Talvez o melhor título para este texto fosse A verdadeira história da Aspirina. Ainda assim não está de todo impróprio visto que uma tem tudo a ver com a outra.
A DOR
O Universo, começou há 13, 5 bilhões de anos, mas nada consta que a dor tenha tido uma vida tão longeva. Aliás, a pobre da dor não teria a mínima chance naquela explosão descomunal pós Big-Bang. Mesmo admitindo que a matéria possa ter alma, esta não teria tempo de pensar o suficiente para sentir dor.
Outra coisa certa é que Deus, que criou tudo isso, jamais sentiu dor e, talvez por isso, tenha permitido ao seu filho, Jesus Cristo, tanto sofrimento depois por uma causa tão inútil quanto salvar a humanidade. A humanidade nunca fez questão de salvar-se a si mesma e, muito menos, de seus pecados.
A consciência da dor e o ser humano sempre foram indissociáveis e surgiram quase ao mesmo tempo (a dor, certamente um pouquinho antes, pelo sofrimento antecipado de saber que teria tão má companhia). Da para imaginar o quanto nossos ancestrais devem ter sofrido, já que não havia remédio e muito menos reza.
Essa convivência histórica teve alguns capítulos marcantes. Para se ter uma ideia, por volta de 7 mil anos atrás um dos artifícios usados para aliviar dor de cabeça era a chamada trepanação, um procedimento que consiste em perfurar o crânio pra libertar a alma dos maus espíritos causadores do desconforto. Na China havia um método mais light: agulhas feitas de pedra eram fincadas em pontos do corpo para equilibrar a energia, vindo dar na acupuntura, milhões de vezes mais light, dos tempos atuais.
A ASPIRINA
Pouco antes da civilização egípcia um arremedo de alívio começou a vir na forma na forma de folhas e pedaços de casca vindos da folha do salgueiro, com a planta passando pelas mãos de grandes nomes da medicina como o famoso Hipócrates 460 a.c que recomendava mascar as folhas, e o romano Celsus (50 a.c) que usava um extrato das folhas para combater diversos tipos de inflamação.
Vários séculos se passaram até que em 1867 um americano chamado Edwin Smith transformou para sempre essa relação de amor e ódio. Numa viagem ao Egito adquiriu dois textos considerados fundadores da literatura medicinal, o Eber Papyrus , que acabou por revolucionar o tratamento da dor, sendo uma verdadeira enciclopédia compilada em 1534 a.c com a finalidade de combater variados males, de úlceras a dores no coração.
Em 1897 um jovem farmacêutico, Felix Hoffman, da Bayer ,apresentou a fórmula de uma droga capaz de aliviar a dor sem muitos efeitos colaterais. derivado da salicina, ou simplesmente o extrato das folhas e da casca do salgueiro. Surgiu a Aspirina.
De lá para cá só aumentou a paixão pelo comprimidinho sendo que de todas as drogas vendidas, legalmente e sem receita, ela responde por 37,5% das vendas o que faz dela uma espécie de Coca-Cola das farmácias . Objeto de mais de 160 artigos científicos a Aspirina enfrenta garbosamente a dor de cabeça, de dente, de ingestão alcóolica, nevralgia, artrite, amidalite etc., incluindo as dores causadas por outros analgésicos.
Enfim, a aspirina é boa para todas as dores, até para amor verdadeiro. A única coisa que a Aspirina ainda não conseguiu resolver – mas aí seria querer demais – seria a de aliviar a dor, tão brasileira, de ter de aguentar as consequências de haver permitido doenças tão contagiosas como Lula ou Bolsonaro.
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luís