A BELEZA DOS TÍTULOS DE LIVROS
21 LIVROS QUE VOCÊ COMPRARIA SÓ PELO TÍTULO. Quais seriam?
Estava outro dia à procura de um livro no site da Estante Virtual quando deparei , no mural , com esta chamada intrigante. Convite irrecusável. Sempre fui fascinado pelo tema: a questão da nomeação de pessoas, de coisas e de obras de arte, especialmente, de livros. Sempre encarei essa escolha como um tirocínio adicional ao da escrita.
Pois, então, lá estavam os títulos da lista: A culpa é das estrelas; A sombra do vento; Zen e a arte de manutenção da motocicleta, uma parcela facilmente classificável como esteticamente inspirada a partir de uma bela associação de palavras. Os demais, logo vi, foram escolhidos pela curiosidade que despertam, à reboque de um impactante chamamento. De fato, como não ficar curioso diante de títulos como Dom Casmurro e os discos voadores? Os Simpsons e a Filosofia ou O manifesto do nada na terra do Nunca ( do cantor Lobão) ? Estes claramente evidenciando que se os títulos não eram necessariamente belos, eram capazes, porém, de despertar o interesse do leitor para uma potencial aquisição. O que é uma legítima e natural aspiração de todo livreiro, e – por quê não? – de todo autor.
Configurando-se assim na cena da compra, o objetivo de acertar o alvo e atingir esse algo misterioso que existe entre o leitor e o título do livro e cuja resolução e atingimento vão além do que sonha a vã inteligência humana (com a permissão de Shakespeare) mas, cujo resultado, independe da proposta e, até, da sedução inicial.
Pois, como todo mundo sabe, um bom título não é condição sine qua non para o sucesso e a consagração de um livro, tanto é assim que a grande maioria dos clássicos, que se tornaram cânones , possuem títulos convencionais, muitos relacionados prosaicamente ao nome de seus personagens: Don Quixote, Madame Bovary, os irmãos Karamazov , Tom Jones, Ana Karenina, Romeu e Julieta. Estes se tornaram maravilhosos a partir do que surgiu com a primeira página.
No entanto, quando se conjugam um título magnifico e uma escrita genial penso que se alcança um degrau acima na escala do êxtase, enfim uma sensação de completude que perdura de uma forma especial, nem que seja na mera pronúncia do título referido – na musicalidade do efeito poético alcançado . Esse mergulho no inefável acontece todas as vezes que nos referimos, por exemplo a O morro dos ventos uivantes ( um achado precioso da tradução pois o original é quase intraduzível)
e Em busca do Tempo Perdido, dois clássicos que atingem a quintessência em termos de conteúdo e título.
Outros, não necessariamente clássicos, mas presentes em todas as listas, são A insustentável leveza do Ser, A hora da estrela, O coração é um caçador Solitário , Olhai os lírios do campo e (pelo menos na minha) títulos menos consagrados como O amor e outros objetos pontiagudos de Marçal Aquino, que, aliás nem li ainda.
Mas qual seria mesmo o mais belo dos títulos? Por comodismo sugiro ficar, só hoje, com As vantagens de ser invisível, sem dúvida um bom título de um best-seller recente. Claro, está longe de ser uma solução mas pelo menos sugere que o essencial de um belo título estaria forçosamente por trás da invisibilidade proposta e sua arte. Pois o essencial, como diria outro, é invisível para os olhos.
José Ewerton Neto é autor de O menino que via o além, um belo título de um livro, para Josué Montello