As celebridades internacionais gostam de ler. E bem. A julgar pela lista de livros preferidos de alguns, de fazer inveja a muito intelectual meia boca, que se agarra a dois livros curriculares e fica por aí.
Gostaria de reproduzir toda a lista, mas citarei por causa do espaço apenas as que coincidiram com leituras minhas.
Começo por Tom Hanks, ator, que escolheu A Sangue Frio de Truman Capote, este célebre romance-reportagem que teria inaugurado o gênero. O livro, que como reportagem atinge o ápice se dá melhor ainda como romance. Uma obra-prima da narrativa policial. Lady Gaga, por sua vez, preferiu Cartas a um Jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, o que traduz o extravasamento de seu coração poético por trás da cantora e atriz sensível que é.
Mel Gibson e Kit Harington preferiram !984 de George Orwell, um romance, para o meu gosto, menor do que o frenesi que causa, cujo desencantamento para mim se origina justamente pelo que carrega de simbologia político-social uma alegoria distópica que se tornou tão repetitiva que foi imitada por Chico Buarque em seu romance Fazenda Modelo. Jessica Biel, a bela, veio de Suave é a Noite de Scott Fitzgerald, um romance tão soberbo quanto o título, cuja narrativa se ombreia à de O Grande Gatsby, o romance mais famoso do autor, o que não é pouca coisa.
Jennifer Lawrence, a cantora e atriz, escolheu Levantem bem alto a cumeeira de J.D. Salinger que foi o autor com mais citações (3 vezes) por causa das duas de O apanhador no campo de centeio, este hino à liberdade da juventude no que ela tem de angustiantemente eterna em sua efêmera passagem. Foi o escolhido também por Woody Allen, o que dispensa comentários.
Espremido pelo espaço gostaria de não deixar de citar um romance que peguei por acaso num sebo e a ele me deliciei por algumas aceleradas horas, chamado O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon, preferido do cantor Donald Glover, um romance surpreendente desde o título, que trata de um caso que beira o policial sobre o ponto de vista de um autista, envolvendo dramaticidade,humor e poesia, causando no leitor extraordinária empatia pela persona representativa desses humanos especiais.
Passando para os políticos, o escolhido por Barack e Michele Obama foi o livro Uma canção para Salomon, de Toni Morrison, o único dos citados nesta crônica que ainda não li. Toni Morrison, uma escritora negra Premio Nobel, apontei neste texto para que se possa destacar também a formidável sincronia que paira nesse simpático casal.
De todas as escolhas, porém, a que mais me surpreendeu foi a de Donald Trump. Sim, ele mesmo, seu livro preferido sendo O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale, um livro a meio caminho entre auto-ajuda e religioso, que li na juventude, e que não me constranjo em indicar como livro de formação para qualquer um, independente de sua crença religiosa ou inexistente. É um livro marcante para minha formação, não literariamente, mas pela sedimentação de uma expectativa filosófica, baseada em trechos bíblicos, de muita utilidade para a travessia da minha juventude.