Que cada grupo de whats’app é um curioso painel dos comportamentos humanos, onde afloram virtudes e desvios em diferentes formatos, isso, mais ou menos, todo mundo sabia. O que não se sabia é que podiam ser assemelhados aos signos matemáticos. Como neste exemplo, de um grupo de gente com mais de 50 anos:
1.O zappeador conjunto vazio.
É aquele membro do grupo que ninguém sabe, ninguém viu. Nada comenta, tampouco manda vídeo. Deve ter sido incluído no grupo, à revelia de si mesmo; um belo dia alguém pegou uma lista de antigos colegas e pronto, meteu-o no meio sabe-se lá como.
Isso dura até o dia em que alguém encontra no fundo do baú uma foto amarelecida dos tempos idos do ginásio e, vendo a turma toda reunida, posta no grupo. Todos acabam por se reconhecer uns aos outros, com imensa dificuldade que só não é maior do que a de reconhecer a si próprios. Logo uma dúvida se alastra. “Quem é aquele de óculos?” As exclamação se sucedem até que alguém mata a charada: “Gente só pode ser o Bertoldo”. “Isso mesmo, o Bertoldo, por onde andará?”. Mistério insondável a que se seguem novos comentários: “Coitado, não regulava direito”, “ Tinha muita dificuldade em entender o básico na escola”, “ Não podia ter se dado bem, soube que acabou se mandando pros USA, onde deve ter entrado clandestinamente”, “Pior, outro dia soube que ele morreu” “ Verdade? Que Deus o tenha.”
Nisso um número esquisito com código do exterior adentra na conversa “Olá, pessoal, sou eu o Bertoldo. Não me matem ainda, por favor!” As exclamações se sucedem, alguém tenta remediar “Grande Bertoldo, por onde você anda rapaz. Nem sabia que você estava no grupo, o que anda fazendo?” “ Estou radicado aqui nos USA”, responde Bertoldo, e explica “ Sou cientista-chefe de um grupo de pesquisa da NASA, por isso não tenho tempo para conversar com vocês, caros colegas. Mas foi muito bom sabê-los vivos. Como eu . rsrsrs“
2.O zappeador Infinito ( Como a sua fé!)
Tudo nele parece rescender uma divindade infinita. Pelo menos no que posta no grupo. Frases da Bíblia, retratos do divino espírito santo, anjos e santos, tudo ele manda para o grupo, aos borbotões. Se todos tivessem o cuidado de separar todo o conteúdo que ele envia já teriam mais de uma bíblia em casa.
Segundo o líder do grupo em conversa com outro membro (no zapp particular de ambos) tanta mensagem religiosa tem a ver com uma tentativa de pedir perdão antecipadamente a Deus pelos muitos pecados, agora que a velhice chegou e a morte caminha, digamos assim, mais acelerada.
3.O zappeador dízima periódica
É aquele que exclama, parabeniza e aplaude tudo utilizando os bonecos mais estapafúrdios em diferentes combinações, derretendo-se em elogios até se alguém postar o áudio do próprio peido. Não larga o aplicativo nem para tomar banho e faz questão de exercer essa autonomia em plenitude mandando a primeira mensagem de bom dia e a última antes de dormir.
Médico aposentado, morando no Rio, dias atrás anunciou no grupo que estará visitando São Luís para uma série de palestras o que motivou o seguinte comentário do líder do grupo (no particular, é claro) quando indagado sobre qual o assunto das palestras: “Que medicina, que nada! Estou desconfiado de que ele vem dar um curso de boneco de zapp”.
José Ewerton Neto á autor de O ABC bem humorado de São Luis