MANIFESTAÇÃOLOGIA é a ciência que estuda as manifestações populares reivindicatórias.
Originou-se a partir da necessidade de entender e teorizar sobre a sucessão de eventos que, com essa denominação, tomaram conta da rotina de certos países, especialmente no Brasil onde se tornou um hábito. A Manifestaçãologia, assim, é uma ciência nascida e desenvolvida em nossa terra, o que deveria nos encher de orgulho pátrio.
O Postulado fundamental da nova Ciência anuncia-se:
“Nenhuma Manifestação carece de Manifesto!” Ou seja, por mais estranho que pareça, nenhuma manifestação precisa de motivação para que aconteça, o que traz por consequência os seguintes corolários:
1.”O ato de se manifestar é mais importante do que a Reivindicação.” Sendo uma só manifestação insuficiente para resolver determinado assunto, as manifestações acabam se tornando mais importantes do que o assunto.
O que, por sua vez, gera os seguintes corolários:
1.1”Basta um local se encher de gente para que o brasileiro se ajunte.” O que implica na Lei da Aglomeração: “Brasileiro gosta mesmo é de aglomeração”.
As explicações sociológicas e psicológicas desse comportamento remontam ao mais profundo do inconsciente humano, proveniente da busca ancestral de proteção grupal contra as intempéries. Nos últimos tempos, isso pode ter sido agravado pelas redes sociais.
Estudos científicos comprovam que um sujeito, grudado num celular o tempo todo, perde a referência da companhia humana e ao deparar com um grupo de pessoas maior que cinco, se sente atraído compulsivamente, nem que seja para saber de que se trata. O que faz descambar em nova lei fundamental da nova ciência:
1,2”Nada seduz tanto um brasileiro como a companhia de gente que não tem o que fazer”.
O que, por sua vez, redunda no corolário de Miltão, padeiro nas horas vagas e observador das massas ( tanto de pão, como humana):
“Se for para ficar longe do celular, antes mal acompanhado do que só.”
HISTÓRICO.
Tem-se como definitivo, que a primeira manifestação que se tem notícia foi a de Deus contra si mesmo – não havia outra possibilidade. Deus manifestou-se contra si porque estava aporrinhado pela falta do que fazer e, aborrecido, para se vingar de si próprio, resolveu criar o mundo.
Isso explica porque até hoje a principal motivação para as manifestações é não se ter o que fazer. Poucas dúvidas restam de que Deus, o primeiro entediado, inspirou todas as manifestações que vieram depois.
O OUTRO.
Outro elemento de destaque no estudo e na elaboração da nova ciência é o Outro. Sim, o Outro, porque tudo depende do outro, e sem o outro não se garante manifestação alguma:
O Outro que está berrando acolá, e que você nunca viu. O Outro que não sabe por que está ali. O Outro que lhe pergunta onde e quando isso vai terminar. O Outro que está doido pra lhe roubar o seu celular e, finalmente…
O Outro que não faz parte da manifestação e que pode estar indo para o trabalho, para a missa, para o hospital ou para o cemitério. Esse Outro que…
Enfim, esse Outro que fez surgir, do ponto de vista dos manifestantes, o segundo postulado fundamental da nova Ciência, também chamado Postulado da Indiferença e da Histeria Coletiva, que se anuncia.
“Os outros que se f…”
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, segunda edição