As 80 magias de Pelé

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1.A magia do futebol

O futebol é um esporte extraordinário. Somente no futebol  um aleijado como Garrincha poderia ter sido um gênio, competindo com grandalhões saudáveis e perfeitos. Somente no futebol um sujeito baixo  e atarracado, com  cara de porteiro  de boate  de quinta categoria, feito Maradona,  seria um extra-classe; somente no futebol um time do interior  sem dinheiro e sem torcida,  como o Santos FC poderia, em pouco menos de dez anos, se transformar no melhor time do planeta.

Pois foi esse esporte fascinante que conferiu a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que esta semana completou 80 anos de vida,  o título de melhor atleta do século, mesmo disputando com atletas legendários de outros esportes mais solicitados em países muito ricos como os USA. E foi ele, Pelé, o mágico capaz de transformar nas décadas de 50/60  um time de interior,  o Santos FC, num time de futebol que, ainda hoje, parece carregar o dom de uma sina memorável. Haja vista o surgimento de jogadores como Robinho e Neymar.

As novas gerações que não viram o apogeu do Santos FC  não têm idéia da tolice que falam quando tentam equiparar os feitos internacionais do São Paulo FC aos do Santos, da era Pelé. Isso seria desculpável para torcedores, mas não para analistas de futebol profissionais. O São Paulo ganhou, sim, títulos de torneios mundiais, mas nunca foi sequer considerado o melhor time do mundo. Há uma diferença básica. O Santos  ganhou títulos porque era o melhor e não foi o melhor apenas porque ganhou títulos. O  Santos era tão melhor que prescindia de títulos, tanto assim que os desprezou, negando-se a disputar o torneio Libertadores da América, cujo inchaço de times promovidos para disputar a competição,   incluindo os vices,  tinha por único objetivo poder ver Pelé e Cia se exibindo de graça.   

2.Pelé, o mágico. 

Pelé era o craque, Edson o homem. A ponto de o próprio Edson se referir a Pelé como outro personagem. As pessoas confundem as coisas. Tive oportunidade de ser inserido nas redes sociais em  debates nos quais muitos se manifestavam contra as homenagens prestadas ao craque por causa de seu comportamento (lamentável, diga-se de passagem)  no episódio de seu distanciamento da própria filha. Lembro, porém, que as homenagens que lhe estão sendo prestadas, se referem ao esportista excepcional, não ao homem.

 3. Em certeira crônica sobre o futebol, neste domingo,  o confrade e amigo Elsior Coutinho lembrou de várias expressões usadas por comentaristas e torcedores numa interessante listagem de termos bélicos adaptados ao jargão futebolístico.  

Isso me fez lembrar o que havia lido na revista Superinteressante quando cientistas evolutivos explicavam o formidável fascínio que este exerce na mente, especialmente  masculina, pelo  fato desse  esporte se desenvolver como uma estratégia de combate, que motivou o ser humano nas suas lutas pela sobrevivência. O instinto gregário, a luta, o ataque e a defesa, o estrategista, e o gol como objetivo a ser alcançado, fazem parte do ardor com que lutamos  nos mais remotos tempos.   

A tudo isso o futebol acrescenta o fascínio da imprevisibilidade. Somente no futebol um pequeno Davi pode vencer o gigante Golias. Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para sobreviver poderia se  tornar um  Rei de todo o Planeta ,   como Pelé se tornou.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, novela de ficção sobre lendas maranhenses, agora em segunda edição

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