Ei-los de volta. Os 3 super-heróis do inverno . Entra ano sai ano, sempre retornam, insubstituíveis, indestrutíveis, eternos.
1.Os SUPERBURACOS
Os superburacos nascem no inverno quando se juntam: muita chuva, muito desleixo administrativo e farelos de asfalto. Pronto, a receita está pronta e os superburacos aparecem.
Nascem pequenos, imprevistos, por vezes tímidos. A infância deles é breve e pouca, a depender do tipo de inverno . Quanto mais chuva cai mais atingem a maturidade rapidamente. Logo se transformam nos super-heróis que conhecemos: avassaladores e implacáveis, especialmente contra carros e seus motoristas. Até transformarem-se definitivamente em uma legião que toma conta das ruas e das avenidas de São Luís.
Quando nascem são todos parecidos, afinal todos são filhos da mesma mãe, a chuva; e dos mesmos pais, os prefeitos da cidade. Têm na infância as mesmas aspirações, crescer e multiplicarem-se; os mesmos desejos, complicar a vida de qualquer carro; e a mesma esperança de atravessarem, incólumes, o verão e retornarem triunfantes no próximo ano.
Ao fim do inverno, exuberantes em seu apogeu, proliferam e parecem dar-se as mãos, constituindo um único e imenso buraco transformando São Luís em uma ilha dento da ilha , uma definição dentro de outra. É quando a ilha, cercada de água por todos os lados se transforma num imenso buraco, cercado de ilhas humanas (condomínios) por todos os lados.
2.AS SUPER-MURIÇOCAS
Este tipo de super-herói nada tem de grandioso. De grandioso só a quantidade e a invisibilidade, e o canto de guerra que entoam. Até hoje não se entendeu muito bem sua relação com a chuva, O que se sabe é que, nesse período, essas heroínas atingem a perfeição na arte da guerra , talvez porque se tornem kamikazes, não se importando em morrer desde que levem para a eternidade um naco de seu precioso sangue.
Nestas circunstâncias o mais seguro é tentar conviver pacificamente com as mesmas. Jamais tentar esmaga-las ( que crueldade!), adaptar-se ao som de suas melodias e alimentá-las corretamente com inseticida, iguaria que elas, com o tempo, se acostumaram a apreciar.
3.O GUARDA-CHUVA
Dos super-heróis do inverno é o único que dispensa o título de super porque sua categoria especial já está implícita no nome solene. Guarda-chuva é aquele equipamento que guarda a chuva para você, derramando-lhe água em cima de seu corpo e de sua cabeça na primeira oportunidade que tiver.
Sempre foi assim, com essa mesma aparência, o que leva a acreditar que, no fundo, o guarda-chuva fez um pacto com a chuva através de uma espécie de contrato: “Eu finjo que os protejo e você finge que isso tá dando certo” para que eu continue reinando para sempre. Anacrônico, obsoleto e ineficiente, permaneceu, contudo, imune aos aperfeiçoamentos tecnológicos e às inovações.
Chegasse um dia uma missão de extraterrestres à Terra, durante o inverno, para avaliar nossa inteligência e a possibilidade de intercâmbio, desistiria na mesma hora à vista do guarda-chuva. E a explicação seria dada em uma mensagem do tipo: “Não se pode confiar na inteligência de uma espécie que vive há de anos e nunca inventou para se proteger dos temporais um equipamento melhor do que um guarda-chuva. “