O ABC DO QUE SE FALA AQUI

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Aqui se fala assim. Ou se falava? Dia virá ( e não falta muito) em que do Oiapoque ao Chuí só haverá uma fala, sem a riqueza idiomática peculiar a cada região do país.  E essa fala será em uníssono, repetição das asneiras que se repetem na Tevê: no maneirismo dos apresentadores, nos tiques das celebridades das novelas, uma coisa só.

Bem, o que ainda se fala por aqui estará na reedição de O ABC bem humorado de São Luís, ainda  uma vez explorando sua provável origem risível.

 

BICA. Torneira.

O maranhense chama torneira de bica porque num estado com tanta abundância de água de chuva, o fato de as torneiras viverem secas só tem uma explicação. Para muita gente, o negócio de água virou bico.

PEGADOR. Brincadeira de esconde-esconde. Originalmente, de crianças.

A brincadeira adquiriu esse nome por aqui porque o garoto, futuro ‘pegador’, começa sua futura vocação de Don Juan se escondendo com as meninas, sabe-se lá onde.

 

 JUÇARA. Açaí

O maranhense chama açaí de juçara porque lembra uma crioula com esse nome, suculenta, gostosa e que vai lhe dar muita força e algo mais.

 

ATRACA. Diadema ou tiara.

O que lá fora é chamado de diadema ou tiara ganhou por aqui o nome de atraca, porque, antigamente,  os marinheiros quando aportavam no Desterro  doavam tiaras para as meninas da Rua 28, (zona do baixo meretrício) com o objetivo, pré-anunciado, de atracá-las.

 

RI-RI. Fecho éclair, zíper.

O maranhense chama zíper de ri-ri porque, via de  regra, quando ele abre o de sua parceira e ri de felicidade. Depois é a vez de ela rir, quando abre, por sua vez,  o dele.

 

BANHAR. Tomar banho.

O maranhense diz banhar ao invés de tomar banho porque, ao contrário dos que aqui chegaram tentando impor a fala “tomar banho”, não está tomando o banho de ninguém, aqui chove o suficiente, não há razão para isso.

 

 BALDIAR. Vomitar

O maranhense diz baldiar ao invés de vomitar porque no carnaval de antigamente ( quando o daqui era o terceiro do Brasil) ao chegar na quarta-feira de cinzas estava tão bêbado que na hora de vomitar confundia o penico com um balde.

 

PEGAR CORDA. Ficar zangado.

O maranhense , quando está zangado diz até hoje que está pegando corda porque na época da escravidão quando o feitor se zangava , bastava ameaçar os escravos: “Já tô pegando a corda!”

 

DIZENDO. Algo está ‘Dizendo’, quando dá uma impressão muito positiva.

O maranhense julga que uma coisa espetacular está dizendo por que certas bocas gostosas  (mudas e não oficiais, de sua parceira ) no seu entender, só faltam falar, e dizem mais que se pudessem.

 

CINTURÃO. Cinto grande.

O maranhense chama cinto de cinturão porque quando as crianças apanhavam de cinto,  a dor era tanta que viam tudo no aumentativo. Não parecia cinto, mas um cinturão.

 

HEIN-HEIN. Concordância, negação. Fala-se com a voz anasalada.

Essa expressão típica maranhense tanto pode significar sim como não. Até hoje, as grandes decisões administrativas maranhenses são tomadas desse jeito. Daí…  nosso  caos organizacional .  Antigamente, durante o casamento,  tanto o noivo como a futura esposa diziam Hein Hein, ao invés de sim ou não, quando o padre perguntava. Acontece que ao sair logo depois, atrás da virgindade da esposa,  o marido, atônito perguntava “Hein? Onde?” Ela respondia Hein, Hein, confirmando que havia acabado de surgir um corno novo na praça .

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, em segunda edição revista e ampliada. Primeiros exemplares na AMEI e VOZES. Lançamento em Dezembro.

 

 

 

 

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