólica, sobreviveria longe dos ventos uivantes dos morros a açoitar seus cabelos. Parece-me que perdeu um tanto de sua beleza depois que abandonou a charneca e, na minha imaginação, já não era tão bela quando morreu nos braços do cigano que amou. E Capitu, a célebre adúltera de Machado de Assis, de olhos de ressaca, “parecendo uma epilepsia do mar”? Será que era bonita de verdade? Penso que para trair um sujeito inseguro como Bentinho uma mulher sequer precisaria ser bonita. Enfim, cada Dom Casmurro tem o chifre que merece independente da beleza da parceira. E Ana Karenina?

 

Devia ser bela sim, mas possivelmente um tanto gorda para os padrões atuais. Instável e atormentada, morreu debaixo de um trem,  e mulheres lindas a perder de vista  não se perdem debaixo de um trem. Madame Bovary, por sua vez,   imagino parecida com a russa,  e não apenas na busca do adultério como redenção de vida . É provável  que Ana Karenina  fosse até mais bonita que Ema Bovary, mas a dama criada por Flaubert tinha um tom a mais de sensualidade , o que a fazia mais desejável.

Iracema  de José Alencar, teve a beleza inflada pelos adjetivos de seu exagerado autor , tal e qual as mulheres de hoje  inflam com botox suas pobres belezas. ‘A virgem dos lábios de mel que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna’ devia ser  buchudinha e ter dentes cariados, de pouco trato. Por sua vez a Mildred de Servidão Humana, de Somerset Maugham, podia ser feia, vulgar e burra, mas extraía de sua postura inacessível ao romantismo  um poder de sedução tão avassalador que sua beleza se instalava para além de sua mediocridade.

Curiosamente, heroínas apenas imaginadas podem tornar-se  mais bonitas quando se tornam palpáveis via atores que as representam. Lembro-me de Lara do romance Doutor Jivago que se corporificou, através de Julie Christie, uma beleza ao mesmo tempo poética  e selvagem. Ela teria tudo para ser a heroína mais bela das versões cinematográficas de livros se…

 

 

 

Se não existisse Sofia Loren em Duas mulheres (La ciociara), de Alberto Morávia. Já havia apreciado o romance quando vi o filme anos  depois. Nele surgiu, para mim,  a personagem mais bela da literatura por estar associada ao rosto dessa atriz, que ganhou o Oscar por sua interpretação. E Sofia Loren tinha, certamente, um rosto mais bonito do que qualquer imaginação seria capaz de criar.

José Ewerton Neto é autor de

O entrevistador de lendas

 

 

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LOUCOS OU FURIOSOS?

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artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão

 

Mais uma para os violentos dias que correm: As Salas de Fúria! Isso mesmo, nelas se paga para exercitar a fúria, demolindo objetos e quebrando tudo. Como diz a reportagem semanal da revista Veja a novidade, que está invadindo as grandes cidades, faz com que o cidadão se divirta com o seu próprio instinto assassino, precavendo-se de mal maior e avassalador.

Simultaneamente, recente pesquisa de uma revista científica listou mais de vinte tipos de loucura, que ninguém fazia a mínima ideia de que existiam. Ou seja, se você anda desconfiado de que está ficando louco, fique calmo, espere alguém implantar uma sala de fúria perto de sua casa e corra para ela. Com sorte você ficará contente por não ter chegado ainda a furioso, mas tão somente  a louco. Seguem 3 exemplos das loucuras  que alguém tem por aí e você não sabia

1.Síndrome de Alice no país das maravilhas.     

De acordo com o Neurology Times, a patologia dessa síndrome da vida real afeta cerca de 10% a 20% da população e altera a percepção que o paciente tem do espaço e dos objetos ao redor. Por exemplo, quem sofre dessa síndrome pode ter uma sensação temporária de distorção da noção do espaço,

Um exemplo típico dessa síndrome é a que ataca Galvão Bueno toda vez que ele se põe a narrar jogos, quando  perde completamente a noção do ambiente e do que está vendo. Quando o Flamengo (time para que torce) ou a Seleção ( de quem se finge adorador)  fazem gols, seu berro dura vinte vezes mais do que para o time adversário, como aconteceu na final da Copa Brasil. Ou ainda quando se recusa a aceitar o gol do time que não tem sua simpatia ,  como aconteceu nos pênaltis cobrados pelo Cruzeiro , ao insinuar que o último gol foi irregular.

2.Síndrome da mão alienígena.

 

 

 

A Síndrome da Mão Alienígena, ou da Mão Alheia, é realmente, um transtorno humano. De fato, uma reportagem da BBC de 2011 detalha o caso bizarro de uma mulher que foi espancada por sua própria mão. Embora possa parecer uma abdução sobrenatural, essa luta de poder se origina dentro do cérebro  do paciente.

Os advogados  de  Aécio Neves e Geddel estão preparando nova apelação alegando que ambos seriam  doentes e portadores dessa síndrome da mão alienígena.  Só  assim deixariam de ser responsáveis pelo que suas mãos fizeram na hora de pegarem as malas de dinheiro. Obviamente, estão contando que a decisão dessa apelação caia nas mãos de  Gilmar Mendes.

3.Delírio de Capgras.

Imagine acordar e perceber que um impostor substituiu seu cônjuge. Essa é a realidade do Delírio de Capgras, um transtorno psiquiátrico ou neurológico raro, mas real. Pacientes com Capgras podem não apresentar outras questões cognitivas, mas estão convencidos de que aqueles que os rodeiam, inclusive familiares, amigos e até animais de estimação, são impostores.

Dizem que Marcela Temer está com esse problema e que passou a desconfiar  de que Temer não  é Temer. Ela jura que o presidente, depois de tantas acusações,  começou  a agir estranhamente  e a dizer coisas esquisitas, inclusive na hora do sexo,  do tipo “Marcela, não finja tão alto assim , isso pode estar sendo gravado!”

Marcela teria procurado em médico especialista que lhe convenceu de que, por enquanto, não há o que  temer ( ou Temer?) . Se houvesse um impostor no lugar do seu marido jamais seria tão bom farsante quanto o original.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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OS FILMES DA MINHA VIDA

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Quinta feira passada, na sede da AML,  o cineasta e escritor, Joaquim Haickel  palestrava sobre o tema Literatura/Cinema para estudantes do Curso de Letras do colégio Pitágoras, quando, após exibir uma preciosa lista de seus filmes preferidos , devolveu a pergunta à plateia. Boa parte desta se manifestou, até que fui instado pelo palestrante a me pronunciar.

A pergunta   não foi difícil responder até porque já havia escrito , no passado, a respeito. Apenas, não me referi ao melhor filme, tecnicamente falando ( mesmo porque me faltam requisitos para tais), mas, sim, aos que mais me marcaram, em diferentes épocas de minha vida.

1.Na infância, Ben-Hur

Difícil descrever o deslumbramento propiciado por esse filme a uma criança do interior (morava em Guimarães) em visita de férias a São Luís. Recordo perfeitamente que, extasiado com o eu via na tela do cine Éden, levado pela minha tia Rosa Ewerton nem percebi que ela se incomodava com o a exibição longa do filme. Ela sugeriu que voltássemos outro dia, mas a criança teimosa e atrevidamente recusou-se, nesse que foi talvez o meu primeiro grito de independência, proporcionado pelo cinema. Pelo cinema, e claro, pela paciência afetuosa de minha saudosa tia.

O segundo capítulo da história foi adquirir um álbum de figurinhas do filme, cujos cromos reproduziam as cenas reverberadas para sempre pela crônica cinematográfica: a corrida de bigas, a guerra nas galés, etc.

 

 

 

2.Na adolescência, Doutor Jivago.

O Doutor Jivago, não foi só um filme monumental,  como os filmes épicos vencedores de Oscars. Havia alguns ingredientes que o distinguiam. A belíssima música de fundo O Tema de Lara que conseguiu a proeza de ser tão executada depois nas rádios quanto as músicas dos Beatles.  A fotografia do ambiente das planícies gélidas da União Soviética, como um personagem à parte, aderidos à beleza selvagem de Julie Christie (Lara), uniam poesia, romance e o drama intenso de uma época revolucionária. Lembro, em especial, da cena em que a plebeia Lara invade, pobremente vestida, um salão de festa da nobreza russa para matar um homem rico que a degradava e prostituía. Após cometer o crime, Lara percorreu o ambiente com uma dignidade intocável que aviltava a pretensa nobreza dos presentes. Jamais uns olhos verdes de tão intensa suavidade serviram de contraponto,  tão bem no cinema, ao desespero de uma mulher com sua sexualidade ultrajada.

 

 

 

3.Na idade adulta, A primeira noite de Tranquilidade.

Desses filmes dos quais não se tem informações e só se entra no cinema porque a noite está tranquila até demais, ou melhor, entediante. Referências, apenas a do ator principal, Alain Delon que não era, necessariamente, a garantia de um grande  atuação. Filme que se revelou, porém, marcante em quase tudo, até mesmo na atriz desconhecida de semblante tão expressivo como a frase que foi dita a respeito do personagem que interpretava “Muito presente, pouco passado, nenhum futuro”, que pareceu se aplicar depois à jovem atriz. Um filme denso, pungente, melancólico, sobre dramas típicos de um casal em dissolução, tendo como personagens principais um professor inteligente e poético e a juventude sem rumo. Segundo Rubens Edwald Filho, Alain Delon com sua soberba atuação, desfez definitivamente a impressão de ter sido apenas um rosto bonito.

Ah, sim, a primeira noite de tranquilidade era a morte.

 

José Ewerton Neto é autor de O oficio de matar suicidas

 

 

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AÇAÍ OU JUSSARA?

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O  MARANHÃO E O PARÁ

 

Maranhão e Pará. De vez em quando surgem,  no meio político-administrativo,  ideias de dividirem os dois estados, o que certamente será uma lástima. Este artigo é só para lembrar que estes, embora separados hoje, comungam de tanta coisa junta  que , às vezes parece que continuam um só como foram, aliás, no princípio.

Eles ( os paraenses) têm um pai com nome de um time, Paissandu. Nós ( os maranhenses) temos um time com nome de pai, Sampaio Correia. Eles têm um que anda de barco, o Clube do Remo. Nós temos um que anda de moto, Moto Clube. Eles jogam debaixo de uma mangueira, o Mangueirão, nós dentro de um castelo, o Castelão. Verdade que eles já disputaram a primeira  e nós nunca chegamos lá, mas será que isso faz diferença, mesmo? O Sampaio, por  exemplo, já foi campeão da quarta, da terceira e da segunda, o que mostra que a primeira é uma questão de tempo. Em compensação, se eles deram Sócrates, o Maranhão deu Canhoteiro. E Canhoteiro foi melhor. Pergunte a Djalma Santos,  aquele lateral campeão de 58 e 62,  que dele levava baile e foi o melhor lateral de  uma Copa por um jogo só. Eles ganham na pontualidade da chuva, nós na do sol. Eles ganham na umidade, nós no vento. Eles dizem que as mulheres daqui são quentes, nós dizemos que as de lá são acesas. Ambos devem ter razão.

 

 

Eles  tem Banda Calypso. Nós temos Zeca Baleiro. Eles têm Fafá de Belém, nós temos Chico e Rogério – do Maranhão. O povo de lá gosta de brega aforrozado, nós gostamos de forró abregalhado. Eles tem Carimbó, nós temos o Bumba-Boi. Eles tem  Amado Batista, nós Alcione. Eles  tem pato no tucupi, nós temos arroz de cuxá. Eles  tem praias de água doce, nós de água salgada. Eles tem o mercado de Ver-o-peso, nós temos um onde não se vê o peso. Eles  tem a festa do Círio, nós temos a de São José de Ribamar. Eles têm índios diversos, nós temos índios de versos ( ou Gonçalves Dias não era índio?).  Por falar nisso em literatura nós damos de 7 a 1 ( não se diz mais dez a zero) com um time da pesada: Aluízio Azevedo, Gonçalves Dias, Sousândrade , Josué Montello etc. etc. Enquanto isso, por lá,  Dalcídio Jurandir, Benedito Nunes e…Melhor parar por aqui.   Já foi dito num jornal ( O Pasquim dos áureos tempos) que cada 10 maranhenses juntos formavam  uma academia de letras, assim como 10 paraenses juntos formam uma feira, onde  5 vendem tacacá, maniçoba e castanha –do-pará , 4 compram e um fica esperando a sobra na cuia. Eles gostam de música das Guianas, nós gostamos de música da Jamaica. Eles o zouk, nós o reggae. Eles tem o maior rio do mundo, o Amazonas. Nós temos o lugar onde mais sobe a crista da onda na América do Sul,  ou  seja, eles ganham no comprimento, nós na altura. Nós temos cupuaçu, eles também, nós temos jacama, eles craviola, nós temos juçara , eles açaí. No fundo – e na barriga – é a mesma coisa, mas os nomes daqui são mais bonitos, não?

Se eles têm a lenda da Cobra-Grande nós temos a da Serpente Encantada. Para  tempos -modernos, se nós temos  bombando na net o Pablo Vittar eles têm a Gaby Amarantos, que canta tão bem que  é bom não E Vitar.

Parece que deu empate. E ainda sobra pra ficar debaixo do boi. De Morros ou do Caprichoso. Sendo assim, para bem de todos e felicidade geral da nação Maranhão x Pará diga ao povo que ficamos por aqui.

 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

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O LINGUAJAR MARANHENSE (e nossas lendas)

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https://www.youtube.com/watch?v=YMRRhkMjt2c

ENTREVISTA AO PROGRAMA AVESSO COM AMÉRICO AZEVEDO NETO EM QUE ME REFIRO Á PRODUÇÃO DE LIVROS SOBRE TEMAS MARANHENSES.

O ABC BEM HUMORADO DE SÃO LUIS, nova edição prevista para este ano

 

e

O ENTREVISTADOR DE LENDAS, ficção científica em que as Lendas Maranhenses falam a respeito de si mesmas

 

 

 

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O PERIGO QUE RONDA TITE

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

Primeiro o trabalho bem sucedido. O reconhecimento. O convite para a seleção brasileira. Vitórias. Celebrações. A partir daí,  podem surgir a santificação e o endeusamento. E é aí que mora o perigo.

Isso aconteceu antes. Com Luís Scolari, o Felipão. A  sequencia acima acontece graças a méritos pessoais, um tanto de sorte e craques excepcionais, quase sempre.  (O futebol, diga-se de passagem, não é uma ciência assim tão difícil  de entender,  como pretendem   os comentaristas de futebol e os técnicos que ganham a vida com isso).

Nem todos os técnicos se mantêm, contudo, vigilantes.  Convivem com a mentira criada  em torno de si mesmos  fomentada  pelos formadores de opinião ,   e daí surgem a  arrogância, a empáfia e a boçalidade. Foi o que aconteceu com Felipão e o resultado foi  o 7 a 1.

Tite, hoje tão elogiado e exaltado, encontra-se na fase da celebração, véspera do endeusamento. Ainda não foi santificado. Por enquanto ainda não. Galvão Bueno, o  porta voz da Nação para endeusamento dos ídolos de futebol, ainda não o proclamou como tal. Deve estar aguardando a Copa.

Sim, porque Galvão Bueno é o arauto nacional para questões de idolatria.  E ele tem esse poder: o de supervalorizar jogadores e técnicos,  poder este que lhe foi concedido pela estrutura de transmissão de jogos da seleção, pela publicidade e pela propaganda. Foi ele o principal  porta voz da onda irracional que promoveu o endeusamento de Felipão, alçando-o de técnico medíocre a gênio do futebol. Ele é especialista nisso, na proeza de  usar seu  patriotismo de araque para seduzir plateias. Samuel Johnson dizia que “O Patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. A frase tornou-se  a cara ( e os arroubos) de Galvão Bueno.

Tite não corre o mesmo perigo, pelo menos quanto à  arrogância.  Ao invés, usa sua fala mansa e repleta de clichês para seduzir seus jogadores. Se ainda não foi contaminado pelo veneno da arrogância  anda se deslumbrado, porém,  com uma certa mosca azul: a do oportunismo. E é aí que mora o perigo.

 

 

Desde o começo Tite privilegiou a convocação de jogadores de seu ex time O Corinthians, não por critérios técnicos , mas, aparentemente,  por simpatia pessoal e amizade. Muitos viram oportunismo e safadeza nisso: ao invés de critérios técnicos Tite estabeleceu uma meritocracia, baseada no oportunismo, para agradar as maiores  torcidas do país, obviamente as que detêm a maioria de formadores de opinião entre os jornalistas. Tite foi capaz de convocar para o gol do Brasil o goleiro Muralha, do Flamengo, um jogador que a própria torcida do Flamengo abomina.

Essa falha foi eclipsada pelos bons resultados.  Mas eis que Tite na última convocação exibiu a mesma sanha “oportunista” – na falta de outra explicação razoável. E foi assim que jogadores como Diego do Flamengo e Cássio do Corinthians foram chamados em desfavor de jogadores como Vanderlei (disparado o melhor goleiro do Brasil)  e Lucas Lima, do Santos,  causando apreensão até nos comentaristas menos fanáticos.

Seria Tite um oportunista nato a favor da idolatria que almeja angariar? Calma Tite, você sabe enxergar onde estão os melhores  jogadores . O trio fantástico Neymar, Gabriel e Coutinho não poderá salvá-lo, sempre, se você não abdicar de convocações baseadas em clubismos oportunistas.  Esse é o perigo que te ronda, Tite.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

 

 

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A LENDA DO OLHO D’ÁGUA

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DUAS LENDAS LUDOVICENSES 

 

1.A LENDA DO VIRA-PORCO

Foi na São Luís de outrora, de ruas mal iluminadas, clareadas apenas pela lua e raras fogueiras. Seres esquisitos apareciam do escuro e, avançando sobre os desavisados, os punham para correr nas noites de sexta-feira e de lua cheia. Ninguém duvidava de que certas pessoas haviam adquirido o dom de se transformar em porcos.  No dia seguinte às aparições, bastava uma aparência um pouco mais esquisita para ser logo apontado como um vira-porco em potencial na boca do povo. Certamente, se já houvesse então jornais como hoje, toda essa gente bizarra que se vê nas fotos das colunas sociais teria sido promovida a  vira-porco.

Acontece  que  ruas mal iluminadas e mal cheirosas eram constantes na cidade de então como diz Domingos Vieira Filho no seu livro Ruas de São Luis “Quanto à limpeza das ruas as autoridades municipais sempre viveram em luta aberta contra os moradores. A rua, nessa época, era lugar para tudo. Nela torrava-se café e estendia-se roupa lavada. Era rio de águas servidas, amontoado de animais mortos, de lixo em suma. “

 

 

Não é de admirar que num ambiente desses, os vira-porcos tivessem meio caminho andado. Quem sabe,  o porco já existisse antes até do humano. Não seria razoável acreditar  que o horror que causavam estivesse mais no fedor  que exalavam do que na aparência em si?

Nunca se saberá a resposta, mas o fato é que a transformação arrefeceu com o tempo e, hoje, só aparece pros lados dos subúrbios, assim mesmo em forma de cachorro ou de touro, como no Quebra-Pote. Sinais dos tempos. Sendo Touros podem ganhar uma estadia de graça na Expoema e sendo cachorros, uma vaga no desfile de pet da TV Mirante.

2.A LENDA DO OLHO DÁGUA.

Aconteceu na faixa de praia que hoje corresponde ao bairro do Olho D`água. Uma bela índia, filha do cacique Itaporan enamorou-se de um fogoso índio e era por ele correspondida. Enquanto as núpcias não aconteciam o jovem apreciava banhar na praia defronte, quem sabe para esfriar o fogo de seu ímpeto. Tudo ia bem até que uma mãe d`água, metade peixe , metade mulher-,  botou também o olho no índio e logo enfeitiçou  o rapaz. (Nesse triângulo amoroso  o que não faltava, portanto,  era índio, água e olho). Mal olhado ou não, o certo é que a sedutora mãe d`água levou o rapaz para o fundo do mar e este nunca mais apareceu.

Os rivais do índio  apressaram-se a explicar que o desaparecido não passava de um aproveitador e, em tempos de escassez de comida, deve ter se aproximado da mãe d`´agua para comer primeiro  de sua metade peixe e, de sobremesa, de sua parte mulher, numa competição muito desfavorável para a filha do cacique.  Para estes, o oportunista continuou vivo em algum palácio no fundo do mar num banquete pra homem nenhum botar defeito, comendo ora peixe, ora mulher, ou os dois ao mesmo tempo.

O certo é que a indiazinha não suportou seu destino inglório e logo morreu de desgosto. Tantas foram as  lágrimas que elas continuaram a jorrar de seus olhos mesmo depois de morta, gerando uma nascente de lágrima abundante que corre para o mar até hoje.

Lágrima ou água? Sendo comprovadamente lágrima  é melhor acreditar que a índia continua revoltada, porém, muito mais  com a  CAEMA,  que hoje cobra de seus descendentes pelas lágrimas de sua nascente como se fosse água.

            Esse pessoal tira proveito até das lágrimas de uma índia!

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

 

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Jeitos de usar a boca

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ou PARA ENTENDER OS BEST SELLERS, artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

 

Muita gente não consegue  entender porque alguns livros se tornam best sellers e outros não. Evidentemente que não é só o conteúdo apelativo que faz o sucesso da maioria em detrimento da boa literatura. Vez por outra surgem best sellers de boa qualidade literária

Qual seria então a razão? Existem várias, mas os especialistas sabem que o título do livro está entre uma delas. Um título sedutor (para o leitor comum)  tem de ser, à primeira vista, de tal forma incisivo que desperte a sua curiosidade. Se a isso se adiciona uma capa interessante (‘legal’, no sentido de ‘sugar’ o potencial leitor para dentro do contexto da realidade na qual está inserido e que está sendo proposta) já temos meio caminho andado. O resto é o resto. Fisgado o leitor, o esmero do que está escrito lá dentro muita vezes é de somenos para o comprador atual.

Se prestarmos atenção aos títulos da lista de mais vendidos,  veremos que seus títulos apresentam uma qualidade a mais que as já sugeridas: a  margem  de interpretações que permitem da vida cotidiana . Vejamos alguns da lista de Veja:

1.Outros jeitos de usar a boca. Rupi Kaur

Quaisquer que sejam esses jeitos, isso precisa ser urgentemente ensinado à maioria das duplas sertanejas que prolifera por este Brasil. Para bem de nossos ouvidos poderiam usar suas bocas para essas outras coisas,  ao invés de cantar.

2.O Festim dos Corvos. George Martin

A imagem de  alguns políticos festejando depois que Temer foi absolvido da primeira acusação (segundo a imprensa a troco de aprovação de emendas de seus interesses ) , dá bem ideia do que pode ser um festim de corvos. A única diferença é que os corvos de verdade festejam quando matam a fome. Essa raça de corvos pelo contrário, quando adicionam grana  aos seus bolsos.

4.Depois de você. Jojo Moyes

‘Depois de você’, evoca uma  sina avassaladora no que tange ao Brasil e à Presidência da República. A regra,  aplicada aos presidentes surgidos depois de FHC  é esta: “Por pior que você seja, depois  virá outro pior”. Assim foi com Lula, Dilma, e agora, Temer. Deus nos proteja! Quem virá depois de você?

 

 

3.A Fúria dos Reis. George Martin

A fúria dos reis, ou  melhor de um reizinho,  com certeza baixou em King-Jong-Un líder  da Coréia do Norte, que está adorando dar uma de macho e mandando míssil pra tudo quanto é lado. Tanta fúria não tem explicação, já que nem Freud explica. Será que ele é? Alguém já pensou nos estragos que o reizinho faria se fosse Jong-Dois ao invés de Jong-Um?

5.O Poder do Hábito?

A corrupção impera neste nosso país pelo hábito do poder ou o poder do hábito? O hábito de roubar nasce com o poder ou a vontade de roubar lhes é inata? Será que o livro responde?

6.Extraordinário! R.J. Palacio

Mais do que os 800 milhões pagos pelo PSG por Neymar  é extraordinário que se pague 150 milhões por Vinícius Jr., do Flamengo, apenas uma promessa de craque, que, até agora, nada confirmou. O que houve por trás disso? Quando lembramos   do cabotinismo de  Galvão Bueno e Felipão, vê-se que as coisas do futebol hoje em dia são pra lá de extraordinárias.  Estão  mais para ordinárias do que para extra.

8.A Dança dos Dragões. George Martin

A Dança dos  Famosos continua todo domingo na Globo, mas a dos Dragões  só surgirá quando Suzana Vieira entrar em cena para dançar com Faustão. Já pensou?

 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São  Luis

 

 

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CARTÃO DE IDOSO

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Estamos num país em que você tem que provar tudo. Desde que você não é bandido até que ainda está vivo. Desde provar que você  já viveu alguns anos até testemunhar que você já viveu o suficiente ou, até, que viveu mais do que o suficiente.

E, para isso, não bastam os atestados que lhe obrigaram a possuir: Carteira de Identidade, C.P.F., Bons Antecedentes, Certidão de Idade, de Casamento e o escambáu. Não bastam ações como pagar imposto de renda, multas de trânsito, etc. Para todos os efeitos, você é um sujeito inexistente quando se trata de usufruir alguma regalia.  (Claro, para pagar, nada precisa provar. Pra isso você poderia até ser um E.T.)

Não é de admirar que anos  atrás tenha surgido a tal PROVA DE VIDA, em que o aposentado precisa provar que está vivo para poder receber a sua aposentadoria. Para isso precisa ir até um caixa do banco (nem que seja arrastado –  se for deficiente), pra espernear, gritar, gemer, chorar, etc.

Não fique confiante, porém, se tiver conseguido a almejada prova. A Prefeitura de São Luis acabou de inventar um tal CARTÃO DE IDOSO, para atestar que você é, de fato,  velho. Isso mesmo! Você resistiu a ser velho a  vida inteira, mas um dia você chegou lá. E, como se não bastassem as agruras que isso lhe trouxe, a partir de agora você está condenado a enfrentar a tradicional burocracia  para poder usufruir das  duas míseras compensações que a velhice lhe trouxe: fila de idoso e estacionamento livre.

Ora, se fila de idoso é melhor nem encarar,  só o que lhe restava de privilégio era o estacionamento preferencial. Só que,  para usufruir disso, agora você tem que ter um Cartão de Idoso. Não bastam carteira de identidade, rugas, dentadura postiça, muleta e R-X da coluna ou do  tórax, tem de ter um Cartão. ( Dias atrás, em fato que ganhou as páginas dos jornais uma senhora teve o carro guinchado em pleno shopping porque não lhe bastou mostrar sua carteira de identidade. Faltava o tal cartão. Dá pra acreditar?)

 

 

Dia virá  que lhe exigirão o CARTÃO DE MORTO, para poder ser enterrado. Dá até pra  imaginar a cena: na porta do cemitério, você dentro de um caixão e o parente, que lhe conduz,  sendo interceptado por um guarda.

– Cadê o cartão de morto dele? Sem isso ele não pode ser enterrado.

– Bem, tá aqui o Atestado de Óbito.

– Não basta! Ele precisa apresentar o seu cartão de morto. Todos sabem disso. Agora é lei.

– Não deu tempo pra isso, ele morreu antes. Como poderia tirar um cartão de morto se ainda não tinha falecido?

– Poderia ter sido previdente e ter se antecipado.

– Como assim? Ele não estava desenganado,  e tinha esperanças, coitado. Queria viver mais um pouco.

– Tirasse então um cartão de QUASE MORTO.

– De quase-morto?

– Sim, de quase morto, ou meio morto, tanto faz. Já colocamos à disposição do público. É só requerer.

– Por favor, desculpe, não sabíamos. Deixe-o passar só esta vez. Como você sabe  ele não terá outra chance.

– Huuuummm! Tá certo. Desta vez pode passar, mas na próxima providencie.

– Na próxima? Só se for o meu,  você quer dizer…

– Não se faça de engraçadinho. Na próxima entrada dele. No céu, no inferno ou no purgatório. Sem cartão não passará por lá também. E agradeça pela paciência!

 

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

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JOMAR MORAES, UM NOME

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José Ewerton Neto é membro da AML

A Academia Maranhense de Letras tomou a iniciativa de celebrar, com uma missa em sua sede, a passagem de um ano de falecimento do escritor, pesquisador e ensaísta,  Jomar Moraes , um intelectual cuja vivência foi dedicada em grande parte  essa instituição, a par de uma atividade febril e diversificada para composição de uma trajetória literária que serviu de referência e dinamizou a vida cultural do estado.

Assim como o escritor de romances  pode ser dividido ente o construtor de texto, de ideias e de enredos ou de personagens , como classificou em recente artigo o escritor Raimundo Carreiro, também se poderia dizer que, em termos do comportamento em relação ao ambiente cultural que o cerca,  o escritor pode agir de duas formas, conforme sua personalidade  e vocação. De um lado estão aqueles que objetivam e reverberam apenas sua produção, não se permitindo atuar como personagem de referência, fora dos limites de sua obra. Muitos chegam a ser arredios nesse propósito, sendo exemplos típicos J.D.Sallinger nos USA e Dalton Trevisan, no Brasil.

Há, no entanto,  aqueles que proliferam sua atuação e não  se completam apenas no mero exercício do ofício que escolheram. Fazendo uma analogia futebolística,  assim como existem jogadores que se comprazem na plenitude do gol, existem aqueles que se realizam em dar o passe – para que outros atinjam esse clímax. Certamente Jomar Moraes fez parte dessa segunda categoria, secundando a própria produção e abraçando a tarefa de propiciar esse deslumbre para outros. Esse aspecto generoso do seu caráter foi lembrado durante a missa realizada, tanto pelo capelão João Rezende como pelo intelectual Sebastião Moreira Duarte, em seu discurso,  nessa noite.

Evidentemente, não cabe aqui o detalhamento de sua obra tão  extensa e do conhecimento de todos. Daí porque o tom mais eloquente  da cerimônia foi a rememoração, justamente,  dos aspectos humanos de sua personalidade; um humor sutil por trás da postura combativa, seu exacerbado espírito crítico em relação à literatura que considerava de pouco valor, enfim, alguém cuja sinceridade intelectual não poupava nem a si mesmo e que atinge o seu ápice quando ele, ironicamente, ao responder a uma pergunta sobre onde poderia ser encontrado seu primeiro livro de poesias disse  “ Gostaria até de saber quem  tenha,  para dar fim aos dois, ao leitor e ao livro.”, o que provocou risos generalizados na plateia.

Tudo isso está registrado no documentário realizado pelo cineasta Joaquim Haickel, exibido após a missa. Aliás, essa série de  documentários, com  testemunhos valiosos sobre gente do calibre cultural de Jomar Moraes, Erasmo Dias e outros , a meu ver,  deveria ser exibido em todas as escolas públicas, com o objetivo de ampliar o horizonte intelectual e contribuir para a formação de nossa juventude.

Por fim, ao nome Jomar Moraes, que motivou esta crônica. Lamentável que este ainda não tenha sido escolhido para título de via ou edificação pública  relevante. Jomar Moraes, assim como Nauro Machado, José Chagas e Ferreira Gullar,  merecidamente já contemplados com a inserção na pedra da memória cultural maranhense, fez jus a também fazer parte dessa plêiade, por ter sido um intelectual de estirpe equivalente. A AML, através de sua diretoria já principiou diligências nesse sentido. Que os homens públicos atendam a esse reclame, e que se proceda então.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

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