Uma criança dos tempos antigos era, sobretudo, uma criança, coisa nem tão comum hoje em dia. Procedia de forma natural e pueril até a adolescência quando só depois virava adulto. Seus heróis eram seu pai, o Super-Homem, Tarzan, Batman etc.. Se menina suas heroínas eram Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel etc. As brincadeiras prediletas para homens eram jogar bola, empinar papagaio ou jogar botão, e boneca, para meninas.
Embora pequenos e frágeis gozavam de boa saúde e dispensavam médicos. Se ficavam doentes o remédio era um só: carinho de mãe e chá. Choravam e berravam, mas o motivo (fácil de descobrir sem precisar uma junta médica, como hoje), quando não era fome era aporrinhação mesmo. Um cascudo resolvia. Nessa época não carecia uma psicóloga toda vez que a criança começava a espernear para chamar a atenção. Igualmente, a criança podia até ser calma e comportada, sem que, por isso, fosse considerada retardada pelos pais.
Em nossos tempos todas são precoces, por determinação expressa do pai e firma reconhecida da mãe, entendendo-se como precoce qualquer imitação de adulto, desde rebolar fazendo strip-tease em aniversário de criança imitando Anitta, a até xingar o pai de veado em jogo de futebol de dente de leite (no qual ele se mete sem ser convidado). Os meninos de hoje não conhecem os heróis infantis do passado. Seus heróis são: Felipe Neto, Luan Santana e Pablo Vittar. O pai também, mas somente quando solta a grana pra comprar o mais recente smart phone.
Crianças de ontem não conheciam a palavra bullyng. Quando os colegas os aporrinhavam reagiam no tapa ( quando podiam) ou se recolhiam. Isolados, estudavam música, liam ou faziam poemas e a chateação sumia, transformada em coisa útil. . Crianças de hoje, pelo contrário. Quando aporrinhados pegam um revólver (de verdade) e saem dando tiro pra todo lado. Depois se justificam para os pais dizendo que sofreram bullyng. Isso se eles tiverem sobrevivido aos tiros .
Os professores de ontem deduravam as rebeldias das crianças para seus pais. Hoje, as crianças deduram os professores para seus pais. Crianças antigas ganhavam livros, álbuns de fotografia e agendas como presentes, as de hoje ganham, como presente, que os pais os permitam rasgarem os livros . Crianças de ontem, do sexo masculino, liam Playboy às escondidas do pai. Crianças de hoje (de ambos os sexos) assistem vídeos pornôs nos celulares dos pais, tendo-os como personagens.
Crianças de antigamente sonhavam em ganhar um carro de brinquedo no dia de Papai Noel, crianças de hoje sonham em sair dirigindo o carro do pai amanhã mesmo. Crianças de ontem queriam ser presidentes, generais e escritores quando crescessem. Crianças de hoje querem ser modelos, you tubers, jogadores de futebol ou ex- BBb”s .
Tanta evolução faz com que a infância e a adolescência hoje praticamente inexista tornando cada vez mais verdadeira a frase:
“Não existem mais adolescentes. Atualmente os meninos passam, sem intervalo, de crianças precoces para adultos retardados”.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas