artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Primeiro o trabalho bem sucedido. O reconhecimento. O convite para a seleção brasileira. Vitórias. Celebrações. A partir daí, podem surgir a santificação e o endeusamento. E é aí que mora o perigo.
Isso aconteceu antes. Com Luís Scolari, o Felipão. A sequencia acima acontece graças a méritos pessoais, um tanto de sorte e craques excepcionais, quase sempre. (O futebol, diga-se de passagem, não é uma ciência assim tão difícil de entender, como pretendem os comentaristas de futebol e os técnicos que ganham a vida com isso).
Nem todos os técnicos se mantêm, contudo, vigilantes. Convivem com a mentira criada em torno de si mesmos fomentada pelos formadores de opinião , e daí surgem a arrogância, a empáfia e a boçalidade. Foi o que aconteceu com Felipão e o resultado foi o 7 a 1.
Tite, hoje tão elogiado e exaltado, encontra-se na fase da celebração, véspera do endeusamento. Ainda não foi santificado. Por enquanto ainda não. Galvão Bueno, o porta voz da Nação para endeusamento dos ídolos de futebol, ainda não o proclamou como tal. Deve estar aguardando a Copa.
Sim, porque Galvão Bueno é o arauto nacional para questões de idolatria. E ele tem esse poder: o de supervalorizar jogadores e técnicos, poder este que lhe foi concedido pela estrutura de transmissão de jogos da seleção, pela publicidade e pela propaganda. Foi ele o principal porta voz da onda irracional que promoveu o endeusamento de Felipão, alçando-o de técnico medíocre a gênio do futebol. Ele é especialista nisso, na proeza de usar seu patriotismo de araque para seduzir plateias. Samuel Johnson dizia que “O Patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. A frase tornou-se a cara ( e os arroubos) de Galvão Bueno.
Tite não corre o mesmo perigo, pelo menos quanto à arrogância. Ao invés, usa sua fala mansa e repleta de clichês para seduzir seus jogadores. Se ainda não foi contaminado pelo veneno da arrogância anda se deslumbrado, porém, com uma certa mosca azul: a do oportunismo. E é aí que mora o perigo.
Desde o começo Tite privilegiou a convocação de jogadores de seu ex time O Corinthians, não por critérios técnicos , mas, aparentemente, por simpatia pessoal e amizade. Muitos viram oportunismo e safadeza nisso: ao invés de critérios técnicos Tite estabeleceu uma meritocracia, baseada no oportunismo, para agradar as maiores torcidas do país, obviamente as que detêm a maioria de formadores de opinião entre os jornalistas. Tite foi capaz de convocar para o gol do Brasil o goleiro Muralha, do Flamengo, um jogador que a própria torcida do Flamengo abomina.
Essa falha foi eclipsada pelos bons resultados. Mas eis que Tite na última convocação exibiu a mesma sanha “oportunista” – na falta de outra explicação razoável. E foi assim que jogadores como Diego do Flamengo e Cássio do Corinthians foram chamados em desfavor de jogadores como Vanderlei (disparado o melhor goleiro do Brasil) e Lucas Lima, do Santos, causando apreensão até nos comentaristas menos fanáticos.
Seria Tite um oportunista nato a favor da idolatria que almeja angariar? Calma Tite, você sabe enxergar onde estão os melhores jogadores . O trio fantástico Neymar, Gabriel e Coutinho não poderá salvá-lo, sempre, se você não abdicar de convocações baseadas em clubismos oportunistas. Esse é o perigo que te ronda, Tite.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas