COISA DE BANDIDO

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O que pode se entender no Brasil como  ‘coisa de bandido’? Ser pego pela lava-jato recebendo propina e jurar que nunca roubou, ou ser solto por Gilmar Mendes e voltar a roubar? Dizer que uma mala de 50 milhões encontrada no seu apartamento não é sua, ou dizer que foi doação de campanha? Fugir da penitenciária via túnel, ser novamente preso e voltar a fugir pelo mesmo túnel, ou pegar um indulto de feriado, praticar crimes, ser preso novamente  e ser solto em outro feriado?

Bem, sendo o Brasil esse país especialíssimo onde as organizações de direitos humanos têm mais pena dos bandidos que das vítimas e, sendo também, para um eminente historiador, “ Um país feito por bandidos para bandidos”, é normal que exista por aqui uma infinidade de atitudes que alguém poderia chamar de ‘coisa de bandido’. O que causa espécie  são as novidades.

Como a do cantor de música sertaneja César Menotti  que insinuou ter descoberto mais uma.  Isso mesmo. Durante o programa Altas Horas da TV Globo, César da dupla com Fabiano (?) se  saiu com essa: tendo sido convidado a cantar numa penitenciária foi solicitado a cantar um samba e, como não soubesse, respondeu aos encarcerados: “Desculpa, é que realmente a gente não sabe cantar samba. E tem mais, na   minha  opinião samba é coisa de bandido”.

Se os presos gostaram da resposta não se sabe, o que se sabe é que a plateia do  programa  morreu de rir. Donde se conclui que o apresentador Serginho, sua turma de convidados e os demais cantores concordaram com a opinião de Menotti. O que não se sabe é se estão rindo até hoje porque descobriram mais uma ‘coisa de bandido’ num país de  bandidos, ou estavam felizes porque existe tanta coisa de bandido neste país que se tornou quase obrigatório se achar graça quando se fala em bandido.

Houve,  porém,  uma pequena parte da população brasileira  que não viu tanta graça nisso. Como  a cantora sambista e deputada Leci Brandão a quem aprouve se manifestar nas redes sociais para dizer ao senhor César Menotti,  “…Que samba não é música de bandido. Bandido para mim é quem compra a mídia para a gente ouvir um tipo de música que não leva o país a não ter nenhuma reflexão, nenhuma consciência. Isso sim é  bandidagem. Bandidagem para mim é fazer com que cultura seja toda direcionada a quem tem poder. E o samba, graças a Deus, ainda tem gente que leva reflexão e bons pensamentos para a democracia deste país”, desabafou a compositora.

Tão eloquente foi  a resposta da Leci que nem foi precisou evocar em seu socorro  guardiões do samba como Noel Rosa, Martinho da Vila ou Dorival Caymmi que um dia sentenciou

 

 

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça e doente do pé” . Ao mesmo tempo em que a compositora excluiu o samba definitivamente fora desse contexto conseguiu enriquecer o Vocabulário Nacional das Coisas da Bandidagem que Assola o País:

Pois, de fato, a música dessas duplas sertanejas é tão ruim  que comprar a mídia, para fazer gente inculta se regalar com as asneiras que dizem e as porcarias melódicas que cantam, isto sim é uma sonora bandidagem.

 

José Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de lendas

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=zOVJJTMUHWI

 

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DO NADA

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O começo da história do Nada é coisa difícil para a Ciência resolver, e até mesmo Deus não resolve bem esta parada.

O que se pode dizer é que a infância,  e a juventude do Nada, deve ter sido absolutamente  tranquila e em paz já que nada acontecia. Isso deve ter durado uma eternidade e, só por isso, estamos insinuando que o Nada já tivesse atingido a velhice quando surgiu o Tudo.

Somente quando o Tudo chegou, por volta de 13,5 bilhões de anos atrás, é que se movimentaram matéria, energia, céu, inferno, corpo, pensamento, infinitos, explosões etc.etc. Deve ter havido pela primeira vez um entendimento entre o Nada e o Tudo, do tipo “Agora é sua vez”, dito pelo Nada, naturalmente.

O que se suspeita é que um supremo Juiz, no caso Deus, haja  decidido essa contenda pela convivência  alternada entre ambos, para felicidade nossa já que nascemos depois por causa disso.  Até mesmo porque o Nada obstaculizava o próprio Deus Onipotente. Sem a presença de Tudo, Deus  não poderia existir o que constituía um paradoxo que nem Deus , com toda a sua infinita bondade, poderia aguentar.

2.E foi então que o Tudo começou a tomar conta de Tudo. O Todo Universal continua se expandindo, mesmo depois de 13,5  bilhões de anos, Inclusive na cabeça de um minúsculo ser chamado homem lá pras bandas de um insignificante planeta pras bandas de uma minúscula galáxia chamada Via Láctea. Num Universo em que tudo se expande (menos o nosso salário) nossos ancestrais, por exemplo,  tinham um cérebro muito menor.

Por que razão esse ser foi o único escolhido para pensar em todo este mundo ninguém sabe  explicar, mas pode-se conjecturar que talvez tenha sido essa uma das condições impostas pelo Nada para permitir que o Tudo surgisse através daquele minúsculo e invisível ponto, origem do big-bang, que só ele, o Nada, sabia onde se encontrava.

É como se o Nada impusesse, para dar lugar ao Tudo,  uma obrigação contratual: “Tudo bem, eu deixo o Tudo surgir mas o único ser que vai poder pensar terá de ser  um… quase Nada”.

  1. Dito e feito. O certo é que esse insignificante animal quase nada, dotado de pensamento e empolgado com tudo o que vê, entendeu de querer ser tudo e poder tudo sem jamais se lembrar do nada que foi e que será depois de um tantinho de anos.

Recente reportagem da revista Superinteressante mostra que nosso corpo é constituído mais de nada que outra coisa e, mais precisamente,  99,9999999999 % do volume do nosso corpo é constituído de vazio puro, oco, portanto. (Para entender melhor basta lembrar que se o núcleo de um átomo tivesse o volume de um cabeça  de alfinete o átomo seria do tamanho do estádio do Maracanã, sendo nosso corpo constituído de um mar de Maracanãs desertos, cada um com uma cabeça de alfinete no centro).

A mesma reportagem insinua que o Todo Universal em sua maior parte é constituído de Nadas doidos para aparecer  “Talvez o nada seja algo intrinsecamente instável , que tenda sempre a se transformar em alguma coisa e em antialguma coisa”.

O que induz  a pensar  que o Tudo e o Nada, ao fim,  talvez sejam a mesma  coisa e que o poeta estava certo: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Inclusive o Nada.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de Lendas

 

 

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TITE E SEUS TITÃS

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

 

Neste país existem duas formas de se chegar a ser Deus. Uma, é a de ter nascido deus, a outra é ter virado técnico da seleção brasileira de futebol. Como nascer deus não é assim tão fácil (se uma religião dá o seu aval, a outra nega) o outro caminho  é ser técnico da CBF.

Foi assim com Felipão, está sendo assim com Tite. O primeiro, depois de aprimorar a sua monumental arrogância O segundo, depois de aperfeiçoar a pose e os gestos de guru. Quando fala, parece um rabi anunciando o paraíso para os jogadores  e para si.  Há de se convir que com a grana que os craques ganham o paraíso já vem quase pronto, o que facilita a tarefa. No caso de Tite, o segundo maior salário entre todos os técnicos de seleção deste planeta explica essa aura de santo radiante, como muita gente o enxerga.

Dessa forma, como sua autoajuda de quinta categoria tem dado certo, os jogadores  o  adoram e estão prontos para dar o sangue por ele. Seria isso suficiente para trazer a taça?

Talvez, mas…

Uma boa lista de craques bem que ajudaria, mas a coisa ficou apenas no mais ou menos. Vamos a alguns casos, de infortúnio ou de exatidões. Lembrando que a palavra chave das escolhas de Tite , segundo ele, é a meritocracia.

CÁSSIO. Goleiro do Corinthians. Como todo mundo sabe Vanderlei,  do  Santos F.C. é muito melhor , o que faz restar poucas dúvidas de que  foi convidado por ser “colega” de Tite do vestiário do Corinthians.

FAGNER. Lateral do Corinthians. Dez anos atrás era, portanto, dez  anos mais novo e jogava  dez vezes melhor, mas o curioso é que ninguém lembrava dele para a seleção. Havia uma diferença: Fagner jogava no Vasco, hoje joga no Corinthians.

Ou seja, o critério, tão propalado por Tite, da meritocracia parece aumentar muitos graus quando o jogador é do Corinthians, time de sua paixão. A propósito, basta lembrar que Tite teve a coragem de torcer pelo Corinthians numa decisão contra o Santos F.C. como se fosse um torcedor comum do timão  e não um técnico da seleção, já entronizado.

MARCELO. Lateral do Barça. O melhor jogador brasileiro em atividade demorou a ser reconhecido devido a sua postura rebelde que apavora gurus do politicamente correto como Galvão Bueno e Tite. Desta vez a meritocracia não teve como derrubá-lo.

 

 

 

NEYMAR. Atacante do PSG. Embora Tite viva falando em união de grupo, motivação e patriotismo, na hora do  “pega pra capar” confia mesmo é em Neymar ( e Coutinho também)  para botarem a bola pra dentro e garantirem sua grana. A essas alturas, o comandante já deve estar pensando em beijar os pés de Bruna Marquezine  para implorar à moça que pelo amor de Deus não brigue com o temperamental craque e namorado. Já pensou se acontece o que dizem que aconteceu com Ronaldo, o fenômeno, que teria levado chifre em plena Copa?

RENATO AUGUSTO. Joga na China. Outro que jamais seria convocado por algum treinador em desfavor de Luan ou Artur, do Grêmio, bem melhores que ele. Mas acontece que é outro que satisfaz plenamente a condição básica  do Manual da Meritocracia de Tite: Augusto jogava no Corinthians.

 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

e O entrevistador de lendas

 

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MISTÉRIOS DO COTIDIANO MARANHENSE

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Se no Brasil tem mistérios para dar e vender no Maranhão, então , nem se fala!

1.A seca eterna do Batatã .

Um mistério ronda a barragem do Batatã. Nesta bendita terra chove todos os dias, de manhã, de tarde, e de noite, mas a notícia que chega dos jornais é a mesma de sempre: O NÍVEL D’ÁGUA CONTINUA  BAIXO!

Fico imaginando a explicação: seria água saindo pelo ladrão ou ladrão saindo com a água? Um escoamento, jamais descoberto,  no fundo do açude? Ou será que o solo bebe água, como diz o caboclo? Talvez, já tenha sido planejado para que o reservatório jamais encha, visando manter a população sempre atenta  em sua economia de água . Neste caso, só viria a encher se um dia baixasse em São Luís um dilúvio igual ao dos tempos de Noé.

Mesmo assim, ouso desconfiar   de que a  chamada do noticiário, logo após o dilúvio seria  : “A Arca de Noé acabou  de encalhar no Batatã, por falta de água!”

2.A grana paga por Vinícius Jr.

 

Mesmo com tanta grana no mundo do futebol e  que Neymar ( por exemplo)  ganhe, por gol, o que Garrincha levou a vida inteira para ganhar, a dinheirama  paga pelo Real Madrid pelo “menino” Vinícius Jr. foi pra lá de absurda. E bote absurda  nisso, se levarmos em conta que foram 160 milhões de reais. Pelo que o rapaz joga ( o insuspeito Tostão o considera apenas um jogador razoável) daria pra ter comprado cinco Paquetás, que joga no mesmo time e é melhor que ele.

Haja especulações na net para explicar o episódio, que descambam até em lavagem de dinheiro. Será? Ou simplesmente coisas de um futebol onde não se fazem mais craques como antigamente a ponto de ser preciso fabricá-los,  seja lá como for?

3.A mala de  milhões de Geddel

Todo leitor de romance policial sabe da formidável atração que existe entre mala de dinheiro e mistério. A diferença é que, no romance policial, ao final, se acaba descobrindo de onde veio o dinheiro da  mala.

Já na vida real, pelo menos no Brasil,  a coisa é diferente. Não há Sherlock Holmes que consiga desvendar ao fim de mais de ano que diabos foram fazer 55 milhões de reais na mala de Geddel e dentro do seu apê.

Teriam ido passear em sua casa? E por que não na nossa?

  1. Para onde irá o VLT?

O VLT foi aquele vagão que desfilou alguns anos atrás nas ruas da capital, rodeado de políticos e sendo mais aplaudido  do que dupla sertaneja.

O problema é que seu momento de glória foi curto. Após seus quinze segundos  de fama as últimas notícias a respeito davam conta de que se encontrava em algum depósito, fazendo um proveitosos estágio para virar sucata . Para onde irá agora passou a ser o  grande mistério que paira sobre sua sina.

Uma das soluções é a de que acabará tendo morte metálica comum em algum forno metalúrgico de fundir sucata. A outra, talvez mais romântica, é a de que se torne mais uma lenda sanluizense, assim como Ana Jansen, ou a   Serpente Encantada .

Nome para isso tem:  basta mudar a ordem das letras e passar a se chamar LVT. A Lenda do Veículo Tartaruga. (que nunca saiu do lugar).

 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

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AS MELHORES PROFISSÕES

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Entendendo-se como melhores profissões aquelas em que você ganha muito bem sem precisar fazer  esforço físico, ou mental , um site especializado listou as seguintes entre as melhores neste país.

1.Comentarista de futebol.

Existem hoje mais de cinquenta programas esportivos na tevê com mais de 5 jornalistas em cada mesa redonda . O assunto é um só: futebol. Como o futebol está longe de ser uma ciência complicada sugere-se que a primeira grande vantagem desta profissão é a vida mansa, já que o profissional que assiste o primeiro programa  da madrugada já tem o trabalho pronto  para o resto do dia.

Satisfeita essa primeira vantagem resta, como única dificuldade, saber executar uma boa encenação na hora dos debates: ou seja,  basta fazer de conta, ao analisar um pênalti ou um gol, que isso é algo tão complexo como explicar a Teoria da Relatividade.

2.Capelão de Polícia.

Rezar nunca foi um exercício árduo, principalmente porque o  profissional conta com a ajuda de Deus para resolver  os problemas . Se,  além disso, o sujeito recebe uma baita grana  (Vinte mil reais , para capelão-coronel, segundo consta) eis a profissão que todo mundo pediria a Deus.  Mesmo admitindo a necessidade de um  profissional na corporação para rezar missa de sétimo dia, quase todo dia, dadas as condições de insegurança que assolam este país, há de se convir que um padre comum sairia bem mais em conta .

Alguém poderia argumentar que a principal  esforço desenvolvido pelo capelão não é só o de rezar missa como também o de rezar pelas almas dos heroicos soldados mortos. Ora, como já existe contingente com mais de 30 capelães, o purgatório precisa estar mais lotado do que a cadeia de Pedrinhas  para justificar tanta reza!

Certo, uma reza a mais não faz mal a ninguém, mas para aproveitar a sobra, uma boa pedida seria solicitar que os capelães também rezassem por todos nós, para que consigamos pagar as multas exorbitantes impostas pelas blitzes.

Quem sabe a nossa existência ficaria menos infernal e a dos capelães um tantinho menos paradisíaca!

3.Pai de Neymar

Essa profissão, somente há pouco reconhecida como tal, é considerada a melhor já inventada no Brasil, embora só esteja ao alcance de seres especiais. (Obs. São tantos os concorrentes que ter produzido o esperma que gerou o craque não significa exclusividade).

Tanto é assim que, dias atrás, Ronaldo, o fenômeno, expressou essa vontade publicamente dizendo que Neymar deveria agir assim ou assado e lhe cobrindo de conselhos, a torto e a direito. A mensagem foi óbvia: Ronaldo, (de olho na grana), é o primeiro candidato oficial a Pai de Neymar.

 

 

O que não é de estranhar visto que ser pai de Neymar implica muita grana e benesses mil. Uma das mais vantajosas e, até aqui,  bem aproveitadas pelo pai de Neymar (o verdadeiro) são as sobras dos relacionamentos amorosos do craque, como  aconteceu com uma popozuda muito famosa.  Poucas dúvidas restam, portanto, de que foi do Pai de Neymar o conselho ao filho para segurar a  Bruna Marquezine, de olho no seu próprio futuro.

É ou não a profissão mais invejada do país?

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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A DONA DO PEDAÇO

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É ela, a Rotina. Lá vem ela de novo,  a pecadora de todos nós. Oscar Wilde dizia que não existe pecado maior que o tédio. Existe sim, aquela que é a mãe do tédio: A ROTINA. A desvairada, a contínua, a perturbadora, a insistente. Eu não  a quero, você não a quer, ninguém a quer, mas ela vem, ela vem, ela vem…

Por que nunca se renova, essa bruxa persistente? Ao invés disso prefere se disfarçar de Deus, das horas, do tempo. Traz  todos os dias o mesmo café, o mesmo sol, o mesmo trabalho, a mesma urgência das coisas. Talvez por ter parte com a eternidade, além de tudo é intrometida: mete-se na nossa comida (é péssima cozinheira e se um dia comemos algo maravilhoso, lá pela terceira vez  ela chega para botar gosto ruim). Mete-se em nossa vida particular, até no nosso amor ela tenta se imiscuir como um cupim e transforma paixão em sensaboria.  Ela é tão terrível que faz o danado do cupim virar rotina em nossos móveis, nas páginas de nossos livros.

Alguém disse que todo dia é uma nova vida para aquele que sabe viver. Bonito pensar assim, mas todos  sabemos que a vida humana é apenas um breve relâmpago e que, para fazê-la brilhar  você tem que aprender que “saber viver não é tão fácil assim”. Como sentencia de novo Oscar Wilde (já virando rotina): a maioria das pessoas apenas existe, viver é para poucos. Claro, porque quem sabe viver não viveria com políticos como esses, com um engarrafamento desses, com músicas de duplas sertanejas fajutas como essas, com corruptos assim. A dona Rotina é uma implicante tão contumaz que possui  um relógio infalível chamado tempo que, como uma arma, vive apontando para nossas cabeças. E inda tem a coragem de nos perguntar: “E aí, se já cansou de mim, que tal um suicídio?”

Uma dúvida permanece. Por que não a expulsamos de vez?

Poderíamos dar um grito de liberdade a cada segundo e isso seria suficiente para espantá-la, pois a única coisa que teme é a liberdade. A liberdade de pensar, de agir, de renovar-se a cada momento pela imaginação, a única forma de superar  as mais tediosas  realidades. Mas preferimos nos agarrar à escravidão que ela nos traz: às opiniões alheias, ao inconsciente coletivo, ao politicamente correto, à mesmice das competições bobas da tevê,  aos celulares carentes de emoções.

Ou será que, no fundo, gostamos um pouco dela? Do que ela tem de constante e exato? Do seu jeito de nos despertar e adormecer sempre da mesma forma? Quantas vezes nos apegamos tanto a ela que ao invés de ela ser o nosso cupim nós é que como cupins, a alimentamos, pois, de repente, já nem sabemos o que fazer sem a sua companhia. Quando ela nos falta logo pensamos: tem alguma coisa estranha no ar. Está faltando uma lâmpada ali, um cigarrinho aqui, está faltando aquele sofá onde sento e  durmo, aquele som do aparelho, está faltando o ar.       Talvez porque saibamos que um dia morreremos e então mudará a rotina. Ou por julgarmos que por pior que seja a nossa  rotina, ELA  ainda é melhor que o desconhecimento ou o nada.

No fundo, gostaríamos que ela viesse sempre para, agradecidos, dizermos: Bendita rotina da vida!

José Ewerton Neto é autor do romance policial O ofício de matar suicidas

https://www.youtube.com/watch?v=ZNlO01ob9is

 

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REENCARNAÇÕES BRASILEIRAS

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Tem gente que não acredita em reencarnação. Deveria acreditar já que, ao fim de tudo, não passamos a cada instante de reencarnações de nós mesmos na base do “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. As várias reencarnações de autoridades brasileiras se auto  comprovam.

GILMAR MENDES. Nascido em Portugal foi empregado como carcereiro durante a Guerra Civil Espanhola. Enriqueceu recebendo propina para soltar presos endinheirados, até que foi descoberto pela tropa do generalíssimo Franco. Muito articulado, conseguiu se safar sendo substituído no pelotão de fuzilamento por outro prisioneiro. Após sua morte, acreditando na recuperação de sua alma, Deus o fez ser reencarnado no Brasil para se tornar um especialista em Direito. De fato, se tornou especialista, só não perdeu o hábito de soltar presos visando vantagens.

DILMA ROUSSEF. Oriunda da Europa Oriental  nos anos 30 refugiou-se na França com o nome de Régine. Após desistir de arrumar marido (devido sua aparência) sobreviveu vendendo marmitas aos soldados durante a segunda guerra até que descobriu que teria mais lucros fornecendo prostitutas, ao invés. Tornou-se a dona de um cabaré muito famoso com o  nome de Madame R. Ao fim da guerra foi condenada ao fuzilamento, mas como ninguém entendia o que ela falava julgavam que fosse louca, vindo a falecer no sanatório.

Reencarnou como guerrilheira no Brasil porque Deus acreditou que nessa função poderia se regenerar ou,  pelo menos,  recuperar sua fala ininteligível. Como todos sabem Dilma Roussef acabou virando presidente da República para estranhamento divino.

MICHEL TEMER.

 

Foi um bruxo de segunda categoria durante a Idade Média, ou seja, daqueles que ganhavam a vida denunciando mulheres como feiticeiras para que estas morressem na fogueira e eles ganhassem prestígio.  Praticava falsa  alquimia e, com uma aparência entre vampiro e Satanás  andava de um lado para o outro com uma mala onde carregava poções e dinheiro vivo. Denunciado, fugiu para o Brasil  onde veio a falecer .

Depois de ter passado alguns anos no inferno Deus compadeceu-se dele e resolveu dar-lhe uma chance. Como todos sabem também se tornou presidente e continuou se associando a mala de dinheiro e a promessas enganadoras.

LULA.

 

 

No início do século  passado Lula não era um ser humano mas um sapo rabugento que coaxava o tempo todo, reclamando de tudo, doando-se ares de líder da saparia na lagoa. Com pena dos demais sapos Deus resolveu dar-lhe um castigo: “Nada de moleza. Serás um ser humano , trabalharás duro como operário e terás um dedo cortado.” Dito e feito. Lula se fez operário em São Paulo e teve o dedo decepado. Sua origem de batráquio não passou despercebida a Leonel Brizola que o chamou de sapo barbudo. Por incrível que pareça o talento de reclamar de tudo e de todos levou-o também à presidência,

Depois do fracasso de  tantas reencarnações Deus está tomando a decisão de proibi-las no Brasil porque por aqui tudo sai ao contrário e as almas pioram. Já existe, inclusive, uma corrente de conselheiros no céu que, desiludidos estão pensando na solução extrema de reencarnar o próprio país  em outro lugar. É difícil, mas como Deus tudo pode, quem sabe…

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

https://www.youtube.com/watch?v=zOVJJTMUHWI

 

 

 

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SETE VIDAS

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Recebi de presente do confrade Benedito Buzar o livro As Sete Vidas de Nelson Motta. Possuidor de multifacetado talento, o  jornalista, compositor, escritor, empresário e apresentador de tevê  traça, nesta espécie de autobiografia comentada, um rico painel da vida cultural brasileira onde pontuam personalidades marcantes da vida artística e intelectual – nacional e internacional – de Paulo Francis a Rolling Stones. Alguns momentos do prazeroso livro:

Sobre Rolling Stones

(…) Sem que ninguém soubesse Mike Jagger esteve no Rio na casa de Fernando Sabino. Edu Lobo e Luiz Eça foram também convidados por Fernando para mostrar um pouco de música brasileira para o agitado Mike que, no entanto, não mostrou interesse por música de qualquer tipo e preferiu falar o tempo inteiro sobre filosofias indianas, LSD e outras “descobertas do espírito”.

Sobre Elis Regina

 

 

(…) Sem ser uma comediante ela consegue ser engraçada, sem ser bailarina consegue dançar bem, sem ser americana canta muito bem em inglês, sem ser da jovem guarda interpreta muito bem Roberto Carlos. Por ser uma extraordinária cantora e uma rara personalidade artística, ela  consegue fazer tudo isso com talento ao longo de duas horas de show.”

Sobre Lampião e a moda Hippie

(…) Lampião  o rei de cangaço, se não foi um hippie na filosofia de vida o era na moda. Cabelo grande? Basta olhar as fotos onde qualquer Mike Jagger seria considerado um Yul Brinner diante de sua cabeleira lampiônica. John Lennon foi um beatle plagiário ao copiar sua moda de óculos redondos de aro bem fininho, que o cangaceiro usava não porque precisava deles, mas porque achava bonito.

Sobre Clarice Lispector. Obs (Durante a  célebre passeata dos cem mil)

 

 

 

(..) Eu me sentara ao lado de Vinícius de Moraes com sua clássica camisa preta de banlon e não tirava os olhos de Clarice Lispector. A escritora era uma mulher alta, alva e belíssima. Vestida com discreta elegância e sentada no asfalto quente, gritava slogans e se desmanchava em elogios calorosos ao charme de Chico Buarque que não estava à vista.

Sobre Raul Seixas

(…) Por meio de rock e baladas, xaxados e baiões, Raul vai passando a sua visão do mundo, à qual não faltam humor e irreverência, por mais duros que estejam os tempos. São raros os autores musicais que tenham fustigado tanto e tão ferozmente o establishment, como Raul, à sua maneira – uma maneira muito brasileira  de criticar o que incomoda, restringe e aprisiona.

Sobre cocaína

(…) “Está nevando no Rio de Janeiro”. A frase era ouvida com frequência entre gargalhadas e intenso júbilo nas noites cariocas do início dos anos 80. Como uma neve química a cocaína se espalhava pela cidade, não só entre artistas, festeiros e criaturas da madrugada, mas seduzindo políticos, médicos, grã-finos e donas de casa, todo mundo estava caindo de nariz no pó branco que dava instantânea sensação de poder e alegria. Irresponsáveis dirigiam enlouquecidos pela cidade. Homens que cheiravam muito ficavam loucos de tesão, mas completamente brochas.

Depois de 5 anos de dependência decidi parar e me mudei para Roma. Dependeria mais de mim do que dos outros me livrar do que, 30 anos depois, Paulo Coelho, que na época cheirava como um tamanduá  e apresentou a cocaína a Raul Seixas,  chamaria de “ droga do demônio”.

 

José Ewerton Neto é autor de

O entrevistador de lendas

 

 

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A ORIGEM DE TUDO

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O QUE SOMOS? DE ONDE VIEMOS? PARA ONDE VAMOS ? Essa pergunta, básica e inquietante para qualquer ser humano minimamente preocupado com o sentido de sua própria existência, nomeou uma conhecida obra-prima da pintura, no caso um trabalho do artista francês Paul Gauguin.

O que ninguém esperava é que viesse a se tornar o tema principal de um romance de proposta  intrigante, que se tornou  best-seller, no caso o policial ORIGEM de Dan Brown. Classificando-o como policial (e ele o é, sem dúvida, porque encerra crime, investigação, intriga e mistério) desta vez o objeto de desejo não é um falcão maltês, como no famoso noir de  Dashiel Hammet,  nem fortunas em jogo, como na maioria dos enredos do gênero, mas a solução dessa pergunta.

Dan Brown, o autor não se perde em piruetas de estilo ao gosto de alguns críticos literários.  Seu plano de narrativa é oferecer uma trama,  que soa às vezes implausível,  mas que carrega o fascínio da perseguição às grandes descobertas. De quebra,  oferece informações e conhecimentos básicos, mas atualizados,  de física e da Teoria da Evolução que compõem um enriquecedor contraponto ao desenrolar do enredo, onde com frequência pontua o eterno embate Ciência x Religião. Aqui e ali, o autor evidencia nas entrelinhas, a sua simpatia pela vitória da primeira, mas de cujo veredito  sabiamente se esquiva com falas redentoras e quase definitivas como a de um de seus personagens, um cientista: “Quando testemunho a precisão da matemática, a confiabilidade da física e as simetrias do cosmos, não me sinto observando a ciência fria . Sinto que estou vendo uma pegada…A sombra de uma força maior que está fora de nosso alcance”.  

 

 

Enquanto a narrativa se encaminha para o final apoteótico  (a exposição para todo o planeta do conhecimento adquirido por um gênio da ciência ) um verdadeiro tour de force acontece com a sina dos protagonistas, na realidade meros figurantes do personagem principal que é essa grande questão universal.

Diria que caso o leitor, como eu, seja seduzido mais pela  curiosidade em relação à resposta que pelo enredo em si,   a solução final é apenas parcialmente compensadora. O “De onde viemos” embora fundamentado numa original e revolucionária teoria científica, carece de maior embasamento justamente por ter surgido de ousados estudos científicos, carecendo-lhe rigor e comprovação. Já o “Para onde vamos” anunciado com estardalhaço como estarrecedor, não chega a esse nível de tensão para quem acabou de ler livros sobre o tema como os recentes livros de Yuval Harari  e, portanto, já concebera  algo nesse rumo em termos de previsões.

Lembro  um grande autor que,  em palestra para estudantes, instado a explicar o que era necessário para escrever um romance respondeu que essa tarefa era simples: “Ponha no começo uma letra maiúscula e no final um ponto. No meio você coloca uma boa  ideia.”  Foi o que fez Dan Brown com  imaginação e talento.

 

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

https://www.youtube.com/watch?v=zOVJJTMUHWI

 

 

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AUTOAJUDA E BAIXA-AJUDA

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Fico imaginando o que os grandes homens do passado: Jesus Cristo, Shakespeare, Galileu, Da Vinci, Napoleão Bonaparte achariam da avalanche de livros de autoajuda que assolam as livrarias com  seus títulos supostamente convidativos. Tenho a impressão de que sentiriam a mesma ira de Cristo ( ele também tinha raiva, senhores e nem sempre perdoava!) ao expulsar com chicote os vendilhões do templo. Napoleão Bonaparte, por sua vez, talvez colocasse de quarentena o soldado que aparecesse com um livro desses, para não afetar a moral da tropa.

Eis um resumo dos mais badalados livros de ajuda,  e o que eles propõem,  para você pensar um pouco antes da compra. Sabendo de antemão de que se conselho fosse bom ninguém dava,  vendia, o que não significa que um conselho seja bom só porque se compra.

1.Como Fazer amigos e Influenciar Pessoas. Dale Carnegie.

Se você carece tanto assim de muitos amigos, antes de iniciar sua leitura lembre-se da frase “ Deus me proteja de meus amigos que dos meus inimigos cuido eu.” Talvez ela encerre mais sabedoria que toda lenga-lenga que você vai ler .             Por outro lado,  se seu negócio é influenciar pessoas amigas e inimigas esqueça definitivamente a primeira parte que trata da amizade. Se você tem a intenção de influenciar alguém, bom amigo você não é.

2.Porque Fazemos o que Fazemos. Mário Sérgio Cortella.

Não vá nessa conversa. Faz uma eternidade que isso pouco importa.  Se Deus  fez o Universo e até hoje não disse porque o fez, nem para quê, (talvez porque nem ele mesmo saiba) por que você (ou alguém ) há de querer saber porque você, o Pablo Vittar,  ou o King-Jong-Un fazem o que fazem?

3.Os Segredos da Mente Milionária. T. Harv Eker

E que disse que isso tem segredo? No Brasil, particularmente, todo mundo sabe como funciona: se você nasceu pobre e for assediado com propina, ensine sua mente a aceitar. Se você for rico  e tem dinheiro suficiente para comprar a mente de alguém, mande ver. Se você não for uma coisa nem outra, entre num partido político e espere passar a mala de dinheiro. Mais dia, menos dia sua mente milionária estará prontinha!

4.Quem Pensa Enriquece, Napoleon Hill

Conversa fiada!  Quem não se lembra dos tantos gênios pensadores, Kafka, Van Gogh etc. que morreram pobres? Por outro lado, a vida moderna está cheia de gente que jamais gastou um milionésimo de segundo de sua vida para pensar e está podre de rico: Neymar, Faustão, Dilma Roussef etc.

5.Ansiedade. Como Enfrentar o Mal do Século. Augusto Cury

Quem disse que a ansiedade é o mal do século? De onde veio esse pódio, conferido, injustamente, à pobre da ansiedade? (Um  sentimento tão nobre e salutar que quando se torce pro nosso time,  vira desculpa pra lá de vantajosa pra se poder enfiar as mágoas num copo de cerveja se o time ganhar ou se perder).

O mal do século, no Brasil, certamente está entre a música sertaneja e as duplas que as cantam.

  1. A Arte de Fazer e Acontecer, David Allen

Não perca seu tempo. Essa arte é simples e pode ser resumida em poucas palavras: se você está dormindo e, mesmo assim, está acontecendo, claro que  você está sonhando. Se você está acordado (neste país) e, de repente,  parou de acontecer das duas uma: ou o trânsito está engarrafado ou você acabou de morrer de bala perdida.

E assim por diante…

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luís.

 

 

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