A BELEZA DOS TÍTULOS DE LIVROS

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21 LIVROS QUE VOCÊ COMPRARIA SÓ PELO TÍTULO. Quais seriam?

Estava outro dia à procura de  um livro no site da Estante Virtual quando deparei , no mural , com esta chamada intrigante. Convite irrecusável. Sempre fui fascinado pelo tema: a questão da nomeação de pessoas, de coisas e de obras de arte, especialmente, de livros. Sempre encarei essa escolha como um tirocínio adicional ao da escrita.

Pois, então, lá estavam os títulos da lista: A culpa é das estrelas;  A sombra do vento; Zen e a arte de manutenção da motocicleta, uma parcela facilmente classificável como esteticamente inspirada  a partir de uma bela associação de palavras. Os demais, logo vi, foram escolhidos pela curiosidade que despertam,  à reboque  de um impactante chamamento. De fato, como não ficar curioso diante de títulos como  Dom Casmurro e os discos voadores?  Os Simpsons e a Filosofia ou  O manifesto do nada na terra do Nunca ( do cantor Lobão) ? Estes claramente evidenciando que se os títulos  não eram necessariamente belos, eram capazes, porém,  de despertar o interesse do leitor para uma potencial aquisição. O que é uma legítima e natural aspiração de todo livreiro, e  – por quê  não? – de todo autor.

 

 

 

Configurando-se assim na cena da compra, o objetivo de acertar o alvo e atingir esse algo misterioso que existe entre o leitor e o título do livro e cuja resolução e atingimento vão  além do que sonha a vã inteligência humana (com a permissão de Shakespeare) mas, cujo resultado, independe da proposta e, até,  da sedução inicial.

Pois, como todo mundo sabe,  um bom título não é condição sine qua non para o sucesso e a consagração de um livro, tanto é assim que a grande maioria dos clássicos, que se tornaram cânones , possuem títulos convencionais, muitos relacionados prosaicamente ao nome de seus personagens: Don Quixote, Madame Bovary, os irmãos Karamazov , Tom Jones, Ana Karenina, Romeu e Julieta. Estes  se tornaram maravilhosos a partir do que surgiu com a primeira página.

No entanto, quando se conjugam um título magnifico e uma escrita  genial penso que se alcança um degrau acima na escala do êxtase, enfim uma sensação de completude que perdura de uma forma especial, nem que seja na mera pronúncia do título referido – na musicalidade do efeito poético alcançado . Esse mergulho no inefável acontece todas as vezes que nos referimos, por  exemplo a O morro dos ventos uivantes ( um achado precioso da tradução pois o original é quase intraduzível)

 

 

e  Em busca do Tempo Perdido, dois clássicos que atingem a quintessência em termos de conteúdo e título.

Outros, não necessariamente clássicos,  mas presentes em todas as listas, são A insustentável leveza do Ser, A hora da estrela, O coração é um caçador Solitário , Olhai os lírios do campo  e (pelo menos na minha) títulos menos consagrados como O amor e outros objetos pontiagudos de Marçal Aquino, que, aliás nem li ainda.

Mas qual seria mesmo o mais belo dos títulos? Por comodismo sugiro ficar, só hoje, com As vantagens de ser invisível, sem dúvida um bom título de um best-seller recente. Claro, está longe de ser uma solução  mas pelo menos sugere que o essencial de um belo título estaria forçosamente  por trás da invisibilidade proposta e sua arte. Pois o essencial, como diria outro, é invisível para os olhos.

 

José Ewerton Neto é autor de O menino que via o além, um belo título de um livro, para Josué Montello

 

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DO CHÁ

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

 

Admitindo que Deus nunca tenha ficado doente a ponto de ter pedido aos anjos uma xícara de chá para  aguentar o tédio da eternidade,  tudo começou –pelo menos para o ser humano – em 2737 a.c.

Aconteceu que o imperador  chinês Shen Nung pediu ao servo um copo de água fervida e nele caíram folhas de cammellia sinensis ( o popular chá branco). O imperador bebeu e gostou e, assim, 3 coisas aconteceram: um servo se livrou de levar chicotadas, um imperador ficou para a história e, a mais importante:  nasceu uma das mais saborosas bebidas que se conhece.

1.Nem precisou decreto imperial para que a população chinesa logo o imitasse. O gosto da folha fervida na água era tão bom que seu sabor, depois  de ultrapassar as fronteiras da barriga de Shen Nung, chegou, de xícara em xícara,  por volta de 805 ao Japão onde começou a ser cultivado. A bebida virou cerimônia religiosa: uma forma de encontrar a paz.

  1. Séculos depois, em 1662, a portuguesa Catarina de Bragança, casada com o rei Carlos 2º da Inglaterra, trouxe chá de Portugal e ensinou a corte a prepara-lo, popularizando o chá no Reino Unido. Com isso mostrou que enquanto os portugueses gozavam os muitos prazeres que encontravam no Brasil ( as frutas, as índias e etc.), suas prendadas esposas cultuavam outras delícias.

3.Em 1773 os norte americanos se revoltaram com as taxas de chá impostas pelo Reino Unido. Vendo que estava ficando caro demais se aliviarem  das intempéries com o chá que chegava da Corte, jogaram no mar todo o estoque que havia sido embarcado. Se o mar não estava pra peixe, quanto mais para chá!  Americanos e ingleses partiram para a guerra começando a revolução que culminou na Independência dos USA. Demonstrou-se, assim, que “se existe uma casca de banana por trás de toda grande tragédia” deve existir, também, “uma xícara de chá por trás de toda Independência”.

4.Tanto assim que, no Brasil,  assim que as primeiras mudas de Cammellia Sinensis chegaram ao Jardim Botânico em 1812 logo depois,  em 1822 , o Brasil se tornou independente de Portugal, comprovando a Teoria. ( Parece que o  príncipe D. Pedro I, ao contornar o Ipiranga, berrou de dor por causa de uma puta  dor de barriga, provavelmente, por não ter tomado o seu chá. Como se sabe,  isso foi confundido com um grito de Independência, para o bem de todos).

 

 

 

5.Por essa época, em 1820 a duquesa Ana de Bedford começou a tomar chá sempre às cinco da tarde fazendo  com que o hábito virasse moda no Reino Unido e perdurasse até hoje, sendo, reconhecidamente, a moda mais duradoura desse país. A segunda é a dos Beatles.

6.Até que  em 1904 nos EUA começou-se a vender o chá em saquinhos de musselina fazendo com que  os infusores fossem aposentados. Logo se inventou o chá gelado fazendo com que hoje se degluta chá de todos os tipos e todas as maneiras, inclusive o suchá, mistura de chá com suco,  sendo uma de suas últimas versões o  suchá de Açaí – egresso do Pará!

Lamenta-se, por fim,  que o brasileiro não faça uso, como deveria, do chá, o que o tornaria mais cordial.  Ninguém duvida que no próximo encontro de Trump e King-Jong-Un não faltará chá. Todos torcendo para que, finalmente, se dê uma colher de chá para a Paz.

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José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

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O OSCAR Brasileiro – 2018

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Domingo, a festa de premiação do Oscar 2018 empolgou milhões  em vários cantos do mundo. Poucos brasileiros , no entanto , se deram conta que por aqui também se consagravam os vencedores do  Oscar Brasileiro.

O mesmo talento, a mesma dramaticidade dos enredos, a mesma  extraordinária semelhança dos títulos, a ponto de não se saber quem inspirou quem e vice-versa:

1.Melhor Filme: A forma da Água

Versão Nacional: A forma da água (do Lava-Jato).

Ao contrário da fita americana que aviva o amor da relação de uma mulher com uma criatura da água, a versão brasileira é uma estória de repulsa à imundície que sai da água utilizada, no lava- jato, para limpar nossa  Nação. Não poderia ser outra a reação dos espectadores senão de asco diante das formas que emergem dessa água imunda: Michel Temer, Lula, Eike Batista, Geddel, Sérgio Cabral, Aécio Neves etc. Um horror!

 

 

 

2.Melhor Atriz: Frances McDormand, do filme   3 anúncios para um Crime.

Versão Nacional: 3 anúncios para mais um crime, com a   atriz Gleisi Hoffman, presidente do PT.

A versão nacional aconteceu quando a atriz Gleisi Hoffman anunciou:  “Caso Lula seja preso, represálias irão acontecer em todo o país”. Ou seja, considerando a ameaça da deputada de que não sobraria  pedra sobre pedra em meio a  choro e ranger de dentes, é  fácil concluir que os 3 anúncios para o seu crime foram choro, ranger de dentes e pedra. Nada mais justo que a raivosa fizesse jus  ao prêmio.

3.Melhor Roteiro Adaptado: Me chame pelo seu nome.

Versão Nacional: Não me chame pelo meu nome.

Este roteiro foi adaptado por  Gilmar Mendes. A versão brasileira focada nos episódios da lava-jato  trata da adaptação, feita pelo jurista,  das verdades e dos fatos para que jamais os acusados fossem chamados pelos seus nomes a prestar contas pelo mal que fizeram a esta Nação. Enfim, personagens que preferiram ser chamados de pilantras, a serem chamados pelos próprios nomes nos corredores das cadeias.

  1. Melhor filme em língua estrangeira: Uma mulher fantástica!

Versão Nacional: Uma mulher no Fantástico.

A versão nacional foi filmada quando Pablo Vittar esteve no programa Fantástico. Além de estar no programa havia outras coisas fantásticas acontecendo como o fato de Pablo rebolar como mulher sem ser mulher, cantar sem ser cantor e emitir sons de música sem que aquilo fosse música.

  1. Melhor Canção Original Remember Me, do filme A vida é uma festa!

Versão Nacional:  Que tiro foi esse! Do filme A vida tá uma droga!

A vantagem da canção nacional sobre a americana é que além de se poder dançar de qualquer jeito  o fundo musical, originalíssimo,  é de bala perdida.

  1. Melhor atriz coadjuvante: Eu, Tonya com Margot Robbie

 

 

 

Versão Nacional: Eu, Bruna, com Bruna Marquezine.

O filme nacional,  tão épico quanto o norte-americano sobre a saga de uma atleta, descreve o formidável esforço da brasileira Bruna em seu papel de coadjuvante, para tratar da bicheira no dedo mindinho do pé do craque  Neymar durante 2  meses, com intervalos para sentar sobre seu colo, todo dia,  em cima de uma cadeira de rodas.

Ao invés do coro de  ‘Força, Neymar!’ que bombou na net, a nação agora está desejando: “Força Bruna!”

Como vai longe essa meninNA!

José Ewerton Neto é autor de

O ABC bem humorado de São luis

 

 

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A difícil arte de provar que se vive

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Estamos vivos ou não? Se você acha que vive, porque respira, é bom não confiar muito nisso. No Brasil carece de mais, muito mais:

Não basta pagar imposto de renda, ter cartões de credito de lojas e bancos, ser síndico de condomínio, ter documento de idoso e o escambau,  ter multa de trânsito a três por quatro, ter feito exame de próstata, do coração e do pulmão, ter página no Instagram  e facebook, ter diploma de advogado, juiz de futebol e de dono de Escola de Samba etc. etc.  Se você não for ao banco para provar que ainda está vivo, será considerado  morto e, sendo assim,  estará na lista dos mortos vivos desse país. Mortos vivos? Praticamente. Para o Governo o ideal é que você seja um morto-vivo. Vivo para pagar as contas e morto para não ter direito.

Estava pensando nisso, quando vi  a informação de que o presidente Michel Temer havia realizado a sua prova de vida e, como tal, estava pronto para receber um retroativo de três meses, equivalente a uns 90 mil reais.   A primeira impressão que tive foi a de que o presidente da república estava querendo incentivar os aposentados desta Nação a fazerem o mesmo. Ora, todo mundo sabe que Michel Temer se mostrou especialista em se fazer de morto (no episódio da mala)  mas  nunca em se fazer  de vivo , o que comprovaria essa impressão. Mas eis que me  surgiu , como numa epifania de heurecas!   a sugestiva revelação de que a Vida, no Brasil, tem várias graduações, segundo a vida que cada um leva. Mais ou menos assim:

VIVOS EM DOBRO.

 

Compõem essa classe  o presidente da República e equivalentes (os que convivem com malas de dinheiro). Ao saírem de uma prova de vida com tanta grana  mostram que pertencem a uma casta especial: aqueles que acabam comprovando não só que vivem, mas que vivem em dobro.

O curioso  é que em relação a essa vidas,  tão plenas que transbordam pelo ladrão ( sem trocadilhos),  os cofres do Tesouro se esmeram em reconhecer-lhes  os direitos que os outros não possuem. A matemática soa perfeita: para vidas em dobro, o dobro de ganhos.

APENAS VIVOS

Um grande contingente. Normalmente constituído por trabalhadores que dão duro a vida inteira e  que se  consideram vivos, mas que não deveriam ter tanta certeza disso . Gente que sobrevive sabe-se lá como, mas que parecem satisfeitos com o ato de subsistir. É uma população que parece aceitar, conscientemente,  que suas vidas  foram  construídas para gente como Temer viver em dobro, mas que preferem (talvez sabiamente), jamais pensar nisso.

SEMI-MORTO  (OU MAIS PARA MORTO)

 

 

A imensa maioria da população brasileira. Na realidade, quando estes vão fazer a Prova de Vida  estão também testemunhando a sua condição de quase mortos.  Não seria essa a intenção dos governantes? Parece que sim, porque esse grande contingente jamais poderia  ser considerado vivo com a aposentadoria que o governo lhes concede – como se fosse uma esmola. Vai daí que a exigência dessa Prova de Semi-Morto  obrigando  cadeirantes, doentes e inválidos a se locomovem, sem que se tente evitar isso promovendo uma simples pesquisa nos sites da Internet, funciona como uma espécie de escárnio , ou um estímulo para que morram logo.

Que tal mudarem o nome de Prova de Vida para Prova de Morto-Vivo? Seria cômico se não fosse trágico.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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CONVERSAS ENTRE NÚMEROS

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

O escritor Vítor Hugo um dia sentenciou:  “As palavras são seres vivos”. Os números também, por que não? Também eles conversam, vivem, fazem reuniões:

1.Reunião de Números. Assunto: debater a convivência com as letras.

-Temos de permanecer unidos, senão as letras nos passam para trás. Como se não bastasse a simpatia dos estudantes, dando-lhes preferência, vivem invadindo nosso território: equações, matrizes etc.

-Não adianta ir contra a corrente. Melhor nos adaptarmos. Façamos como os números 40, 60,  etc. que se juntaram às letras K e M nas placas de trânsito e nas barreiras eletrônicas. Pelo menos,  passaram a ser mais respeitados.

 

2.Dois números confidenciam entre si.

– Gostaria de ser um pássaro.

– Ora, pra quê?

– Para poder viajar sem parar, a hora que quisesse.

– Por que não entra numa dízima periódica? Assim você nunca vai parar.

 

 

 

3.Implicante , o 4 levanta a voz para o 2 em meio a uma discussão.

– Cale-se de vez. Valho o dobro que você.

– Pode até ser. Mas nunca caí de quatro.

 

4.Um belo dia, queixa-se o Zero ao seu vizinho 1.

-Estou estressado, acho que vou procurar um analista. Por mais que eu faça vou ser sempre um Nada.

– Não pense que a minha sina seja melhor a sua. Multiplico-me, me divido e não saio de mim mesmo.

 

 

 

5.Disse um bilhão para outro bilhão.

-Briguei com minha mulher e saí de casa. Estou pensando em me esconder numa equação com centenas de  incógnitas para jamais ser encontrado.

– Ora, seja moderno e entre, ao invés,  na conta bancária de um político brasileiro. Eles te mandarão para o paraíso fiscal e você jamais será encontrado.

 

6.Disse um 16 para outro.

– O que fez para ficar assim tão jovem e menor, parecendo um 4? Fez dieta? Tomou chá de alguma erva ou raiz?

-Como adivinhou? Entrei numa raiz quadrada.

 

7.Um número se queixa com outro.

– Ando pensando em tirar férias. Nada de professores, nada de estudantes, nada de livros,  nada de   calculadoras.

-Vá para uma Tábua de Logaritmos. Os estudantes jamais o perturbarão e muito menos os professores.

 

 

 

8.Um 9 encontra outro em uma conferência e inicia o diálogo apontando para outro 9.

– Detesto esse cara, vive  fazendo perguntas. Só dá fora!

-Tenha paciência com ele. Não é um 9 comum. É  um noves fora.

 

9.Roda de amigos cheia de números 1. Um deles, meio perdido,  se aproxima ao longe. Alguém comenta.

– Não vou com  esse cara que vem chegando. É meio chato, meio  calado, meio estranho e meio pequeno.

-Pare de ser preconceituoso, ele não pode ser de outro jeito. É um ½. Nasceu assim.

 

10.Duas paralelas,  muito amigas, abraçam-se na praia avistando o horizonte.

-Olha lá, parece tão perto, mas está tão longe. Somente  lá poderemos  nos juntar  um dia.

Um hippie que ia passando entra na conversa e aprende, com elas, que matematicamente duas paralelas só se juntarão  no infinito.

– Posso ajuda-las? Sei de um lugar onde vocês podem se juntar bem antes.

– ??????

– Aqui mesmo, neste celular. Na música As Paralelas, de Belchior. É só baixar.

 

  1. Dois números 2, antigos companheiros, encontram-se diante da Basílica de São Pedro em Roma.

-Detesto aquele 2 do cartaz. Por que sempre tão convencido?

– Não é convencido, mas solene e sóbrio. Está vestido de algarismo romano porque não tem outro jeito. Esse 2 é o do papa João Paulo II.

 

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de Lendas

 

 

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AS CENAS QUE FICARAM DO CARNAVAL

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

A melhor cena do carnaval que passou foi a da vitória da Unidos de Tatuapé com um samba enredo que homenageou o Maranhão. Outras, menos deslumbrantes, aconteceram também.

1.Folião, sujo e despenteado com cara de bêbado é pego numa blitz. O soldado que aparenta a patente mais alta se aproxima

 

 

 

-Você bebeu? – pergunta o oficial.

            -Acho que sim – responde o folião.

            -Acha que sim,  ou tem certeza? Guarda Luiza,  bafômetro nele! – dirige-se o oficial à policial.  

            Alguns minutos se passam até que a policial Luiza execute o teste.

            -Sargento, o teste deu negativo.

            – Como assim?

            – Isso mesmo. O bafômetro não acusa teor de álcool.

            O sargento, irritado se vira para o motorista folião.

            – Seu mentiroso! Qual é a sua? Por que disse que tinha bebido?

            – Não sou mentiroso. Claro que bebi: água e refrigerante.

            – Entendi. Quis se fazer de engraçadinho e me fazer de palhaço, certo? A partir de agora está preso por desacato à autoridade e vai ser multado. Guarda Luiza, você é testemunha.

            – Como?? Mas, sargento…

            O sargento a chama de lado e sussurra em seus ouvidos, peremptoriamente.

            – Para todos os efeitos ele nos destratou. E  depois…Como você já deve ter aprendido, neste departamento quanto mais se multa mais se ganha . Fica na tua, Luiza, vai por mim: precisamos de grana pra brincar o resto do Carnaval que ninguém é de ferro.

            2.Grupo de amigos se diverte contemplando o desfile de blocos. Há  turistas no grupo. O de chapéu, paulista, pergunta para o amigo maranhense.

 

 

 

 

  – Que bloco é esse?

            – O dos Foliões. É um dos mais autênticos e famosos da Ilha.

            – E essas fantasias parecendo bumba-boi? São típicas, não?

            – Talvez. Estão homenageando o Bumba-Boi de Parintins, seus grupos Caprichoso e Garantido, que você já deve ter visto, na  Globo.

            – Mas,  por quê  ir tão longe para homenagear?

            – Huuumm…Confesso que também não entendi direito.

            – Pelo que li – e você sabe que gosto desse assunto-, esse Boi de Parintins seria um arremedo do bumba-boi maranhense, não? Enfim, uma imitação desvirtuada do autêntico folclore de bumba-boi que é o maranhense. Não seria mais justo que se homenageassem aqui os grupos de bumba-boi desta terra?  Esses desfiles de Parintins sempre me  pareceram mais com um carnaval fora de época.

            – É, de fato, mas…

            – Por acaso já homenagearam por lá o legítimo bumba-boi, que é o do Maranhão? Por acaso, em alguma ocasião se lembraram de homenagear esta bela Ilha, seus costumes, suas lendas e sua tradição cultural,  tão rica, aliás?

            – Acho que nunca.

            – Desculpe, sou de fora, posso não estar entendendo, mas sempre vi a originalidade e espontaneidade da tradição de vocês, notadamente os bois de matraca, tão plenos da alma popular. Nada da pomposidade carnavalesca e descaracterizada que se vê nos desfiles do bumba boi de Parintins.

            – Acho que você tem razão, mas, que fazer? Acontece que por estas bandas sempre foi assim. Só se dá valor ao que vem de fora e nossos divulgadores culturais se submetem a isso como se contaminados por  uma submissão doentia e arrevesada. Como diz a sabedoria popular  “santo de casa não faz milagres” e os santos daqui além de não fazerem milagres ainda rezam  para os de fora, que tiram proveito de nossos bens culturais mais valiosos.

 

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

 

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MARCHINHAS VERSÃO 2018

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

 

Tempos atrás o Carnaval era  exclusivo das marchinhas e sambas que fazem sucesso até hoje.

O  carnaval em si  não mudou tanto, os tempos é que são outros. Os costumes, estes sim, evoluíram rapidamente, talvez para pior. Se as marchinhas fossem escritas hoje, seriam como segue, ao invés de:

1.Ontem:” Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé. Parece que é  transviado, mas isso não sei se ele é”.

Hoje: Olha a cabeleira do Vital

Será que ele é, será que ele é.

Será que ele é dançarina, será que ele é  travesti

Parece que ele é tudo isso, mas nem isso eu sei se ele é.

 

 

  1. Ontem: “Oh, jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros, depois morreu!”.

Hoje: Oh, periguete, por que estás tão triste?

Mas o que foi que te aconteceu

Foi o coroa que quebrava teu galho

Deu dois suspiros, depois morreu.

 

  1. Ontem: “Se você fosse sincera, ô ô Ô Aurora, ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô , Aurora. Um lindo apartamento com porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor. Madame antes do nome, você teria agora,  ô ô Ô Aurora!”

Hoje: Se você fosse galinha, oooô, Aurora

Ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô Aurora!

Um apê de  cobertura ,com cinema e boate.

E um personal training pra teus dias de calor

Um chifre bem na testa, eu ostentaria agora

Oooô, que Aurora!

 

4.Ontem: ”Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero, Mamãe, eu quero mamar. Dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro bebê não chorar. Dorme filhinho do meu coração, pega a mamadeira e vem entrar no meu cordão, eu tenho uma irmã que se chama Ana, de piscar o olho já ficou sem a pestana.”

Hoje: (Nos salões do poder público)

Mamãe eu quero, mamãe eu quero  roubar

 Me  dá a propina, me dá a propina, dá a propina pro bebê não chorar.

 Dorme justiça, do meu coração,

Pega a propina vem entrar no meu cordão,

Só de ficar vendo tanta mala de dinheiro,

O meu olho viciou parecido ao CerverÓ.

 

 

 

5.Ontem: ”Solteira eu não quero. Casada traz complicação. A viúva tem saudade, a desquitada é a minha solução”.

Hoje: Hetero eu não quero,

Homossexual traz complicação

Sexo virtual pode dar cadeia

Transsexual é a minha solução.

 

6.Ontem: ”Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí , em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati. Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão, e saiu dizendo mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar  !”

Hoje: Pegou sua moto incrementada e saiu por aí

Em vez de tomar chá com cachaça cheirou um monte de pó

Levava um  pistola no cinto e um celular na mão

E saiu dizendo ao chefe da gangue: Pai eu quero matar, papai eu quero matar, papai eu quero matar!

 

5.Ontem: As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo mão na saca, saca, saca rolha, e bebo até me afogar. Se a polícia por isso me prender, mas na última hora me soltar, eu passo a mão no saca, saca, saca rolha ninguém me agarra, ninguém me agarra

Hoje: (cantada pelos batalhões das blitzes )

As multas vão rolar,

Papudinho  hoje eu quero ver soprar

Eu passo a mão no  bafômetro e empurro

Até o coitado se afogar!

Se o desgraçado pedir pra não prender

E vier me implorar para soltar

Eu passo a mão no cassetete e enfio nele

Ninguém me agarra, ninguém me agarra!

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José Ewerton Neto é autor de

O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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VIDA ÚTIL e vida INÚTIL

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Você  sabe, caro leitor qual é a vida útil de seus  óculos escuros? Ou de uma toalha? De seu pente ou do seu chinelo? Claro que não, você nunca se preocupou com isso. Aliás, você nem imagina qual seja a sua vida útil, esquecido de que você também é um produto, a ser consumido pelos demais. E, já que você não se importa com isso, permite que o Governo a defina.

É o que está fazendo Michel Temer com sua Reforma da Previdência que, de saída, o enxerga como inútil, mas, estranhamente,  pronto a se sacrificar para manter inabaláveis os privilégios previdenciários dos corruptos e poderosos.

Pois reflita que tudo na vida tem sua vida útil, e não apenas os remédios e as comidas. Apenas para satisfazer sua curiosidade é bom saber que seus  óculos escuros têm vida útil de no máximo dois anos, os sapatos esportivos seis meses, as toalhas 3 anos e seu pente, no máximo um ano. Sabia? Claro que não,  por isso é que se torna salutar pensar na vida útil de um monte de coisas sobre as quais você jamais havia se dado ao trabalho.

1.Vida Útil de uma atriz sem talento. Da   Globo, etc.

Dura até se casar com um craque de futebol riquíssimo, o que imediatamente fará aumentar o seu cachê. Se a atriz for esperta induzirá o craque a lhe enfiar um filho ou dois, o suficiente para garantir pensão  e grana por várias gerações. Isso fará com que sua vida útil, depois de morta, torne-se maior do que quando viva. (Para seus herdeiros, é claro).

2.Vida útil de uma dupla musical sertaneja.

Dura até seu ouvinte chegar à conclusão de que aquilo não é nada de dupla musical, mas um só idiota duplicado.

3.Vida útil de uma Ex-BBBrasil.

Normalmente, sua vida útil era próxima de zero até ser escolhida para  participar de uma edição do  BBBrasil. A partir daí sua vida útil passa a ser de uns 6 meses até posar nua  para uma revista pornô,  o que estenderá sua vida útil por mais uma semana. Tempo suficiente para que o comprador da revista a jogue no lixo. A partir daí…

 

 

4.Vida útil de um juiz de futebol.

Depende. Se estiver roubando para o time de sua predileção sua vida útil dura em torno de 90 minutos (o tempo total da partida mais a prorrogação,  se houver). Já, se estiver roubando contra seu time, sua vida útil é de 2 segundos até que você comece a  xingar sua mãe.

5.Vida Útil de uma blitz da Lei Seca.

Para bandidos tem vida útil vinte vezes  maior do que para o cidadão comum, já que as blitzes permitem que os bandidos pratiquem suas atividades à vontade, enquanto o grosso do contingente de policiais permanece de tocaia nas avenidas para caçar papudinhos distraídos. Os bandidos agradecem.

6.Vida Útil de uma Delação Premiada.

No Brasil, dura alguns meses até que caia nas mãos de Gilmar Mendes. Neste caso,  sua vida útil se tornará abaixo de zero( se seu objetivo for prender corruptos) já que , neste caso, jamais serão presos.

7.Vida Útil de um livro de autoajuda.

Algumas semanas até que o leitor desista da leitura e se decida a ler, ao invés,  alguns capítulos da Bíblia. ( Novo Testamento, Sermão da Montanha). O  leitor concluirá rapidamente que perdeu seu tempo e tudo o que poderia apreender de útil e edificante  num livro de autoajuda já estava lá.

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José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

 

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A CAMINHO DA RÚSSIA

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Mais alguns dias e não se falará em outro assunto: Rússia, para onde iremos todos em junho, carregando o sonho de mais uma copa. Mas, que Rússia é essa? Que sabemos dela?

Uma boa ideia seria compara-la  ao Brasil, senão futebolisticamente , pelo menos, nos costumes.

1.Os russos são bem conhecidos por serem muito sérios e desconfiados O sorriso, para eles, é uma demonstração de carinho e não deve ser dado para qualquer pessoa sendo, por isso, somente usado em ocasiões excepcionais.

Nesse ponto diferem muito dos brasileiros. O brasileiro, como se sabe,  ri de tudo, desde durante o hino nacional até em cerimonial fúnebre, quando é comum discutir futebol e contar piada. Tem gente que ainda se permite comentar diante do cadáver: “Ficou tão sério agora! Nem parece mais um brasileiro.”

  1. Em momentos de crise é comum os governos da  Rússia   pagarem aos professores com wodka em vez de dinheiro.

Portanto, na Rússia se usa bebida para pagar o salário das pessoas. Por aqui é quase a mesma coisa: as pessoas usam o salário para pagar bebidas.

  1. Existe uma lei na Rússia que proíbe as pessoas de contarem às crianças tudo o que tenha a ver com a homossexualidade.

Por aqui, é o contrário. A s novelas de tevê, o noticiário, e até as novas  leis fazem de tudo não só despertar como também  para estimular a homossexualidade nas crianças.

  1. Até o começo deste século, a cerveja era considerada um refrigerante e não uma bebida alcoólica.

Bem ao contrário do Brasil. Depois da Lei Seca, toda bebida por aqui virou alcoólica e quem as ingere um alcóolatra. Dia virá em que bafo de refrigerante será motivo para alguém ser preso e pagar multa.

  1. Na Rússia existe o dia Nacional da Concepção. Neste dia, os casais ganham meio dia de folga do trabalho para procriar, e isso funciona! As taxas de natalidade em junho normalmente triplicam todos os anos e os casais dão a luz próximos de 12 de junho  – exatamente nove meses depois .  

O Brasil também, embora não oficialmente. Talvez por considerarem  que um dia apenas seja insuficiente , os Brasileiros dispõem de 5 dias dedicados a isso,  que denominam Carnaval.

  1. Os russos gabam-se de possuir a droga mais devastadora do mundo que chama-se krokodil. É dez vezes mais potente do que a morfina e é chamada assim porque deixa seus usuários com pele de aspecto réptil e a maioria dos usuários morre em dois ou três anos.           Quanto ao efeito aniquilante o Brasil também produz uma droga de efeito igualmente letal, embora mais lenta. Trata-se da  música sertaneja  que mata  devagar,  mas idiotiza seus ouvintes de forma irreversível.

 

  1. Os russos adoram xadrez (jogo) Em 1934, 500 mil russos se inscreveram no programa estadual de xadrez. Hoje, mais da metade dos 20 maiores jogadores de xadrez do mundo vem da Rússia ou de um dos países que faziam parte da União Soviética.

Enquanto os russos vivem jogando de xadrez os brasileiros vivem entrando no xadrez. Nossa população dentro das celas quase rivaliza com a população de Moscou. ( E a  de quem deveria estar lá dentro chega a ser 20 vezes maior).  Graças a isso o Brasil criou especialistas em tirar gente  do xadrez,

 

 

 

sendo considerado como grande mestre internacional o jurista Gilmar Mendes, o único no mundo capaz de dar  xeque-mate na própria  justiça,.

 

José Ewerton Neto é autor de

O entrevistador de lendas, sobre lendas maranhenses

 

 

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A SUTIL ARTE DE LIGAR O F**DA-SE

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artigo publicado no jornal o estado do Maranhão

O que acontece quando se juntam  “Sutil arte” com “ligar o F**da-se”? Errou quem disse que nada acontece ou pensou em algo estapafúrdio. Quem se dispôs, como eu, a ver a lista de mais vendidos da Veja e deparou com esse ajuntamento de palavras  chegou à conclusão (com alguma dificuldade) que se trata  do título de um livro. Isso mesmo: o título de um livro.

Já vão longe os tempos em que os títulos dos livros de autoajuda nos assediavam apelando para referências religiosas solidárias do tipo “Jesus, o maior psicólogo que já existiu” ou com conversas para boi dormir do tipo “Você vale o que você pensa”. Parece que a autoafirmação, nesta segunda década de século, dispensa conselhos filosóficos ou religiosos. A coisa vai melhor quando se introduz, forçosamente, uma alusão ao sexo.

Isto  posto, impacto alcançado, só resta ao potencial leitor a tarefa de tentar entender que diabos é isso que estão lhe oferecendo. Intrigado, me dediquei à árdua tarefa. Avante!

O que significaria ligar o F**da-se? Até onde eu sabia esse ato não precisa ser ligado na tomada. Ou precisa? Vá lá, é sabido cientificamente que as vaginas quando excitadas produzem algum grau de eletricidade, mas como se daria o ato de inseri-las, digamos assim, num fluxo elétrico?

????

Eipa! Eis que surge outra opção.  Vai ver que o F**da-se não está sugerindo um movimento, mas subtendendo uma imprecação: a de mandar o mundo às favas. Parece que estamos diante de um autor que nos dará apoio nesse propósito (…Mas, cá pra nós, precisa ajuda para isso?)

Huuumm! Como poderia ser também uma proposta de auxílio para quem queira suicidar-se. Se o verbo está no modo reflexivo isso significa que encontramos alguém disposto a ensinar o leitor a se F***, ou seja, a morrer… Heureca!

Metade da questão resolvida,  eis que me deparo com outra parte mais complicada do entendimento. O mais bizarro agora nem é mais o tal  “Ligar o F**”, mas conceber uma explicação para o que vem antes. Pois o autor categoricamente insinua que, por trás disso, há uma arte sutil. Sim, senhores: Nada de Shakespeare, nada dos aforismos de Millor Fernandes ou de Mencken, arte sutil, nos dias de hoje é ligar o F**da-se!

Embaralhado, agora, mais que antes, me deu uma maldita vontade de comprar o livro só para resolver o mistério, o que acabaria fazendo, caso não contemplasse na lista, outra vez, a mesma palavra. Vi que o sexto da lista também vai pela mesma onda sexual e o título  do livro é “Eu sou foda”, de um tal de Caio Carneiro. (Portanto, temos F*** pra dar e vender numa lista de livros mais do que numa edição do BBBrasil)

Enquanto meditava sobre o que levaria alguém a comprar o livro de um sujeito que se julga foda, sem ser o Messi ou o Cristiano Ronaldo, me deparei, afinal, com outro título da lista, este sim, de enorme valia para o momento de ‘dúvida existencial’ que eu passava. É o terceiro mais vendido, com o título Porque fazemos o que fazemos, de certo Sergio Cortella,  certamente um aparentado de Deus para saber tanta coisa a respeito da gente que nem  mesmo a gente sabe.

Talvez ele conseguisse me explicar, afinal, o que leva marmanjos aparentemente normais a escrever livros com título como esses.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, sobre lendas maranhenses

 

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