A verdadeira história dos gatos ( Parte II)
artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Você trocaria uma ovelha por um gato? Certamente que não, ainda mais se você tivesse dificuldade de subsistência e precisasse de comida e vestimenta.
Mas, estamos no País de Gales (século 10) e, por enquanto, os gatos continuavam a deitar e a rolar. Ao longo de 11 mil anos, desde quando apareceram nos lares humanos, depois de paparicados no Egito, incorporados pelos gregos e difundidos pelos romanos, os gatos estavam tão em alta que ovelhas eram trocadas por gatos.
Houvesse um mercado de ações, na época, e as ações felinas, digamos assim, continuariam nas alturas.
Mas um belo dia apareceu a igreja católica determinando que esse negócio de muitos deuses não estava com nada. Para os católicos Deus era um só, e, junto a este, não era permitida sequer a sombra de um gato. Aconteceu então que, a partir daí, os bichanos começaram a despencar pra valer, não na só na bolsa dos valores, mas nas fogueiras. Alguém há de perguntar: que fizeram os bichanos para merecer tanto ódio da igreja católica?
Inicialmente porque, como foi dito acima, os gatos eram muito paparicados. Talvez os papas, invejosos, quisessem a exclusividade para eles. Como se dissessem: “Papa enricado aqui só a gente!”
O fato é que no dia 13 de junho de 1233 o papa Gregório Nono publicou a bula Vox in Rama associando o gato a Satã. Dá pra acreditar? E assim, por decreto, o gato passou de íntimo dos deuses para Satã, o inimigo imortal de Deus.
Acontece também que Jesus Cristo (o filho de Deus) disse “Vinde a mim as criancinhas” ao invés de “Vinde a mim os gatos” como fez, particularmente, Maomé que tinha uma gata angorá de estimação chamada Muezza ( de nome e aparência mais bonita que nossas gatas de estimação de hoje, tipo Rihana). Como para a igreja católica o que se relacionasse a Maomé fosse coisa de Satã, a corda rebentou do lado dos gatos e o inferno – pra valer! – foi apresentado a eles.
A terceira razão é que a igreja precisava de um bode expiatório para tudo que de ruim acontecia. E, para isso, acharam mais prático o gato do que o bode. O gato passou a ser associado à má sorte e à bruxaria. Milhares de animais foram sacrificados para cada centena de mulheres, injustamente acusada de bruxas e atiradas nas fogueiras.
- A história logo comprovou, porém, que o gato deve ter, de fato, sete vidas, sendo 3 como divino, 4 como Satã e ainda sobra pra gato mesmo, tanto assim que depois de tanto sofrimento deu a volta por cima. Esse novo pulo do gato (edição moderna) aconteceu no século 19 quando já não havia mais bruxas e os ingleses tiveram a ideia de criar profissionalmente os gatos, tanto é que a maior parte das raças contemporâneas surgiu no Reino Unido
Ora, pra quem é capaz de passar de deus a satã e vice-versa, com a mesma facilidade com que o diabo troca de garfo, o que lhe falta? Certamente vencer a batalha com o cachorro para ver quem leva mais vantagem neste século: no lar e no coração dos homens.
Guardo a suspeita de que os gatos vencerão, não só pelos seus atributos divino-satânicos. É que os cães, amigos fiéis dos humanos, costumam apreciar qualidades menos corrompíveis e traiçoeiras. Como disse Churchill quem olha os humanos olho no olho são os porcos. Os cachorros olham de baixo pra cima e os gatos de cima pra baixo.
E é disso que os humanos gostam.
Jose Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas