O MORRO E EMILY
artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
O MORRO.
Sexta-feira vi mais uma vez pela tevê, o filme O morro dos ventos uivantes (com Juliette Binoche no papel principal) No sábado, com agradável surpresa, constatei que o romance com esse título permanecia há várias semanas na lista dos livros mais vendidos no Brasil da revista Veja.
(Não posso deixar, aqui, de abrir este parênteses para desconstruir a mentira freqüente que se pespega, de que os jovens de hoje são avessos à leitura, especialmente de bons livros. A aceitação, nestes tempos céleres e conturbados, deste que é um dos grandes clássicos da literatura universal , desmente essa inverdade.
A receptividade a este romance se dá porque sua autora foi privilegiada pelo dom de uma narrativa que se esmera na busca da simplicidade como alvo, no que se poderia chamar do romance-romance : cujo objetivo principal é o de contar uma história atraente e de envolver os seus leitores, com personagens não apenas fortes, mas fortíssimos; com cenas não apenas fortes, mas fortíssimas; em ambientes nos quais o contraste desses impulsos com o bucolismo da paisagem, permanecem indeléveis na memória de quem o lê, tendo no centro de tudo, paixões fortes, fortíssimas, ao redor do qual orbitam as turbulências.
Se o clássico Romeu e Julieta é um ensinamento sobre o amor, O morro dos ventos uivantes é um aprendizado sobre a paixão. Parece a mesma coisa, mas não é. )
EMILY BRONTE, a autora do livro.
Parece que a estou vendo agora. Na casa onde morava onde os morros uivavam e era fácil ver fantasmas vindo dos cemitérios que circundavam a casa. A mente sonhadora, de moça oprimida por um pai autocrático e severo, e que tinha como único divertimento conceber cenas de teatro que escrevia em caixas de papelão com as duas irmãs. Emily não se casou e morreu cedo, aos 30 anos, de tuberculose, negando-se a receber cuidados médicos.
Que passava o dia com o olhar fixo na janela, onde batiam os ventos, como se através dela se transplantasse para o único lugar possível fora do lar que as confinavam, vivificando as cenas do romance que a imortalizaria, onde as paixões chegavam ao paroxismo, resvalavam o doentio, mas jamais atingiam o ponto da loucura ou do fantasmagórico.
Uma moça débil, de beleza melancólica e reclusa, dotada de um coração que guardava paixões tão intensas que foi capaz de descrevê-las em seus personagens, transformando-os em heróis eternos.
José Ewerton Neto é autor de O ABC BEM HUMORADO DE SÃO LUÍS cuja segunda edição está à venda na livraria da AMEI e outras