A ART DE INVENTAR NOMES
Carolina, Mateus, Vera, Clara, Bianca, Artur, Sofia, Cristina, Guilherme, Solange...são todos nomes belíssimos. Então por que inventar um nome para seus filhos se, afinal de contas, não é o nome que faz a pessoa, mas o inverso?
Será? Os numerólogos acham que não e faz tempo que induzem muitas pessoas, especialmente celebridades, a alterarem o nome próprio, à cata de uma sorte influenciada por uma nova disposição de letras. No passado foram Jorge Benjor e Zagallo e hoje estão aí as Anittas e Gusttavos Limas aparentemente se dando muito bem com um exército de t acrescidos ao nome original. Ora, se uma simples letra é capaz de fazer diferença no rumo do sucesso, quanto mais um nome. Será que não existiriam também mais mistérios entre o nome e a pessoa e seu destino, do que sonha a vã inteligência humana?
A julgar pela ascensão de certos artistas a partir de certos apelidos ou mudança de nome (pseudônimos) parece evidente que sim. Será que se Silvio Santos tivesse continuado o senhor Abravanel teria chegado onde chegou? E Xuxa, se tivesse sido para sempre Maria da Graça Meneghel? Lula teria saltado de torneiro mecânico para presidente da república, à reboque de um tal Luis Inácio da Silva? E Pelé?! Tão vibrante com o apelido a ponto de o próprio Edson Arantes fazer distinção entre ambos! Para sentir ‘o drama’ da coisa tentem imaginar um gol de Pelé (ao invés de sua extraordinária musicalidade que já parece um gol) narrado assim: Gooooooooooooooooooolaaaçooo de Arantes..! Não dá, né?
Quando concluí meu curso de pós–graduação em Jornalismo Cultural escolhi como tema do trabalho final o tema A invenção de Nomes próprios: algo mais que um mero costume. Será Arte? http://www.cambiassu.ufma.br/cambi_2008/ewerton.pdf Neste, contrapus ao hábito comum de se ridicularizarem os nomes próprios inventados, uma visão artística do que se considera mania, justamente porque já encontrei belíssimas combinações, no cotidiano, com sonoridades criativas e originais. Um colunista da revista Veja, certa vez, em tom irônico chegou a depreciar nas páginas amarelas esse costume, como um hábito nordestino típico de classes inferiores. Que, no entanto, comprova-se ser muito apreciado pelas celebridades, certamente com o fim de dotar seus filhos de originalidade e charme; pois “que é a incessante busca do homem por prestígio e fama mais do que a busca de algo que o distinga dos demais?” Como dizia Dostoiévski ‘o original é um indivíduo que se põe à parte’. Se um rosto é a sala de visitas do ser humano seu nome é o cartão de visitas, a primeira imagem que se forma de alguém antes até de conhecê-lo.
Um nome original e potencialmente belo: essa coisa que mesmo o mais humilde humano pode presentear seu filho, tão colada à sua vida como uma ruga ou uma tatuagem, é uma dádiva preciosa e cara. Daí que o esforço dos mais humildes em inventá-lo para doar a seu filho de originalidade, a única riqueza que lhe é accessível, tem algo de sublime e transcendente, ao contrário do constantemente risível, tão propalado por alguns a partir de algumas escolhas frustrantes.
Por comodismo e segurança, poderemos sempre escolher um nome consagrado para nossos filhos, assim almejando a tranqüilidade futura de jamais sermos acusados por estes de um equívoco, porém, se pretendemos dotá-los de um nome único e especial, que mal há de…? “Inventar um nome é como inventar uma vida, portanto é arte. “
josé Ewerton Neto é autor de O ABC BEM HUMORADO DE SÃO LUÍS, agora em terceira edição