BEATLES RAHPSODY

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Sem os Beatles teria havido o Queen?

 

 

Conversávamos entre amigos sobre o estrondoso sucesso internacional do filme Bohemian Rahpsody cobrindo a trajetória de Freddie Mercury, líder da banda Queen, quando um de nós, ardoroso fã de MPB e rock, me dirigiu a pergunta acima:

Eu, que ainda não vi o filme, não respondi de pronto,  não só porque é difícil conceber a resposta exata como porque a sua indagação ensejava outras: O que seria da existência humana sem os sonhos da juventude? Como seria a geração dos Beatles, e as que se seguiram, caso eles não tivessem existido?

Em relação à última pergunta, a resposta é que os sonhos juvenis de nossa geração, que os admirava, e de outras que os sucederam, seriam bem menos interessantes. Os Beatles (John, Paul, George e Ringo) personificaram para uma geração de jovens no mundo inteiro, até então atônita e comprimida, muito mais do que excepcionais artesãos da arte musical. Ainda que já tivesse havido ídolos igualmente carismáticos como Elvis Presley (que lhes serviu de referência) e, mais anteriormente, no cinema, James Dean, os Beatles atingiram a universalidade porque culminaram a sua excepcional musicalidade com os anseios  da juventude por uma mudança comportamental que se encontrava defasada do avanço tecnológico da época e da que se vislumbrava para a frente.

A palavra em voga para essa expectativa represada era avanço e modernismo, mas, no fundo, buscava-se uma nova forma de pensar e agir livre das amarras de uma sociedade que impunha dogmas de conduta e tabus como a virgindade feminina – que eles não levantaram a bandeira para abolir, mas que levaram de roldão em sua passagem, como uma santa epidemia que se alastrava no mundo.

“A rebeldia está para a juventude  assim como o coração está para a vida”, ou seja, a juventude não pulsa nos corações conformados. Por isso, os jovens de hoje, na maioria, jamais farão ideia do que representou os Beatles para a sua geração, a que seguiu e assim por diante, como se tivessem inoculado o vírus de uma nova  juventude, para a frente  através de canções marcantes, como Yesterday ( a terceira canção mais regravada no mundo) , A day in the life, Something,  etc – para meu gosto prefiro entre todas The fool on the hill)

Hoje, muitos cantores jovens, mas medíocres, permanecem distantes  desse manancial de sonho que lhes deveria ser peculiar como maestros de tenras esperanças.  Para citar exemplos brasileiros, Gusttavo Lima e Luan Santana, jamais expressarão abrangência duradoura ou similar, até porque o fundo musical de suas potenciais epopeias é de enorme pobreza. Adultificados precocemente em seus  ideais e ambições, a marca que ostentam é a de serem desprovidos de vontade de mudar o mundo.

Aqui entra o tom de rapsódia, sem dúvida a mais completa rapsódia juvenil do século passado Que foi iniciada pelos Beatles e que depois influenciou jovens e talentosos – e trágicos -, como o próprio Freddie Mercury , Jim Morrison, e mais recentemente Amy Whinehouse, que às vezes sucumbe ao peso da fama e da incessante busca,  mas sempre deixa rastros. Enfim, a rapsódia da juventude, a verdadeira  juventude.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado  de São Luis, em segunda edição revista e ampliada Livrarias Tempo de Ler, Amei, Vozes e bancas de revista de São Luis

 

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NADA COMO FINAL-DE-ANO PARA…

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FIM de ano é assim mesmo, confraternização pra todo lado. Quanto mais festa, mais gente em ação  porém, como o ser humano é mais um imitador do que um criativo, eis que as cenas se repetem à exaustão.

Isso acontece a partir da primeira metade das festas,  quando a vontade de confraternizar se  eleva perigosamente, por força do álcool etc. etc.  O que faz com que invariavelmente:

1.Apareça  sempre alguém pra perguntar.

Da metade da festa pra lá a pergunta mais corriqueira é: “Alguém viu o meu celular?”. Claro que ninguém viu, ou, se viu, faz de conta que não. A partir daí as perguntas evoluem para: “Escuta, alguém sabe onde foi minha mulher?” até chegar às mais dramáticas quando vai findando a madrugada: “Desculpem, mas como essa cueca do chefe veio parar na minha mão? Alguém sabe explicar?”

2.Surge alguém que ninguém sabe , ninguém viu.

Um personagem misterioso vira o assunto principal desde o início da festa. As hipóteses se sucedem: Um penetra? Um policial disfarçado? Um garoto de programa? Todos especulam, mas ninguém resolve o mistério. Sucedem-se as apostas nos diferentes grupinhos. Alguém lembra que no ano passado apareceu também um misterioso personagem e procura identificar nas fotos do face se trata-se do mesmo homem. É outro.

3.Os nomes desaparecem. Surgem os apelidos.

Pouco a pouco, os nomes de cada um se tornam dispensáveis. Até o meio da festa todos se tornam próximos o suficiente para esquecer a hierarquia e chamar o outro de cara, bicho, vascaíno, amigão, menina. Depois a intimidade sobe vários tons: doido, danada, tratante, canalha, qualira, tarada, ninfa até culminar nos qualificativos mais insólitos, cujo apogeu é alcançado quando a esposa do chefe denuncia o seu apelido íntimo, toda melosa e extasiada, após o discurso do marido (que ninguém ouviu): Meu Guri !

4.Começa o exibicionismo.

A timidez agora se esconde debaixo das mesas com guardanapos, restos de comida, pedaços de papel higiênico e princípios de vômito. É quando pela primeira vez é constatado que a empresa tem mais estagiárias do que funcionárias. Elas surgem de tudo quanto é lado e os comentários das esposas emburradas e ressentidas com a derrota anunciada na pista de dança – pra ver quem balança mais a bunda– só termina quando uma delas cai estatelada no chão depois de um lance mais ousado para reproduzir a performance de Anitta. O som de vingança, em uníssono, parece  coro de funk “ Bem feito!”

5.Os banheiros lotam.

A fila do banheiro supera pela primeira vez a fila do self-service. Todos entram e saem ao mesmo tempo. À discrição inicial se sucedem narizes fungando e manchas de pó branco nas camisas. Alguém vomita e faz um sinal de positivo. O diretor, tentando manter a discrição, evita se expor até que se resolve e adentra o recinto.

Surpreende-se: “Essa mulher aí no chão, tá desmaiada?” “Parece que sim” responde alguém. Resoluto (é nessas horas que um diretor tem de atuar) ele chama o segurança que prontamente chega: “Cristóvão, acho que essa mulher tá desmaiada!”

“Penso  que sim, senhor”

“ E porque ninguém fez nada?”

“É sua amante senhor! Você não a reconheceu porque está de rosto virado para o chão, Desculpe, mas foi ela que ela me pediu que não o avisasse”.

[email protected]

 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, segunda edição nas livrarias Vozes e AMEi (shopping São luis)

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OS FILMES MAIS TRISTES

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Os Filmes mais Tristes da História do Cinema’ é um título imponente para uma seleção  sujeita, como toda lista,  a controvérsias. Claro, essa coisa de aquilatar sentimentos e emoções diante de uma obra de arte é influenciada pela personalidade de cada um e, tantas  vezes, independe até mesmo da obra e de sua absorção pelo receptor. Uma pessoa em estado excepcional por razões fortuitas e alheias à sua vontade pode se sensibilizar com algo que em outra ocasião não a deixaria em tal estado.

Confesso que sou fascinado por listas e sou vítima de sua sedução irrecusável. Guardo, com desvelo, dois volumes iguais de O Livro das Listas de Irving / Amy Wallace, o segundo adquirido porque imaginei haver perdido o primeiro. Diante do assunto desta crônica, testemunhado em um jornal, constatei que só havia presenciado a um filme da citada seleção: À espera de um milagre (Frank Daraboni, 1999); Amor (Michael Haneke, 2012); Hotel Ruanda (Terry George, 2004); O Garoto (Charlie Chaplin) ; O Campeão (Franco Zeffireli, 1979) e O Menino do Pijama Listrado (Mark Herman 2008). Vi O Campeão e, talvez, o filme de Chaplin (O ‘talvez’ acontece porque minha memória não distingue um Chaplin de outro, tão marcantes são as suas interpretações).

O interessante é que O Campeão não me marcou com uma carga particular de melancolia ou tristeza. Ao perscrutar a motivação dos demais a partir de suas resenhas lembrei já haver estabelecido empatia com o tema de O Amor, de 2012,  que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. A narrativa é centrada em um casal de idosos, que vivem momentos difíceis quando a mulher (Anne) se submete a uma cirurgia e tem metade do corpo paralisado. Mesmo não tendo visto o filme faço ideia da carga emocional envolvida que, certamente, o colocou lista. É um desses filmes que sacam o Amor de sua redoma cosmética e comercial para coloca-lo na vala comum dos sentimentos de dedicação e afeto  necessários para se continuar existindo,   porque não há outra saída.

Os momentos mais tristes que guardo do cinema, curiosamente, nem sempre estão ligados aos filmes anunciados como tais São algumas cenas deslocadas em seu contexto, a reboque do inesperado, que nos arrebatam da nossa tranquilidade e se tornam marcantes pela  comoção que nos assalta, de repente.  Lembro,  sem rastrear a memória, que dos tantos filmes que assisti uma das cenas mais pungentes foi a do filme A escolha de Sofia, no momento crucial em que a personagem tem de escolher,   entre os dois filhos que tanto ama,  aquele que entregará ao seu algoz para morrer.

Outras cenas tristes e marcantes das quais me lembro, surgem curiosamente, vindos da minha memória de infância e adolescência, talvez porque as emoções estivessem mais à flor da pele, ainda não cristalizadas pelas perdas futuras e irremediáveis de entes queridos. Nelas porfiam o momento em que o príncipe Ben-Hur, em desesperada busca de sua mãe e irmã escravizadas,  as encontra num vale de leprosos,  com os rostos desfigurados que tentam esconder, em vão,  entre lágrimas.

A despedida do ET, do famoso filme, também foi um momento tocante que emociona pela forma como o diretor soube expressar a,  tão bela quanto  triste, arquitetura  do sentimento dolorido da separação.

[email protected] 

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis, agora em segunda edição revista e ampliada ( Livrarias AMEi e Vozes)

 

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