artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão
Por onde andará Belchior? Por onde andará Geraldo Vandré? As perguntas, parecidas, referem-se à perplexidade diante do destino nebuloso de dois dos maiores ídolos da MPB.
A primeira indagação foi objeto de um texto deste cronista publicado neste jornal tempos atrás, cujo assunto esgotou-se depois de dissecado por uma reportagem investigativa da tevê descobrindo, por fim, o paradeiro do ídolo. Já a segunda, talvez fosse melhor expressa de uma outra forma: O que faz Geraldo Vandré? Ou, melhor ainda: O que fez de si Geraldo Vandré?
Essa questão me motivou a adquirir o livro Geraldo Vandré, o homem que disse não! Espicaçava-me um tipo de curiosidade diferente daquela em relação a Belchior porque, no seu caso, não se tratava de sua localização (fugiu, escondeu-se, está numa ilha deserta, morreu?), mas sim, pelo fato de ele comportar-se, deliberadamente, como se não houvesse mais espaço para o mito Geraldo Vandré em seu corpo. De outras fontes eu soubera que ele se tornara esquivo aos holofotes e à mídia, e preferira o caminho das sombras.
Por que decidira assim? Qual seria a razão oculta por trás de uma decisão tão radical num momento em que personalidades sem conteúdo e representatividade, vendem o corpo – e a alma -, por quinze segundos de fama? No caso específico de Geraldo Vandré, um dos ícones do movimento musical contra a ditadura, razões adicionais se misturavam às teorias conspiratórias: (teria sido torturado e ficara neurótico, em consequência? Decepcionara-se com os rumos do país?).
Dias atrás eu assisti um premiado filme reportagem sobre a vida da cantora Amy Winehouse onde implode seu drama pessoal de incompatibilidade com a fama e o sucesso. O filme escorraça a visão mesquinha dos que só se permitem interpretá-la como uma jovem talentosa que teve tudo e se consumiu em drogas, para revelar a face complexa e etérea do compromisso de alguém com a sua própria arte, e apenas a ela. Teria acontecido algo parecido com Vandré?
O livro não responde, apenas insinua a insatisfação do artista com o rumo que as coisas tomaram. É pródigo em acumular as raras informações disponíveis no ambiente que o cercou após voltar ao Brasil, depois de exilado, mas a chave da solução permanece inacessível por ser Geraldo Vandré um ser inconclusivo, já que as poucas vezes em que fala nada esclarece. O fato é que, aparentemente, tão perturbado ficou com o mito de herói criado em torno de si que se converteu, até mesmo, em cantor da Aeronáutica, ao mesmo tempo em que passou a repudiar a suspeita de que havia sido torturado pelos militares.
Numa época em que cantores (de talento equivalente ao seu e que assumiram a pecha de perseguidos da ditadura como Caetano Veloso e Chico Buarque) continuam colhendo os louros desses méritos, mas não se constrangem em compactuarem com atitudes de apoio à corrupção, em nome da ideologia ( caso de Chico), causa espécie que o mais autêntico deles e, portanto, o mais legítimo , negue veementemente a violência sofrida e em momento algum busque as vantagens de uma potencial inverdade.
O livro chega em boa hora, especialmente para aqueles que, jovens então, os tiveram como ídolos, mas as dúvidas permanecem (aliás, oxalá que jamais se extingam): “ Por onde andará Belchior ? Por onde andará Geraldo Vandré? Por onde andarão os sonhos da juventude?”.
Jose Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
meu sonho desde jovem é conhecer Geraldo Vandré, hoje tenho 64 anos e não realizei
Ídem. Também gostaria de te-lo visto pessoalmente.
Ficarei com sua imagem dos tempos da Record, Festivais etc.
Não diria que sou seu fã musicalmente, mas gostava muito de algumas de suas músicas e principalmente de sua autenticidade
maior, por exemplo, que a de Chico Buarque de quem também fui fã.