COMO XINGAR NA PANDEMIA

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, quinta-feira

Estudo desenvolvido há alguns anos pela Escola de Psicologia da Universidade de Keele, na Inglaterra, publicado pela revista especializada  NeuroReport afirma que falar palavrões  ajuda a amenizar a dor física.

Esta notícia deve ser revista e propagada, especialmente nestes tempos de Covid19 em que faltam vacinas, remédios e leitos. Fico imaginando, um indivíduo, morto de dor, chegando ao SUS, diante de um médico de plantão, já perfeitamente inteirado dessa descoberta científica e adepto desse recurso, tão barato, para aliviar os males. Diante desse cliente aos berros, o médico dirige-se para a enfermeira.

– Se faltam remédios, enfermeira, mande  ele xingar.

– Xingar quem, doutor?

– Ora, mande-o  xingar qualquer coisa: Deus, o mundo, Bolsonaro, o juiz de futebol, pode xingar até a gente, se preferir.

À vista dessa alternativa, o doente, claro, não se faz de rogado.

– Médico filho da puta!, Enfermeira piranha!, Hospital de merda!

– Doutor, ele não para de xingar.  Os outros estão escutando.

– Sem problemas, deixe-o à vontade. Quanto mais alto ele xingar  melhor.

O doente enfim pára, extenuado. O doutor, com expressão vitoriosa, indaga para a enfermeira.

– E agora, enfermeira, como está o nosso doente?

– Ele diz que aliviou a dor.  

– Eu não disse? Chame o próximo.

2. Evidente que os médicos precisarão se especializar cada vez mais nessa matéria, tendendo a surgir os mais talentosos, ou seja, aqueles capazes de receitar o palavrão mais apropriado para cada sintoma. Ao invés de Novalgina: Sacana sem-Vergonha!; ao invés de Buscopan: Cadela Vagabunda!; ao invés de Atroveran: Corno safado!

Torna-se evidente que uma das complexidades para a adoção e proliferação desse tipo de remédio é que muitos doentes carecerão de altas dosagens de xingamento para aliviar suas dores, mas, onde encontrar esse palavrão, já tão desperdiçado no dia a dia?

Supõe-se que isso se resolva inventando-se novas matérias-primas, ou seja, novos palavrões. Enquanto isso ainda não foi feito, uma boa forma de aliviar as dores no pandemônio atual seria pedir que os pacientes xinguem o Covid19  o mais alto que puder. Exemplos práticos a serem receitados: Covid 19 vá-se F…!; Enfie o Covid nos seus, ladrões da saúde!; ou Volte para a China, Covid sem-vergonha!

Os médicos poderiam incluir a OMS também no meio. Ainda que não aliviasse  a dor, faria muito bem à saúde.

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VANUSA E SEU CAMINHEMOS

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Caminhemos, talvez nos vejamos depois. Vida comprida, estrada alongada…”  Erivelto Martins

O Caminhemos, de Vanusa Santos Flores, a Vanusa, chegou para mm pela primeira vez em forma de balada-rock , ao invés de samba-canção tradicional composto por Erivelto Martins. A cantora, que começou a fazer sucesso na esteira da jovem- guarda , teve a feliz idéia de incluir Erivelto em seu repertório (gravou também Mensagem, sucesso anterior de Isaurinha Garcia, na mesma época e estilo).

Claro que ambas as músicas tornaram-se um dos alvos de aprendizado para mim, que aprendia violão, estimulado por meu pai, que  tocava esse instrumento musical muito bem, me ensinava,  e me iniciou no rico  repertório e no conhecimento de Erivelto Martins, até então um compositor desconhecido para mim.

Não  que eu tenha me tornado um ardoroso fã de Vanusa , embora dela apreciasse algumas canções.  Vanusa era uma cantora que parecia estar sempre a meio caminho, sem jamais despertar arroubos incondicionais de seus fãs. Não tinha aquela palpitação que distingue os grandes artistas e que, muitas vezes se associa a um destino trágico, como acontece com alguma freqüência em talentos especiais que se dilaceram pela arte. Não era uma Amy Whinehouse ou Billie Holliday, nem uma Elis Regina ou mesmo Cássia Eller.

Era bonita, mas não formosa ou deslumbrante. Cantava bem, mas não beirava as melhores artistas da época. Selecionava algumas boas canções, mas seus discos eram irregulares, vendia discos, mas nunca teve um sucesso arrebatador. E, assim, ela foi traçando a sua trajetória cada  dia mais arrefecida até falecer esta semana, com a notícia de sua morte ganhando as redes sociais, sua partida chegando de longe como se seu Caminhemos na vida houvesse findado faz tempo. Sem despertar o choro e a comoção devotadas  a um grande ídolo.

No auge do sucesso Vanusa foi atriz também, chegou a protagonizar a novela Cinderela 77 exibida pela TV Tupi, com o cantor Ronnie Von, que sobre ela se pronunciou  após sua morte: “Para mim é a perda da minha princesa, da minha Cinderela 77. Uma época em que nós confidenciamos uns aos outros, nossas alegrias e nossos momentos emocionais.” Foi casada  com o cantor galã Antonio Marcos (que morreu cedo e teve problemas com o álcool em cuja data de aniversário partiu, coincidentemente)  e, a partir daí, tem-se a impressão de que Vanusa passou a alimentar a cena artística mais por sina do que por prazer.Sofria de demência e morreu num asilo para onde foi encaminhada por seus familiares o que motivou as habituais comentários nas redes criticando a postura da família e o distanciamento a que foi relegada.

Porém, ainda que se queira estabelecer seu fim em um asilo  como um contraponto cruel a quem foi tão famosa, a verdade é que essa circunstância nada tem a ver, ainda que minimamente, com sua trajetória artística. Tem a ver mesmo com o fato de sermos humanos, demasiadamente humanos e, como tais, tantas vezes desprovidos de humanidade, especialmente para com os idosos,  quando  estes precisam de nós, mais da gente que a gente deles.  

                                                           [email protected]

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O QUE AS CELEBRIDADES LEEM

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

As celebridades internacionais gostam de ler. E bem. A julgar pela lista de livros preferidos de alguns, de fazer inveja a muito intelectual meia boca, que se agarra a dois livros curriculares  e fica por aí.

Gostaria de reproduzir toda a lista, mas citarei por causa do espaço apenas as que coincidiram com leituras minhas.

Começo por Tom Hanks, ator,  que escolheu A Sangue Frio de Truman Capote, este célebre romance-reportagem que teria inaugurado o gênero. O livro, que como reportagem atinge o ápice se dá melhor ainda como romance. Uma obra-prima da narrativa policial.   Lady Gaga, por sua vez,  preferiu Cartas a um Jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, o que traduz o extravasamento  de  seu coração poético por trás da cantora e atriz sensível que é.

Mel Gibson e Kit Harington preferiram  !984 de George Orwell, um romance, para o meu gosto, menor do que o frenesi que causa, cujo desencantamento para mim se origina justamente pelo que carrega de  simbologia político-social uma alegoria distópica que se tornou tão repetitiva que foi imitada por Chico Buarque em seu romance Fazenda Modelo.  Jessica Biel, a bela,  veio de Suave é a Noite de Scott Fitzgerald, um romance tão soberbo quanto o título, cuja narrativa se ombreia à de O Grande Gatsby, o romance mais famoso do autor, o que não é pouca coisa.    

Jennifer Lawrence, a cantora e atriz,  escolheu Levantem bem alto a cumeeira de J.D. Salinger que foi o autor com mais citações (3 vezes) por causa das duas de O apanhador no campo de centeio, este hino à liberdade da juventude no que ela tem de angustiantemente eterna em sua   efêmera passagem. Foi o escolhido também por Woody Allen, o que dispensa comentários.

Espremido pelo espaço gostaria de não deixar de citar um romance  que peguei por acaso num sebo e a ele me deliciei por algumas aceleradas  horas, chamado O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon, preferido do cantor Donald Glover,  um romance surpreendente desde o título,  que trata de um caso que beira o policial sobre o ponto de vista de um autista, envolvendo dramaticidade,humor e poesia, causando no leitor extraordinária empatia pela persona representativa desses humanos especiais.  

Passando para os políticos, o escolhido por Barack e Michele Obama foi o livro Uma canção para Salomon, de Toni Morrison, o único dos citados nesta crônica que ainda não li.  Toni Morrison, uma escritora  negra  Premio Nobel, apontei neste texto  para que se possa destacar também a formidável sincronia que paira nesse simpático casal.

De todas as escolhas, porém, a que mais me surpreendeu foi a de Donald Trump. Sim, ele mesmo, seu livro preferido sendo O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale, um livro a meio caminho entre auto-ajuda e religioso, que li  na juventude, e que não me constranjo em indicar como livro de formação para qualquer um, independente de sua crença religiosa ou inexistente. É um livro marcante para minha formação, não literariamente, mas pela sedimentação de uma expectativa filosófica, baseada em trechos bíblicos,  de muita utilidade para a travessia da minha juventude.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas. Em segunda edição este é o primeiro livro de ficção científica sobre lendas maranhenses. Aventura , mistério e informação a um só tempo..

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