Os melhores do whats’app

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3 tipos matemáticos

Que cada grupo de whats’app é um curioso painel dos comportamentos humanos, onde afloram virtudes e desvios em diferentes formatos, isso, mais ou menos, todo mundo sabia. O que não se sabia é que podiam ser assemelhados aos signos matemáticos. Como neste exemplo, de um grupo de gente com mais de 50 anos:

1.O zappeador conjunto vazio.

É aquele membro do grupo que ninguém sabe, ninguém viu. Nada comenta, tampouco manda vídeo. Deve ter sido incluído no grupo, à revelia de si mesmo; um belo dia alguém pegou uma lista de antigos colegas e pronto, meteu-o no meio sabe-se lá como.

Isso dura até o dia em que alguém encontra no fundo do baú uma foto amarelecida dos tempos idos do ginásio e, vendo a turma toda reunida, posta no grupo. Todos acabam por se reconhecer uns aos outros, com imensa dificuldade que só não é maior do que a de reconhecer a si próprios. Logo  uma dúvida se alastra. “Quem é aquele de óculos?” As exclamação  se sucedem até que alguém mata a charada: “Gente só pode ser o Bertoldo”. “Isso mesmo, o Bertoldo, por onde andará?”. Mistério insondável a que se seguem novos comentários: “Coitado, não  regulava direito”, “ Tinha muita dificuldade em entender o básico na escola”, “ Não podia ter se dado bem, soube que acabou se mandando pros USA, onde deve ter entrado clandestinamente”, “Pior, outro dia soube que ele morreu” “ Verdade? Que Deus o tenha.”

Nisso um número esquisito com código do exterior adentra na conversa “Olá, pessoal, sou eu o Bertoldo. Não me matem ainda, por favor!” As exclamações  se sucedem, alguém tenta remediar “Grande Bertoldo, por onde você anda rapaz. Nem sabia que você estava no grupo, o que anda fazendo?” “ Estou radicado aqui nos USA”, responde Bertoldo, e explica “ Sou cientista-chefe de um grupo de pesquisa da NASA, por isso não tenho tempo para conversar com vocês, caros colegas. Mas foi muito bom sabê-los vivos. Como eu . rsrsrs“

2.O zappeador  Infinito ( Como a sua fé!)

Tudo nele parece rescender uma divindade infinita. Pelo menos no que posta no grupo. Frases da Bíblia, retratos do divino espírito santo, anjos e santos, tudo ele manda para o grupo, aos borbotões.  Se todos tivessem o cuidado de separar todo o conteúdo que ele envia  já teriam mais de uma bíblia em casa.

Segundo o líder do grupo em conversa com outro membro (no zapp particular de ambos) tanta mensagem religiosa tem a ver com uma tentativa de pedir perdão antecipadamente a Deus pelos muitos pecados, agora que a velhice chegou e a morte caminha, digamos assim, mais acelerada.

3.O zappeador dízima periódica

É aquele que exclama, parabeniza e aplaude tudo utilizando os bonecos mais estapafúrdios em diferentes combinações, derretendo-se em elogios até se alguém postar o áudio do próprio peido.  Não larga o aplicativo nem para tomar banho e faz questão de exercer essa autonomia  em plenitude mandando a primeira mensagem de bom dia e a última antes de dormir.  

Médico aposentado, morando no Rio, dias atrás anunciou no grupo que estará visitando São Luís para uma série de palestras o que motivou o seguinte comentário do líder do grupo (no particular, é claro) quando indagado sobre qual o assunto das palestras: “Que medicina, que nada! Estou desconfiado de que ele vem dar um curso de boneco de zapp”.

José Ewerton Neto á autor de O ABC bem humorado de São Luis

À venda nas livrarias AMEI e Vozes

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Eu fritei hambúrger, my friend!

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artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão

Não se comenta outra coisa  depois que Eduardo Bolsonaro, deputado carioca,  apontou como um de seus atributos para ser embaixador do Brasil, nos USA , o fato de um dia ter fritado hambúrguer por lá. “Eu fritei hambúrguer, portanto mereço  a honraria”.

Ora, tal fala não era para  ter merecido contestação da mídia.  As pessoas precisam entender que,  em pleno século 21, as credenciais para ser um embaixador mudaram muito por conta  do processo evolutivo. Ao criticarem o presidente, esquecem, por exemplo, de que o hambúrguer fritado pelo rapaz  pode ter sido saboroso, com um sabor americanizado pouco comum por aqui.  Afinal de contas, não é todo dia que um pai come um hambúrguer fritado pelo próprio filho e, mais ainda, que este seja digno de ser comido.

Essa profusão de contestações tornou urgente para os estrategistas do Planalto, o anúncio dos novos pré-requisitos  a serem exigidos para alguém que se pretenda ser embaixadora partir de agora . A saber:

1.Que saiba fritar Hambúrguer.

Ao contrário do que dizem os contestadores, fritar hambúrguer,  é sim, um pré-requisito essencial para um futuro embaixador dos USA. Responda depressa Que é mais importante para a vida prática de um embaixador em terra de gringo? Saber fritar um hambúrguer ou conhecer a Teoria da Relatividade? Ora, deixemos de ser hipócritas. Certos conhecimentos  deixaram de ser fundamentais para o exercício profissional de um embaixador na  vida moderna.

 Embaixadores, como se sabe,  têm vida noturna  intensa, já que  frequentemente saem para baladas e participam de surubas chiques . (Ocultas,  é claro). Vai que numa dessas demandas  terminem a noite num local imprevisto, doidos de fome. Quem salvará a situação fritando um hambúrguer?

2.Que saiba falar inglês elementar,  e que tenha morado nos  USA. Longe de imposições curriculares arcaicas um  embaixador   de hoje não   precisa possuir  proficiência em inglês, capaz de traduzir, por exemplo,  o Ulisses, de James Joyce. Ao contrario, só carece, de uma vivência norte-americana  que o torne capaz de ter apreendido um inglês gestual,  minimamente suficiente para ser entendido por todo tipo de gente que frequenta as embaixadas.  

3.Que seja amigo da família do presidente dos USA.

O que se passa a exigir de um futuro embaixador é que tenha tido contato com os familiares do presidente americano,  relativizando-se  o grau de amizade. Não precisa ter sido amigo de  infância, jogado futebol,  ou compartilhado punhetas com o rapaz no mesmo banheiro. Basta que tenha gritado um dia  “ Oi, my friend!”  para o filho do presidente americano,  mesmo que este não  tenha escutado.

4.Que seja filho do presidente do Brasil.

Este último predicado, sim,  é fundamental e sine qua non. Afinal, não existe até hoje a mais remota  possibilidade de alguém fazer um curso para ser filho de presidente e diplomar-se nisso .

Há de se reconhecer o esforço realizado para ser filho de um presidente, especialmente no caso brasileiro (Aguentar Bolsonaro, há  de se convir, não é tarefa fácil para qualquer infância que se preze) 

Enfim,  esse quarto item é um ofício que se aprende por dedicação própria  não nos bancos de uma escola, mas nos bancos comuns dos idos da juventude . Geralmente  para pegar a mesada. 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

À venda na livraria AMEI

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Filmes superestimados

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Cidadão Kane, considerado um
dos melhores filmes de todos os tempos

Listas são assim mesmo, nenhuma é perfeita. O que não significa que muita gente não seja atraída por elas, inclusive este cronista que vos fala. Gosto tanto de listas que tendo comprado um dia O livro das listas de Irving Wallace,  belo dia não o encontrando,  julguei  que havia se extraviado. Desolado, mandei buscar outro exemplar na Estante Virtual até que deparei, poucos dias depois, num sebo, com um exemplar do livro. Sem pensar muito o carreguei pra casa  com a desculpa:  “Bom que agora terei  dois”. Resultado: hoje possuo três porque acabei achando o primeiro.

Sendo assim não é de admirar que, ao topar na net com mais uma das incontáveis listas de melhores filmes, tenha ido conferi-la, a ver se havia novidades ou se os escolhidos coincidiam com alguns dos meus prediletos. Constatei que havia assistido a 25 do total de cem,  o que não considerei  tão mal assim para quem não é cinéfilo e há muito tempo deixou de frequentar as telas com frequência . Acontece que não sou muito chegado a cinemas em shoppings centers, e, em casa, na tevê, o futebol acaba se impondo porque a esse posso assistir em paralelo com a atividade da leitura de revistas ou livros, coisa que não dá para acontecer vendo filmes.  

Foi então que parti para a segunda lista, desta vez sobre os filmes mais superestimados de todos os  tempos.  Evidentemente  que esta se trata de uma lista de elaboração mais complexa , já que , neste caso, trata-se de contrapor uma apreciação negativa a um  juízo positivo já estratificado e consagrado.  Verifiquei que, os elaboradores da lista tiveram o cuidado de nortear a pesquisa municiando-a de críticos consagrados do mundo inteiro para diminuir a margem de erro.

Desta segunda lista eu não havia visto vários, na qual se incluem  filmes premiados com o Oscar como Avatar, Gravidade, Shakespeare Apaixonado, Coração Valente etc., os quais não presenciei por falta de oportunidade e/ou interesse. Quanto aos apontados na lista que tive oportunidade de ver, tive a mesma impressão dos votantes na quase totalidade. Inclusive,  o famoso Cidadão Kane, o que, de certa forma, reabilitou meu tirocínio como apreciador da sétima arte.  É que jamais entendera o que de tão maravilhoso havia nesse filme, por mim visto na juventude,  para que constasse da maioria das listas sobre os dez melhores de todos os tempos. A verdade é que, mesmo tendo entendido a mensagem sutil do diretor, e sendo capaz de perceber seu caráter inovador para a época, achei-o arrastado demais para o resultado observado.  

Inquietou-me sobremaneira, porém, a presença de um filme em especial, nessa demolidora lista, o que me fez discordar dos argumentos apresentados para incluí-lo.

Trata-se de Sociedade dos poetas mortos, uma fita que sempre considerei com empatia, por haver tratado de forma envolvente e delicada, embora cáustica, um tema que aprecio,  o bildungsroman que na literatura me proporcionou O apanhador no campo de centeio, O Ateneu, O retrato do artista quando jovem  etc.  sobre  essa fase da vida  que é (conforme consta da narrativa  de um dos episódios de meu próximo livro de contos a ser lançado)   “ a maior de todas as liberdades, chamada juventude”.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis à venda na livraria Amei, shopping São Luis

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Um conto de fadas moderno

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Um bom conto de fadas moderno
começa no celular

Como deve agir,  hoje em dia, uma moça bonita,  mas pobre, para casar com um príncipe? Antigamente bastava virar personagem de um conto de fadas,  mas tudo muda. O buraco (literalmente) é mais em baixo e muitas não resistem à tentação de apelar justamente para ele.

A Cinderela atual tem nome bonito, corpo bonito,  e nasceu em São Paulo. Pobre, nunca chegou a ser uma gata borralheira, no máximo chegou a  gata, como a tratavam  os rapazes suburbanos que a assediavam. Penou para sobreviver,  mas nunca arredou do sonho típico  das Cinderelas. As de antigamente, como se sabe, recorriam às fadas ou às bruxarias para acessar seus príncipes, as de hoje recorrem às redes sociais. Foi o  que fez nossa  Cinderela versão 2019.

Ela sabe que é fácil encontra-los dando sopa por aí, nos facebooks da vida. Hoje eles já não enfrentam dragões e  bruxas.  Pra quê? Muito mais fácil é correr atrás de uma bola, virar craque e ganhar muita grana. O poder que  os príncipes possuíam, que as casadoiras almejavam, e que vinha da beleza, da coroa e do sangue azul hoje vem dos euros que recebem. Grana, muita grana.

Pois foi com um príncipe desses que a cinderela 2019 sonhou. Ao invés de vestidos bonitos, como se exigiam das futuras princesas, os príncipes de hoje preferem que as candidatas dispensem as roupas. Quanto menos pano para cobrir, melhor! Ao invés de bilhetes, mensagens obscenas; ao invés de promessas de amor, vídeos de strip-tease.

Nossa  Cinderela mandou ver  e foi tão exuberante em sua  performance que o príncipe, sucumbindo aos seus encantos, mandou busca-la do outro lado do Atlântico . Claro, carruagens e corcéis são coisas do passado, príncipes de hoje preferem jatos transatlânticos para transportar suas escolhidas.

E foi só a partir desse ponto que o conto de fada virou  conto enfadado. A cinderela bem que fez a sua parte tentando salvar a lua de mel a que tinha o direito, vindo de tão longe. Queria a festa da meia-noite durando por toda a eternidade, mas não tardou  a descobrir que  o melhor não era reservado para ela. O príncipe, mais veloz que o jato que a trouxe, só queria mesmo uma rapidinha.

Só então a Cinderela se tocou, vendo seu sonho desmoronar e disse: “ Peraí, Príncipe ! Vai me deixar sozinha aqui neste hotel . Cadê nossa lua de mel ?” O príncipe , generoso como seus ‘parças ‘ insinuam,  deve ter se achado  dono de toda filantropia do mundo quando respondeu: “ A lua você olha pela janela Cinderela, já o mel eu mando trazer de Uber. Pode ficar tranquila” .

Não restava outra saída para Cinderela senão iniciar uma sessão de tapas com segundas e terceiras intenções. Vendo  que o príncipe,  mesmo com toda fama de cai cai,  era duro na queda  Cinderela subiu o tom da vingança: “  Você não passa de um príncipe  encantado de segunda! Nem pra me comer direito serve, garanto que o lobo mau comeu o chapeuzinho vermelho melhor do que você. Vou gritar e mentir pra todo mundo que você me estuprou.”

O resto,  a imprensa toda divulgou,  confirmando que é desse jeito que os contos de fada modernos terminam . Na delegacia. Não deve ser  por falta de príncipes, nem de cinderelas. Talvez, porque já não se fazem mais contos de fada como antigamente.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

2a edição , somente na livraria AMEI, shopping São Luis

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MANIFESTAÇÃOLOGIA, ou os outros que se f…

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MANIFESTAÇÃOLOGIA é a ciência que estuda as manifestações populares reivindicatórias.

Originou-se a partir da necessidade de entender e teorizar sobre a sucessão de eventos que, com essa denominação, tomaram conta da rotina de certos países, especialmente no Brasil onde se tornou um hábito. A Manifestaçãologia, assim, é uma ciência nascida e desenvolvida em nossa terra,  o que deveria nos encher de orgulho pátrio.

O Postulado fundamental da nova Ciência anuncia-se:

“Nenhuma Manifestação carece de Manifesto!” Ou seja, por mais estranho que pareça, nenhuma manifestação precisa de motivação para que aconteça, o que traz por consequência os  seguintes  corolários:

1.”O ato de se manifestar é mais importante do que a Reivindicação.” Sendo uma só manifestação insuficiente para resolver determinado assunto, as manifestações acabam se tornando mais importantes do que o assunto.

O que, por sua vez, gera os seguintes corolários:

1.1”Basta um local se encher de gente para que o brasileiro se ajunte.” O que implica na Lei da Aglomeração: “Brasileiro gosta mesmo é de aglomeração”.

As explicações sociológicas e psicológicas desse comportamento remontam ao mais profundo do inconsciente humano, proveniente da busca ancestral de proteção grupal contra as intempéries. Nos últimos tempos, isso pode ter sido agravado  pelas redes sociais.

Estudos científicos comprovam que um sujeito, grudado num celular o tempo todo, perde a referência da companhia humana e ao deparar com um grupo de pessoas maior que cinco, se sente atraído compulsivamente, nem que seja para saber de que se trata. O que faz  descambar em nova  lei fundamental da nova ciência:

1,2”Nada  seduz tanto um brasileiro como a companhia de gente que não tem o que fazer”.

O que, por sua vez, redunda no corolário de Miltão, padeiro nas horas vagas e  observador das massas ( tanto de pão, como humana):

Se for para ficar longe do celular, antes mal acompanhado do que só.”

HISTÓRICO.

Tem-se como definitivo, que a primeira manifestação que se tem notícia foi a de Deus contra si mesmo – não havia outra possibilidade. Deus manifestou-se contra si porque estava aporrinhado pela falta do que fazer e, aborrecido, para se vingar de si próprio, resolveu criar o mundo.

Isso explica porque até hoje a principal motivação para as manifestações é não se ter o que fazer. Poucas dúvidas restam de que Deus, o primeiro entediado, inspirou todas as manifestações que vieram depois.

O OUTRO.

Outro elemento de destaque no estudo e na elaboração da nova ciência é o Outro. Sim, o Outro, porque tudo depende do outro, e sem o outro não se garante manifestação alguma:

            O Outro que está berrando acolá, e que você nunca viu. O Outro que não sabe por que está ali. O Outro que lhe pergunta onde e quando isso vai terminar. O Outro que está  doido pra lhe  roubar o seu celular e, finalmente…

            O Outro que não faz parte da manifestação e que pode estar indo para o trabalho, para a missa, para o hospital ou para o cemitério. Esse Outro  que…

Enfim, esse Outro que fez surgir, do ponto de vista dos manifestantes, o segundo postulado fundamental da nova Ciência, também chamado Postulado da  Indiferença e da Histeria Coletiva, que se anuncia.

“Os outros que se f…”

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, segunda edição

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As Grandes Batalhas Filosóficas

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Encenação, nada mais. A finalidade é outra

Filosóficas, sim (Mas, nem tanto… ):

1.ESQUERDA X DIREITA.

Você já viu sua mão esquerda brigar com a direita? Claro que não, ambas têm o mesmo fim que é o de agirem sob o comando de seu cérebro.

Pois sobre a guerra esquerda x direita, chega-se, cada dia mais, à conclusão, de que esta não passa de uma ficção a serviço de uma ação preconcebida, em conformidade com a obsessão que todo cérebro humano tem pelo poder. Lembram-se do Telecatch, uma pantomima  a meio caminho entre briga e teatro, nos anos 70?  Só por alguns segundos dá a impressão de que estão brigando de verdade.  

Ambas as ideologias dizem que defendem os fracos e oprimidos. Uma, a esquerda, diz que isso se efetiva pela melhor distribuição de renda, a outra diz que melhores resultados são obtidos quando se alcança  maior riqueza geral. Dá no mesmo, mas os debates continuam porque o palavreado inútil excita a plateia, enquanto os  contendores fazem de conta que se engalfinham no ringue .

E representam tão bem que acabam acreditando na mentira que propagam, contaminando a plateia, que se empolga e sai na  tapa também. Depois que o juiz proclama a vitória, temporária, de um dos oponentes, não há ideologia que  permaneça,  toda boa intenção cessa. “É tudo farinha do mesmo saco”, como diz o caboclo, ambos só querem mesmo é se fartarem  das benesses do poder.

Quem perde a batalha? Nenhuma das partes, pois sempre aparece uma fatia de consolação ao derrotado, só a corrupção muda de endereço. Isso acontece até o próximo round, de 5 em 5 anos, nos países democráticos.  Quem perde? Ora, os perdedores são os de sempre: o povo,  com sua multidão de miseráveis.

2.CIÊNCIA X RELIGIÃO.

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Quando nos referimos a essa guerra, estamos tratando dos fanáticos, aqueles que vociferam um contra o outro, tanto religiosos empedernidos, como os cientistas obcecados. Ou seja, da parte religiosa, os que se predispõem contra a razão,  da parte da ciência os que se põem contra a liberdade e o direito de cada um acreditar naquilo que deseja e crê. Não participam dessa briga os religiosos e cientistas que  preferem conviver em paz, e que se unem para descobrir  a origem e o significado da vida,  e a melhor forma de usufruí-la.

E a luta começa. Uma (a Ciência) diz que o mundo surgiu do acaso. Outra (a Religião) diz que o mundo surgiu por interferência divina, enfim, a partir de uma força superior a que se nomeou assim. Ora, se chamarmos o acaso/nada (que os cientistas consideram capaz de originar o universo)  do mesmo agente/força superior (a quem os religiosos, conscientes disso ou não,  chamam de Deus )  essa turma está brigando por que e para quê ,  se, no fundo, estão dizendo a mesma coisa?

A verdade é que, assim como existem religiosos que se aproveitam da boa fé de gente ingênua para se apropriar de seus bens, também existem  cientistas que vociferam contra o conteúdo religioso apenas para vender livros e ficarem famosos, tornando-se assim especialistas em fanatismo mais  do que aqueles a quem condenam (Richard Dawkins e sua turma). Por que não agem como cientistas de respeito como Francis Collins e Marcelo Gleiser, que convivem com a religião sem traumas e acusações?

Essa luta termina empatada, pela intolerância das partes. Se existir o  diabo, e ele for o juiz,  há de proclamar a ambos vencedores.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

À venda nas principais livrarias

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Prêmios à beira de um ataque de nervos

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Camões, quem diria! virou Chico Buarque

Muita gente que não conhecia o Prêmio Camões passou a falar do mesmo depois que o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda arrebatou a honraria. Se a intenção foi essa o propósito foi atingido.

Porém, se o propósito foi difundir e referenciar a Literatura como a arte das artes, ao mesmo tempo estimulando o exercício da escrita e a epifania do compromisso de um artista com sua sina escolhida, o resultado passou ao largo.

As respostas abaixo talvez digam mais do que qualquer debate:

1.Existe paralelo entre o Prêmio Nobel e o Prêmio Camões na base do Bob Dylan esteve para o Nobel  assim como Chico está para o Camões?

 Talvez sim, se o propósito foi o de potencializar  uma visão ‘modernosa’ que estabelece um letrista de música popular como possuidor  de equivalente aura poética à daquele que escreve direcionando-se aos livros. É bom lembrar que o poeta ‘de livros’ concorre em posição desvantajosa, já que o letrista de música se socorre da visibilidade e dos aplausos de uma plateia acostumada a reverenciá-lo.   

Quanto aos premiados há uma sutil diferença. Bob Dylan jamais se pretendeu escritor, tendo sido sacado de seu ambiente musical a contragosto, esquivando-se de se posicionar diante de uma distinção que não almejou. Tanto assim que enviou para representa-lo na premiação, a cantora e letrista de música, Patti Smith, esta sim uma grande escritora vencedora do National Book Award com o livro So garotos ( Li e recomendo) . Como se, através de  uma indireta aos jurados  o cantor se penitenciasse com um constrangedor mea culpa por ter recebido a distinção.

Chico, ao contrário, ‘cavou’  seu ingresso no mundo literário, rodeando-se de orientadores já instalados como o escritor Rubem Fonseca e associando-se a editoras capazes de catapulta-lo ao panteão dos best sellers. Vendeu muito, como era de se esperar, e  ganhou prêmios como o Jabuti cercado de controvérsias quanto a lisura da votação,  sem jamais se constranger com isso ou com os  epítetos desabonadores de gente insuspeita como a escritora irlandesa Edna Ó Brien. Enfim, Chico  jamais obteve de um crítico internacional de peso um louvor descompromissado à sua obra literária.

2.Faz sentido ser alguém merecedor de um prêmio em Literatura apenas pelo mérito como poeta musical , considerando que seu talento  romanesco  é de raso para mediano?

Esse tipo de questão é irrespondível, mesmo que a premiação  seja pelo conjunto da obra. Mas, o que seria mesmo  esse conjunto da obra? Seria a soma das incursões medianas em várias artes contrapondo-a a envergadura literária inconteste de um concorrente?

Ora, mesmo sendo Chico um notável compositor e letrista a admiração incondicional que lhe é devida, peca por açodamento quando, por exemplo, se compara seu talento musical à genialidade impulsiva e espontânea de um Noel Rosa, morto aos 27 anos, cujas letras irônicas e mordazes são retratos impagáveis do cotidiano e das emoções humanas. Algumas letras de Chico Buarque, por vezes soam datadas e artificiais especialmente as que tentam soar um posicionamento ideológico pré-anunciado.

O que fica da peneira dos fatos é que, de repente, para dissabor da literatura, os prêmios literários ficaram neuróticos, quase à beira de um ataque de nervos, ávidos  por quinze segundos de fama, como é típico da sociedade atual .

Enfim, já não se fazem prêmios literários para divulgar um escritor, mas escolhem-se os premiados  para divulgarem o prêmio.

José Ewerton Neto é autor de O oficio de matar suicidas
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BURACOLOGIA, uma ciência maranhense

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Onde faltam buracos, cava-se mais um


Poucas dúvidas restam para a ciência de que tudo começou em um  buraco  e,  pouquíssimas,  de que tudo vai acabar em outro buraco, quem sabe o mesmo. Quando falamos em tudo, claro que estamos falando do Universo, inclusive.

Bem que os humanos sempre souberam disso, já que surgem para a vida através de um buraco  e,  no fundo,  por causa de um buraco. Desnecessário dizer que aprendem depressa que acabarão em um buraco  (de suas covas)  e, que, ao longo de suas  vidas,   não vivem sem um buraco.

A dúvida que persistia era se a sina do Universo rumo a um buraco era a mesma do ser humano, dúvida essa que foi extinta há  duas semanas atrás quando se conseguiu a primeira fotografia de um buraco-negro. Ora, se um buraco-negro consegue engolir galáxias inteiras e, mais ainda, o tempo, o espaço e a própria luz, não é difícil conceber que foi em algum buraco-negro, maior que o da fotografia, que o Universo permaneceu guardado e bem escondidinho, antes de nascer há 13 bilhões de anos. Se existem outros buracos negros iguais a esse dando à luz por aí a outros Universos  (paralelos ou não) isso fica por conta de Deus ou da  vocação de mãe de cada um deles.

Foi a partir da constatação de que estamos irremediavelmente associados aos buracos, que estudos foram desenvolvidos para arregimentar a criação de uma ciência que se tornará fundamental e obrigatória nos bancos escolares neste século.  Trata-se da BURACOLOGIA, a ciência do século XXI.   

1.O propósito é que o ensinamento  e o estudo dessa nova ciência venha a substituir matérias abstratas como Filosofia, Letras, Psicologia etc. (No Brasil, aliás, um passo nessa direção já foi dado pelo Governo  Bolsonaro que pretende extinguir o estudo das matérias inexatas direcionando menos recursos para seus estudos. Tem-se como certo de que, em breve, o governo Bolsonaro substituirá essas matérias pela Buracologia, que terá o dom de explicar melhor  para onde o governo dele está indo).   

O que enche de orgulho os maranhenses é que para a postulação dos princípios básicos dessa nova Ciência, os estudiosos escolheram a cidade de São Luís como laboratório por uma razão óbvia: nossa capital  é o lugar do universo onde mais florescem os buracos o que a torna um farto manancial de estudos. Segundo os cientistas, impactados diante do que  viram, São Luís “não é uma porção de terra cercada de água por todos os lados, mas, especialmente no inverno, porções de água de chuva cercada de buracos por todos os lados” .

Diante do que viram por aqui foi fácil chegar ao postulado zero da nova ciência.

2.Postulado Zero Da Buracologia. “O Buraco é um ser vivo. Nasce , cresce, reproduz-se  e faz de conta que morre, pois sempre ressuscita.”

Tal constatação  foi extraída da observação de como os buracos se desenvolvem nas ruas de São Luís, e de como se dá a geração , a infância e a maturidade dos mesmos, até a eternidade.

Obs. Sem mais espaço nesta crônica não percam em próxima edição mais leis, teoremas e comprovações que servem de base para o fascinante  estudo da BURACOLOGIA, uma arte ludovicense.  

José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas

O ofício de matar suicidas . 3a edição

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PUXA-SACOS etc

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A verdadeira história do puxa-saquismo começou…

Quando Deus resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança sem utilidade prática futura para ele, deu margem a que, muitos séculos  depois, poucas dúvidas restem de que fez isso apenas porque lhe faltava um puxa-saco.

Sim porque se a solidão tem suas vantagens,  tem  também seu lado ruim como sentenciou Montagne: “A solidão  traz coisas boas. O problema é que você precisa de alguém do lado para dizer isso”. Pois imagine a situação de Deus, o todo poderoso, sem ter do lado um mísero alguém,  para lhe enaltecer possuindo tanta grandeza.

Sim, porque as estrelas são maravilhosas e poéticas, mas não falam. Mesmo podendo ler o pensamento de tudo, isso não era tudo. Faltava a Deus a bajulação pura e simples,  transmitida através da fala.

2.Foi então que Deus criou o homem, ordenando a ele : “Amarás o senhor teu Deus acima de todas as coisas com todas as forças de tua alma”.

Acontece que a coisa (o ser humano) não se saiu tão bem quanto ele esperava. Ao invés de puxarem o saco de Deus, Adão e sua mulher Eva, preferiram bajularem-se entre si, permitindo, inclusive, o surgimento de outro elemento bajulador, no caso, uma serpente malévola. Esta insinuou a Eva que puxar o saco de Adão (literalmente) lhe daria mais prazer do que bajular a Deus, despertando-os para o sexo e o pecado.

Irritado, Deus os expulsou do paraíso: “Vão puxar o saco de vocês mesmos no inferno, não aqui!” E, assim, o inferno se instalou para os homens, inclusive na forma do puxa-saquismo, prática na qual a humanidade veio a atingir a perfeição.

2. Isso aconteceu no antigo Egito. Haja puxa-saquismo!,  em uma civilização que durou mais de 3 mil anos. A postura por lá era ‘Não existe defeito, então nada carece consertar’. Conformismo? Não, puxa-saquismo, porque a cadeia de direitos e deveres era baseada numa escada sem mobilidade social, onde a bajulação assumia um aspecto tão formal e rígido quanto a hierarquia de onde se originava.

No topo estava o Rei-Deus, o Faraó, e abaixo dele, o vizir, os dignitários reais e os governadores oriundos da nobreza, e depois o resto. A bajulação era impessoal e monumental. As pirâmides, os mais grandiosos túmulos que o mundo jamais viu são tributos à insaciabilidade da satisfação humana. Os reis do Antigo Egito não eram servos dos deuses, mas deuses eles próprios. Em 1500 a.c um servidor público egípcio escreveu a respeito do rei. “Ele é um Deus por quem todos vivemos, o pai e a mãe de todos os homens, único em sua condição sem igual”.

Tente superar essa bajulação!

3. Um elogio assim era tudo o que Deus queria para si quando fez os homens. Atingido, no Egito, o clímax do puxa-saquismo,   de lá para cá foi só aperfeiçoamento. O que são os livros de autoajuda, hoje,  mais do que uma exaltação da bajulação a  si mesmo?

Isso traz a certeza de que, em breve, quando a civilização humana virar pó, sobrará como característica mais marcante  do gênero humano o puxa-saquismo. E nos confins do Universo, onde toda memória do Mundo estiver concentrada, quando alguém clicar no verbete Terra surgirá a informação: “Existiu nesse minúsculo planetinha uma espécie que, criada à imagem e semelhança de Deus para o exaltarem, preferiram inventar a si mesmos como deuses, para bajularem-se entre si”.

Não podia ter dado certo.

José Ewerton Neto é autor de O abc bem humorado de São Luis

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Os que não gostam do próprio cheiro

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O homem é o único animal que detesta seu próprio cheiro

“O homem é o  único animal que não gosta do próprio cheiro”, dizia Millor Fernandes, assim resumindo  a solitária diferença que nos distingue dos demais animais. Sim, porque o cérebro maior e mais inteligente que possuímos não nos distingue tanto assim, já que no resto somos quase iguais.  A ciência mostra que o nível genômico da espécie humana atinge a extraordinária semelhança de 95 a 99 % ao dos chimpanzés.

Resta especular se essa diferença não foi construída pelos humanos apenas como forma de se destacarem dos outros animais. Mais ou menos como se, a partir de determinado momento de sua curta trajetória geológica, os homens resolvessem se perfumar como uma forma de dizer a si mesmos: “Tá vendo? Somos, de fato, superiores aos outros animais, tanto assim que não fedemos como eles.”

A história comprova essa tese, já que somente de pouco tempo para cá, os homens passaram a rejeitar o próprio cheiro. Basta ver como procediam nossos tataravôs em seus ambientes, mesmo os supostamente mais refinados.  

Por exemplo, a higiene do palácio de Versalhes no século 17 era de “lascar” para os padrões de hoje. O corpo inteiro das pessoas só era lavado uma vez por ano e para se limpar bastava lavar as mãos e o rosto.  Nessa ocasião a família inteira se banhava no mesmo barril e com a mesma água. A urina era despejada pelas janelas, a limpeza íntima era feita com sabugos de milho ou com as próprias mãos, as necessidades eram feitas em qualquer lugar indo parar nos corredores e jardins. Um decreto de 1715 dizia que as fezes deveriam ser retiradas dos corredores uma vez por semana.

Na Roma Antiga os banheiros públicos eram frequentados sem distinção de sexo. Nesses espaços não havia preocupação em oferecer material para higiene íntima. As pessoas se viravam com o que estivesse à mão, como água, grama e até areia. E – pasmem! –  era nessas latrinas coletivas, instaladas em grandes barricadas de pedra,  que se promoviam debates , banquetes, e encontros cívicos.

na roma antiga era assim

Por aí se vê que o fedor não incomodava tanto quanto hoje. E que a porcaria que saia pela parte de baixo era menos inofensiva do que a que  hoje sai, pela boca,  dos que se reúnem em ambientes palacianos para tomar   grandes decisões administrativas.

Quanto aos outros animais, estes  continuam ‘cagando  e andando’ para o próprio cheiro, o que não significa dizer que sejam menos limpos. A barata, por exemplo, tida como um animal fétido e repulsivo tem o seu exterior extremamente limpo, mais higiênico que o rosto de muita coroa habituê de coluna social, entupido de creme, loção e botox.

A sujeira das baratas, é bom saber, restringe-se ao seu interior, mais exatamente ao seu sistema digestivo. É lá que ficam os vírus e as bactérias que são expelidos em seu cocô e podem causar infecções. Portanto, se tiver coragem, caro leitor(a),  pode aplicar  um beijo na couraça de uma barata,  que isso não lhe trará problema algum.

Tudo indica que a anunciada substituição dos homens pelas máquinas, prevista para breve, apresentará pelo menos uma vantagem evolutiva. Estas jamais terão nojo do  próprio cheiro.

O ABC BEM HUMORADO DE SÃO LUIS Este e outros livros serão comentados no Clube de Leitura da AMEI, sábado às 10 h, dia 18, Shopping São Luis
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