NADA COMO FINAL-DE-ANO PARA…

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FIM de ano é assim mesmo, confraternização pra todo lado. Quanto mais festa, mais gente em ação  porém, como o ser humano é mais um imitador do que um criativo, eis que as cenas se repetem à exaustão.

Isso acontece a partir da primeira metade das festas,  quando a vontade de confraternizar se  eleva perigosamente, por força do álcool etc. etc.  O que faz com que invariavelmente:

1.Apareça  sempre alguém pra perguntar.

Da metade da festa pra lá a pergunta mais corriqueira é: “Alguém viu o meu celular?”. Claro que ninguém viu, ou, se viu, faz de conta que não. A partir daí as perguntas evoluem para: “Escuta, alguém sabe onde foi minha mulher?” até chegar às mais dramáticas quando vai findando a madrugada: “Desculpem, mas como essa cueca do chefe veio parar na minha mão? Alguém sabe explicar?”

2.Surge alguém que ninguém sabe , ninguém viu.

Um personagem misterioso vira o assunto principal desde o início da festa. As hipóteses se sucedem: Um penetra? Um policial disfarçado? Um garoto de programa? Todos especulam, mas ninguém resolve o mistério. Sucedem-se as apostas nos diferentes grupinhos. Alguém lembra que no ano passado apareceu também um misterioso personagem e procura identificar nas fotos do face se trata-se do mesmo homem. É outro.

3.Os nomes desaparecem. Surgem os apelidos.

Pouco a pouco, os nomes de cada um se tornam dispensáveis. Até o meio da festa todos se tornam próximos o suficiente para esquecer a hierarquia e chamar o outro de cara, bicho, vascaíno, amigão, menina. Depois a intimidade sobe vários tons: doido, danada, tratante, canalha, qualira, tarada, ninfa até culminar nos qualificativos mais insólitos, cujo apogeu é alcançado quando a esposa do chefe denuncia o seu apelido íntimo, toda melosa e extasiada, após o discurso do marido (que ninguém ouviu): Meu Guri !

4.Começa o exibicionismo.

A timidez agora se esconde debaixo das mesas com guardanapos, restos de comida, pedaços de papel higiênico e princípios de vômito. É quando pela primeira vez é constatado que a empresa tem mais estagiárias do que funcionárias. Elas surgem de tudo quanto é lado e os comentários das esposas emburradas e ressentidas com a derrota anunciada na pista de dança – pra ver quem balança mais a bunda– só termina quando uma delas cai estatelada no chão depois de um lance mais ousado para reproduzir a performance de Anitta. O som de vingança, em uníssono, parece  coro de funk “ Bem feito!”

5.Os banheiros lotam.

A fila do banheiro supera pela primeira vez a fila do self-service. Todos entram e saem ao mesmo tempo. À discrição inicial se sucedem narizes fungando e manchas de pó branco nas camisas. Alguém vomita e faz um sinal de positivo. O diretor, tentando manter a discrição, evita se expor até que se resolve e adentra o recinto.

Surpreende-se: “Essa mulher aí no chão, tá desmaiada?” “Parece que sim” responde alguém. Resoluto (é nessas horas que um diretor tem de atuar) ele chama o segurança que prontamente chega: “Cristóvão, acho que essa mulher tá desmaiada!”

“Penso  que sim, senhor”

“ E porque ninguém fez nada?”

“É sua amante senhor! Você não a reconheceu porque está de rosto virado para o chão, Desculpe, mas foi ela que ela me pediu que não o avisasse”.

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José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, segunda edição nas livrarias Vozes e AMEi (shopping São luis)

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